terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

'MESSIAH': CRÍTICA DA 1ª TEMPORADA

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Série estreia sob polêmica, mas tem um discurso vazio
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SINOPSE:

Quando um homem atrai a atenção da mídia, passa a colecionar uma legião de seguidores ao redor do mundo e dá início a um grande movimento espiritual que acaba causando instabilidade política.

Agora, cabe a uma agente da CIA investigar o que está acontecendo e descobrir se ele realmente é uma entidade divina ou um charlatão profissional.

CRÍTICA:

Menos de um mês depois de se envolver numa grande polêmica religiosa com o Especial de Natal do Porta dos Fundos, a Netflix se meteu em outra.

A polêmica da vez é Messiah, sua nova série original que, assim como Homeland e Tyrant, vai mexer com o Oriente Médio e falar sobre a complicada relação com o continente americano, trama preferida de algumas das principais produções realizadas justamente pelos Estados Unidos.

Em tempos em que se fala até de Terceira Guerra Mundial, a delicadeza do tema vai crescendo a olhos vistos.

A série, contudo, não tem ainda o alcance de Homeland, mas pode vir a ser igualmente odiada pelos muçulmanos.

Antes mesmo de sua estreia, uma petição rolava pela internet pedindo o cancelamento da série, baseada unicamente em sua premissa e Michael Petroni, seu criador, se apressou em dizer que tudo estava sendo feito para provocar e não para ofender.

Uma olhada no histórico do mesmo já deixa evidente que o tema é parte de sua motivação criativa.

Em 2003 ele tentou emplacar uma série chamada Miracles, mas a empreitada não foi bem-sucedida.

Aqui, tudo começa logo após uma tempestade de areia impedir um iminente ataque do Estado Islâmico na capital - uma tempestade real atingiu a Síria em 2015 e provocou um cessar fogo durante algum tempo.

Na série, o acontecimento é atribuído a um homem que, pelas ruas da cidade, vai se anunciando como uma espécie de Messias.

Ao passo em que outros “milagres” vão acontecendo, a situação vai sendo tratada como uma segunda vinda de Jesus Cristo e isso, é claro, chama a atenção principalmente da América do Norte.

O nome Al Masih é usado para se referir ao homem (vivido por Mehdi Dehbi) e aí também residia uma das razões pelas quais a série foi rejeitada antes de sua estreia: a comunidade islâmica rechaçou a produção por falar da “segunda vinda de um messias” usando para isso o nome “Al Masih” que não está ligado a esferas positivas e sim ao que seria a vinda do anticristo.

Embora esse não seja o nome do homem, é assim que ele é chamado na série, o que de fato não chega a ser discutido de maneira eficaz, já que até os que acreditam nele o chamam assim.

A “parte americana” da história é a agente da CIA Eva Geller (Michelle Monaghan), que não deve ter esse nome por coincidência.

Ela – como esperado da TV contemporânea – tem um passado dramático e uma vida infeliz e se vê a frente do caso que investiga o suposto profeta.

É claro que os EUA precisam interferir: afinal de contas, conforme o homem se torna famoso seus milagres se espalham nas redes sociais (inclusive numa emblemática caminhada pelas águas do Monumento de Washington) - e a ordem começa a ser afetada.

A série foi criada com uma tentativa óbvia de discutir a relação entre fé, política e mídia.

Al Masih não se acanha em fazer seus milagres em frente a dezenas de celulares e logo autoridades do mundo inteiro se interessam em compreender o fenômeno de sua popularidade.

Petroni utiliza bem a dinâmica entre o minimalismo e a escala global, usando os efeitos especiais a favor da ação.

O segundo grande núcleo, por exemplo, é uma família do interior do Texas, centro do Cinturão Bíblico, que vê o profeta chegar até a cidade depois que um tornado destrói tudo menos a igreja: fenômenos naturais são espertamente ligados às aparições do sujeito.

Toda essa preparação acontece até metade da temporada, quando começamos a esperar pelos desdobramentos textuais que darão ao produto sua razão de ser.

O que acontece é que a série quer ser o que é pautada apenas em dúvida: o homem é mesmo quem diz que é ou é uma fraude bem orquestrada?

Todo o aspecto social é apenas pincelado e as questões políticas se esvaziam em meio ao jogo de gato e rato promovido pela CIA.

Longas sequências se gastam nesse processo de investigação e, então, percebemos que não só Al Masih pode ser uma fraude, como a série pode ter prometido mais do que entregou.

Para um líder que carrega seguidores por toda parte, há zero carisma.

Mehdi vai pelo caminho mais óbvio de interpretação e passa o tempo todo com cara de paisagem.

O texto, que no caso de um homem que convence pela palavra é essencial, parece burocrático, sem inventividade e sem apelo.

E quando se coloca em perspectiva que se o mistério sobre ele for revelado o futuro da produção se enfraquece e os objetivos se tornam ainda mais nebulosos.

Ao final de tudo, o único caminho possível parece ser o de esticar as dúvidas até o limite.

Messiah tem aspectos interessantes que, com um texto mais apurado, poderiam produzir uma narrativa realmente inquietante.

Infelizmente, o alto valor de produção não condiz com seu texto rasteiro e intenções confusas.

GALERIA DE IMAGENS:
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TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
MESSIAH
Título Original:
Messiah
Gênero:
Suspense
Criada por:
Michael Petroni
Elenco:
Michelle Monaghan, Mehdi Dehbi, John Ortiz, Tomer Sisley, Melinda Page Hamilton, Stefania LaVie Owen, Sayyid El Alami, Jane Adams, Wil Traval, Tarifas Landoulsi, Philip Baker Hall
País de origem:
Estados Unidos
Número de Episódios:
10
Estúdio:
Think Pictures Inc.
Exibição e Distribuição:
Netflix
Lançamento:
01 de janeiro de 2020

COTAÇÃO DO KLAU:

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