quinta-feira, 15 de maio de 2014

FESTIVAL DE CANNES: NA QUINTA, FILME TURCO LIDERA APOSTAS, GUERRA SÍRIA ESCANCARADA, DANÇARINA SEXAGENÁRIA E LONGAS BRASILEIROS FECHANDO DISTRIBUIÇÃO


Confira como foi a quinta (15) na 67ª edição do Festival de Cannes:

'WINTER SLEEP': FILME TURCO LIDERA APOSTAS

No primeiro dia da competição oficial de Cannes, as casas de apostas já indicam como vencedor o filme "Winter Sleep" ("Sonho de Inverno", em livre tradução), do turco Nouri Bilge Ceylan.

O cineasta já levou o prêmio de melhor diretor em 2008, com "3 Macacos", e o Grande Prêmio do Júri em 2011, com "Era uma Vez na Anatolia".

Em paralelo à abertura do festival francês, que se estende até o próximo dia 25 de maio, os empresários do ramo parecem seguir a mesma previsão que a revista "The Hollywood Reporter", que também acredita que o sétimo longa-metragem de Ceylan levará a tão cobiçada Palma de Ouro.

A empresa irlandesa Paddy Power, com presença na Itália, França e Canadá, paga 3,5 euros por 1 euro apostado em "Winter Sleep", enquanto sua filial australiana Sportsbet paga 4,5 euros pelo euro apostado no filme turco.

Protagonizada por um trio de atores desconhecidos internacionalmente - Haluk Bilginer, Demet Akbag e Melisa Sözen - o longa narra a história de um humorista aposentado que cuida de um pequeno hotel e que sente muito a ausência de sua jovem esposa.

Em relação às apostas, na sequência do longa turco, também aparecem "Mr Turner", do britânico Mike Leigh; "Still the Water", dirigida por Naomi Kawase, e "Maps to the Stars", assinada pelo canadense David Cronemberg.

Levando em conta a lei de inversão que acompanha as apostas, na qual o menos esperado costuma pagar mais, o filme "Saint Laurent", um retrato autorizado do estilista assinado por Bertrand Bonello, também se destaca, tendo em vista que o mesmo renderia 67 euros para cada um investido.

De acordo com as casas de apostas, "Relatos Selvagens", dirigido pelo argentino Daniel Szifron, e "El Deseo", dos irmãos Agustín e Pedro Almodóvar, também não aparecem entre os mais cotados.

Confira o trailer de "Winter Sleep":


'SILVERED WATER': GUERRA SÍRIA IMPACTA CANNES

"Silvered Water", um autorretrato descarnado da guerra civil na Síria, na qual mais de 140 mil pessoas morreram nos últimos três anos, impactou o público nesta quinta no Festival de Cannes.

Realizado por Ossama Mohammed e Wiam Simav Bedirxan, o filme, que integra a programação oficial, mas não entra na competição, é um relato entre documentário e jornalismo cidadão que intercala vídeos anônimos gravados com celulares (tão ásperos no quesito técnico como assustadores no humano) com planos mais poéticos, tomados entre as ruínas de Homs e o exílio em Paris.

Trata-se de um ensaio de 92 minutos em que um rapaz sírio e uma mulher curda falam sobre o poder do cinema, da câmera e da imagem como ferramenta de resistência e testemunha da condição humana mais impiedosa.

Neste aspecto, o filme revive o horror da guerra civil síria desde o primeiro minuto, quando mostra fotogramas de torturas, humilhações, abusos e sofrimento em manifestações, delegacias ou hospitais, enquanto a voz em off de Mohammed - que deixou Síria em 2011 - conduz o espectador ao inferno da realidade do paíS.

Cena de 'Silvered Water' - Divulgação

O filme, que não é indicado aos estômagos mais delicados, é cru e pesado, mas não chega a ser de mau gosto, tendo em vista que, apesar de não tem a pretensão de ir a fundo na ferida, também não amortece a realidade de uma guerra que dura já mais de mil e uma noites.

Execuções sumárias, cadáveres abandonados, viúvas gritando, órfãos silenciosos, animais de rua mutilados e pontos de sutura para fechar um ferimento da própria realizadora fazem do filme uma verdadeira denúncia contra essa realidade síria -- um tiro a queima-roupa sem dinheiro para artifícios e sem tempo para rodeios.

Na tela, a história sem filtro dos que foram obrigados a deixar a Síria, dos exilados e deslocados, assim como a daqueles que ficaram e resistiram entre casas em ruínas.

