Passados 50 anos após sua morte repentina - em 5 de agosto de 1962 - o debate sobre a revolução sexual, das nuances de interpretação, da invasão midiática na sua vida e do que é ser e estar Diva de Hollywood - Marilyn Monroe ainda sobrevive, não só na imaginação de seus incontáveis fãs - eu incluso - mas também na memória afetiva de gerações.
Monroe não foi a primeira 'pin-up' de Hollywood e nem era loira natural.
Contudo, entre o famoso suéter vermelho apertado, as fotos da Playboy e o episódio do vestido esvoaçante sobre a ventilação do metrô de Nova York, Norma Jean Baker, seu nome de batismo, transformou os Estados Unidos - e o mundo.
Seus casamentos com celebridades e a fama, que ia muito além de sua modesta lista de participações no cinema, ajudaram a criar um símbolo sexual reverenciado por cantoras pop, atrizes e fashionistas até hoje.
"Marilyn Monroe alcançou uma aura", disse ontem Goetz Grossmann, produtora-executiva de um novo filme sobre a Diva - "Blonde".
"Você não pode fugir de Marilyn Monroe. Ela atingiu um status icônico".
Também ontem, a diretora criativa da revista Elle, Joe Zee, escreveu no website da publicação que "a bombshell original" ainda é uma inspiração nas passarelas.
Muito além de biografias escritas ou filmadas - como o recente longa "Sete Dias com Marilyn", onde Michelle Williams encarnou a Diva - Hollywood, a indústria da música e da moda continuam absolutamente fascinadas por ela, encontrada morta aos 36 anos em decorrência do uso abusivo de remédios controlados.
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Michelle Williams como Marilyn, em cena de "Sete Dias com Marilyn" |
Até celebridades da atual Hollywood, como Taylor Swift e Scarlett Johansson, são conhecidas por explorar os cachos loiros e vestidos brancos que ajudaram a fazer de Monroe um 'sex symbol'.
A atriz Megan Fox fez uma tatuagem - mais tarde removida - do rosto de Marilyn em seu antebraço e Lindsay Lohan tem uma obsessão pela musa, notada mais uma vez em seu ensaio na Playboy, em que reproduz o nu de Monroe em 1953, na primeira edição da revista de Hugh Hefner.
"Eu me identifico", disse Lohan.
Playboy - Divulgação
Lindsay Lohan como Marilyn, na Playboy |
O contundente poder de atração de Marilyn pode parecer estranho e embora seu trabalho em "Quanto Mais Quente Melhor" (1959) e em muitos outros filmes tenha sido absolutamente marcante, sua participação em Hollywood foi curta e sua trajetória é conhecida pelo sofrimento e morte.
Mesmo por trás de seu passado e do 'sex appeal', muitos ainda se perguntam se a personalidade sedutora de Marilyn foi uma prova de independência, ou o reflexo de uma mulher manipulada pelos homens.
Lois Banner, autor da biografia recém-publicada "Marilyn: The Passion and the Paradox," diz que não há dúvidas de que ela era a verdadeira dona de seu corpo.
"Ela criou sua carreira", explicou Banner.
"Ela era extremamente esperta. Sabia muito bem o que estava fazendo... Os jornais queriam uma loira fatal e foi o que ela fez".
Segundo Banner - que levou 10 anos investigando os poucos aspectos ainda sombrios sobre a vida de Marilyn - a atriz sabia que entrava em um jogo perigoso, e perdeu o controle apenas no fim, quando começou a andar com os Kennedy e Frank Sinatra.
"Ela dormia com homens para chegar ao topo. Eles a usaram? Sim. Ela os usou? Sim. Ela mostrava seu corpo porque queria manter o controle sobre os homens", explicou.
Já Rosanna Hertz, professora de Sociologia na Wellesley College, afirma que Marilyn não era nenhuma heroína do poder feminino.
"Quando a sexualidade é comercializada, minha pergunta é: 'Quem controla isso?'", declarou Hertz.
A vida de Monroe pode ser um aviso para aquelas que esperam que o seu poder de sedução traga riqueza e glamour.
"É preciso trabalhar duro para ser uma 'mulher troféu'", disse Hertz.
