quinta-feira, 8 de novembro de 2018

'MILLENNIUM: A GAROTA NA TEIA DE ARANHA' - LISBETH SALANDER VIRA 007 E O RESULTADO FICA AQUÉM DAS EXPECTATIVAS


SINOPSE:

Estocolmo, Suécia.

Graças às matérias escritas por Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason) para a revista Millennium, Lisbeth Salander (Claire Foy) ficou conhecida como uma espécie de anti-heroína, que ataca homens que agridem mulheres.

Apesar da fama repentina, ela se mantém distante da mídia em geral e levando uma vida às escondidas.

Um dia, Lisbeth é contratada por Balder (Stephen Merchant) para recuperar um programa de computador chamado Firefall, que dá ao usuário acesso a um imenso arsenal bélico.

Balder criou o programa para o governo dos Estados Unidos, mas agora deseja deletá-lo por considerá-lo perigoso demais.

Lisbeth aceita a tarefa e consegue roubá-lo da Agência de Segurança Nacional, mas não esperava que um outro grupo, os Aranhas, também estivesse interessado nele.

CRÍTICA:

Ela é antenada com os sombrios tempos atuais: hacker profissional, de visual soturno e semblante fechado, sem dó nem piedade em recorrer à violência para coibir abusos cometidos contra si, especialmente por homens que se recusassem a aceitar que não é não.

Lisbeth Salander marcou época já na literatura como a estrela maior da trilogia Millennium e rapidamente ganhou não uma, mas duas reinvenções no cinema, ambas bem recebidas por público e crítica.

Tamanho sucesso, é claro, atiçou a ganância: com o autor Stieg Larsson morto, vítima de um infarto fulminante, não haveria mais novas histórias com a anti-heroína favorita do público.

A saída foi contratar alguém para seguir com a missão e assim chegamos ao primeiro dos dois livros escritos por David Lagercrantz, 'A Garota na Teia de Aranha', que resolve enveredar por um caminho até então pouco explorado, o passado de Lisbeth.

Millennium: A Garota na Teia de Aranha : Foto Claire Foy
Claire Foy é a protaginista Lisbeth Salander - Fotos dessa Postagem: Divulgação/Sony Pictures
Assim como na literatura, no cinema a decisão também foi mudar tudo: não por qualquer motivo trágico, é bom ressaltar, mas pela simples decisão em seguir adiante com uma marca (e uma personagem) forte sem ter que gastar tanto com salários.

Desta forma, o promissor Fede Alvarez foi convocado para a direção de 'Millenium: A Garota na Teia de Aranha', escolhendo novos protagonistas.

Ao comparar a Lisbeth Salander de Claire Foy com as antecessoras interpretadas por Noomi Rapace e Rooney Mara, é nítido que a inspiração maior vem do longa dirigido por David Fincher: o visual de ambas é bem parecido, por mais que Mara tenha um olhar mais desesperançoso, sem vida.

Apesar de manter o conhecido tom sisudo, Foy entrega uma personagem que também se emociona, em parte por remexer em feridas do passado mas também para explorar seus expressivos e reluzentes olhos azuis, que conhecemos tão bem da recente série 'The Crown', da Netflix, onde ela deu vida espetacularmente à rainha Elizabeth II.

Assim, o longa entrega uma terceira faceta de Lisbeth Salander, com aspectos conhecidos do público mas também algumas novidades.

Foy é competente na pele da personagem, sem dúvida o grande atrativo deste novo longa, que assume de vez a proposta comercial de emplacar sua personagem principal em uma lucrativa franquia.

Agora apresentada como "a garota que machuca homens que agridem mulheres", Lisbeth assume seu lugar como vigilante na sempre gélida Estocolmo, mais uma vez essencial para a linguagem visual empregada - basta reparar no contraste da neve com o figurino preto da protagonista, sempre ressaltado na fotografia.

Mais ainda: Lisbeth agora é conhecida, mencionada no rádio e na TV, graças às populares matérias publicadas na revista Millennium - o que, paradoxalmente, não a impede de se manter no underground, característica básica da personagem.

