sexta-feira, 7 de junho de 2013

'O GRANDE GATSBY': O LIVRO, AS MUITAS VERSÕES PARA AS TELONAS E O DELÍRIO VISUAL E IMPECÁVEL DE BAZ LUHRMANN



Para essa postagem, vocês me perdoem, mas eu tive de dividi-la na minha história com o livro, minha fixação por Jay Gatsby, contar um pouco sobre as outras versões cinematográficas e só então falar sobre o longa que finalmente estreia hoje aqui no Brasil, um mês depois da estreia americana.

Vamos lá?

POR QUE SOU LOUCO POR GATSBY

Quem me conhece sabe quais são meus ícones pop favoritos.

O primeiro é James Bond - tanto nos livros de Ian Fleming quanto em  todos os 25 filmes que fizeram sobre ele - que até agora me deixam absolutamente enlouquecido, a ponto de ter largado um bom emprego só para fazer figuração no Rio de Janeiro, numa cena de 30 segundos em '007 Contra o Foguete da Morte/Moonraker' (1979).

O segundo é Bruce Wayne: perdi minha primeira família também muito cedo, sou tão neurótico quanto ele e se não me visto de morcego e salto telhados por aí, faltou pouco.

O terceiro é Kal-El: vir de outro mundo, tentar salvar este que o acolheu a toda hora, ter pais adotivos adoráveis como Jonathan e Marta Kent e ainda ter de interpretar à perfeição um paspalho como Clark - como eu mesmo faço muitas vezes - é genial para mim.

A capa do meu exemplar de 'O Grande Gatsby', que comprei em 1974, logo após sair do cinema

O quarto, e não menos importante, é Jay Gatsby: li a obra prima de Francis Scott Fritzgerald aos 14 anos, e graças a ele, esse idiota pode entender melhor como as pessoas que nos rodeiam são más, a face mais escura do dinheiro, o mundo de aparências e mentiras em que estamos constantemente mergulhados e, principalmente, o que é sofrer por um amor e sofrer mais ainda por tentarmos ser quem não somos para agradar e ter esse amor.

A IMPORTÂNCIA DE GATSBY NA CULTURA POP E NO CINEMA

Leitura obrigatória nas escolas americanas 'O Grande Gatsby' - ambientado na Nova York dos anos 1920 e arredores e frequentemente eleito como o 'The Best American Book' - mostra os dias de um misterioso milionário que esconde a origem de sua fortuna, mas que o leitor logo saca que, por suas ligações com gangsters, tem a ver com contrabando e atividades criminosas.

Na verdade, ele alugou uma mansão espetacular e dá festas sensacionais no mais absoluto estilo boca livre, na esperança de chamar a atenção de Daisy - por quem ele se apaixonou quando era muito jovem e por quem foi rejeitado - porque como ela mesma explica a certo momento: “moça rica não se casa com homem pobre”.

O autor Francis Scott Fritzgerald - foto: Diário do Centro do Mundo

Agora, ele vive uma vida que não é a dele, no lado pobre da Baia observando o farol que ilumina a casa de Daisy , do lado oposto e chique, na esperança de que ela volte para sua vida, agora que ele é tão rico e vazio quanto ela.

O livro foi publicado em 1924 e já em 1926, ainda no cinema mudo, tivemos a primeira versão - com Warner Baxter e Lois Wilson, dirigido por Herbert Brenon - e depois outra, esquecida, chamada 'Até o Céu tem limites!' - dirigida por Elliot Nugent, estrelado por Alan Ladd, Shelley Winters (a mais perfeita Mirtle das telonas), e a inadequada Betty Field como Daisy.

Em 1974, a Paramount Pictures fez a versão que pretendia ser a definitiva do livro.

Estrelada por Robert Redford no auge da beleza como Gatsby e Mia Farrow como Daisy, o projeto começou quando o então chefe de produção do estúdio, Robert Evans (o mesmo de 'O Poderoso Chefão' e 'Chinatown') comprou os direitos em 1971,  porque achava que o papel de Daisy era ideal para sua então mulher Ali McGraw - que ele tinha revelado em 'Love Story' - só que ela se apaixonou por Steve McQueen, largou o marido e destruiu a carreira.