"É algo que muitas mulheres mais jovens tentam simular. (O programa de TV) 'Bachelorette' é sobre isso. Não acho que garotas que buscam isso sabem o quanto é difícil: descobrir quem são os homens ricos, ir atrás deles", acrescentou.
Muitas tentaram imitar Marilyn Monroe, mas apenas uma se aproximou - e até mesmo melhorou - sua fórmula de sexualidade e estrelato.
Madonna era também uma morena que inventou um novo nome, se tornou loira, e lançou uma carreira que seria sinônimo de uma chocante segurança com sua sexualidade e, independentemente de suas semelhanças, a Diva Pop é forte onde Marilyn era vulnerável e foi essa diferença crucial permitiu que ela se mantivesse ativa e no topo da música até hoje.
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Madonna como Marilyn, no clipe de "Vogue" |
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O LEGADO DE MARILYN PARA A MODA
O legado de Marilyn não se restringiu apenas ao cinema.
Dona de um estilo imitado ininterruptamente durante o último meio século, desde o peculiar loiro platinado de seus cabelos ondulados até seus saltos de agulha, desenhados em seus últimos anos por Salvatore Ferragamo, tudo relacionado com ela segue estando em moda.
"Apenas duas gotinhas de Chanel nº5", a única coisa que Marilyn Monroe dizia que usava para dormir, bastaram para que, 50 anos depois, a artista continue sendo o símbolo por excelência da famosa marca francesa.
A repercussão dessa afirmação foi aproveitada pelos criadores do perfume, que habilmente utilizaram a imagem da mítica loira para a campanha promocional de uma fragrância que, em grande medida graças à atriz, segue como uma das mais vendidas do mundo.
Porém, a influência de Marilyn no mundo da moda e do glamour não se limitou a este aspecto.
"Marilyn foi o epítome de um tipo de ideal feminino", na opinião de Christopher Nickens, co-autor do livro recentemente publicado , "Marilyn in Fashion", uma peculiar revisão da influência da Diva na moda.
Com seus paletós justos ou seus jerseys largos, suas calças curtas ou acima do tornozelo e seus emblemáticos vestidos apertados na cintura, Marilyn criou em sua época um estilo novo que consistiu, mais que em inovar, em adaptar à vestimenta diária peças que realçavam seu corpo.
Esse foi o principal legado da atriz à indústria da moda, segundo Nickens, para quem, embora em vida não fosse considerada um ícone da moda, Marilyn compartilhava essa característica com outras mulheres como Jackie Kennedy, Grace Kelly e Audrey Hepburn.
Como elas, a loira mais famosa da história não seguiu tendências, conhecia seu corpo e sabia o que a favorecia.
Graças a isso construiu um protótipo de feminilidade que pode ser resumido em três de seus mais emblemáticos vestidos.
O primeiro, um dos mais famosos vestidos da história, foi usado no longa "O Pecado Mora ao Lado" (1955), na cena onde a Diva se refresca do calor nos respiradouros do metrô de Nova York enquanto seu vestido branco se levanta, exibindo suas belas pernas e uma parte da calcinha.
Confira um trailer do longa:
O segundo, apareceu em "Os Homens Preferem as Loiras" (1953), na cena em que canta a famosa canção "Diamonds are a Girl's Best Friend".
De um rosa intenso, com um decote matador e um grande laço no final das costas, Marilyn acentuou a sensualidade do vestido com longas luvas no mesmo tom.
Confira:
O último, não menos famoso, é o longo branco e justíssimo, usado pela Diva em 19 de maio de 1962 especialmente para cantar "Parabéns pra Você" para o então presidente americano, John Kennedy, tendo como palco da sua performance um ginásio Madison Square Garden de Nova York lotadíssimo.
Reza a lenda que o vestido, de tão justo, foi costurado no corpo da Diva, que fez então sua última grande aparição pública antes de morrer, meses depois.
Confira:
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MARILYN: A TRAJETÓRIA
Poucas biografia de estrelas de Hollywood começam e terminam como a de Marilyn.
Nascida em 01 de junho de 1926 em Los Angeles, Norma Jean Baker nasceu de mãe operária e pai desconhecido.
