sábado, 29 de fevereiro de 2020

FESTIVAL DE BERLIM: LONGA BRASILEIRO, 'MEU NOME É BAGDÁ' ARRANCA APLAUSOS E LEVA O PRÊMIO DA MOSTRA GENERATION NA BERLINALE

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Filme de Caru Alves de Souza discute gênero a partir de menina skatista e levou um dos mais importantes prêmios da Berlinale
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‘Eu sou de menor!”, devolve a adolescente ao policial que lhe pergunta, de maneira agressiva e intimidatória, se ela “é homem ou mulher” enquanto dá uma “dura” no seu grupo de skatistas.

A ambiguidade sexual da protagonista de “Meu nome é Badgá”, que estreou sob aplausos na mostra Generation do 70ª Festival de Berlim, só é questionada ou atacada fora do seu círculo de amigos.

Ou do ambiente familiar, onde recebe o apoio incondicional das duas irmãs e da mãe (interpretada pela cantora Karina Buhr), manicure de um salão da Freguesia do Ó, na periferia de São Paulo, onde trabalham mulheres hétero, gays e transexuais é nesse núcleo que a artista plástica, performer, cantora e atriz Paula Sabbatini, a Paulette Pink, brilha.

Não à toa, o longa ganhou por unanimidade do júri internacional da Generation, que premia o melhor longa de temática LGBTQ+ na Berlinale.

Veja matéria do Canal Brasil em Berlim:


"O filme é dominando por mulheres fortes, que não precisam sofrer ou fazer papel de vítima para testar a força que têm" — descreve a paulistana Caru Alves de Souza, diretora do longa-metragem, uma das 19 produções (ou coproduções) brasileiras em cartaz na maratona alemã. —

"Percebo hoje que as mulheres se sentem mais fortalecidas pelos laços que constroem entre elas. Sentem-se mais fortes quando estão juntas, atuando coletivamente, do que quando buscam soluções individuais para seus problemas" - diz.

“Meu nome é Bagdá” abriga diferentes aspectos das questões de gênero e lutas feministas a partir da experiência da personagem-título, que se veste e age como um garoto.

Vivida pela skatista Grace Orsato, ela é a única menina a frequentar a pista de skate do bairro, mas, com sua atitude, abre caminho para mais.

"Tenho um carinho especial pela Bagdá, porque ela não tenta agradar aos outros para ser aceita como é e, ao mesmo tempo, luta para que o mundo mude e outros como ela sejam aceitos também" — observa a argentina Josefina Trotta, coautora, com Caru, do roteiro da produção.

A trama é livremente inspirada no livro “Bagdá — O skatista”, de Toni Brandão, lançado em 2009, mas centrado na figura de um menino.

A versão imaginada por Caru mudou de ponto de vista ao longo do tempo e, quando o projeto foi retomado, a partir de 2014, absorveu os crescentes questionamentos sobre gênero e disputas identitárias.

"O primeiro tratamento do roteiro era bem próximo do livro. Durante o laboratório de criação de que o projeto participou, tive como consultora a Laurence Coriat, que fazia os roteiros do (cineasta britânico) Michael Winterbottom. Ela percebeu que eu passava horas falando sobre Tatiana, prima do protagonista, e única personagem feminina da história do Brandão, e me disse: “Acho que você não quer contar a história do Bagdá, mas a da Tatiana. E era verdade!" — lembra a diretora, que estreou na ficção com “De menor” (2013), outro drama envolvendo jovens.

"É um universo inesgotável, que me atrai muito, porque envolve momentos de incerteza e indefinições".

Confira matéria do programa 'Cinejornal', do Canal Brasil:


A cineasta de 40 anos frequentou as pistas de skate quando jovem, mas não tinha ideia do quanto o ambiente dos skatistas havia mudado.

Em suas pesquisas, Caru descobriu que a participação feminina cresceu muito desde a década de 1990 e ficou surpresa ao descobrir que havia um coletivo de mulheres skatistas em São Paulo.

Dali vieram muitas contribuições para “Meu nome é Bagdá” — inclusive parte do elenco.

"A interação com os grupos foi essencial. Queríamos falar com propriedade sobre eles. E acho que acertamos: A Grace sempre diz que a história da Bagdá é a de quase toda menina skatista, a dela inclusive".

Foto do topo: Parabéns à cineasta, ao elenco e a todos os envolvidos no projeto - agora ostentando o poderoso Teddy Awards da Barlinale.

Foto do topo:
Paula Sabattini, Grace Orsato e Karina Buhr, em cena do filme "Meu nome é Bagdá" (Divulgação)

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