sexta-feira, 10 de agosto de 2018

JAMES GUNN E JOHNNY DEPP: AS GRANDES DORES DE CABEÇA OU OS DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS DA DISNEY?

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Entenda como a Disney lida com dois casos aparentemente iguais - mas de maneiras diferentes
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É uma combinação matadora: clamor popular + interesse da concorrência

Depois de inúmeras manifestações de apoio, de uma carta aberta assinada pelo elenco de 'Guardiões da Galáxia', das declarações furiosas de Dave Bautista e da revelação de que grandes estúdios de Hollywood, incluindo a Warner Bros., estariam interessados nos serviços de James Gunn, o jogo pode estar prestes a virar.

De acordo com informações do Deadline, executivos da Marvel, subsidiária da Disney, estariam tentando convencer a presidência da casa de Mickey Mouse a recontratar o diretor de 'Guardiões da Galáxia', franquia que, sob sua direção faturou bilhões de dólares.

Elenco de 'Guardiões da Galáxia' defendeu James Gunn
No momento, a tentativa é encarada com ceticismo nos bastidores, uma vez que a Disney, líder mundial no segmento do entretenimento familiar, não tem planos para repatriar James Gunn, desligado por causa de uma série de tuítes ofensivos que incluíam piadas sobre pedofilia e estupro e escritos há mais de uma década, terem vindo a público via grupos de extrema direita, apoiadores de Donald Trump.

Por outro lado, o simples fato de que a gigante de Hollywood esteja ouvindo as argumentações dos executivos da Marvel a favor de Gunn comprova que o frenesi causado pela demissão do realizador fez com que o caso deixasse a esfera da previsibilidade.

O novo inesperado desenrolar aponta que qualquer coisa pode acontecer a partir daqui.

Por outro lado, James Gunn não é o único a dar dor de cabeça à gigante do entretenimento familiar, já que a Disney decidiu colocar os pés em águas ainda mais turvas com a possível pré-produção de 'Piratas do Caribe 6'.

Aqui, o real problema não é a insistência do estúdio com uma franquia zumbi, que atualmente não parece produzir outro resultado no público senão o de cansaço.

A questão, de fato, é que o estúdio está considerando dar sequência a uma saga estrelada por Johnny Depp, astro acusado de violência doméstica contra a ex-esposa, Amber Heard e de ter agredido um produtor no set de gravações de 'City of Lies', que teve sua estreia misteriosamente adiada por tempo indeterminado.

Amber Heard e depp, no tempo em que ainda estavam casados
Aqui só existem duas opções: ou a Disney nega o rumor e encerra a série de filmes do Capitão Jack Sparrow, um de seus personagens mais influentes da última década, ou dá sinal verde, já que nada indica que o estúdio siga em frente com a franquia 'Piratas do Caribe' sem a sua estrela.

Se a saga já apresenta sinais de cansaço inevitáveis, como os longas de piratas e bucaneiros funcionariam sem Depp?

Assim, ou o assunto morre ou a Disney passa uma mensagem ainda mais forte para a indústria: a de que trabalha com dois pesos e duas medidas, entre os casos de Depp e Gunn.

Isso ficou mais do que evidente durante o final de semana da Comic-Con 2018, quando a notícia sobre a demissão do cineasta foi divulgada.

Enquanto Gunn era execrado nas redes sociais e se tornava alvo do senador Ted Cruz, ex-candidato à presidência dos Estados Unidos, Depp fazia uma aparição relâmpago no painel da Warner na convenção, levando o público ao delírio.

Caracterizado como Grindelwald, o grande antagonista da saga 'Animais Fantásticos', o ator praticamente aparatou - para utilizar a linguagem do universo criado por J.K. Rowling - em San Diego, sendo aplaudido pela vasta maioria dos presentes no Hall H.

Caracterizado como Grindelwald, Depp fez aparição relâmpago na última Comic Con
Assim, a Disney sinalizou que aprova a diferença de tratamento concedida aos dois artistas.

E, de fato,as ações de Depp e Gunn merecem, sim, reações diferentes, pois não há desculpa para o comportamento do cineasta, em fazer piada com pedofilia, estupro e AIDS: isso não é humor, simplesmente é uma conduta reprovável, ofensiva e, inclusive, criminosa.

Por outro lado, como os apoiadores de Gunn - que incluem os astros de 'Guardiões da Galáxia', signatários de uma carta aberta em defesa do realizador - bem argumentaram, o diretor publicou seus comentários há uma década.

De lá para cá, ele teve tempo suficiente para mudar e, segundo seus colegas de trabalho, provou ter se redimido ao se tornar um ser humano melhor, distanciando-se de suas falhas passadas.

O diretor James Gunn
Porém, a Disney decidiu não responder ao clamor popular, agravando até mesmo a tensão com Chris Pratt, Dave Bautista e cia., e cancelou a possibilidade de uma “segunda chance” para Gunn - se a Marvel não conseguir convencer a casa de Mickey Mouse, tudo se mantém como está, mas como reagirá o elenco durante a turnê promocional da vindoura aventura sem o diretor?

Ao mesmo tempo, as oportunidades parecem continuar chegando para Depp, envolvido em inúmeras controvérsias e problemas no tribunal.

Além de ter sido mantido - e defendido - pela Warner, apesar dos protestos generalizados, o ator permanece com boa parte de seu prestígio intacto.

Em tempos do movimento #MeToo, que interrompeu a carreira de inúmeros agressores e abusadores, Depp é protegido e ainda laureado como estrela de franquias valiosas.

Não se trata de eliminar seus feitos ou de diminuir o impacto que exerceu na indústria; negar ou tentar apagar a relevância histórica de Depp não faz o menor sentido.

Necessário é, entretanto, julgar seu caso de maneira cabível, impondo-lhe as sanções corretas - e estas não podem, em hipótese alguma, serem outorgadas pela fogueira vingativa do tribunal da opinião pública.

O ator - que fez um acordo com a ex-esposa Amber Heard para evitar o processamento penal, apesar de agora tentar dar o troco acusando-a pelo mesmo crime - não deveria passar incólume - judicialmente e na indústria.

Fundada em 1923, ainda sob o título de “Cartoon Studio”, a Disney sempre se posicionou como a líder no segmento do entretenimento familiar.

Mesmo quando Walt, o cérebro por trás do império, morreu, deixando um legado pesado demais para os ombros de seus sucessores, o estúdio soube dar a volta por cima e afastou-se do abismo da falência ao apostar nas produções voltadas para os Quatro Quadrantes.

Não importa se você é um homem ou uma mulher, uma criança ou um idoso: nunca faltará uma obra da Disney para conquistar o público mais amplo possível - ainda que o estúdio só tenha começado a prestar atenção nas minorias recentemente, mas isso é assunto para outra hora.

Na era do retorno ao “preto e branco”, a Disney habita um desagradável e confuso território cinzento quando se trata dos casos de Depp e Gunn.

Vamos aguardar.

Fotos dessa postagem: THR + Variety

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