Com a mãe passando boa parte da vida em manicômios, Norma cresceu em orfanatos e lares adotivos.
Para fugir dessa vida sem lar, nem estabilidade, Norma casou-se aos 16 anos com Jim Daugherty, irlandês que, aos 21 anos, trabalhava numa fábrica de aviões e que, pouco depois, foi convocado pela Marinha - os EUA acabavam de entrar na Segunda Guerra.
Enviado como instrutor de ginástica à base naval americana na ilha de Catalina, Jim pode levar a mulher, que era uma das poucas da base - mas, certamente, a mais bonita, de uma beleza realçada por uma maquiagem muito bem feita - competência que os maiores maquiadores do mundo viriam a exaltar.
Norma já era danada, e fazia o maior sucesso nos bailes da base, para o ciúme do marido, que, depois de alguns meses, foi mandado para a Austrália, onde a mulher não poderia acompanha-lo.
Norma voltou a LA, passou a morar na casa da família do marido e, com a sogra, arrumou emprego numa fábrica de para quedas, onde um fotógrafo das forças armadas, fazendo uma reportagem sobre mulheres engajadas no esforço de guerra, procurava uma modelo que ilustrasse a matéria.
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Marilyn em uma de suas primeiras imagens como modelo |
Lógico, escolheu Norma que, para a surpresa de todos, não precisou ser ensinada a posar - tinha aprendido a controlar seus movimentos de corpo e olhos e sabia muito bem das reações que essa expressão corporal provocava nos homens.
Norma, então, começou a frequentar aulas e a fazer parte de castings de agências e seu sorriso logo começou a aparecer em capas de revista.
Nessa época, ela conheceu o famoso fotógrafo húngaro André de Dienes, que fez com ela uma ótima série de imagens por cenários naturais no oeste americano.
Apaixonado pela modelo, De Dienes rapidamente transformou a viagem de trabalho numa ardente lua de mel e as fotos, publicadas pelas revistas U.S.Camera, Pageant e Parade viram sensação.
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Marilyn pelas lentes de Andre De Dienes |
Depois de uma viagem a NY, o fotógrafo rompeu com Norma, por saber que ela o traía com variados homens.
Com as revistas se estapeando por uma foto sua, Norma, porém, tinha a cabeça em outro lugar: Hollywood, uma fábrica de sonhos e que vivia sua época dourada.
Então, uma de suas professoras na Blue Look Models, Emmeline Snively, começou a repaginar sua modelo.
Primeiro, convenceu Norma a clarear seu cabelo - sua cor natural, "loiro sujo", saia escura demais nas fotos.
Depois, faz com que duas das maiores fofoqueiras de Hollywood da época - as colunistas Hedda Hopper e Louella Parsons - associassem Norma ao magnata do cinema Howard Hughes, que, conhecido pelos seus relacionamentos amorosos com grandes estrelas, acabava de sobreviver a um acidente de avião, outra de suas paixões.
E não deu outra: no dia seguinte às publicações das notas de Hopper e Parsons, toda Hollywood só comentava: "Quem é essa Norma Jean"?
A 20th Century Fox acabou mordendo a isca e um dos seus diretores, Ben Lyon, ofereceu um teste à modelo - filmado em cores e sem som, Norma anda, senta-se em um banquinho, acende um cigarro e olha para a câmera de cinema - que ficou absolutamente fascinada com o que filmava.
O cameraman chegou a declarar, anos depois:
"Senti um calafrio; a moça tinha uma coisa que eu não via desde o tempo dos filmes mudos; tinha uma beleza fantástica como a de Glória Swanson, do tempo em que as estrelas de cinema tinha de ser bonitas e irradiar, num pedaço de filme, muito sexo, como Jean Harlow".
O presidente da Fox, Darryl Zanuck, disse então para Ben Lyon:
"É um teste excepcionalmente bom. Uma Jovem brilhante. Contrate-a."
O contrato foi assinado em 26 de agosto de 1946 e estipulou um salário de U$ 75 por semana, muito menos do que Norma ganhava como modelo - mas o sonho de ser estrela de cinema falou mais alto.
Ben Lyon implicou, então, com seu nome, Norma não gosta da idéia, mas acaba concordando.
