
Se hoje em dia, galãs assexuados parecem ser o que Hollywood mais entrega ao espectador, houve um tempo, não tão longínquo assim, que ator precisava, além de talentoso, parecer homem.
Se o melhor exemplo desse passado foi Rock Hudson e James Dean - o primeiro, gay, o segundo bissexual -, o melhor exemplo do presente continua sendo Sir Sean Connery.
Imagens: Arquivos do Klau
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Sean Connery, no início da carreira |
Sir Thomas Sean Connery (Edimburgo, Escócia, 25 de agosto de 1930) é um ator versátil, que transita do drama, à comédia ou ao filme de ação com a mesma desenvoltura, tudo embalado numa voz maravilhosa, olhos profundamente expressivos e um charme irresistível.
Com quase 50 anos de estrelato, Connery construiu uma sólida carreira cinematográfica, onde papéis importantes se alternam a outros secundários, mas que, no conjunto, o tornam um dos atores mais conhecidos e respeitados da história do cinema.
Mas nem sempre foi assim: após trabalhos menores no cinema e na televisão inglesa, entre o fim dos anos 50 e começo dos 60, Connery ainda não ganhava dinheiro como ator, o que o fez fazer vários trabalhos para sobreviver.
No começo de 1960, o escritor Ian Fleming finalmente vendeu os direitos de suas novelas protagonizadas pelo agente secreto James Bond para o produtor americano Albert "Cubby" Broccoli e detestou a opção do produtor para que Connery interpretasse o primeiro 007 nas telonas, chegando a dizer: "o que esse caminhoneiro grosseirão - era essa a profissão de Sean na época - tem a ver com o mundo glamuroso de 007?"
Broccoli, produtor experiente e visionário, provou que tinha razão, e Connery interpretou Bond em nada menos que seis longas da saga oficial, que comemora 50 anos nesse ano:
*"007 Contra o Satânico Dr. No" (Dr. No, ING, 1962, Cor, 109'), de Terence Young;
*"Moscou Contra 007" (From Russia With Love, ING, 1963, Cor, 115'), de Terence Young;
*"007 Contra Goldfinger"(Goldfinger, ING, 1964, Cor, 109'), de Guy Hamilton;
*"007 Contra a Chantagem Atômica" (Thunderball, ING, 1965, Cor, 131', de Terence Young;
*"Com 007 só se Vive Duas Vezes" (You Only Live Twice, ING, 1967, Cor, 117'), de Lewis Gilbert;
*"007 - Os Diamantes São Eternos" (Diamonds Are Forever, ING, 1971, Cor, 120'), de Guy Hamilton
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Ursulla Andrews - a primeira "Bond Girl" e Sean Connery, em cena de "007 Contra o Satânico Dr. No" (Dr. No, ING, 1962) |
Quando quis deixar a saga - após "Com 007 só se Vive Duas Vezes" - e devido ao fracasso de "007 A Serviço Secreto de sua Majestade" (On Her Majesty's Secret Service, ING, 1969, Cor, 140'), de Peter Hunt, com o australiano George Lazenby como Bond, Connery topou voltar para mais um longa - "007 - Os Diamantes São Eternos" - ganhando na época a astronômica quantia de US$ 1 milhão, mais participação nas bilheterias.
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Connery em Jill St.John, em cena de "007 - Os Diamantes São Eternos" (Diamonds Are Forever, ING, 1971) |
Se depois de "007 Contra Goldfinger", Connery já tinha se tornado um dos maiores e mais prestigiados atores do cinema, sua alma inquieta de ator não sossegava, e não só ele, como seus milhares de fãs, achavam que só Bond era muito pouco para o seu imenso talento.
Assim, foi com o visual de Bond em "Goldfinger" que ele estrelou "Marnie: Confissões de uma Ladra" (1964), de Alfred Hitchcock, ao lado de Tipi Hendren, estrela de outro sucesso do mestre do suspense - "Os Pássaros" (1960).
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Sean Connery e Tipi Hendren, em cena de "Marnie: Confissões de uma Ladra" (1964), de Alfred Hitchcock |
Se o longa não fez tanto sucesso, ao menos calou todos os seus detratores, que afirmavam que ele seria apenas um ator menor e de um só papel.
Em 1971, depois de "007 Os Diamantes são Eternos", Connery finalmente deixou o personagem, para doze anos depois topar retomar Bond no longa "007 Nunca Diga Nunca Outra Vez"/Never Say Never Again" (1983), uma refilmagem de "007 Contra a Chantagem Atômica" de menor qualidade feita pelo produtor associado Kevin McClory, que detinha os direitos da novela de Ian Fleming e havia emprestado para "Cubby" Broccoli fazer o longa de 1965.
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Connery e Kim Bassinger - a "Bond Girl" - em foto promocional de "007 Nunca Diga Nunca Outra Vez"/Never Say Never Again" (1983) |
Connery estava envelhecido para o papel, o longa não foi bem nas bilheterias, mas até hoje é considerado pelos fãs de Bond como um excelente contraponto ao 007 mais leve e bem humorado interpretado na época por Roger Moore na saga oficial.
