'Carrie' foi o primeiro best-seller do gênio Stephen King e o primeiro a merecer uma adaptação cinematográfica - em 1976, com Sissy Spacek como Carrie, Piper Laurie como sua mãe fanática religiosa e Amy Irving como sua única amiga, Sue.
O elenco jovem desse filme, dirigido pelo mestre Brian De Palma, tinha também um muito bonito e promissor coadjuvante - que roubou todas as cenas das quais participou e arrebentou no ano seguinte como protagonista de 'Os Embalos de Sábado à Noite' - John Travolta.
Capa do meu livro de Stephen King - Arquivo Pessoal |
Se o filme de De Palma continua a ser para mim a melhor adaptação de uma obra de Stephen King para as telas, por que raios não só um, como dois grandes estúdios (Metro-Goldwyn-Mayer + Screen Gems/Sony Pictures) resolveram revisitar a obra?
Simplesmente pelo seu inegável potencial cinematográfico, pois a história é excelente, a trama é bem conduzida e os personagens são maravilhosos.
O conto de King é atemporal e dramaticamente capaz de conquistar a empatia do público de qualquer época: jovem e tímida adolescente, vítima de discriminação na escola, sufocada por uma mãe fanática religiosa, descobre ter poderes telecinéticos, tem a chance de deixar de ser o patinho feio da turma ao ser convidada para o baile de formatura pelo rapaz mais popular do colégio.
Margaret vai buscar Carrie no colégio - fotos dessa postagem: Divulgação/Sony Pictures |
Mas, vítima de uma armação sórdida, é hostilizada e humilhada na frente de toda a turma - toma um banho de sangue de porco - e agora, possuída por um desejo cego de vingança, promove uma carnificina na festa usando seus poderes.
Humilhada no baile da escola |
Se a trama tem uma personagem injustiçada - que mexe com a compaixão do espectador - ela tem atributos paranormais e pode usá-los para fazer justiça com as próprias mãos ou, no caso, força do pensamento, algo que as novas gerações adoram ver nas telonas.
Carrie ganha a todos nós, que a vermos em ação e perguntamos: quem não gostaria de ter superpoderes para desfazer uma injustiça?
A história é tão sedutora, tão boa, que esta versão - dirigida por Kimberly Peirce e que estreia em 169 salas em todo o Brasil - pouco difere da original.
O que este 'Carrie – A Estranha' tem de novo é sua adequação para os dias atuais, que é bem-sucedida em muitos aspectos: assim, a internet, as fotos e os vídeos de buylling tem um peso devastador na vida da jovem.
Um dos problemas que o roteiro do sempre ótimo Roberto Aguirre-Sacasa tinha de resolver era a questão da famosa cena no vestiário feminino - quando Carrie menstrua pela primeira vez no banho e é alvo do bullying das colegas.
Carrie mestrua e é humilhada pelas colegas no vestiário da escola |
Em 1976, eu tinha 16 anos e se já achei difícil imaginar uma jovem que tinha a mesma idade da minha, que não soubesse o que é menstruação, agora em pleno 2013, isso é totalmente impossível.
Para resolver o impedimento, Aguirre-Sacasa nos apresenta uma Carrie White ( Chloë Grace Moretz, simplesmente maravilhosa) que foi educada pela perturbada mãe fanática religiosa, Margaret (Julianne Moore, fantástica) em casa, até que a Justiça obrigou-a a matricular a garota numa escola regular - o que no filme ocorreu há pouco tempo.
Como ficou sempre isolada das outras meninas da sua idade, fica absolutamente verdadeiro para o espectador que ela possa realmente desconhecer o ciclo reprodutivo feminino.
Já a icônica cena - em que suas colegas de classe a humilham e a cobrem de absorventes íntimos - ganha um cruel aspecto moderno ao ser gravada num celular por Chris Hargensen (Portia Doubleday) – a mesma bisca que dias depois vai aprontar com Carrie no fatídico baile de formatura – e postada no Youtube.
Outro ponto interessante da refilmagem é notar que a Carrie de Chloë Grace Moretz, mesmo introvertida e sozinha, é agora mais arredia e voluntariosa, toma a iniciativa de ir atrás de informações sobre a telecinésia - sua capacidade de mover objetos com a força da mente - e, bem informada, passa a testar os limites de seus poderes.