Saía de cena Norma Jean Baker; nascia Marilyn Monroe.
De agosto de 1946 ao final de 1947, Marilyn não filmou uma cena sequer - é considerada a "terceira loira da Fox", atrás de Betty Gable e June Haver em qualquer comédia leve - e limita-se às aulas de dicção, expressão corporal e às sessões de fotos usando maiôs ou roupas provocantes.
É mais uma loira num mundo cheio de loiras? Lógico que não!
Marilyn gasta o tempo livre se preparando com afinco e mantém sua forma física com ginástica e correndo logo cedo em volta do hotel onde morava.
Começou a aparecer em pontas e mais pontas insignificantes, em filme medíocres, até que ela topou com um dos fundadores da Fox, Joe Schenck - intuindo que ele era um homem importante, Marilyn lhe abre o seu melhor sorriso, segundo ela, sua melhor interpretação do ano.
Já ancião, Schenck se encantou com ela, tornou-se seu protetor e a incentivou a tentar a sorte com outros produtores, chegando a convencer a Fox a empresta-la à Columbia Pictures para um musical "B", "Mentiras Salvadoras".
Rodado em apenas onze dias e de baixo orçamento, o filme, porém, deu a Marilyn a oportunidade de cantar, dançar e representar.
Só que, para os outros estúdios, ela ainda era uma promessa esquecida da Fox e que trabalhou num filme de segunda da Colúmbia.
Em 1949, Marilyn conseguiu um pequeno papel em "Loucos de Amor", filme da Metro onde ela, numa curta aparição ao lado de Groucho Max, interpreta uma atriz loira e sexy e mostra pela primeira vez nas telonas seu famoso movimento de quadris - tudo em 30 segundos!
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Marilyn, em cena de "Loucos de Amor" (1949) |
Aos 23 anos, ninguém aposta nela pra valer, e ela voltou à Fox num papel insignificante no western "O que Pode um Beijo".
A virada para o estrelato se dá pelas mãos de John Hyde.
Vice presidente da melhor agência de atores de Hollywood e responsável pelas descobertas de Lana Turner e Rita Hayworth, ele se tornou seu agente e fez tudo para alavancar a carreira de sua contratada.
A subida ao estrelato começou com um pequeno, mas marcante papel em "O Segredo das Jóias" (1950), de John Huston, para a Warner Bros. - para depois, de volta à Fox, trabalhar finalmente num grande filme, "A Malvada" (1950), de Joseph Mankiewicz, onde, mesmo contracenando com estrelas do porte de Bette Davis e Anne Baxter, cativou o público com sua interpretação.
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Da esquerda para a direita: Anne Baxter, Bette Davis, Marilyn e George Sanders, em cena de "A Malvada" (1950) |
Doente, e sabendo que logo morreria, Hyde concentrou todos os seus esforços na carreira de Marilyn - chegou a lhe propor casamento, para que ela se tornasse sua herdeira, mas ela recusa - e conseguiu uma renovação de contrato com a Fox por mais sete anos, com um salário de US$ 750 por semana no primeiro ano, aumentando até US$ 1.500 no último.
Se Emmeline tinha transformado Marilyn em loira, Hyde a convenceu a modificar o tamanho dos dentes, a fazer uma pequena plástica no nariz e a corrigir a linha do queixo, o que deixou o seu já belo rosto mais que perfeito.
Morto Hyde, a Fox volta a dar a ela papéis abaixo da crítica - o chefão do estúdio, Zanuck a mantinha na geladeira simplesmente por não ser ele quem a descobriu.
Só que a carreira de modelo ia muito bem, as revistas falavam muito dela e foi justamente uma foto que deu o empurrão definitivo em sua carreira - a famosa foto dela, nua, para a edição número 01 da revista "Playboy", em 1949, explodiu em vendas em NY, mas em LA, ninguém comentou.
Playboy
Marilyn, no pôster central da revista |
Em 1951, Marilyn é convidada pelo próprio diretor Fritz Lang para o drama da RKO protagonizado por Barbara Stanwyck, "Só a Mulher Peca", papel importante num projeto importante.
O produtor do longa, Jerry Wald, é chantageado em US$ 10 mil para que não revelem que é Marilyn no pôster da Playboy, sucesso em NY.
