Uma Dama, assim, com 'D' maiúsculo.
Uma mulher de gestos finos, elegantes, inteligente e contadora de histórias absolutamente irresistíveis.
Essa era Inezita Barroro, que hoje nos deixou.
Meses atrás , depois de muito tempo sem vê-la, topei com ela, na porta da Santa Casa, centro de São Paulo.
Sempre com um sorriso no rosto, me beijou nas duas bochechas, como sempre fazia, e disse que iria almoçar na padaria na esquina da Rua Jaguaribe com Cesário Motta Jr - ela morava ali do lado.
Elegante, me convidou e eu, com pressa, tive de declinar do convite - se eu soubesse...
Convivi muito com Inezita - desde os anos 1980 quando ela já era uma Lenda da Música e já apresentava o 'Viola, Minha Viola' na TV Cultura - em seus shows, nas gravações do programa e no Restaurante Parrerinha , que nem existe mais e onde ela ia jantar todos os dias na sua mesa cativa.
Ao contrário de uma de suas músicas mais famosas - a 'Moda da Pinga' - nunca colocou uma gota de álcool sequer na boca e dizia que isso era o maior motivo para, já em idade avançada, manter a voz maravilhosa que tinha.
Relembre Inezita interpretando 'Moda da Pinga':
Era famosa desde 'Lampião de Gás', mas eu gostava mesmo de ouvi-la cantar 'Ronda', a imortal criação do gênio Paulo Vanzollini - me arrepio só de lembrar, até hoje, a primeira vez que a ouvi.
Em junho de 2013, logo após a morte de Vanzollini, Inezita o homenageou no 'Viola, Minha Viola', interpretando 'Ronda'.
Veja:
Sempre simpática, sempre acolhedora, de uma inteligência exemplar, a serviço do folclore e das tradições culturais do Brasil, uma pesquisadora que foi aos mais longínquos rincões deste país, pesquisando, colhendo e gravando.
Uma das mulheres mais sensacionais que eu tive o prazer de conhecer, tinha completado noventa anos de idade no último dia 4 de março, já internada no Sírio-Libanês.
Depois soube, que, meses atrás, tinha caído da cama na casa da única filha em Campos do Jordão, região serrana de São Paulo, e nunca mais foi a mesma.
Relembre Inezita cantando 'Lampião de Gás':
No dia em que completou
90 anos, na quarta (4), Inezita já
estava sedada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internada desde o último dia 19 de fevereiro.
Segundo a única filha de
Inezita, Marta, a mãe não chegou a saber da morte
de um amigo próximo, um dia antes.
"Ela já estava
sedada e nem viu a morte do José Rico", disse – o sertanejo era frequentador assíduo do ‘Viola Minha Viola’.
Segundo a filha, a
cantora teve uma morte tranquila e sem dor.
"Ela não sofreu em nenhum momento. Meu medo era que ela
sentisse dor, ficasse agitada, mas isso não aconteceu", contou, durante
velório da mãe, na Assembleia Legislativa de São Paulo, na manhã desta
segunda (9).
A
última gravação do programa, há 35 anos no ar na TV Cultura, foi realizada no
fim do ano passado, na casa de Marta, em Campos do Jordão, em São Paulo.
"Na última gravação
do 'Viola', a equipe dela tirou o chapéu. Foi impressionante porque ela estava
com dificuldade e gravou o programa. Ela pediu para mandarem um carro lá [para
a casa da filha]. Se você pensar que ela tinha 60 anos de carreira, é incrível
mesmo", observou Marta.
O
último programa com Inezita foi exibido no Natal e quando a cantora fez 90
anos, o "Viola" prestou uma homenagem a ela, mas sem sua presença.
Dias
depois da última gravação, Inezita foi diagnosticada com pneumonia e ficou de
cama.
"Com 90 anos, na
cama, aí eu vi que o negocio não estava bom. A pneumonia pegou e não teve
jeito", contou Marta.
O músico Joãozinho, que trabalhava com Inezita havia 18 anos como arranjador musical, endossa: a cantora trabalhou até o último momento.
O músico Joãozinho, que trabalhava com Inezita havia 18 anos como arranjador musical, endossa: a cantora trabalhou até o último momento.
"Como uma mulher de
90 anos, claro, sem tanta energia", comentou.
Ele defende que Inezita
esteva além do universo da música caipira.
"Ela gravou 'Moda da Pinga',
mas também gravou 'Ronda'. Ela gravou de tudo", disse o músico.
O
temperamento forte de Inezita também foi lembrado pela filha.
"As coisas tinham que ser do jeito dela. No
tempo dela. Mas ela era muito divertida, falava coisas que ninguém imaginava. A
pessoa estava falando algo super serio, de repente ela gritava 'vai,
Corinthians!'", relembra.
Segundo a filha, também era desejo de Inezita que seu caixão fosse coberto com a bandeira
do Estado de São Paulo, durante o velório.
E assim foi: no velório, seu caixão está coberto com a bandeira das treze listras, que ela soube honrar tão bem.
Caixão de Inezita no velório da Assembléia paulista, coberto com a bandeira do Estado - Paduardo/AGNews |
Após um momento exclusivo para a família, o velório foi aberto aos visitantes
por volta das 9h.
O enterro está marcado
para as 17h. desta segunda (9), no Cemitério Gethsêmani, aqui em SP.
Geralmente não fico tocado quando meus ídolos se vão, mas Inezita era especial - e eu estou, sim, tristíssimo.
A Mulher se foi no dia internacional delas , mas a extensa obra da Artista Maior permanece.
O texto de Zuza Homem de Mello, na 'Folha', relembra à perfeição a mulher e a sua obra.
Leia, clicando aqui.
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