Na cena em que manipula cacos de um espelho que quebrou, ela arrebata a plateia, ao dar um sorriso malicioso, satisfeita com suas habilidades.
A Carrie de Moretz tem um quê de rebeldia, que a distancia um pouco da ingênua vulnerável vivida por Sissy Spacek no longa de 1976.
Absolutamente segura e maravilhosa no papel, Moretz prova mais uma vez - aos 16 anos e vinda do sucesso da saga 'Kick Ass' - que é a maior e melhor atriz de sua geração disparado e que tem talento, presença cênica e carisma suficientes para ser em pouco tempo uma das maiores atrizes que Hollywood já viu.
Carrie caminha pela cidade após a carnificina que fez no baile |
Como excessos em relação ao longa anterior, a nova versão usa (e abusa) dos efeitos especiais, com Carrie não apenas olhando para o objeto que quer movimentar, mas também comandando suas ações com um movimento dos braços absolutamente impactante - um ponto a mais para a extrema competência de Moretz enquanto grande atriz.
Em outra cena, Carrie tranca a mãe num cubículo debaixo da escada, fecha o trinco e solda a fechadura com o poder da mente e em outra, envolvendo um carro onde fugiam seus algozes, ela simplesmente interrompe sua fuga e o carro se esborracha em seu corpo - nem o Superman, nem o Magneto, fariam melhor as duas!
Carrie para o carro com a força do pensamento: Nem Superman, nem Magneto, fariam melhor! |
Se Piper Laurie já era uma grande atriz quando interpretou Margaret White, o que dizer da minha Diva favorita, Julianne Moore, no papel?
Generosa como nunca, Moore consegue deixar Margaret ainda mais transtornada e sinistra, mas deixa Cloë Moretz brilhar em cada estupenda cena que as duas dividem.
As duas são tão ótimas em cena que fica difícil focar em uma ou outra - de tirar o fôlego, literalmente.
Moore e Moretz, em cena do longa |
Kimberly Peirce ficou cinco longos anos sem filmar, até topar dirigir esse longa.
Diretora do maravilhoso 'Meninos Não Choram' (1999), longa que deu o Oscar de Melhor Atriz a Hilary Swank, Kimberly, homossexual assumida, coloca aqui novamente toda a sua alma feminina e nos entrega um filme de mulheres, que fala sobre mulheres, seus medos, seus medos e suas forças.
Kimberly Peirce dirige Cloë Moretz em cena do longa |
Deixando de lado comparações e relevando-se os exageros pontuais, o longa é bem realizado, bem dirigido, tem roteiro impecável, grandes atuações e cumpre muito bem seu objetivo de entreter e fazer pensar.
Um dos melhores filmes do ano.
Confira o trailer do longa:
*****
'CARRIE - A ESTRANHA'
'CARRIE - A ESTRANHA'
Título Original:
'CARRIE'
'CARRIE'
Gênero:
Terror
Direção:
Kimberly Peirce
Roteiro:
Roberto Aguirre-Sacasa
Elenco:
Alex Russell, Ansel Elgort, Chloë Grace Moretz, Connor Price, Cynthia Preston, Gabriella Wilde, Judy Greer, Julianne Moore, Karissa Strain, Katie Strain, Kim Roberts, Kyle Mac, Kyle MacLachian, Lucy DeLaat, Max Topplin, Michelle Nolden, Mouna Traoré, Nykeem Provo, Philip Nozuka, Portia Doubleday, Samantha Weinstein, Skyler Wexler, William MacDonald, Zoë Belkin
Produção:
Kevin Misher
Fotografia:
Steve Yedlin
Montador:
Lee Percy, Nancy Richardson
Trilha Sonora:
Marco Beltrami
Duração:
100 min.
Ano:
2013
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
06/12/2013
Distribuidora:
Sony Pictures
Estúdio:
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Misher Films / Screen Gems
Classificação:
16 anos
Informação Complementar:
Baseado no livro de Stephen King, esta é a terceira adaptação ao cinema.
Antes, a obra já havia ganhado um filme em 1976 (dirigido por Brian De Palma) e uma obra mais recente, em 2001, comandada por David Carson
Antes, a obra já havia ganhado um filme em 1976 (dirigido por Brian De Palma) e uma obra mais recente, em 2001, comandada por David Carson
Cotação do Klau:
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