Robert Redford como Jay Gatsby e Mia Farrow como Daisy Buchanan, em cena do longa de 1974

O roteiro estava sendo escrito por Truman Capote, mas na versão dele, o narrador Nick era homossexual e Jordan uma vingativa lésbica.

Com a competência de sempre, Francis Ford Coppola reescreveu tudo em três semanas e foi bastante fiel ao original.

Daisy acabou sendo interpretada por Mia Farrow - que na época das filmagens estava grávida, fato não tão discretamente escondido.

Mia Farrow como Daisy

Mia - que na época ainda não era casada com Woody Allen - deu a Daisy um permanente ar de sonsa e sonada, conseguindo passar ao espectador a frivolidade e o vazio do personagem, refletindo suas duvidas e anseios - e se saiu muito bem.

Robert Redford não se saiu bem como Gatsby, é passivo demais e tem menos chance ainda de se explicar.

Robert Redford como Jay Gatsby

Quando o faz, o resultado é muito artificial, mesmo porquê ele parece realmente ausente.

Mia diz em sua biografia - e com razão - que Redford, sempre lindo, não tinha a menor química com ela.

Mas o longa tem uma direção de arte, fotografia e figurinos magníficos - e eu, que tinha 14 anos à época,  fiquei tão fascinado que saí do cinema diretamente para comprar o livro.

Além desta versão de 74, houve um telefilme de 2000 - com Mira Sorvino e Toby Stephens (filho de Maggie Smith) - e uma versão black disfarçada chamada 'G - Triangulo Amoroso' (2002) com Blair Underwood e Richard T. Jones.

CRÍTICA - 'O GRANDE GATSBY' (2013)

F. Scott Fitzgerald sabia muito bem que, se a vida fosse uma festa, ela seria um grande baile de máscaras e foi assim que retratou na sua obra prima o que havia de mais podre por baixo do artificial glamour dos anos 1920 - pré quebra da bolsa de NY e, principalmente, pré segunda guerra.

A releitura cinematográfica que o diretor australiano Baz Luhrmann faz agora para 'O Grande Gatsby' - que finalmente estreia hoje em 141 salas em todo o Brasil- mantém a época em que a história do livro se passa,  mas continua sendo muito verdadeira para a nossa época, já que, até agora, infelizmente nada mudou nas relações humanas.

O longa - que foi a obra de estreia no último festival de Cannes - é um delicioso delírio visual, do primeiro ao último fotograma, onde Luhrmann, conhecido por trazer o passado à tona com muitas cores - veja dois de seus filmes anteriores, 'Moulin Rouge' e 'Romeu + Julieta' - mostra aqui que foi o diretor ideal para o mundo artificial da trama do livro

Leonardo DiCaprio é Jay Gatsby - fotos dessa postagem: Divulgação/Warner Bros.

Se o excesso de preocupação estética - que faz a releitura de Gatsby chegar aos cinemas em 3D - excede até seu exagero iminente, com uma série de cenas repetitivas mostrando panoramas de Nova York, chuva caindo, descidas vertiginosas sobre a cidade, absolutamente desnecessárias, as festas na casa de Gatsby me extasiaram muito, a ponto de eu chorar em plena sala de cinema por ver ali, finalmente transposta para a telona, tudo o que eu imaginava e sentia lendo o livro.

As festas esfuziantes na mansão de Gatsby são iguais às narradas no livro

O longa tem um ótimo elenco principal e  adaptação da trama na medida certa para o grande público, o qual visa atingir.

Como no livro, quem narra a história é Nick Carraway (Tobey Maguire, no melhor papel de sua carreira), jovem aspirante a escritor e que conta como conheceu o milionário Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) ao seu psiquiatra.

Tobey Maguire é o narrador da história, Nick Carraway

O enigmático dono da mansão vizinha de Carraway, que mal aparece em suas festas boca livre, com muitos convidados e onde se serve o bom e o melhor, intriga o rapaz quando ele conhece Nova York e vai trabalhar na bolsa de valores.

Daisy Buchanan (Carey Mulligan), sua prima, e Tom (Joey Edgerton), marido dela, moram do outro lado da baía e adoram esbanjar dinheiro.

