Morto há 163 anos, Edgar Allan Poe é responsável por um dos principais sucessos da temporada da TV em 2013.
É bebendo dos escritos do autor americano, bisavô dos gêneros suspense e mistério, que a série "The Following", do Warner Channel, vem sacudindo a audiência da televisão aberta, tanto nos EUA, quanto aqui no Brasil - no primeiro episódio, foi vista por 10 milhões de americanos.
A série, que estreou em 21 de fevereiro aqui no Brasil, mostra a caçada de um ex-detetive do FBI, Ryan Hardy (Kevin Bacon, excepcional) contra os seguidores de um serial killer (James Purefoy) - a série marca a estreia de Bacon como protagonista na TV.
No enredo, o assassino Joe Carroll era um professor universitário especializado na poesia de Edgar Allan Poe e que usou referências dessas obras ao matar 14 de suas alunas.
O então detetive Hardy consegue prendê-lo, mas anos depois, uma rede de dezenas de discípulos do assassino retoma a matança.
O seriado não é caso isolado de inspiração na obra de Poe: de "Os Simpsons" a atrações como "Os Sopranos", "Gilmore Girls" e "CSI", a filmes como "O Corvo" (1994), suas histórias seguem na mira de adaptações e recriações - em abril, a Fox estreará no Brasil "Contos do Edgar", seriado em cinco capítulos trazendo à realidade paulistana histórias do escritor, sob a produção da O2 Filmes.
Kevin Bacon como o agente Hardy, em cena da série - foto: divulgação
"Embora seja um autor clássico e canonizado, Edgar Allan Poe encontrou um espaço na cultura pop atual, alimentando nossos medos e criando nossos terrores", diz Leo Braudy, professor de literatura americana da University of Southern California.
"Poe deixou uma vasta descendência artística, como Hitchcock, Debussy e Stephen King. Até na capa de um disco dos Beatles lá está ele", completa Jeanette Rozsas, autora do livro "Edgar Allan Poe, o Mago do Terror".
"Tínhamos uma lista dos atores que gostaríamos de trabalhar e, antes de começar os contatos, recebemos uma ligação do agente do Kevin, dizendo que ele havia lido o roteiro e queria fazer", conta o diretor e produtor-executivo Marcos Siega, que afirma estar impressionado com o trabalho de Bacon à frente do programa.
"Ele é demais. Filmar uma série de TV é muito difícil e bem diferente de fazer cinema, são muito mais horas de trabalho diariamente e ter alguém como Kevin, que aparece preparado, nunca é um problema e dá o tom para os outros atores é um privilégio. Todos querem impressioná-lo no set. Porque ele é tão bom, preparado e nunca reclama, todos fazem o mesmo."
Carregado de cenas de violência, o programa - criado por Kevin Williamson ("Vampire Diaries" e "Dawson's Creek") - coloca Bacon na pele de um mocinho, depois de sucessivos papéis de vilão nas telonas.
"'The Following' não é uma série tradicional. Quando você assiste, cairá de amores por personagens que nem sempre são os bonzinhos. Isso porque nós estamos sempre preenchendo as lacunas, contando histórias das pessoas nesse culto, ao mesmo tempo que o FBI tenta capturá-los. E, como audiência, você vai responder ao lado humano da história. Não buscamos só assustar as pessoas. É um drama verdadeiro", defende Siega, que nasceu em NY e é filho do jogador de futebol brasileiro Jorge Siega - que jogou com Pelé no time New York Cosmos nos 70 - com uma francesa.
O diretor Marcos Siega (esquerda) dirige o ator James Purefoy em cena de "The Following" - foto: Divulgação
"Meu pai é gaúcho. Na infância, passei muitas férias e fim de ano no Brasil. Sempre fui ligado ao futebol", afirma ele num português perfeito a jornalistas brasileiros, reconhecendo que não conhece muito a produção audiovisual brasileira.
A carreira na TV começou com a música: antes de dirigir ficções como "Fastlane" (2002-03), "Veronica Mars" (2004-05), "Dexter" (2007-09) e "Vampire Diaries" (2009-11), comandou videoclipes de bandas como Weezer, Blink 182 e System of a Down.
