quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

'VIVA': JESUS COMO TRAVESTI CUBANO, EM MELODRAMA COMPETENTE, DE NARRATIVA COESA E PREVISÍVEL


SINOPSE:

Jesus (Héctor Medina Valdés) é um garoto cubano de 18 anos, pobre, tentando descobrir sua identidade.

Incerto sobre o seu futuro, ele é maquiador em um clube de drag queens de Havana - mas o que quer mesmo é ser transformista.

Quando finalmente tem a chance de subir no palco, ele é agredido pelo pai, Angel (Jorge Perugorría), um ex-boxeador ausente da sua vida por 15 anos após ter sido preso e que, evidentemente, não participou da criação dos filhos.

Perante o conflito entre os dois, eles lutam para entender um ao outro.

CRÍTICA:

Filme visto no 24º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade em novembro último e agora em exibição em 10 salas em todo o Brasil, 'Viva', coprodução Irlanda/Cuba, mostra a cidade de Havana como um local de informalidades.

A pobreza leva a práticas de corrupção e roubo, mostradas pelo diretor Paddy Breathnach como única solução possível aos seus habitantes.

Aqui, não se fala em instituições políticas nem religiosas, já que o que vemos é os cubanos abandonados à própria sorte, cada um por si.

Viva : Foto Héctor Medina Valdés
Héctor Medina Valdés é o protagonista Jesus - Fotos dessa Postagem - Divulgação/Elite Filmes
Assim, o adolescente Jesus (Héctor Medina Valdés), que levou toda a vida longe do pai presidiário, Angel (Jorge Perugorría), precisa aprender a sobreviver sozinho quando a mãe morre.

O roteiro, nu e cru, mostra que a vida do garoto é terrível, acentuada pelos perigos ligados à homofobia.

Órfão, gay, pobre e bastante frágil emocionalmente, Jesus tampouco é obra do acaso, já que o drama faz uma analogia entre Cristo e este garoto puro.

Se a ideia de comparar Jesus Cristo com um cubano gay é ousada, na prática, funciona como instrumento fácil para induzir polêmicas.

Na primeira metade, o realismo é bem abordado, se sobrepondo ao sentimentalismo, com o diretor Beathnach aproveitando bem os espaços da cidade em seus enquadramentos ágeis, acompanhando o personagem pelas ruas, praças e casebres.

Já na metade final, a fotografia e montagem garantem uma obra de aspecto agradável, com direção de arte verossímil no retrato dos grupos frequentemente estereotipados das travestis e dos miseráveis e o longa flerta com o pieguismo.

Viva : Foto Héctor Medina Valdés, Jorge Perugorria
O astro cubano Jorge Perugorría interpreta Angel, o pai de Jesus
O longa só incomoda pelo olhar piedoso aos personagens, já que, como os cristãos, acredita-se que a pessoa pode melhorar através do sofrimento.

O maniqueísmo acentuado se dilui graças à democratização das angústias: o pai, um tipo execrável, passa a ser visto como um pobre coitado após uma reviravolta que o fragiliza; Cecilia (Laura Alemán), uma garota aproveitadora, torna-se gentil em decorrência de um drama pessoal.

O filme não demonstra interesse real nos personagens, e sim uma tolerância paternalista.

Na falta de motivos racionais para aceitar esses tipos agressivos, sugere-se que sejam perdoados “porque não sabem o que fazem”, como diria a Bíblia.

O mesmo vale para a transformação de Jesus na travesti Viva: se no início tem gestos pouco expressivos e roupas discretas, quando passa a sofrer, sua interpretação melhora a cada apresentação.

O ápice, como não poderia deixar de ser, ocorre após um gigantesco trauma do garoto.

Viva : Foto Héctor Medina Valdés
Jesus já como a travesti Viva
Temos aqui um filme romântico - por acreditar que o artista verdadeiro transmite suas dores na obra - o quanto menos razão e mais emoção, melhor.

O público da boate, assim como o público da sala de cinema, aplaude mesmo o próprio sofrimento do personagem e suas dores íntimas são transformadas em espetáculo.

Embora a exploração da trajetória de Jesus possa incomodar, o resultado final é um melodrama competente, de narrativa coesa e previsível.

Resultado de imagem para Luis Alberto Garcia mamma viva
Luis Alberto Garcia, como Mama
Algumas atuações muito boas (especialmente de Luis Alberto Garcia, como Mama) elevam a qualidade da obra.

Para quem gosta de um bom “filme para chorar”, é uma boa pedida.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:

'VIVA'
Título Original:
VIVA
Gênero:
Drama
Direção:
Paddy Breathnach
Roteiro:
Mark O'Halloran
Elenco:
Carlos Calero Díaz, Carlos Enrique Riverón Rodríguez, Enrique Narciso Molina Harnández, Héctor Medina, Jorge Eduardo Acosta Ordonez, Jorge Martínez Castillo, Jorge Perugorría, Laura Alemán, Libia Batista, Luis Alberto García, Luis Angel Batista Bruzón, Luis Daniel Ventura Garbendia, Luis Manuel Alvarez, Maikol Villa Puey, Mark O'Halloran, Oscar Ibarra Napoles, Paula Andrea Ali Rivera, Renata Maikel Machin Blanco, Tomás Cao, Yudisvany Rabu
Produção:
Cathleen Dore, Rebecca O'Flanagan, Robert Walpole
Fotografia:
Cathal Watters
Montador:
Stephen O'Connell
Trilha Sonora:
Stephen Rennicks
Duração:
100 min.
Ano:
2015
País:
Cuba / Irlanda
Cor:
Colorido
Estreia:
01/12/2016 (Brasil)
Distribuidora:
Elite Filmes
Estúdio:
Irish Film Board / Treasure Entertainment
Classificação:
16 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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