Soma-se a isso o fato de que o sempre parceiro Mikael Blomkvist foi rejuvenescido - agora interpretado pelo galã Sverrir Gudnason - decisão esta que, displicentemente, insinua uma suposta tensão sexual entre os dois, ainda mais diante do passado com Lisbeth.

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Sverrir Gudnason é Mikael Blomkvist
Por mais que cada uma destas mudanças seja bem questionável, ainda mais por acontecerem muito de olho no potencial mercadológico futuro, elas seriam aceitáveis se a história apresentada fosse mais envolvente.

Após um início inusitado, mostrando Lisbeth ainda criança fugindo do pai pedófilo e deixando a irmã para trás, o longa aos poucos constrói uma narrativa burocrática e mal fundamentada, onde cada personagem e sua respectiva subtrama apresenta falhas graves de consistência.

Pouco a pouco tais desleixos comprometem o todo, especialmente quando é preciso aceitar que toda a verdade sobre um grupo tão perigoso quanto os Aranhas seja revelado a um desconhecido tão facilmente, ou que uma criança diga que "precisa esquecer o pai", a poucas horas da sua morte diante de seus olhos - em um diálogo sofrível.

Soma-se a isto problemas envolvendo certos coadjuvantes, quase desnecessários nesta história mas habilmente plantados de olho em futuras continuações.

É o caso do agente Needham (Lakeith Stanfield, intencionalmente arrogante), que perambula pelo longa-metragem sem muito objetivo prático - e até mesmo de Mikael, cuja participação é mínima dentro da narrativa - sua presença é muito mais afetiva, de olho nos fãs.

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Lakeith Stanfield é o agente Needham

Diante de tantos problemas estruturais, o que sustenta mesmo o longa é a atuação de Claire Foy e alguns poucos momentos em que o diretor Fede Alvarez é capaz de mostrar seu talento ao criar tensão, como na boa sequência em que Lisbeth foge sob o efeito de drogas - com a câmera trêmula remetendo a sua desorientação - e na angustiante cena em que é embalada a vácuo.

Ainda assim, a necessidade em se ater ao didatismo de uma história problemática atrapalha demais o trabalho do diretor.

Idealizado como produto, o longa cumpre sua função de seguir adiante com a saga de Lisbeth Salander, seja literária ou cinematográfica, sem no entanto apresentar a mesma força do original.

Com uma personagem agora pasteurizada, de forma a se enquadrar em estereótipos necessários para a criação de uma franquia, Lisbeth ganha passado, equipe própria e até aliados que permitem uma continuidade talvez eterna, algo muito parecido com um certo espião britânico, que povoa livros e filmes há mais de 50 anos com bastante sucesso.

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Lisbeth Salander virou 007
Não por acaso, a abertura do longa copia descaradamente a mesma proposta estética dos filmes de James Bond, com uma canção-tema envolta em simbolismos relacionados ao filme e sua protagonista.

Ou seja: a fórmula foi seguida à risca, mesmo com um resultado final muito aquém das expectativa

Mas vale uma olhada - principalmente por Claire Foy.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
MILLENNIUM: A GAROTA NA TEIA DE ARANHA
Título Original:
Millennium: The Girl in the Spider's Web
Gênero:
Suspense, Drama
Direção:
Fede Alvarez
Elenco:
Claire Foy, Sverrir Gudnason, Sylvia Hoeks, Lakeith Stanfield, Claes Bang e outros
Roteiro:
Steven Knight, Fede Alvarez, Jay Basu, baseados na obra original de David Lagercrantz e Stieg Larsson
Produção:
Scott Rudin, Soren Staermose
Diretor de Fotografia:
Pedro Luque
Produção:
Sony Pictures, Columbia Pictures, Yellow Bird Productions, Metro Goldwyn Mayer (MGM), Scott Rudin Productions
Distribuidora:
Sony Pictures
Nacionalidade:
EUA
Data de lançamento (Brasil):
8 de novembro de 2018
Duração:
1h 56min
Classificação Indicativa:
16 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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