quarta-feira, 7 de maio de 2014

’24 HORAS: VIVA UM NOVO DIA’: MUDOU O MUNDO OU MUDOU JACK BAUER?


Os EUA e o mundo ainda estavam anestesiados depois do ataque às Torres Gêmeas em NY, quando, num raro momento de fina sintonia entre realidade e ficção, a Fox estreou a série ’24 Horas’ - em novembro de 2001, três meses depois.

Foi um sucesso imediato: trazer para a telinha a fórmula precisa dos blackbusters das telonas, com muita violência, cenas de ação de babar e Kiefer Sutherland interpretando o agente Jack Bauer, o protagonista definitivo da sua então já vitoriosa carreira.

Usando as mesmas iniciais de outro ícone da ação, James Bond, o Jack Bauer de Kiefer Sutherland, ao contrário do refinado agente secreto inglês, podia ser um herói indestrutível, mas era também um cowboy moderno, de um senso pétreo do que seja certo e errado, capaz de apanhar e bater com igual vontade e, ao mesmo tempo, absurdamente vulnerável, além de pai de família devotado - como esquecer aquela temporada em ele andou à procura de sua filha mala, perdida pelas montanhas ao norte de Los Angeles?

Kiefer Sutherland novamente como Jack Bauer, em cena da série '24 Horas: Viva um Novo Dia' - Fotos dessa postagem: Divulgação/FOX

Como os cowboys dos grandes filmes de John Houston, Bauer tinha seu próprio e muito particular código de conduta, acima de todas as instituições, a cada hora/programa vingando um pouco mais a América traumatizada não só pelos atentados, como pela era Bush como um todo.

Lógico, esse sucesso se transformou em quase 14 milhões de espectadores em 2006 , levou o título de ‘a série de ação mais longa da TV norte-americana’ (ultrapassando ‘Missão Impossível’) e arrebatou a maior parte dos prêmios Emmy e Globo de Ouro a que concorreu – em 2008, teve a honra de levar o primeiro Emmy na categoria “drama'' da história da Fox.

’24 Horas’ também fez um sucesso absurdo mundo afora – inclusive aqui, quando foi até agora a série de maior audiência e repercussão exibida pela Globo – e está em sexto lugar na lista 50 melhores séries de todos os tempos da revista britânica 'Empire'.

Tudo graças à sua audácia, com o telespectador mergulhando no “tempo real” da narrativa – 24 horas de TV, uma hora a cada episódio – numa sequência de temas atuais e pertinentes, tudo embalado com qualidade dos efeitos até então nunca vistos numa série, a violência nua, crua e bem ensaiada e a boa construção de interpretação da maioria do seu elenco.

E foi com essa série absolutamente extasiante ainda na cabeça que o telespectador americano se sentou diante da TV na segunda (5) e o brasileiro ontem (6) para acompanhar a estreia de sua continuação ’24 Horas: Viva Um Novo Dia’.

Se a narrativa base da série mudou - agora são 12 horas em vez de 24 horas e os episódios serão 12 em vez dos costumeiros 24 das outras temporadas - muita coisa  também mudou desde aquele novembro de 2001: a TV aberta americana já não apita mais nada e perdeu sua hegemonia para a TV paga, onde séries ainda mais bem produzidas, realistas em sua recriação da violência e infinitamente mais bem escritas arrebataram coração e mentes mundo afora, ainda mais agora, em tempos de internet banda larga e de séries estreando 'on demand' com todos os seus capítulos já liberados para assistir.

Num mundo mais e mais complicado, as pessoas até gostam de ver um super-herói salvando o mundo, mas preferem cada vez mais anti-heróis sem nenhum caráter, como o Walter White de ‘Breaking Bad’.

Jack Bauer com Londres ao fundo em foto promocional da série

Todas essas mudanças explicam porquê então a nova série pareceu datada, antiga, previsível e com pouca graça, com o telespectador, tanto daqui quanto de lá, correndo para as redes sociais e usando a mesma expressão para descrevê-la: “morna”.

Nessa reestreia, Jack Bauer tornou-se um fugitivo da justiça americana, por uma conspiração entre os presidentes dos EUA e a Rússia, após a tentativa de um primeiro tratado de paz com a República Islâmica do Kamistão ter fracassado.

Agora, ele é obrigado a deixar seu esconderijo em Londres para interceptar um ataque terrorista que poderia mudar o mundo para sempre, enquanto é perseguido pelo alto comando da CIA por ordens do presidente dos EUA, James Heller.

William Devane interpreta o presidente dos EUA, James Heller

Lógico, tivemos modernidades nos dois capítulos exibidos: drones, ataques remotos, hackers, violação da privacidade online e um presidente americano dando em público sinais claros de que sofre do mal de Parkinson.

Se o ‘JB’ já estava no seu nome, Jack Bauer agora aparece em ação em Londres, cenário de praticamente todos os filmes de 007, com um roteiro e diálogos tentando explicar em pouco tempo quatro longos anos de ausência.

Chloe (Mary Lynn Rajskub , agora japonesa, com o rosto desfigurado por uma plástica) reapareceu com seu costumeiro mau-humor, guiando Bauer em manobras que imploram nossa capacidade de suspender a descrença.

Jack Bauer e Chloe, agora japonesa

E Kiefer Sutherland continua dando show a cada aparição, apesar de nas cenas de ação estar sendo muito poupado, mostrando lentidão típica da idade e lembrando muito os últimos filmes de Roger Moore como 007 – o físico já não ajuda.

Até a morte do cara que controlava um drone para que este soltasse mísseis em tropas americanas e inglesas no Afeganistão e melasse a visita do presidente americano a Londres foi absolutamente previsível, pois quem o matou foi a loirinha gostosa que ele comia entre uma hackeada e outra nos armamentos americanos e ingleses.

Loirinha gostosa em roteiro de ação? Lógico que aí tem, né?

O elenco da nova série, Sutherland à frente

Assim, se você tem muita, muita saudade de ‘24 Horas’, vai achar ’24 Horas: Viva Um Novo Dia’ até divertido.

Agora, se você não é fã, pode ir ver outra coisa, já que hoje a maioria – inclusive a própria Fox - exibe muita coisa melhor.

Confira um trailer da série:

*****
'24 HORAS: VIVA UM NOVO DIA'
Título Original:
24:LIVE ANOTHER DAY
O que é:
Série de TV
Produtora:
Fox
Direção:
Jon Cassar
Produção:
Howard Gordon
Elenco:
Kiefer Sutherland, Mary Lynn Rajskub, Kim Raver, William Devane, Yvonne Strahovski, Tate Donovan, Gbenga Akinnagbe, Giles Matthey, Judy Davis
Estreia no Brasil:
06.05.2014
Dias de Exibição:
Terças
Horário:
22h30
Onde:
Canal Fox
Cotação do Klau:

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