Ano passado foi a mesma coisa.
A gente reclama, acha um absurdo essa história de transformar um livro de 300 páginas em três filmes de três horas, xinga o Peter Jackson de "oportunista" e "ganancioso", reclama da caracterização dos anões...
E, no fim, estamos todo nós lá na sala de cinema, ansiosos por mais uma oportunidade de fazer uma jornada muito esperada para dentro do universo maravilhoso da Terra Média - em que seja para botar defeito depois, né?
“O Hobbit: A desolação de Smaug”, segunda parte da saga de Bilbo Bolseiro, chega às telonas brasileiras na quinta (12) e não importa se você é perfeccionista, se já desistiu de ver a obra de J.R.R. Tolkien no cinema há muito tempo, se é fã número um da franquia ou se está só curioso para saber qual será o visual do dragão Smaug e da interpretação que Benedict Cumberbatch deu a ele .
Você não vai querer perder esse filme!
Eu já vi ontem e adianto pra vocês algumas coisas que você vai encontrar :
1. Closes do rosto de Gandalf
Sir Ian Mckellen como Gandalf - Fotos e gifs dessa postagem: © 2013 Warner Bros. Ent. Todos os Direitos Reservados |
É sempre bom lembrar: quando J. R. R. Tolkien criou o personagem Gandalf, ainda não sabia direito o que ia fazer com ele e provavelmente nem tinha inventado que o mago era um representante de uma raça superior que cumpre um papel importante dentro da complexa mitologia da Terra Média.
Por isso, nas páginas de “O Hobbit”, Gandalf aparece como um mago meio sabichão, meio misterioso, que some de vez em quando, deixando os anões em perigo, e que aparece depois, do nada, para salvar a pele deles.
No filme, não é bem assim que as coisas funcionam: o diretor Peter Jackson e sua equipe tiveram que criar o mundo de “O Hobbit” já sabendo de tudo o que acontece antes e depois do período retratado no livro.
É por isso que, de vez em quando, Gandalf fica com uma cara de que está escondendo alguma coisa de seus companheiros de viagem.
Faz todo sentido, mas fica o desafio: conte quantas vezes Gandalf aparece em close, com uma expressão enigmática, normalmente sustentando alguns segundos de silêncio antes de falar uma frase curta com uma conclusão óbvia.
2. Cenas de ação que duram meia hora
Não é que “A desolação de Smaug” não encha linguiça, mas diante dos empecilhos um pouco bobos do primeiro filme – tipo o bando de trolls – o segundo filme quase não tem momentos de “paz”.
A história anda para a frente o tempo todo e no arco principal (o que acompanha Bilbo, Thorin e os outros anões), a maior parte dos acontecimentos vem de forma bem natural, mesmo os que não aparecem nas páginas do livro.
O roteiro tem ritmo e até conseguiu ficar interessante nas inevitáveis partes da história original que tinham todo potencial para ficarem chatas na tela.
Agora, o fato de ter menos enrolação não faz com que o filme seja melhor que o primeiro e nem que todos os seus defeitos devam ser ignorados, mas essa característica é um ponto positivo da nova adaptação.
Em longos 161 minutos de filme, cenas de ação igualmente longas, aceleradas e eletrizantes são essenciais para não deixar o ritmo cair - e isso, “A desolação de Smaug” tem de sobra.
3. Elfos sendo elfos
Orcs são do mal - qualquer tonto sabe - e elfos, bonitos, ágeis e poderosos, são do bem, certo?
Não os elfos da Floresta Negra.
Se você já leu os livros ou prestou atenção nos do primeiro filme, sabe que os elfos que vivem sob o reinado de Thranduil são vingativos, bélicos e bem arrogantes, principalmente com anões.
“A desolação de Smaug” faz questão de reforçar essas características infames nesses seres da floresta - inclusive, vários personagens e cenas foram inseridas no filme com o único objetivo de: fazer você pirar nos elfos.
4. Gente salvando a pele dos outros
Sabemos muito bem que uma das lições de “O Hobbit” é o poder da união, da amizade, da cooperação.
Mas fica aqui outro desafio: assista “Uma jornada inesperada” de novo e veja quantas vezes um personagem em apuros será subitamente salvo por outro, dando uma solução mágica para o problema: é Gandalf salvando anão de troll, é Bilbo salvando Thorin de orc, é águia gigante salvando todo mundo do penhasco...
Não é muito diferente no segundo filme, onde as “soluções mágicas” normalmente envolvem alguém armado com arco e flechas...
5. Evangeline Lilly sendo a única mulher em cena
Na internet, muita gente vem rejeitando a elfa Tauriel (personagem de Evangeline Lilly).
Se ela é a melhor personagem feminina do ano - o posto fica com Katniss Everdeen de “Jogos Vorazes: Em chamas” .
Tauriel está longe de ser uma figura complexa - com conflitos profundos e que vão além de clichês como o amor impossível (e improvável) - mas, mesmo assim, os fãs precisam entender como é importante ter uma figura feminina em cena numa produção desse tamanho, não só pelo apelo visual.