Leo DiCaprio, em cena com Carey Mulligan como Daisy e Joey Edgerton como Tom - o casal Buchanan
A escolha de Leonardo DiCaprio para interpretar Jay Gatsby é um dos achados do longa: lindo de viver e agora um ótimo e experiente ator, Leo consegue captar em cada cena todo o amargor e solidão do personagem.

Sua cena com a mão estendida no pier da casa de Gatsby, tentando pegar a luz do farol vizinho à casa de Daisy, igual à cena descrita no livro, é um dos momentos mais emocionantes da cinematografia recente.

Da janela, Jay tenta ver na multidão de uma de suas festas a presença de sua amada Daisy

Pena que Carey Mulligan não soube compreender a superficialidade de Daisy, levando o espectador a um mar de dúvidas diante de sua ingenuidade e causando uma bela surpresa no final - ela ainda é uma atriz  jovem, já fez outros trabalhos bem melhores e seguramente vai se recuperar.

Como no livro, a melhor cena do filme se dá exatamente quando as máscaras caem durante uma discussão entre Gatsby, Daisy e Tom  - confira no trailer - e onde várias facetas vem à tona.

Leo DiCaprio e Carey Mulligan, como Gatsby e Daisy: ele, sensacional; ela, apenas correta

O diretor já declarou várias vezes que sua opção por ter grandes nomes da atual música negra americana na trilha sonora deve-se ao espaço que o jazz, berço de todas elas, teve nos anos 1920.

Assim, Lana Del Rey e Florence and the Machine integram a trilha sonora pop, que funciona bem para o estilo proposto, mesmo que a sonoridade incessante na primeira metade do filme faça com que algumas cenas percam a intensidade e que o longa só alcance equilíbrio nesse quesito apenas na segunda parte, intercalando momentos mais silenciosos e densos.

Gatsby, Daisy e Nick, em cena do filme

O longa de Baz Luhrmann - seguramente o melhor de sua carreira até agora - pode até não ser inteiramente fiel a todos os personagens e adjetivos da obra estupenda de Fitzgerald, mas consegue expressar de forma clara o vazio amargo de um mundo superficial, com diálogos e narrações muito bem escolhidas, além de uma fotografia em 3D muito boa e uma direção de arte, cenários em computador e figurinos muito bem feitos.

Com um final perturbador e com cenas que o livro não tem - como a infância pobre de Gatsby - o drama provoca o espectador até o último segundo, continua sendo um espetáculo de Hollywood mas, dentro do contexto do cinema de massa atual, faz muito sentido.

Outro filmaço em que a cidade de Nova York se apresenta lindona - e que eu não me cansarei nunca de ver.

E WARNER BROS: 
Nem me peça para segurar a postagem de 'Superman:O Homem de Aço' como eu fiz, a duras penas, com essa.

Assim que o longa do Super estrear nos EUA, eu posto tudo aqui.
E pronto.

Confira o trailer do filme:

*****
2 O Grande Gatsby - Pôster__1.jpg
'O GRANDE GATSBY'
Título Original:
The Great Gatsby
Gênero:
Drama
Direção:
Baz Luhrmann
Roteiro:
Baz Luhrmann e Craig Pearce - baseados no livro homônimo de F. Scott Fitzgerald
Elenco:
Tobey Maguire,Leonardo DiCaprio,Carey Mulligan,Amitabh Bachchan, Arthur Dignam, Barry Otto, Brendan Maclean, Callan McAuliffe, Corey Mills, Daniel Newman, Drew Pearson, Elizabeth Debicki, Felix Williamson, Gemma Ward, Goran D. Kleut, Isla Fisher, Jacek Koman, Jack Thompson, Jason Clarke, Joel Edgerton, Kate Mulvany, Kim Knuckey, Max Cullen, Stephen James King, Vince Colosimo
Produção:
Baz Luhrmann, Catherine Knapman, Catherine Martin, Douglas Wick, Lucy Fisher
Fotografia:
Simon Duggan
Trilha Sonora:
Craig Armstrong
Duração:
142 min.
Ano:
2013
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
07/06/2013
Distribuidora:
Warner Bros
Estúdio:
Bazmark Films / Red Wagon Productions / Village Roadshow Pictures
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:

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