Wald não só não sede à chantagem, como espalha a notícia em Los Angeles, onde, num primeiro momento, a Fox tentou desmentir, para depois entrar na onda e comprar lotes e mais lotes da revista para distribuição.
Embora interprete o quarto papel em importância, Marilyn tem seu nome encabeçando os cartazes do filme da RKO, que foi um estrondoso sucesso de bilheteria.
A Fox finalmente se dá conta do diamante que possuía, e inclui Marilyn em mais quatro filmes no ano seguinte, todos sucesso de bilheteria, principalmente a comédia "O Inventor da Mocidade" (1952), de Howard Hawks, e o drama "Almas Desesperadas" (1952), de Roy Baker, onde ela interpreta uma babá psicopata.
Em 1953, e já com um salário de US$ 1.200 semanais, "Torrentes de Paixão" consagrou Marilyn no mundo todo.
Produção luxuosa e em cores, Marilyn brilha ao lado dos já astros da Fox, Joseph Cotten e Jean Peters, tendo o diretor Henry Hathaway, avô da atriz Anne, insistido nos saltos altíssimos que ela usa em cena, o que só acentuou seu rebolado.
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Marilyn, em cena de "Torrentes de Paixão"
Críticas pelo mundo exaltavam a sensualidade inquieta daquela mulher que se tornaria, a partir daí, o maior símbolo sexual dos anos 50.
Já estrela, a Diva das Divas filmou "Os Homens Preferem as Loiras" (1953), de Howard Hawks, um musical maravilhoso onde ela divide a telona com a morena Jane Russell.
Marilyn cantou, dançou e interpretou tão bem que o chefão Zanuck, sempre desconfiado, achou que tinham dublado a voz dela.
O musical fez um enorme sucesso, o que garantiu à Diva uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood e uma capa da revista Time, que afirmava: "No panteão de Hollywood, Marilyn é a deusa do amor".
Fox
Jane Russell e Marilyn, em cena do filme |
Em seu segundo filme em Cinemascope - "Como Agarrar um Milionário" (1953), de Jean Negulesco, ela dividiu a telona com Betty Gable e Lauren Bacall, mas ficou com todas as glórias e ainda revelou seu enorme talento para a comédia.
Na noite da estreia, Marilyn, vestida de branco e prata e linda de viver, já era a mulher mais poderosa de Hollywood e tinha acabado de se casar com o mega astro do baseball Joe Di Maggio, católico fervoroso que não se deu bem com a liberalidade e a mentalidade pragmática da Diva, que gastava seu tempo lendo tudo o que lhe caía à mão e que já tinha uma biblioteca com mais de mil volumes, todos devidamente lidos por ela.
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Marilyn e Joe Di Maggio |
Lógico, o casamento não durou muito.
Em 1953, a revista Photoplay a proclama "a atriz mais popular do ano", ano em que ela rendeu à Fox US$ 25 milhões e recebeu meros US$ 50 mil.
Além da fama, Marilyn quer agora ser reconhecida como grande atriz, conseguir prestígio e respeito, ganhar à altura do que rendia e ter papéis melhores que os de "loira burra".
Só que os tempos eram outros, e a indústria cinematográfica americana passava por uma das sua mais sérias crises, quando a TV começava a minar o chamado "star systen", ameaçando o poder dos grandes estúdios.
Mesmo assim, Marilyn não aceita papéis em vários filmes, exige ganhar o mesmo que Frank Sinatra - US$ 5 mil por semana - e acaba ganhando um novo contrato da Fox: em vez de US$ 75 mil por filme, receberia US$ 100 mil e poderia escolher seus roteiros, de vez em quando.
Em 1954, topou estrelar "No Mundo da Fantasia", de Walter Lang,desde que também estrelasse "O Pecado Mora ao Lado" (1955), de Billy Wilder, onde esteve simplesmente perfeita como a vizinha ingênua mas extremamente provocante de um homem casado e temporariamente sozinho, com a mulher e filho em viagem de férias e cheio de fantasias eróticas.
