sábado, 29 de setembro de 2012

HEBE CAMARGO: DA VÁLVULA AO VIVO AO HD GRAVADO, ESSA FOI A MULHER QUE EU CONHECI


Na quinta, na postagem "A Semana na TV", eu tinha festejado a volta - agora oficial - de Hebe Camargo ao SBT.

Conduzida pelo próprio Silvio Santos, a volta da Rainha da TV Brasileira à emissora "mais feliz do Brasil" seria uma senhora volta por cima para quem, nos últimos anos, estava sendo derrubada por um câncer.

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Hebe Camargo apresentandoo programa da TV Paulista "O Mundo é das Mulheres", com Humberto de Campos, assistente de direção geral da Organização Vitor Costa, e o entrevistado da noite, José Tavares de Miranda (14/1/56)

O SBT já tinha até a data para o retorno da Diva à telinha: seria em novembro, no Teleton, onde ela, desde a primeira edição, era a madrinha da maratona para arrecadação de fundos para a séria e competente AACD.

Pena que o câncer não deixou: na madrugada de hoje, e após uma parada cardíaca, a Diva nos deixou, após uma vida intensa, luminosa, verdadeira e, acima de tudo, profissionalíssima.

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Em 1973, estrela maior da Record

Hebe começou na TV nos seus primeiros dias: só não esteve no primeiro - onde iria cantar o horrendo "Hino à TV", aquele que até hoje só a Lolita Rodrigues, que a substituiu, sabe a letra - para passar horas alegres com o seu namorado da época.

Depois, numa época em que a TV era toda ao vivo e os equipamentos eram à válvula - joguem no Google, mulekada! - a já consagrada cantora começou a virar definitivamente a Rainha da TV Brasileira, com passagens pelas TVs Tupi, Paulista (hoje TV Globo SP), Record, Bandeirantes, SBT e Rede TV!

Paulo Giandalia/Folha Imagem
Hebe, com seu último marido, Lélio Ravagnani, em almoço de Betty Szafir, no Banana Banana, em São Paulo (7/9/94)

Foi pioneira dos programas femininos, fez entrevistas externas marcantes, passou para o famoso sofá onde milhares de personalidades se sentaram, e virou uma das mulheres mais marcantes, independentes e carismáticas desse país.

Se a mulher intensa só conheceu o amor verdadeiro na maturidade - com seu último marido, Lélio Ravagnani - Hebe iluminou com alegria, felicidade e bom humor não só a vida de todos à sua volta, mas a vida de milhares de fãs e colaboradores dos seus programas - eu incluso.

Xando P./Folha Imagem
Hebe e o colunista da Folha, José Simão, recebendo o troféu de "Perus do Milênio", em Salvador (BA) (19/2/00)

Nos anos 80, Hebe era a estrela das noites de domingo.
Seu programa, levado ao vivo do teatro Bandeirantes, na Av. Brigadeiro Luiz Antonio, aqui em São Paulo, pela Band, era tão visto que invariavelmente batia o "Fantástico" no Ibope.

Nessa época, meu saudoso amigo Francisco Azevedo, o Kiko, era o diretor do programa, e eu entrei para a produção como estagiário.

Patrícia Santos/Folha Imagem
Hebe e o cantor Daniel durante lançamento do Teleton 2000, em São Paulo - os dois são os padrinhos da maratona (26/4/00)

Hebe chegava ao teatro com a antecedência de uma protagonista de teatro: chegava, cumprimentava absolutamente todo mundo, ia para o camarim, acendia suas velinhas, fazia a maquiagem com calma, recebia os convidados, tomava chá, vodca, água...

Se estivesse triste, poucos saberiam: sua luz era muito maior do que qualquer tristeza.

E no palco, era aquela explosão que todos conhecemos.

