Hoje, a matéria de capa do caderno 'Ilustrada' da 'Folha' - escrita por Rodrigo Salem - fala justamente sobre a overdose de efeitos especiais presentes nos filmes de uns tempos para cá, e do desconforto que os grandes atores tem de contracenar com fundos azuis ou verdes, marcados com "x" ou mesmo com bolas de tênis - como foi o caso de Ewan Mcgregor em 'Jack: O Caçador de Gigantes', filme dirigido por Bryan Singer e que estreia hoje aqui no Brasil, depois de uma semana campeã nos EUA, onde foi o Top 1 da semana passada.
Afinal, transformar contos de fadas em filmes de ação se tornou a bola da vez para os cofres de Hollywood, com produções como o fraquíssimo 'João e Maria – Caçadores de Bruxas', o bom 'Branca de Neve e o Caçador' e o regular 'A Garota da Capa Vermelha', que reinventam histórias clássicas, procuram agradar o público jovem com visual e linguagem modernos, além de belos protagonistas apaixonados.
O que pega em todos eles é o excesso, a overdose de efeitos especiais e 3D.
Se dois grandes mestres das telonas - Martin Scorsese e Win Wenders - já tinham recentemente nos dado obras magníficas em 3D e com efeitos especiais na medida certa - 'Hugo Cabret' e 'Pina', respectivamente - e dado um norte aos outros diretores, aqui,
Singer usa linguagem mais infantil e cartunesca do que outros do mesmo gênero, tudo recheado com uma overdose de efeitos de fazer o péssimo 'Lanterna Verde' - também da Warner - parecer traque de festa junina.
A narrativa, baseada na história de 'João e o Pé de Feijão', apela, de forma rasa, para o estilo 'capa e espada', criando entretenimento apropriado para todas as idades, com mais apelo entre as crianças.
Na trama, o camponês Jack (Nicholas Hoult, bom ator que é a cara do eterno Superman, Christopher Reeve) e a princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson) cresceram ouvindo histórias sobre os gigantes, seres sedentos por sangue que vivem entre o céu e a terra.
Nicholas Hoult como Jack, em cena do filme - Fotos dessa postagem: Divulgação/Warner Bros.
Após invadirem os reinos humanos há milhares de anos, as criaturas foram vencidas por um rei que tinha um artefato criado a partir do coração de um dos monstros.
Após a vitória, o monarca mandou cortar o enorme pé de feijão que ligava os dois mundos, só que a lenda vira pesadelo quando Jack troca o cavalo de seu tio por feijões mágicos e, inadvertidamente, recria a ligação entre os mundos, colocando a princesa em perigo.
Mesmo com a overdose de efeitos especiais e considerando o orçamento de US$ 175 milhões, o trabalho é pífio, com os gigantes parecendo todos iguais, fazendo da legião de monstrengos uma massa cinza e sem vida.
Eleanor Tomlinson interpreta a princesa Isabelle
Eles não são nem bizarros nem realistas o bastante, parecem deslocados no mundo à sua volta e somente o líder dos colossos - interpretado pelo ótimo Bill Nighy pela técnica de captura de movimentos - vale a pena.
O visual dos gigantes é tão ruim quanto sua falta de personalidade e a forma ridícula como podem ser vencidos.
Eles são tão dispensáveis à trama a ponto de o real vilão nem mesmo ser um deles e sim Lorde Roderick (Stanley Tucci, em seu pior papel no cinema), conselheiro real, líder do exército e noivo de Isabelle, que não procura esconder nem por um minuto suas intenções de usar os monstros para conquistar o mundo.
Se o diretor Singer esteve presente no set, deve ter sido pra ficar tomando cafezinho, pois interpretações exageradas e caricatas estão presentes em todo o elenco - até mesmo nos experientes Ewan McGregor e Ian McShane, acentuando a linguagem que eu chamo de "Momento Teletubbie" - ou seja, tudo infantil demais.
Lorde Roderick, interpretado por Stanley Tucci, em seu pior papel no cinema
Diálogos simples e piadas idiotas - como o cozinheiro limpando o nariz antes de enrolar Elmont (McGregor) em massa de pão, além das roupas e penteados modernos (nada a ver com cenários de fantasia), deixam o longa um tormento para quem já passou dos dez anos de idade.
Com tanto infantilismo, o que acaba sendo o mais curioso é ver a produção pesar a mão nas cenas violentas, onde os gigantes comem humanos de formas grotescas e partes de corpos voam - sem sangue - pela telona! - lembrei do tiranossauro do 'Jurassick Park'.
Salvam-se os cenários - criados em CGI - belíssimos: afinal, a grana toda tinha que ir para algum lugar...
Apesar de tudo, Bryan Singer foi esperto o suficiente para manter o bom ritmo do longa na montagem e acaba entregando um projeto bem melhor do bombas tipo 'João e Maria - Caçadores de Bruxas'.
Os gigantes: todos iguais
Apesar de não ter o charme das obras originais dos irmãos Grimm ou das versões da Disney, o longa serve como opção para quem gosta de contos de fadas 'modernos'.
Ah, sim: quem tem menos de dez anos de idade vai gostar - pena que a classificação seja 'a partir de dez anos'...
Pessoal da Warner Bros. precisando urgentemente encontrar novos sucessos como as sagas 'Batman' e 'Harry Potter' - com filminhos como esse, tá difícil.
Confira o trailer do filme:
*****
'JACK: CAÇADOR DE GIGANTES'
Título Original:
Jack the Giant Slayer
Diretor:
Bryan Singer
Elenco:
Nicholas Hoult, Stanley Tucci, Bill Nighy, John Kassir, Ewan McGregor, Ian McShane, Warwick Davis, Eddie Marsan, Eleanor Tomlinson, Ewen Bremner, Ben Daniels e outros
Produção:
Neal H. Moritz, David Dobkin, Patrick McCormick
Roteiro:
Christopher McQuarrie, Darren Lemke, Dan Studney
Fotografia:
Newton Thomas Sigel
Trilha Sonora:
John Ottman
Duração:
114 min.
Ano:
2012
País:
EUA
Gênero:
Aventura
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Warner Bros.
Estúdio:
New Line Cinema / Legendary Pictures / Bad Hat Harry Productions / Original Film / Warner Bros. Pictures
Classificação:
10 anos
Cotação do Klau:
Nenhum comentário:
Postar um comentário