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Marilyn, numa das cenas mais famosas do cinema, em "O Pecado Mora ao lado" |
O diretor Wilder declarou, ao final das filmagens:
"Com exceção de Greta Garbo, nunca houve nas telas outra mulher com tanta voltagem".
O enorme sucesso do longa fez subir seu salário para US$ 500 semanais e os estúdios aceitaram que ela aprovasse os diretores com quem ela trabalharia - ela escolheu apenas quatro: George Cukor, John Huston, Billy Wilder e Joshua Logan.
Nessa época, Marilyn passou uma temporada em NY, onde teve aulas de interpretação no famoso Actor' Studios, escola que preparou, entre muitos outros, Marlon Brando e James Dean - ela apareceu discretamente, como uma disciplinada principiante, numa classe com trinta alunos.
Lee Strasberg, o diretor da escola, ficou impressionadíssimo:
"Não é comum encontrar a personalidade subjacente tão perto da superfície, tão ansiosa para irromper e, consequentemente, tão rápida para responder.Essa rapidez é característica dos grandes atores".
Marilyn passou então a ser diretamente supervisionada por Strasberg e sua mulher, Paula, em todas as suas atuações no cinema e, aos poucos, descobriu sua identidade de atriz, ganhando confiança, ainda que precária.
Seu primeiro longa dessa nova fase de carreira foi "Nunca Fui Santa" (1956), de Joshua Logan, onde Marilyn interpretou uma cantora de cabaré que tem um romance neurótico com um ingênuo cowboy.
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Marilyn, em cena de "Nunca fui Santa" |
A maioria dos seus biógrafos acham que esse é o seu melhor desempenho, a crítica foi unânime em reconhecer seu amadurecimento como atriz e os elogios se multiplicaram - só a Academia a esnobou e nem a listou para concorrer ao Oscar de Melhor Atriz.
O ano de 1957 foi cheio de esperanças para Marilyn: finalmente, ela se livrou dos estúdios e fundou sua própria produtora - a Marilyn Monroe Inc. - planejada e dirigida por Milton Greene e com intervenções do seu novo marido, o dramaturgo Arthur Miller.
É o ano de "O Príncipe e a Corista", dirigido e co estrelado por Sir Laurence Olivier, filmado em Londres e sendo uma tentativa de Marilyn estrelar outro longa de alto nível.
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Marilyn e Sir Laurence Olivier, em cena do longa |
A história - uma dançarina norte americana que se apaixona por um príncipe da Europa Central que passava por Londres - lembrava muito um episódio da vida real de Marilyn: antes de escolher Grace Kelly como princesa de Mônaco para dar novo realce à decadência do principado, Rainier II tinha feito a oferta para Marilyn, que, por alguns dias, até que se anunciasse a escolha de Grace, sonhou com o trono.
Toda a história desse filme pode ser conferida no bom "Sete Dias com Marilyn" (2012), onde Michelle Williams interpreta esses dias de Marilyn em Londres.
O terceiro marido de Marilyn, Arthur Miller, era um dramaturgo de prestígio e ganhador do prêmio Pulitzer, o símbolo máximo da intelectualidade e do inconformismo americano do pós guerra e o casamento, de enorme repercussão, serviu para a atriz ascender socialmente a uma posição pela qual tinha lutado toda a vida.
Para acompanhar o marido, Marilyn estabeleceu-se em NY, onde pode frequentar o Actor's Studios todos os dias.
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Marilyn e Miller |
De casamento dos sonhos, aos poucos a relação se transformou numa competição acirrada: Miller não aprovava o método de imersão no personagem ensinado por Lee Strasberg, para ele um diretor de teatro fracassado que descontava sua frustração manipulando seus alunos.
Assim, "a união do corpo com o cérebro", como a mídia chamava o casamento, se transformou num combate.
Em 1958, Marilyn voltou a Hollywood para estrelar, ao lado de Tony Curtis e Jack Lemmon, "Quanto mais Quente Melhor", comédia de Billy Wilder frequentemente eleita a melhor de todos os tempos.
Tony Curtis chegou a contar, na sua autobiografia, como eram péssimos os dias da filmagem: Marilyn chegava frequentemente atrasadíssima, tinha sucessivas crises nervosas e deixava todos no set de mau humor.
