sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

'ÁLBUM DE FAMÍLIA': MERYL STREEP BRILHA COM JULIA ROBERTS, JULIETTE LEWIS E JULIANNE NICHOLSON NUM DRAMA FAMILIAR FEITO PARA O OSCAR


Na linha do dinamarquês "Festa de Família" (1998) - longa de Thomas Vinterberg que inaugurou o movimento Dogma - John Wells aceitou o convite do aqui produtor George Clooney e topou dirigir seu segundo longa, o drama familiar 'Álbum de Família' - que estreia hoje 83 salas em todo o Brasil.

Com roteiro de Tracy Letts baseado na sua peça de teatro de mesmo nome, vencedora dos prêmios Pullitzer e TonyWells teve a grata tarefa de dirigir a melhor atriz americana de todos os tempos - Meryl Streep - agora interpretando uma mãe absolutamente megera e que tem como filhas as igualmente sensacionais Julia Roberts, Juliette Lewis e Julianne Nicholson.

A TRAJETÓRIA DA DIVA

Papéis interpretados por  Meryl Streep capturaram os dramas pessoais e familiares de muita gente que chegou à idade adulta no fim dos anos 1960 e começo dos anos 1970.

Quando a atriz tinha 30 anos, a mocinha ingênua que ela interpretara em "O Franco Atirador" (1978) deu lugar à personagem feminista problemática Joanna Kramer, de "Kramer vs. Kramer" (1979).

No filme de 1979, Streep deixava a família em busca de realização pessoal e depois voltava à cena para disputar a guarda do filho.

"Era exatamente o que muitas mulheres, inspiradas pelo movimento feminista, estavam sentindo", aponta a escritora Gail Sheehy - o desempenho de Streep se equiparava ao que Sheehy descreveu em seu livro "Passages" como "a armadilha dos 30", uma previsível colisão com complicações da vida adulta.

A Diva, em foto para a 'Harper's Bazaar'

O filme valeu a segunda indicação de Streep ao Oscar e sua primeira vitória - como Melhor Atriz Coadjuvante.

Mais tarde, a atriz defenderia causas sociais em "Silkwood "" O Retrato de uma Coragem" (1983); buscaria aventura em "Entre Dois Amores" (1985); e, como o mal disfarçado alter ego da escritora Nora Ephron, em "A Difícil Arte de Amar" (1986), teria ilusões românticas despedaçadas por um marido traidor.

A chegada dos 40 anos trouxe a implosão de "Lembranças de Hollywood" (1990), mas o amor voltou a florescer aos 46, com "As Pontes de Madison" (1995), também no longa "Simplesmente Complicado" (2009) e de novo em "Um Divã para Dois" (2012).

"O Diabo Veste Prada" (2006) falava de crise profissional - Streep, 56, interpretava a aparentemente impiedosa editora de moda Miranda Priestly, lutando para salvar sua carreira.

Como Miranda, em cena de "O Diabo Veste Prada" (2006) - Divulgação

Em "A Dama de Ferro" (2011), como Margaret Thatcher, ela encarou com bravura um futuro de senilidade e conquistou o terceiro Oscar: o de Melhor Atriz, em 2012.

Se a Diva nunca aceita falar sobre sua trajetória nas telonas, Laurence Mark - produtor de "Julie & Julia" (2009), onde ela, já por volta dos 60, interpretou a cozinheira e escritora Julia Child, disse:
"Meryl jamais escolhe papéis pensando em quantos ingressos um filme vai vender ou no cachê. Faz escolhas por se sentir genuinamente atraída por um papel".

Em "Julie & Julia", Streep tem seu momento como mentora, inspirando uma sucessora - vivida por Amy Adams.

Agora é a vez de outra megera, Violet Weston, em uma fase com a qual os fãs de Streep talvez não queiram se identificar.

Os produtores George Clooney (de branco) e Grant Heslov, a Diva e Julianne Nicholson, no set de filmagem de 'Álbum de Família' - Claire Folger /The Weinstein Company/Associated Press

Nos seus dias bons, Violet usa uma peruca péssima; nos ruins, nem se incomoda com isso.

Continua fumando muito - o câncer que se dane.

Reunidas para o funeral do pai, suas filhas (vividas por Julia Roberts, Juliette Lewis e Julianne Nicholson) tentam forçá-la a abandonar o uso de pílulas - mas ninguém pode impedi-la de dizer o que pensa, brutalmente e na lata:

"Só digo a verdade. A verdade incomoda algumas pessoas", diz a Violet de Streep.

O filme chega ao Brasil dividindo críticos.

Steve Pond elogiou,  no site The Wrap:
"Com a inexpugnável Streep no comando, é difícil para o espectador não embarcar na viagem, mesmo que se sinta um tanto inseguro".

Já Tim Robey, do jornal "The Telegraph", de Londres, cravou:
"Streep mergulha na psique nuclear de Violet com tamanha ferocidade que corre até um ligeiro risco de perder de vez nossas simpatias".