Marlene Bergamo / Folha Imagem
Carnaval no Rio de Janeiro, em 2001: Hebe, no carro "Troféu Imprensa" durante desfile do enredo "O Homem do Baú, Hoje é Domingo, É Alegria, Vamos Sorrir e Cantar?" da Tradição, que homenageou o apresentador e empresário Silvio Santos (25/2/01)

Nunca conheci uma estrela tão Diva e tão simples: num julho muito frio em sampa, tínhamos reuniões de produção às segundas e terças na Band no Morumbi, um lugar simplesmente gelado.

E ela comparecia a cada reunião com um casaco ou uma jaqueta de pele diferentes.
E eu perguntei: "Hebe, quantas peles você tem tem?"
E ela: "Sabe que eu não sei?"

Danilo Verpa/Folha Imagem
Hebe Camargo, durante show de Roberto Carlos, no Credicard Hall, em São Paulo (30/11/06)

E ela não sabia mesmo, não era manha de estrela, era a simplicidade de quem tem tudo e não sabia realmente o que tinha.

Depois de meses, no meio de uma reunião da produção, ela se vira pra mim e diz: "Cláudio, 38!"
E eu: "38 o que, Hebe, revólver? Você vai me dar um tiro? tá lôka?"
E ela, gargalhando: "Não, tonto, é que ontem eu contei as peles pra te dar a resposta certa! São 38!"

Patricia Stavis/Folha Imagem
Hebe, no bufê da festa de fim de ano que organizou em sua casa, em São Paulo (20/12/07)

Os nossos caminhos se separaram, até que em 1995, fiquei muito doente e fiquei cerca de 40 dias internado no HC, onde tinha todo dia uma hora de visitas, só.

Num belo dia, ouço um burburinho do lado de fora da enfermaria, minutos antes do horário de visita começar, e eis que Hebe surgiu, vestindo uma blusa que era a bandeira do movimento gay e um ramalhete de rosas vermelhas na outra: tinha sabido que eu estava internado por um amigo comum.

Mônica Bergamo/Folha Imagem
A jornalista Glória Maria, o cantor Roberto Carlos e Hebe, na comemoração dos 80 anos da apresentadora em São Paulo (08/03/2009)

Pediu para todo mundo sair de perto, e me disse, baixinho, que eu era muito jovem, que eu lutasse, que eu sobrevivesse, que o que eu precisasse, ela estaria lá para ajudar.

CONFIRA OS VÍDEOS:




A última vez que eu a vi, foi a mais ou menos um ano: passei pela porta do Colonial Cabeleireiros, nos Jardins, e vi na porta a Mercedes Roadster com a placa "EBE-0001".

Mastrangelo Reino/Folha Imagem
Durante a festa de aniversário de Lucilia Diniz, em São Paulo (11/07/2009) - nessa época, ela deveria ter mais de 38 peles...

Com o segurança confirmando que era ela mesmo, escrevi um bilhete, deixei no pára brisa do carro, pedindo para o segurança avisa-la.

Não deu 20 minutos, e meu celular tocou: era ela, perguntando onde eu estava - eu estava a três quarteirões de lá.

Voltei, ela me abraçou muito e me levou para almoçar, fez várias perguntas sobre como andava minha vida e não se conformou com a minha depressão.

Manuela Scarpa/Photo Rio News
Depois de um período de onze dias internada e passar por cirurgia para retirada de um tumor na região do intestino, Hebe recebe alta em São Paulo (22/3/12)

Nos últimos meses, conseguia falar mais com o meu chará, sobrinho e empresário dela, mas acho que nem ele imaginava que o fim da Diva estava assim, tão próximo.

Hebe, uma das maiores mulheres que este país conheceu, nos deixou - e agora, suas últimas emissoras, SBT e REDE TV!, estão no ar com programação especial sobre ela.

Para quem não sabe, "Hebe" era a deusa grega da juventude e da alegria.

Para uma mulher como ela, o nome era a sua mais perfeita tradução.

Saudades, Hebe!

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