SINOPSE:
Década de 1960.
Em meio aos grandes conflitos políticos e transformações sociais dos Estados Unidos da Guerra Fria, Elisa (Sally Hawkins),é uma zeladora muda, que trabalha em um laboratório experimental secreto do governo.
Lá, ela se afeiçoa a uma criatura fantástica, mantida presa e maltratada no local.
Para executar um arriscado e apaixonado resgate do ser anfíbio, ela recorre ao melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Octavia Spencer).
CRÍTICA:
Como já vimos inúmeras vezes no cinema, romances entre humanos e criaturas não são novidade.
Já vimos casais improváveis em clássicos - como 'A Bela e A Fera' e 'King-Kong' - no universo bizarro e extraordinário de Tim Burton - 'Edward Mãos De Tesoura' - e até na saga adolescente 'Crepúsculo' - com seus vampiros e lobos galãs.
Casais diferenciados sempre chamam a atenção do público e geralmente, essas histórias são uma forma metafórica de questionar tabus ou mostrar o amor incondicional entre diferentes de uma forma lúdica.
Assim, se você for ao cinema esperando que 'A Forma da Água', o filme com mais indicações ao Oscar 2018 (13) entregue ao espectador mais do mesmo, você sairá não só maravilhado, mas extasiado com essa obra-prima do 'pai dos monstros', Guillermo Del Toro.
Com a influência - que Del Toro admite ser do clássico 'O Monstro Da Lagoa Negra' (1954) - vemos um jeito criativo e inovador de abordar temas atuais e relevantes, sem deixar de lado o tom lúdico pelo qual a obra do diretor e roteirista é conhecida.
A trama, que se passa nos anos 1960, em plena Guerra Fria, portanto, e acompanha a sonhadora Eliza, interpretada com extrema competência por Sally Hawkins.
Sally Hawkins é a protagonista Eliza - Fotos dessa Postagem: Divulgação/Fox Film |
Muda desde criança, ela mora com seu melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e trabalha como faxineira em um laboratório secreto do governo americano.
Certo dia, ela descobre que uma criatura, com aparência meio anfíbia, meio humana, está sendo mantida em cárcere e maltratada pelo carrasco Richard Strickland (Michael Shannon), a personificação do racismo, sexismo e complexo de superioridade que assolam a sociedade estadunidense hoje.
Eliza se compadece imediatamente com o monstro, já que vê a criatura não como diferente, mas como tão vítima das circunstâncias quanto ela.
Giles (Richard Jenkins), em cena do longa |
Determinada a salvá-lo dessa situação, ela contará com a ajuda de Giles, da companheira de trabalho e amiga Zelda (Octavia Spencer) e de Dr. Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg), um cientista que se encontra em um dilema moral.
Se diante dos seus concorrentes ao prêmio de melhor filme, esse longa não demonstra uma crítica tão direta à sociedade racista quanto 'Corra!', nem a representatividade LGBT de 'Me Chame Pelo Seu Nome', entretanto está longe de ser apolítico.
Zelda (Octavia Spencer), em cena do longa |
Através de alegorias, Del Toro expõe estruturas sociais precárias e também faz a sua luta contra o machismo - exemplificado pelo marido de Zelda - a homofobia - sofrida por Giles - e também o racismo - como na cena em que um casal negro é discriminado em uma lanchonete.
Ver esses personagens se apoiando mutuamente em torno de um objetivo final, como num grito dos silenciados, é bastante inspirador.
A abordagem desses assuntos vinda de um criador mexicano se faz extremamente necessária e corajosa diante das declarações idiotas, ditas a toda hora pelo presidente Trump, líder da nação mais influente do planeta.
O diretor também não perde a oportunidade de satirizar a paranoia anticomunista e as tensões da era da corrida espacial contra a União Soviética.
Richard Strickland (Michael Shannon), em cena do longa |
O maior mérito do longa, porém, está na construção de seus personagens, já que a trama não apenas nos dá o suficiente para criarmos empatia com aquelas figuras, como também nos concede o privilégio de presenciar o desabrochar de cada uma delas, com uma sensibilidade que cabe a poucos filmes.
Esteticamente, a produção acerta em cheio ao recriar a aura dos anos 60, trazendo à tela elementos característicos da época, como os musicais e shows de TV, além de uma trilha sonora que inclui até a estrela brasileira Carmen Miranda.