Talvez a questão mais profunda seja determinar se as pessoas que sempre se identificaram com os papéis da atriz - uma mulher que está por baixo, em "A Dama de Ferro", uma mulher de cabeça para baixo em "Mamma Mia!" (2008) - estarão preparadas para se ver em Violent Weston no seu caminho para um fim nada delicado.

ÁLBUM DE FAMÍLIA' : CRÍTICA

O segundo filme da carreira do diretor John Wells é muito mais pesado do que aparenta - prepare-se.

Em meio ao calor das risadas, existe uma escuridão brutal à espreita nesse premiado texto de teatro de Tracy Letts, adaptado às telonas pela própria autora.

Percebemos como tudo ruiu ao redor de Beverly Weston (Sam Shepard), numa casa coberta por sombras e pelo passado, coberto pelos anos como alcoólatra e se refugiando nos livros.

Logo a Diva das Divas de todos os tempos rompe em cena para contracenar com o ator: a mais uma vez impecável Meryl Streep desce cambaleando pelas escadas.

Sua personagem, Violet, está destruída por um câncer, dezenas de pílulas e loucura.

Meryl Streep como Violet - Imagens dessa crítica - Divulgação/Imagem Filmes

Cabelos raspados, expressão quase desesperada se sustentando numa ironia insuportável, fica absolutamente claro ao espectador que a atriz vai roubar a cena - mais uma vez - ao sermos apresentados à decadência da personagem, mas também ao seu humor impecável.

Quando Beverly some, a trama ganha ritmo na medida em que as filhas do casal – Ivy (Julianne Nicholson), Karen (Juliette Lewis) e Barbara (Julia Roberts) - retornam à casa dos pais em Oklahoma para tentar encontrá-lo.

As três mantém o mesmo nível alto de interpretação visto no início, com destaque para Roberts - aqui em seu melhor papel em muitos e muitos anos.

Julianne Nicholson (Ivy), Meryl Streep (Violet) e Julia Roberts (Barbara), em cena do filme

Num clima de novelão, muitos segredos rondam essa família e parte das revelações acontece numa longa cena na sala de jantar, um senhor barraco muito bem bancado pelas grandes atuações das atrizes e diálogos de um humor negro - tão terrível como divino.

As risadas se alternam com momentos de constrangimento para as personagens e Violet e Barbara acabam a cena se estapeando no chão - a interação entre Julia Roberts e Merly Streep rende momentos memoráveis e essa cena (presente no pôster do longa) por si só garante cada centavo empregado na compra do ingresso.

Quente e ensolarada, a fotografia da estrada pra Oklahoma dá o tom do longa, onde o calor incomoda e sufoca o tempo inteiro.

Já a casa, repleta de sombras, lugar no qual a luz não é bem-vinda, provoca um contraste marcante com o ambiente externo, que expressa-se tanto no nível estético quanto no das emoções.

O começo da cena na sala de jantar

Da metade para o fim, a tensão fica mais evidente.

Se para suportar essa vida tão longa pode-se contar com a ajuda dos parentes, para Ivy - num dos discursos mais certeiros do filme dirigido às outras duas irmãs - fica evidente que não.

Se nunca houve intimidade entre as três, por que contar com elas?

Pra que manter laços tão artificiais?

Se a realidade incomoda - fato - aos poucos percebe-se o emaranhado emocional passado de geração em geração numa família onde a ausência se instalou e os silêncios falam mais alto.

Meryl, Julianne e Juliette, em cena do filme

O longa como um todo peca no exagero das cenas novelescas, em personagens eloquentes demais e na trilha sonora sempre dando apoio às cenas, como também é muito bom o apoio do elenco masculino: Benedict Cumberbatch, Ewan McGregor, Sam Shepard, entre outros.

Mas a apresentação de uma história áspera e dramática por meio das soberbas interpretações das protagonistas termina por revelar um longa fascinante, um dos melhores dos últimos anos, disparado.

E que venha o Oscar: Meryl Streep e Julia Roberts vão, com certeza, se enfrentar novamente - agora pela estatueta de Melhor Atriz.

Filmaço.

Confira o trailer do longa:

*****
'ÁLBUM DE FAMÍLIA'
Título Original:
AUGUST: OSAGE COUNTY
Gênero:
Drama
Direção:
John Wells
Roteiro:
Tracy Letts, baseado na sua peça de teatro de mesmo nome, vencedora dos prêmios Pullitzer e Tony
Elenco:
Abigail Breslin, Benedict Cumberbatch, Chris Cooper, Dermot Mulroney, Ewan McGregor, Julia Roberts, Julianne Nicholson, Juliette Lewis, Margo Martindale, Meryl Streep, Misty Upham, Sam Shepard
Produção:
George Clooney, Grant Heslov, Harvey Weinstein
Fotografia:
Adriano Goldman
Montador:
Stephen Mirrione
Trilha Sonora:
Gustavo Santaolalla
Duração:
121 min.
Ano:
2013
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
27/12/2013
Distribuidora:
Imagem Filmes
Estúdio:
The Weinstein Company
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:

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