Ator dos bons, mas conhecido principalmente por seus personagens cômicos - principalmente o Zé Bonitinho - Jorge Loredo fez um sucesso absurdo até dois anos atrás, com os esquetes do seu personagem, o "perigote das mulheres", como ele se intitulava, no programa "A Praça É Nossa", no SBT e também fazendo shows com o seu número humorístico.
Ícone do humor brasileiro, Zé Bonitinho, seu personagem mais famoso, foi lembrado no desfile da União da Ilha desde ano, cujo enredo falou sobre as várias formas de beleza e criticou o culto ao corpo.
Nascido em 7 de maio de 1925, Loredo se descobriu ator após o que parecia uma tragédia: internado aos 20 anos de idade devido a uma tuberculose, ele começou a frequentar o grupo de teatro do hospital por conselho de um médico, e assim apaixonou-se pela atuação.
Após se restabelecer, o então jovem Jorge se dedicou à carreira de ator, mas não imaginava que enveredaria pelos caminhos do humor.
Tendo seu primeiro papel no monólogo "Como Pedir uma Moça em Casamento", o sucesso e o talento para o riso o fizeram mudar de ideia, e assim nascia o comediante.
O personagem mais conhecido de Loredo surgiu muito antes de suas participações na televisão: ainda nos palcos, ele se inspirou em um amigo chamado Jarbas para criar o Zé Bonitinho, um pretenso garanhão que sempre falhava na hora 'H', por já ter beijado muitas mulheres naquele dia.
Com Lívia Andrade, Cristina Rocha e Carlos Alberto de Nóbrega, Loredo grava, como Zé Bonitinho, esquete para a 'Praça é Nossa' - SBT
A estreia do papel na telinha foi há 55 anos, em 1960.
O roteirista dos primeiras esquetes de Zé Bonitinho foi ninguém menos que Chico Anysio, para o programa "Noites Cariocas", da TV Rio.
No entanto, Jorge Loredo já havia ganhado destaque um ano antes com outro icônico personagem - o Mendigo Filósofo, no programa "A Praça da Alegria", antecessora de 'A Praça é Nossa'.
Loredo em cena como o 'Mendigo Filósofo' - Reprodução
Desde 1959, ele atuou em 12 filmes, dentre os quais "Sem Essa, Aranha" (1970), "O Abismo" (1977), "Chega de Saudade" (2008), e "O Palhaço" (2011), todos com grande destaque no cinema nacional, além de "Câmera, Close" (2005), documentário em que ele foi o tema.
Dirigido por Selton Mello em “O Palhaço” (2011), Loredo interpretou Nei, gerente de uma loja, que gosta de contar piadas e que motiva o protagonista, vivido por Selton Mello, a seguir carreira como palhaço.
Eles trabalham juntos pela segunda vez: em 2006, Selton dirigiu Loredo no curta-metragem “Quando o Tempo Cair” - no mesmo ano, só que alguns meses antes, Selton o havia entrevistado no “Tarja Preta”, programa do Canal Brasil, e quis saber por que ele estava há tanto tempo - desde 1978 - sem fazer cinema.
Resposta do Loredo: “Porquê não me convidam!“.
Em 'O Palhaço', Loredo arrebentou e foi ovacionado pela equipe de filmagem ao acabar de rodar sua última cena, em outubro de 2010.
Loredo ovacionado pela equipe do longa - Selton Mello à frente - Divulgação
Loredo faz parte da história do SBT desde setembro de 2001, quando ingressou no elenco principal do humorístico “A Praça é Nossa”, no qual sempre encarnou Zé Bonitinho.
Sua última participação no programa foi no dia 8 de março de 2012, mas ele permaneceu como funcionário do SBT até esta quinta.
Com Eliana, em 'A Praça é Nossa' - SBT
Paralelo à carreira de ator, Loredo foi advogado trabalhista dos bons, trabalhando principalmente para a classe artística.
Muitos atores e atrizes conseguiram suas aposentadorias graças ao expressivo trabalho do 'Dr. Loredo', que soube coletar a papelada necessária para que eles, quase nunca tendo trabalhos registrados, tivessem um dinheiro no fim de suas vidas.
Justamente por isso, aliado ao seu porte magro e elegante, Jorge Loredo era reverenciado por onde passava.
Um gentleman dos palcos e das telas, Jorge Loredo morreu na manhã desta quinta (26), no Rio de Janeiro, em decorrência de falência múltipla de órgãos.
