sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

FESTIVAL DE BERLIM: EDIÇÃO DE 2020 TEM RECORDE DE BRASILEIROS SELECIONADOS

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Diretor de 'Bacurau' e membro do júri da Berlinale, Kléber Mendonça Filho diz que governo Bolsonaro sabota o cinema brasileiro
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Historicamente, o Festival de Berlim tem sido o evento internacional mais receptivo ao cinema brasileiro.

Em 2019 e 2018, a Berlinale acolheu nada menos que doze filmes brasileiros por ano, entre longas-metragens e curtas-metragens, a exemplo de Divino Amor (2019), Greta (2019), Marighella (2019), Tinta Bruta (2018), Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar (2019), Indianara (2019) etc.

Mesmo sob nova curadoria a partir da 70ª edição, o festival promete dedicar um olhar atento às nossas produções mais uma vez.

Com uma primeira leva de filmes anunciados à imprensa, o cinema nacional já conta com três produções, em três seções distintas.

Na Panorama, voltada a filmes politizados e sobre questões identitárias, foi selecionado Cidade Pássaro, coprodução Brasil-França dirigida por Matias Mariani, sobre um músico nigeriano que viaja a São Paulo em busca de notícias do irmão mais novo.

Na Mostra Geração, dedicada a produções sobre a juventude, o brasileiro Meu Nome É Bagdá vai levar a história de garotas skatistas enfrentando o machismo na família e nas ruas.

O filme é dirigido por Caru Alves de Souza.

Já na Mostra Forum Expanded, que busca formas radicais e experimentais de linguagem, será exibido APIYEMIYEKÎ, coprodução Brasil-França-Holanda sob direção de Ana Vaz.

O Brasil ainda pode ser citado com outros filmes nestas mostras, ou quem sabe emplacar concorrentes na mostra competitiva, em busca do Urso de Ouro, como foi o caso recente de Joaquim (2017).

O diretor de Bacurau, Kleber Mendonça Filho, falou sobre a situação atual do cinema no Brasil, criticando o governo Bolsonaro por sabotar a diversidade na indústria.

A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa no Festival Internacional de Cinema de Berlim - Mendonça filho é um dos jurados da edição de 2020, que tem  como presidente o ator Jeremy Irons.

Kleber Mendomça Filho dá entrevista em Berlim - AFP
"Estou preocupado. Temos cerca de 600 projetos que atualmente estão congelados por burocracia", explicou o diretor.

Para ele, o movimento do governo atual é prejudicial para a diversidade de obras e aumenta a dificuldade de diretores que não são dos estados do Sudeste realizarem seus projetos.

Apesar de elogiar o momento do cinema nacional no exterior - já que 19 obras exibidas na Berlinale tem produção brasileira - Mendonça Filho explicou que há um movimento atual de desmantelamento de políticas anteriores:

"O cinema brasileiro tem uma longa história, o que acontece agora é resultado de vários anos de trabalho duro", disse.

"É exatamente isso que está sendo sabotado agora. Sim, estou preocupado", concluiu.

O diretor, no entanto, disse que os retrocessos criam também um solo frutífero:

"É quando o cinema é desmantelado diariamente, quando passamos por momentos difíceis, que é o melhor momento para fazer filmes".

Após excelente recepção no exterior, tendo levado até o prêmio do júri do Festival de Cannes, Bacurau estreou nos cinemas brasileiros em agosto.

A 70ª Berlinale começou ontem (20.2) e vai até 01 de março.

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