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Tony Curtis, Marilyn e jack Lemmon, em foto promocional do longa |
Como interpretavam dois músicos que, para fugir dos gângsters de Chicago, se vestem de mulher e entram para uma orquestra de moças, Curtis e Lemmon usavam uma pesada maquiagem, e assim ficavam durante horas, sem poder suar ou se mexer muito, à espera de Marilyn.
A coisa chegou a tal ponto, que Wilder chegou a confessar:
"Já não podia nem olhar para a minha esposa sem sentir vontade de bater nela pelo simples fato de ela ser mulher".
Mesmo com tudo isso, a interpretação de Marilyn para Sugar Kane foi magistral: pureza, doçura e sedução em doses máximas.
Assim que a filmagem terminou, a crise no casamento só aumentou: pressionado por Miller, Greene foi despedido da companhia, ameaçou mover um processo mas acabou aceitando uma indenização de US$ 100 mil - o que provocou a extinção da Marilyn Monroe Inc. e a independência da estrela.
A crise nervosa de Marilyn só se acentuou ainda mais, durante as cansativas filmagens de "Adorável Pecadora" (1960), de George Cukor.
Co estrelado pelo astro francês Ives Montand, o longa voltou à velha fórmula da loira burra, coração de ouro e sex appeal explosivo.
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Marilyn e Ives Montand, em cena do longa |
A produção foi interrompida por causa de uma greve de técnicos e Marilyn teve um curto romance com Montand, que teve repercussão devido a uma campanha publicitária dos produtores.
No ano seguinte, Marilyn filmou seu último longa acabado - "Os Desajustados" (1961), de John Huston - onde dividiu a telona com Clark Gable e Montgomery Clift.
Com roteiro de Arthur Miller, o longa tem uma trama triste, pesada, que acabou mostrando um patético retrato da angustiada estrela.
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Clift, Marilyn e Gable, numa pausa das filmagens do longa "Os Desajustados" |
As filmagens, no deserto de Nevada, foram muito cansativas, e Marilyn precisou ser internada, por esgotamento nervoso, durante uma semana.
Terminadas as filmagens, o casamento com Miller também acabou, Marilyn entrou numa depressão ainda mais prolongada que as anteriores e teve um rápido caso com Frank Sinatra.
No final de 1961, ela foi internada num hospital psiquiátrico, onde chegou a ficar por três dias numa cela com grades.
Quando recuperou a lucidez, conseguiu telefonar para Joe Di Maggio, que a resgatou do sanatório.
Na estreia de "Os Desajustados", os críticos elogiaram, mas comentaram que a Diva tinha engordado.
Perturbada pelos comentários, Marilyn se submeteu a um draconiano regime, e voltou, mais bela do que nunca, à sua antiga forma.
Mais do que depressa, a Fox, que sabia que o seu contrato com a Diva estava no fim, quis aproveitar a mídia do "Marilyn linda", "deusa" e etc, escalando-a para "Something's Got to Give", que seria dirigido por George Cukor.
Assim, em abril de 1962, Marilyn começou as provas do figurino e os ensaios, com surpreendentes disciplina e pontualidade.
Se aparentemente tudo estava às mil maravilhas, por dentro ela estava em frangalhos, cada vez mais dependente de medicamentos controlados, principalmente barbitúricos.
Por meio de Frank Sinatra, Marilyn conheceu nessa época o ator Peter Lawford, casado com uma irmã dos irmãos John e Bob Kennedy - o primeiro, já presidente dos EUA e o segundo, o poderoso Secretário de Justiça.
Foi aí que sua presença nas filmagens começou a ficar complicada, os atrasos recomeçaram, bem como as licenças médicas chanceladas por atestados médicos.
E foi no período de vigor de um desses atestados médicos que Marilyn fez sua última aparição pública, linda de viver, com um vestido longo, prateado - e que, dizem, de tão justo foi costurado em seu corpo - num Madison Square Garden em NY lotado com mais de 20 mil pessoas, só para cantar "Parabéns pra Você" ao presidente, que todos já sabiam ser seu amante.
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Marilyn, linda de viver, no parabéns a JFK |
Marilyn voltou a Hollywood, recebeu uma pesada multa da Fox, o diretor Cukor se desesperou e ela, abandonada por John, começou então um romance com Bob.
