segunda-feira, 26 de novembro de 2018

RIP: BERNARDO BERTOLUCCI

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Diretor de filmes como “Último Tango Em Paris” (1972), “1900” (1976) e “La Luna” (1979), Bertolucci conseguiu figurar entre os maiores do cinema italiano, como Federico Fellini e Luchino Visconti
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O diretor italiano Bernardo Bertolucci morreu na manhã desta segunda (26), aos 77 anos, em Roma.

De acordo com informações da Variety, o cineasta enfrentava um câncer.

Filho do poeta Attilio Bertolucci e da professora Ninetta Giovanard, Bernardo Bertolucci nasceu em Parma (16 de março de 1941) e pretendia seguir a carreira literária, chegando mesmo a frequentar a Faculdade de Literaturas Modernas de Roma.

Foi pelo contato com um dos grandes amigos do seu pai, o poeta e diretor italiano Pier Paolo Pasolini, de quem foi assistente de direção aos 21 anos em “Accattone – Desajuste Social”, que Bertolucci optou pelo cinema.

O seu primeiro filme como diretor foi “A Morte” (1962), baseado em uma história de Pasolini e com roteiro foi feito por ambos.

Foi na década de 1970 que Bertolucci começou a produzir suas grandes obras, como “O Conformista” (1970), “Último Tango Em Paris” (1972) e “1900” (1976).

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Bertolucci dirige cena de 'Último Tango em Paris' com Marlon Brando e Maria Schneider
Sempre polêmico, seus filmes possuíam uma forte carga de crítica política, especialmente focando no embate entre o indivíduo e as forças da história.

Em “Antes da Revolução” (1964), o diretor conta a história de um comunista que deixa seu ideário político em segundo plano após se apaixonar por uma tia, escandalizando sua família.

Em “Os Sonhadores” (2003), Bertolucci enclausura três jovens em um apartamento no ano 1968; nele, o diretor aborda amor, sexo, arte e revolução.

Por ser muito mais explícito nas referências, “Os Sonhadores” foi considerado um retrocesso por parte da crítica.

De qualquer forma, foi o último filme de Bertolucci a ter maior repercussão junto ao público.

Seus dois trabalhos de maior sucesso foram “Último Tango Em Paris” e “O Último Imperador” (1987).

Com este último, o diretor obteve sua única vitória no Oscar, levando nada menos que nove estatuetas: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor montagem, melhor figurino, melhor direção de arte, melhor música e melhor som.

Relembre o trailer:

Ao longo das décadas seguintes, Bertolucci lançou filmes que aumentaram sua popularidade e novamente com elencos estrelados, caso de "O céu que nos protege" (1990), com John Malkovich e Debra Winger e "O pequeno Buda" (1993), protagonizado por Keanu Reeves.

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O diretor instrui Keanu Reeves em cena de 'O pequeno Buda'
Em "Beleza roubada" (1996), dirigiu Jeremy Irons e a então novata Liv Tyler.

Já neste século, uma de suas obras mais conhecidas é "Os sonhadores" (2003), com Eva Green, Louis Garrel e Michael Pitt vivendo três jovens em Paris durante o maio de 1968.

O último longa de Bernado Bertolucci é "Eu e você" (2012).

Em 2007, recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza pelo conjunto da obra, e em 2011 foi agraciado com a Palma de Ouro Honorária no Festival de Cannes.

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Bertolucci recebe sua Palma de Ouro Honorária no Festival de Cannes, em 2011
Além de filmes de ficção, Bertolucci dirigiu documentários e também se destacou como roteirista - assinou, por exemplo, "Era uma vez no oeste" (1968), de Sergio Leone.

Em uma entrevista de 2013, ao falar sobre o filme “Último Tango em Paris”, Bertolucci reconheceu que a atriz Maria Schneider, então com 19 anos, não sabia exatamente como seria a “cena da manteiga” - na cena, o personagem de Marlon Brando usa uma manteiga como lubrificante durante o sexo anal.

Schneider considerou a cena uma violação, pois ela só soube que haveria tal cena depois de ter aceito o papel e porque não tinha conhecimento de que Brando usaria manteiga como lubrificante.

Bertolucci disse que a ideia da manteiga surgiu numa conversa com Brando no dia anterior à filmagem.

A atriz não foi informada do uso da manteiga, pois o diretor queria que Schneider reagisse "como uma menina, não como uma atriz".

Bertolucci finalizou, dizendo que se sentia culpado, ainda que não arrependido.

Confira trailer estendido do longa:


No final de 2016, sem maiores razões, uma ONG espanhola republicou trechos da mencionada entrevista.

Mesmo extemporâneo, o vídeo respostado gerou uma onda de protesto e indignação.

Muitas pessoas na internet chegaram a dizer que não conseguiriam ver mais o filme como antes.

Nos últimos anos, Bertolucci tinha ficado paraplégico, após uma simples cirurgia de hérnia de disco ter dado errado.

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Na cadeira de rodas, após uma mal sucedida cirurgia de hérnia de disco
Mesmo assim, o diretor zombava da doença, dizendo que a paralisia era uma 'praga de Pasolini', cineasta conhecido por longas cenas sem movimentos de câmera.

Bertolucci, ao contrário, usou todos os movimentos de câmera possíveis, tornando seus filmes ágeis e simplesmente sensacionais.

Ele era casado desde 1978 com Clare Peploe.

Fará muita falta.


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