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Michael Caine e Connery, em cena de "O Homem que Queria Ser Rei" (1975) |
Nessa época, o ator já tinha optado por investir numa carreira mais diversificada e, a partir dos sucessos de "Zardoz" (1974), uma ficção científica dirigida por John Boorman, e "O Homem que Queria Ser Rei" (1975), dirigido por John Huston e co-estrelado por seu amigo Michael Caine, sua carreira entrou em ascensão em qualidade e diversidade, fazendo com que Connery se tornasse o único de todos os atores que interpretaram o papel de espião favorito de Sua Majestade a conseguir isso.

Connery, em foto promocional de "Zardoz" (1974)
A partir daí, Sean estrelou grandes sucessos, como "Robin e Marian (1976), "Highlander" (1986), "O Nome da Rosa" (1986), "Indiana Jones e a Última Cruzada" (1989), "Caçada ao Outubro Vermelho" (1990), "A Rocha" (1996), "Armadilha" (1999), e muitos outros.
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Connery e Harrison Ford, em cena de "Indiana Jones e a Última Cruzada" (1989), de Steven Spielberg |
Surpreendentemente, Sean nunca levou o Oscar de Melhor Ator.
A Academia de Hollywood só o laureou como Melhor Ator Coadjuvante por sua atuação em "Os Intocáveis" (1987), de Brian De Palma, onde co estrelou ao lado de Kevin Costner e Robert de Niro.
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Connery ao lado de Kevin Costner, em pose promocional de "Os Intocáveis" (1987) |
Na cerimônia, apresentado por Cher e Nicolas Cage, Connery foi aplaudido de pé ao por todos os presentes no Dorothy Chandler Pavillion, local da festa de entrega dos prêmios da Academia na época - um reconhecimento público de seus pares a um dos mais importantes atores do cinema de todos os tempos.
Confira:
Connery foi casado por onze anos (entre 1962 e 1973) com a atriz australiana Diane Cilento, com quem teve um filho, Jason Joseph, nascido em janeiro de 1963 - relacionamento conturbado e amargo que levou a atriz a escrever uma autobiografia retratando Connery como um péssimo marido.
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Connery, em cena de "O Nome da Rosa" (1986) |
Desde 1975, ele está casado com a artista franco-tunisiana Michelline Roquebrune Connery e vive com a mulher em Nassau, nas Bahamas.
Reuters
Reuters
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Sean e sua mulher, Michelline, no último festival de cinema de Edimburgo, Escócia |
O ator é um dos maiores apoiadores e colaboradores financeiros do Partido Nacional Escocês, que luta pela independência da Escócia, tanto, que metade do seu cachê em "007 Os Diamantes São Eternos" (na época, 1971, o maior já pago a qualquer ator de cinema, para que ele voltasse ao papel de Bond) foi doado ao partido e para ajuda a crianças carentes da Escócia.
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Connery em "A Rocha" (1996) |
A Escócia tem hoje um parlamento próprio e Connery crê que ainda em vida a verá independente da Grã-Bretanha.
Seu apoio ostensivo a esta causa fez com que sua sagração a Cavaleiro do Reino Unido da Grã-Bretanha - que lhe deu o título de Sir - fosse adiada por muitos anos.
Reuters
Reuters
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Connery, no dia em que se tornou "Sir" do Império Britânico (5.7.2000) |
Após receber a Legião de Honra, a mais alta condecoração do governo francês em 1991, ele foi finalmente agraciado com o título de Sir pela Rainha Elizabeth II, em 5 de julho de 2000, numa cerimônia que, a seu pedido, foi realizada na Escócia e à qual compareceu vestido com um traje típico escocês, um kilt de caça do clã MacLean.
Connery teve até hoje somente dois problemas de saúde: em 1993, foi obrigado a se submeter à radioterapia para eliminar nódulos na garganta e, em 2003, operou os dois olhos de catarata.
Divulgação
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Connery como Alan Quarterman, em cena de "A Liga Extraordinária" (2003), seu último longa - até agora! |
Nos últimos anos - e após o fracasso comercial e de crítica de seu último filme, "A Liga Extraordinária" (2003) - Connery mantém-se afastado do cinema, tanto por sua decepção com o sistema de Hollywood, como por sua alegada declaração de que concentra seus esforços em escrever sua biografia.
The Belfast Telegraph
The Belfast Telegraph
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O ator, em maio de 2012 |
Aos 82 anos, Sean Connery continua em forma e arrancando suspiros por onde passa.
O cinema não pode prescindir de um ator tão completo assim.
O cinema não pode prescindir de um ator tão completo assim.
Um comentário:
Acho ele demais. Como citado no início do texto ele parece ser homem. Charmosíssimo com linguagem corporal e jeito todo sutil em 007, uau, que galã!
Parabéns por seu trabalho e sua carreira, Sean Connery!
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