Estou ao lado dos críticos americanos, que vem dizendo todo o ano que já está na hora de os blockbusters made in Hollywood refletirem as discussões sobre o feminismo e a emancipação da mulher, uma luta que está bem longe do fim - e não é colocando um personagem que reforça a ideia de que a mulher só existe em função do homem que vamos chegar a algum lugar, mas Tauriel é melhor do que nada e “nada” é a quantidade de boas personagens femininas em “O Hobbit” (Galadriel não conta, ela não está no livro).
6. CGI de qualidade
Poderia colocar aqui uma imagem totalmente incrível de Smaug, que sem dúvida será um dos pontos altos da computação gráfica no cinema em 2013.
Deixarei os spoilers para sexta e coloco aquium outro exemplo simples e primoroso do resultado dos trabalhos da equipe de efeitos visuais e CGI do filme:
7. Personagens ambíguos
Quem diria: há personagens complexos em “A desolação de Smaug”!
Poe isso, talvez seja bom que você conheça Bard antes de entrar no cinema.
Ele é morador de uma cidade nos arredores da Montanha Solitária, um lugar que foi atacado pelo dragão Smaug no passado.
Bard é descendente de Girion, o último rei humano da região, que defendeu Valle do monstro cuspidor de fogo.
Ele cria sozinho os filhos em Esgaroth, tenta a todo custo mantê-los longe de problemas e está sempre com uma expressão rígida e ressentida, com um pé atrás a respeito dos anões.
Melhor deixar para que cada espectador tire suas conclusões sobre Bard, mas garanto que o personagem está bem mais interessante (ou, pelo menos, mais intrigante) que o herói que aparece nas páginas do livro.
8. Um triângulo amoroso que não faz o menor sentido
Apenas uma imagem:
9. Anões, anões e mais anões
Ok, são apenas 13.
É que, descontando uns 4 ou 5, a maior parte deles não serve para nada além de cumprir o papel do gordinho, ou do boêmio, ou do esquentado, ou do sábio - só falta a Branca de Neve!
Mas, ok, a gente sabe: não é culpa do Peter Jackson, já que Tolkien criou esses personagens para amarrar as crianças aos seus livros.
10. Benedict Cumberbatch interpretando Smaug com captura de movimentos - e justificando a euforia de seus fãs
O ator inglês Benedict Cumberbatch - Getty Images |
Ele já foi o vilão Khan - em 'Star Trek', Sherlock Holmes - na série de TV - , Julian Assange - no longa que mostrou a vida do fundador do site Wikileaks -, Alan Turing e é atualmente um dos seus maiores ídolos nerds.
Agora ele é Sauron.
E Smaug - o estupendo ator interpretou todos os movimentos do dragão protagonista graças à captura de movimentos.
Seu rosto não aparece em nenhuma cena do filme - mas você sabe que ele está lá - por isso, veja o filme com som original, pra não perder a voz do ator e, principalmente, suas expressões faciais - mais um trabalho soberbo de atuação dele.
11. Um clima mais parecido com o de “O Senhor dos Anéis”
Se era ingrata a missão de adaptar uma obra infantil para um público que já está acostumado com uma Terra Média mais sombria, ao menos até agora Peter Jackson tem se saído bem.
O Gollum de “Uma jornada inesperada” está bem mais próximo do que acompanhamos na saga de Frodo e o mesmo acontece com Gandalf - que se aventura numa trama paralela para mostrar na tela como o Necromante de “O Hobbit” se transformou no Sauron que já conhecemos.
Quem é fã pode ficar com preguiça dessas cenas, mas esses momentos são essenciais para servir de ponte entre o universo ingênuo de “O Hobbit” e a trama complexa de “O Senhor dos Anéis” , feitas para expandir ainda mais o público da saga.
É que os filmes de “O Senhor dos Anéis” saíram numa época em que 'ser nerd' ainda não era tão 'cool 'quanto hoje.
Depois de anos de filmes de super-herói e grandes adaptações de histórias de fantasia e ficção científica, “O Hobbit” tem a missão de agradar tanto os que já conhecem e gostam da obra de Tolkien, quanto para a porção do público que pode achar chatas as partes mais arrastadas de “As duas torres”.
12. Motivos para esperar ansiosamente por “Lá e de volta outra vez”
Se você, mesmo tendo lido tudo até aqui, ainda se pergunta:
"Vale a pena gastar meu dinheiro num ingresso caríssimo para ver uma história que (por enquanto) não vai para lugar algum?
A resposta é:
"Quem é fã não tem dúvidas: vale cada centavo!"
Divirta-se - e aguarde a crítica do Blog de Klau na sexta!
******
Matéria base: Revista 'Superinteressante' - Gustavo Cohen
Texto e Imagens Adicionais: Cláudio Nóvoa
Nenhum comentário:
Postar um comentário