Aos 89 anos, ele estava internado desde 3 fevereiro no Hospital São Lucas, na zona sul carioca.
No dia 13 de fevereiro, ele havia sido transferido para a Unidade Cardio Intensiva (UCI), onde permaneceu até esta quinta.
Segundo informações da equipe médica, Loredo lutava há anos contra uma doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) grave e um enfisema pulmonar - as mesmas que mataram o também grande ator Cláudio Marzo nessa semana e que são causadas pelo vício em tabaco.
O corpo de Loredo será cremado no Memorial do Carmo, na zona portuária do Rio, em cerimônia marcada para às 15h da sexta (27).
O colunista do UOL, Flávio Ricco, postou um texto sobre Loredo em 06/02/2011, destacando seu profissionalismo:
"O ator e humorista Jorge Loredo, mais conhecido como Zé Bonitinho, além de profissional disciplinado é um exemplo a ser seguido.
Ao contrário de outros, que se fizeram conhecer por agitar ou transtornar bastidores - o que inclui não estudar e decorar textos - Loredo, aos 86 anos, continua justamente na contramão de tudo. Ele permanece no elenco de "A Praça é Nossa", gravando todas as terças-feiras.
Precavido, sempre um dia antes, viaja do Rio de Janeiro para a sede do SBT, em São Paulo. Tudo para não correr o risco de chegar atrasado ou perder o voo.
Já nas dependências da emissora, cumpre o mesmo e antigo ritual. Devido a problemas respiratórios, passa antes no ambulatório e recebe inalação. Com o texto decorado e utilizando um colete cervical, é um dos primeiros a chegar ao estúdio. Nesta semana, na volta das férias, não foi diferente.
Uma postura que é muito comentada pelo pessoal do meio, dentro e fora do SBT. É, repito, um exemplo a ser seguido".
Loredo em cena como Zé Bonitinho - SBT
Depois da confirmação da morte, familiares, humoristas e outros famosos prestaram suas homenagens ao ator.
"Para mim, Jorge Loredo foi um colega de trabalho exemplar, pois mesmo doente, ele chegava ao SBT, ia até o ambulatório para receber oxigênio e, assim que podia, fazia sua gravação. Retornava ao ambulatório para mais uma sessão de oxigênio e em seguida voltava ao Rio de Janeiro onde residia. Respeitávamos essa atitude porque essa era a vontade dele. Loredo irá nos fazer muito falta", disse Carlos Alberto de Nobrega, comandante de 'A Praça é Nossa'.
Com Carlos Alberto, gravando 'A Praça é Nossa' - SBT
A sobrinha do humorista, Jussara Lorêdo, falou sobre o adeus ao tio em seu Facebook:
"É gente, meu tio se foi. Vai alegrar o céu agora."
"Morre Jorge Loredo, mas fica Zé Bonitinho... Muito obrigado pelos anos de dedicação a um trabalho tão difícil que é o da comédia", disse Carioca, reverenciando a carreira de Loredo em programas e shows humorísticos.
Marcos Veras, ator e comediante, falou do colega no programa "Encontro", da Globo:
"O Zé Bonitinho é o galã que ultrapassou gerações. Foi um dos primeiros humoristas a trabalhar com elementos exagerados, como o pente. Era um ator incrível [também]. É o cara que vai ficar na memória da galera, dos comediantes."
Paulo Betti, também presente no programa de Fátima Bernardes hoje, também se declarou um admirador do colega e relembrou sua faceta de advogado:
"Eu sou muito fã do Zé Bonitinho. Tive o prazer de apresentá-lo em um espetáculo na Casa na Gávea [núcleo teatral que Betti comanda no Rio]. Ele era advogado de artistas também, porque ele fazia a aposentadoria de muita gente."
No programa "Hoje em Dia", da Record, César Filho relembrou a relevância do ator:
"Jorge Loredo fez parte do humor da TV brasileira. Muitos outros humoristas sempre vão inspirar no trabalho dele. Ele, realmente, já estava bem debilitado, bem frágil. A gente espera que ele esteja nos braços de Deus, porque o Brasil perde um grande talento, um grande homem, infelizmente."
Mas foi o apresentador do SBT, Celso Portiolli, quem deixou a mais bem humorada homenagem ao veterano - que eu reproduzi no título dessa postagem:
"Cuidado Hebe, Nair Belo e outras gatinhas, o perigote das mulheres está chegando. Descanse em paz grande Jorge Loredo que deu vida ao Zé Bonitinho."
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