Nesses dias, ela filmou a famosa cena em que toma banho de piscina completamente nua, e a Fox, lógico, trata de espalhar milhares de fotos da cena pela mídia.
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Marilyn nua, em cena do seu filme inacabado
Em 01 de junho de 1962, a equipe do longa ofereceu a ela uma festa de aniversário - mesmo se atrasando e faltando nas filmagens, Marilyn era muito querida por todos no set.
Uma semana depois, o novo chefão da Fox, Peter Laventhis, despediu a Diva por "violação voluntária de contrato", exigindo ainda US$ 1 milhão de indenização - um choque enorme para todos e que motivou o diretor Billy Wilder, que também tinha sofrido com os atrasos e faltas de Marilyn, proferisse uma das frases mais famosas da história do Cinema:
"Tenho uma tia em Viena que sempre chega na hora para seus compromissos.Mas quem quer ir ao cinema para ver minha tia?"
Mesmo com a Fox voltando atrás, readmitindo Marilyn e seguindo com as filmagens, a Diva, já abandonada por Bob Kennedy, demonstra que a energia e a vontade de viver que a mantinha viva desde menina tinha acabado.
Na noite de 5 de agosto de 1962, Marilyn tinha uma festa na casa de Peter Lawford para ir.
Como sabia que Bob lá estaria, resolve não ir, deitou-se cedo e dispensou a empregada.
No quarto, só como sempre, Marilyn tomou um vidro inteiro de Nembutal, um poderoso comprimido para dormir.
Reprodução
Reprodução de HQ que retrata a morte de Marilyn |
Na manhã seguinte, a empregada a encontrou, morta e nua, na cama.
Suicídio?
Acidente?
Assassinato para não comprometer a carreira política dos irmãos Kennedy?
Até hoje, a morte de Marilyn Monroe aos 36 anos continua envolta em mistério.
Marilyn deixou seu espólio para Lee Strasberg e sua mulher, Paula e, atualmente são dois filhos do casal fundador do Actor's Studios que controlam a Marilyn Monroe Enterprises, uma das mais poderosas e rentáveis empresas de licenciamento do mundo.
Hoje, se estivesse viva, a maior Diva do Cinema de todos os tempos teria 86 anos e seria multimilionária, mais até do que Elizabeth Taylor.
Infelizmente, o sofrer, a carência e os seguidos abandonos a que foi submetida durante toda a sua vida falaram mais alto.
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RELEMBRE A DIVA COM DUAS CAIXAS QUE TRAZEM 13 LONGAS INESQUECÍVEIS DE MARILYN
A Fox Films, lógico, entrou nas homenagens pelos 50 anos sem Marilyn, produzindo duas ótimas caixas com os filmes mais importantes da Diva.
"Marilyn Monroe - Coleção Diamante - Box 01" traz "Nunca Fui Santa", "Torrentes de Paixão","Os Homens Preferem as Loiras", "Quanto mais Quente Melhor", "O Rio das Almas perdidas", "Almas Desesperadas" e um ótimo documentário - "Marilyn Monroe: O Fim dos Dias", que narra toda a trajetória da Diva e ainda tem muitas cenas de seu filme inacabado, "Something's Got to Give".
O box 02 da Fox |
Já o box 02 oferece "Como Agarrar Um Milionário", "O Mundo Da Fantasia", "O Pecado Mora Ao Lado", "Os Desajustados", "O Inventor Da Mocidade" e "Adorável Pecadora".
Cada um deles custa R$ 89,90 na Livraria da Folha.
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FILMOGRAFIA COMPLETA
1962 - Something's Got to Give
1954 - O Mundo da Fantasia/There's No Business, Like Show Business
1952 - Páginas da Vida/O'Henry's Full House
1952 - Travessuras de Casados/We're Not Married!
1952 - Só a Mulher Peca/Clash by Night
1951 - Joguei minha Mulher/Let's Make It Legal
1951 - Sempre Jovem/As Young as You Feel
1951 - Em cada Lar, um Romance/Home Town Story
1950 - The Asphalt Jungle/O Segredo das Jóias
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