O diretor de fotografia Dan Laustsen optou por relacionar a fotografia a elementos "marítimos", mantendo as cenas em tons de verde e azul.
O uso mínimo de CGI também é uma escolha sábia e confere uma naturalidade à criatura, que não encontramos no mais recente 'A Bela e a Fera', por exemplo.
CONFIRA O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO ANFÍBIO:
CONFIRA O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO ANFÍBIO:
Eliza é realmente o melhor papel de Sally Hawkins até aqui - antes, ela já tinha chamado a atenção das grandes premiações por 'Blue Jasmine'.
A atriz consegue demonstrar doçura e coragem quando é necessário, e isso, sem nenhum diálogo, o que torna a sua atuação inacreditável de tão bela.
Octavia Spencer continua sendo a excelente atriz de sempre, mas o seu papel não lhe permite ir além do que já vimos dela em longas anteriores.
Já Michael Shannon, mesmo excessivamente caricato, consegue dar conta ao seu vilão Richard Strickland.
Dr. Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg), em cena do longa |
Mesmo com alguns deslizes, alguns furos de roteiro e cenários irreais - como faxineiras tem livre acesso a um laboratório de segurança máxima? - o longa pode ser cansativo em alguns momentos, já que a pegada de "conto de fadas" não deve agradar a todos.
A visão dualista de alguns personagens também merece uma observação - afinal nem tudo na vida é "8 ou 80" - mas o longa encanta pela sua simplicidade e aura de pureza.
Mesmo com uma trama bastante convencional, Del Toro prova que um filme não precisa de grandes reviravoltas para ser bom.
Como toda boa jornada do herói, nem sempre o que importa é onde chegaremos, mas sim como será o caminho até lá.
Filmaço.
Filmaço.
INDICAÇÕES AO OSCAR 2018
MELHOR FILME
MELHOR DIRETOR - Guillermo Del Toro
MELHOR ATRIZ - Sally Hawkins
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE - Octavia Spencer
MELHOR ATOR COADJUVANTE - Richard Jenkins
MELHOR FOTOGRAFIA - Dan Laustsen
MELHOR ROTEIRO ORIFINAL - Guillermo del Toro & Vanessa Taylor
MELHOR EDIÇÃO - Sidney Wolinsky
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO - Paul Denham Austerberry; Decoração de set: Shane Vieau e Jeff Melvin
MELHOR TRILHA SONORA - Alexandre Desplat
MELHOR EDIÇÃO DE SOM - Nathan Robitaille e Nelson Ferreira
MELHOR MIXAGEM DE SOM - Christian Cooke, Brad Zoern e Glen Gauthier
MELHOR FIGURINO - Luis Sequeira
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
'A FORMA DA ÁGUA'
Título Original:
THE SHAPE OF WATER
Gênero:
Drama
Direção:
Guillermo del Toro
Elenco:
Alexey Pankratov, Allegra Fulton, Brandon McKnight, Cameron Laurie, Clyde Whitham, Cody Ray Thompson, Dan Lett, Danny Waugh, David Hewlett, Deney Forrest, Diego Fuentes, Doug Jones, Dru Viergever, Edward Tracz, Evgeny Akimov, Jayden Greig, John Kapelos, Jonelle Gunderson, Karen Glave, Lauren Lee Smith, Madison Ferguson, Martin Roach, Marvin Kaye, Michael Shannon, Michael Stuhlbarg, Morgan Kelly, Nick Searcy, Nigel Bennett, Octavia Spencer, Richard Jenkins, Sally Hawkins, Sergey Nikonov, Shaila D'Onofrio, Stewart Arnott, Vanessa Oude-Reimerink, Wendy Lyon
Roteiro:
Guillermo del Toro, Vanessa Taylor
Produção:
Guillermo del Toro, J. Miles Dale
Fotografia:
Dan Laustsen
Trilha Sonora:
Alexandre Desplat
Montador:
Sidney Wolinsky
Estúdio:
Bull Productions, Double Dare You (DDY), Fox Searchlight Pictures
Distribuidora:
Fox Film
Ano de Produção:
2017
Duração:
123 min.
Estréia no Brasil:
01/02/2018
Classificação Indicativa:
16 anos
COTAÇÃO DO KLAU:
Nenhum comentário:
Postar um comentário