quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

R.I.P.: JOSÉ MOJICA MARINS, O ZÉ DO CAIXÃO

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Mestre do terror brasileiro foi aclamado mundo afora, dirigiu 40 produções e atuou em mais de 50 filmes
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O ator, diretor e roteirista José Mojica Marins, conhecido pelo personagem Zé do Caixão, morreu na tarde desta quarta (19)  aos 83 anos, vítima de uma broncopneumonia.

A morte foi confirmada pela filha de Mojica, a atriz Liz Marins.

O cineasta estava internado desde o dia 28 de janeiro para tratar de uma broncopneumonia.

O velório deve acontecer no Museu da Imagem e do Som (MIS) na quinta (20), em cerimônia aberta ao público.

Mojica deixa sete filhos.

Filho dos artistas circenses Antonio André e Carmen Marins, José Mojica Marins nasceu no dia 13 de março de 1936, em São Paulo.

Mojica dirigiu 40 produções e atuou em mais de 50 filmes.

Seu interesse pelo cinema de terror escatológico começou nos anos 1950, mas foi em 1964, com o filme "À meia-noite levarei sua alma", que ganhou o apelido de Zé do Caixão.

Seu personagem mais famoso, o agente funerário sádico com roupas pretas, cartola, capa e unhas longas, ainda aparece em "Esta noite encarnarei no teu cadáver" (1967), "O estranho mundo de Zé do Caixão" (1968) e "Encarnação do demônio" (2008).

Zé do Caixão no filme 'Encarnação do Demônio', de 2008 — Foto: Divulgação
Zé do Caixão no filme 'Encarnação do Demônio', de 2008 — Foto: Divulgação
Mesmo conhecido como o mestre do terror no cinema brasileiro, Mojica trabalhou com outros gêneros, como aventura, faroeste e pornochanchada.

Ele também influenciou o movimento do cinema marginal nos anos 1960.

Quando tinha 17 anos, fundou a Companhia Cinematográfica Atlas, que produziu filmes amadores - o primeiro longa-metragem foi “A sina do aventureiro”, de 1958.

Em 1963, escreveu a história de “Meu destino em tuas mãos” e procurou o cineasta Ozualdo Candeias para fazer o roteiro, mas o colaborador não foi creditado.

Zé do Caixão em 'Esta noite encarnarei no teu cadáver', de 1967 — Foto: Divulgação
Zé do Caixão em 'Esta noite encarnarei no teu cadáver', de 1967 — Foto: Divulgação
O personagem Zé do Caixão, conforme Mojica contou em várias entrevistas, surgiu para ele durante um pesadelo, em que um homem de capa preta o arrastava para um túmulo.

A primeira aparição do Zé do Caixão no cinema foi em "À meia-noite levarei sua alma", de 1964.

Nos Estados Unidos, ele ficou conhecido como “Coffin Joe” e daí, foi aclamado como um dos grandes mestres do terror nas telonas.

Segundo o site oficial do personagem, Josefel Zanatas era o nome verdadeiro de Zé do Caixão.

O coveiro era filho de um casal dono de uma rede de agências funerárias.

Por isso, o pequeno Zé do Caixão cresceu como uma criança muito sozinha e discriminada pelos colegas por causa da profissão dos pais.

A biografia ainda diz que Zé do Caixão é um “homem sem crenças, não acredita em Deus nem no Diabo, só acredita nele mesmo, acha que é o único que pode fazer justiça”.

O cineasta e ator José Mojica Marins, conhecido como Zé do Caixão em fotografia feita em 2001 — Foto: Agliberto Lima/Estadão Conteúdo
O cineasta e ator José Mojica Marins, conhecido como Zé do Caixão em fotografia feita em 2001 — Foto: Agliberto Lima/Estadão Conteúdo
Com o sucesso, o personagem começou a ser confundido com o seu próprio autor.

No anos 1990, o Zé do Caixão apresentou o “Cine Trash”, na Rede Bandeirantes.

Ele também comandou um programa de entrevistas no Canal Brasil, "O estranho mundo do Zé do Caixão", que estreou em 2008 e teve sete temporadas.

Nesse programa, ele entrevistou a atriz Alessandra Negrini:


Em homenagem ao cineasta, o canal Arte 1 relembrou a matéria sobre a exposição "À Meia-Noite Levarei sua Alma", de 2016, sobre a vida e a obra de Zé do Caixão:


Em 2014, José Mojica sofreu um infarto, passou por uma angioplastia e colocou três stents (bubos de metal para melhorar o fluxo sanguíneo da artéria) no coração.

Ele voltou a ser internado no mesmo ano em razão de uma piora nas funções renais.

Desde então, ele se manteve mais afastado da mídia.

DEPOIMENTOS:

"Conheci Mojica numa retrospectiva dos seus filmes.

Falava sem parar, parecia ligado no 220 - e todos adoraram.

Depois, sempre o encontrava no final da tarde numa padaria no Largo do Arouche, centro de São Paulo, onde sempre se mostrava muito amável e carinhoso para com quem o reconhecia.

Inteligentíssimo, conhecia e discorria sobre o cinema - americano, italiano, francês - como ninguém, mestre como era.

Vai fazer muita falta".

Cláudio Nóvoa - editor do Blog de Klau

"Zé do Caixão morrer é a prova de que, no Brasil, nada funciona. Nem os zumbis.

A nota fúnebre de hoje lembrou-me quando, na faculdade de jornalismo, fui entrevistá-lo para um microjornal que editava.

Em seu escritório no centrão, cheio de cabeças de animais pelas paredes, nosso Nosferatu me recebeu de ótimo humor.

Ali pelas tantas, fomos assistir, na ilha de edição, uma cena de um filme que ele havia dirigido tempos atrás.

Era assim: uma mulher caída no chão, seminua, sendo atacada por um batalhão de aranhas caranguejeiras. Os bichos subiam por suas pernas e a cobriam quase que por inteiro.

Impressionado com o realismo do take, perguntei:

"Mojica, que efeito especial você usou pra fazer isso"?

E ele, sem tirar os olhos da tela, respondeu:

"Pinga. Enchemos a atriz de cachaça".

Carlos Castelo - publicitário, jornalista e escritor

"A notícia da sua morte me abalou pessoalmente. 

Fazer a série ZÉ DO CAIXÃO, de Vitor Mafra me fez entrar em contato profundo com a vida e a obra desse mestre brasileiro, cineasta e ator autodidata, que botou os dois 'pés na jaca' dessa puta vida.

Essa foto retrata a visita dele no nosso set. Eu vesti o personagem, ele aprovou: sorriu, depois chorou, em silêncio.




Agradeço pela honra de fazer parte da trupe, a chance de viver por dentro, pelo menos um pouquinho, tua aventura, Zé.

Assim como Chaplin e seu Carlitos, Mojica e Zé do Caixão habitam nosso imaginário mais profundo.
E para sempre".


Matheus Nachtergaele - Ator

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