"Parte foi sorte e parte foi porque fazia um bom trabalho. Mas foi 'Dexter que me levou para outro patamar" - os fãs do serial killer mais amado da TV o agradecem, de joelhos, até hoje.
O ator britânico James Purefoy interpreta o assassino em série Joe Carroll - foto: Divulgação
O ator James Purefoy interpreta o serial killer Joe Carroll, antagonista de Ryan Hardy, vivido por Kevin Bacon.
Em entrevista ao Hollywood Watch, Purefoy conta que, para criar o universo sombrio de seu personagem, ficou uma semana trancado em um quarto cercado por livros, filmes e fotos sobre assassinos reais.
“Só assim consegui chegar a um consenso sobre o que os torna quem são”, explica o ator britânico.
Na pele de seu personagem, Purefoy fala manso, é educado e gentil, um homem bem apessoado que só se sente feliz matando mulheres jovens.
"Ele mata arrancando os olhos das vítimas", ele explica com aflição na voz, durante a entrevista por telefone de Londres.
Só isso seria suficiente para deixar Hannibal Lecter, vilão de "O Silêncio dos Inocentes", meio incomodado, mas Purefoy insiste que a série não é definida pela sanguinolência.
"Tudo revolve em torno do personagem do Kevin Bacon e o meu", define.
"É uma briga boa... ele é um ótimo ator. A relação entre eles é curiosa e interessante e fico feliz de poder contracenar com um cara tão incrível."
Os dois atores raramente são vistos na telinha juntos, mas, apesar disso, a química é impressionante.
"Só queria que eles se beijassem", brincou um repórter numa coletiva recente, fazendo com que Bacon nem piscasse em dar uma beijoca estalada na bochecha de Purefoy.
A primeira temporada terá 15 episódios e devido ao sucesso, uma segunda já está nos planos da Fox - que exibe a atração nos Estados Unidos.
*****
CRÍTICA
"The Following" começa com a fuga de Carrol (James Purefoy) - um serial killer prestes a ter a sentença de morte executada - da prisão.
Ao escapar, ele começa a matar novamente e passa a usar a internet para criar uma seita de serial killers, o que força o agente Hardy (Kevin Bacon), responsável pela primeira prisão de Carrol, voltar da aposentadoria, agora como consultor do FBI, para tentar coloca-lo de volta atrás das grades.
Hardy sabe exatamente como o criminoso age, conhecendo-o melhor do que qualquer um, mas ele não é a mesma pessoa de anos atrás, já que traz feridas físicas e psicológicas ligadas ao caso.
Apesar de seu grande conhecimento, Hardy é visto como um problema para o time encarregado do caso - entre eles os agentes Mike Weston e Jennifer Mason - mas prova ser de grande valia quando descobre que Carroll está se comunicando com uma rede de criminosos, seus seguidores, mesmo preso novamente.
Carroll usa uma rede de contatos - inclusive sua advogada - para mandar mensagens cifradas para seus seguidores - os 'followings' do título da série - o que fica evidente que escapar da prisão era apenas o primeiro passo de algo muito maior, envolvendo assassinos diversos e desconhecidos.
Carroll está focado em terminar aquilo que começou nove anos antes, colocando Hardy como uma peça importante de seu tabuleiro.
Enquanto isso, Hardy terá uma segunda chance de capturar seu grande inimigo, enquanto lida com o culto de serial killers.
O diretor Marcos Siega é, para mim, um dos melhores diretores da TV de todos os tempos, ao conseguir dar ritmo e coerência às cenas carregadas de emoção da série, que tem fotografia de cinema e um elenco simplesmente sen-sa-cio-nal.
É a melhor série de 2013, disparado.
Confira um trailer da série:
*****
'THE FOLLOWING'
Onde: Warner Channel
Quando: Quintas
Horário: 22:45h.
Classificação: 14 anos
Cotação do Klau:
Nenhum comentário:
Postar um comentário