Apesar de ter uma essência atemporal, já que não é datado a cada sequência, o filme abre espaço para a evolução da insurgência, que floresceu pedindo liberdade e democracia perante a repressão do presidente Bashar Al Assad.

O filme questiona o fato da revolução sacrificar seus próprios filhos e se concentra especialmente em Omar, um menino que acompanhou a diretora em Homs, onde se esquiva da mira dos franco-atiradores para levar flores ao túmulo de seu pai, assassinado em conflito. Aliás, os autores dedicam esse filme a sua memória.

'PARTY GIRL': LONGA SOBRE DANÇARINA DE BOATE DE 60 ANOS ABRIU A MOSTRA 'UM CERTO OLHAR'

Se nos últimos anos Cannes escolhia sempre um diretor estrelado para abrir a mostra 'Un Certain Regard', como Sofia Coppola, Gus Van Sant ou Manoel de Oliveira, este ano (talvez por falta de grandes nomes) os organizadores optaram por um primeiro filme francês, de três diretores iniciantes, estrelado por uma ex-dançarina de boate na casa dos 60 anos.

"Party Girl" é estrelado por Angélique Litzenburger, que encena como ficção a sua própria vida, ao lado dos seus parentes de verdade.

Como indica o título, ela foi dançarina de boate quando era mais jovem e, agora aos 60, continua uma grande baladeira, frequentando toda noite o bar onde trabalhou.

O filme não deixa claro, mas tudo indica que Angélique também trabalhou como garota de programa – um de seus três filhos é de pai desconhecido.

Cena de 'Party Girl' - Divulgação

Michel, um de seus ex-clientes, decide pedi-la em casamento – mas mesmo aos 60, ela não parece disposta a abandonar a balada.

Um dos diretores do filme, Samuel Theis, é filho de Angélique.

"Nós partimos de um evento real, o casamento atípico que ela fez há alguns anos. Com quase 60 anos, essa união levantava algumas questões. Era como o balanço de uma vida, de uma mulher que só conhecia o mundo da noite e que decidiu se acalmar mais tarde na vida. Era uma situação formidável de filmar", dizem os diretores – além de Theis, Claire Burger e Marie Amachoukeli, colegas na escola francesa de cinema Fémis.

Neste ano, a mostra 'Un Certain Regard/Um Certo Olhar' vai exibir, entre outros títulos, o trabalho de três atores atrás das câmeras: "Lost River", primeiro longa do canadense Ryan Gosling ("Drive"); "The Blue Room", do francês Mathieu Amalric ("O Escafandro e a Borboleta"); e "Incompresa" (Incompreendida), da italiana Asia Argento ("Triplo X").

OITO LONGAS BRASILEIROS SERÃO EXIBIDOS PARA DISTRIBUIDORES EM CANNES

A organização Cinema do Brasil, que faz a promoção do cinema brasileiro no exterior, escolheu oito títulos nacionais que serão exibidos no mercado de Cannes para potenciais distribuidores estrangeiros.

O filme ainda inédito por aqui é "Rio, Eu Te Amo", longa coletivo que conta com segmentos de 11 diretores, entre eles Fernando Meirelles, Carlos Saldanha (da animação "Rio"), o americano John Turturro, o mexicano Guillermo Arriaga e o italiano Paolo Sorrentino.

"Rio, Eu Te Amo" ainda não será mostrado para a imprensa, apenas para os potenciais compradores internacionais.

Cena de "Hoje eu Quero Voltar Sozinho", de Daniel Ribeiro - Divulgação

A lista se completa com "Praia do Futuro", de Karim Ainouz, e "Hoje eu Quero Voltar Sozinho", de Daniel Ribeiro, ambos selecionados no Festival de Berlim em fevereiro; a animação "O Menino e o Mundo", de Alê Abreu; "Gonzaga, de Pai pra Filho", de Breno Silveira; "Romance Policial", de Jorge Durán; "Riocorrente", de Paulo Sacramento, e o também inédito "Mundo Deserto de Almas Negras", de Rui Veridiano.

Na seleção oficial, o Brasil participa como coprodutor do thriller argentino "El Ardor", de Pablo Fendrik, estrelado por Gael García Bernal e que tem Alice Braga no elenco.

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Textos Base: Thiago Stivaletti (UOL) e Agências Internacionais
Redação Final: Cláudio Nóvoa

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