Quando o casal se uniu em junho, trocaram votos personalizados e anéis de titânio, celebraram com brindes e dançaram até ficar sem fôlego.
Então, à medida que a noite ia acabando, perguntas inesperadas começaram a surgir.
Um após o outro, os convidados começaram a perguntar: "vocês vão ter filhos? Quando vocês vão ter filhos?"
Tom Lotito e Matt Hay, ambos de 26 anos, sentiram-se emocionados.
Eles nunca imaginaram que se casariam quando eram adolescentes, muito menos que amigos e familiares os encheriam de perguntas sobre ter filhos.
“Sinto que é outra forma de dizer que o que temos é válido aos olhos dos outros”, diz Hay, que se casou com Lotito diante de 133 convidados.
À medida que legisladores e tribunais expandem a definição legal da família norte-americana, casais de mesmo sexo estão começando a sentir a mesma pressão sobre ter filhos que os casais heterossexuais sentem há tempos.
Para alguns casais, é outro sinal bem-vindo de sua crescente inclusão no sistema norte-americano.
Mas para outros, que ouvem persistentemente questões sobre filhos no escritório, festas e reuniões familiares, a questão pode ser bem mais complicada.
Muitos homens gays se reformularam com a ideia de que nunca seriam aceitos pela sociedade como pais amorosos e assumiram que nunca teriam filhos.
Eles sofreram essa perda e seguiram adiante, mesmo enquanto outros homens e mulheres homossexuais abraçaram vidas sem filhos.
Então essas perguntas podem desenterrar sentimentos amargos e causar divisões profundas dentro de um casal sobre se devem ter filhos, agora que as famílias de casais de mesmo sexo se tornaram mais comuns.
O processo também pode ser difícil logística e financeiramente, uma vez que os pais lutam com a hipótese de adotar ou usar uma barriga de aluguel.
E uma vez que têm filhos, muitos casais de mesmo sexo ainda enfrentam críticas inevitáveis – verbalizadas ou não – daqueles que ainda não aceitam a ideia de que eles sejam pais.
Mas o apoio para os casais de mesmo sexo terem filhos está crescendo entre os norte-americanos.
Uma pesquisa do Pew Research Center realizada em julho e divulgada na semana passada pela primeira vez revelou que a maioria dos entrevistados – 52% - disse que homens e mulheres homossexuais deveriam ter permissão para adotar crianças, um número maior do que os 46% de 2008 e 38% de 1999.
A mudança na opinião pública e a simples questão – vocês vão ter filhos? - deixa algumas pessoas maravilhadas.
Greg Moore, 62, um gerente corporativo aposentado de Fort Lauderdale, Flórida, balança a cabeça com admiração quando vê jovens casais de homens conversando sobre seus filhos pequenos.
Essa possibilidade parecia fora do alcance quando ele e seu marido de 74 anos, que estão juntos há 44 anos e se casaram em 2008, sonhavam em ter filhos.
“Os gays não tinham filhos”, disse ele chateado. “Só os héteros tinham.”
A cultura popular está ajudando a rescrever essa história.
Homens gays que têm filhos, ou estão considerando ter filhos, estão se tornando cada vez mais visíveis na televisão.
Em “Modern Family”, o programa mais popular da televisão dos EUA, o casal Mitchell e Cameron considera adotar um segundo filho na última temporada.
Em “Scandal”, uma série da ABC, um membro de meia-idade da Casa Branca reclamou sobre o desejo de seu parceiro de adotar um bebê da Etiópia.
E este outono, um novo sitcom da NBC chamado “The New Normal” mostrará um casal gay com sua barriga de aluguel.
A mudança também se reflete nos dados do censo.
Entre 2000 e 2010, entre os casais de mesmo sexo que tem filhos, a porcentagem de casais com crianças adotadas aumentou de 9% para 20%, de acordo com uma análise de Gary Gates, demógrafo do Instituto Williams na Universidade da Califórnia, Los Angeles.
"A maioria dos casais de mesmo sexo com filhos adotivos são de lésbicas, mas homens gays compreendem uma fatia crescente, respondendo por cerca de um terço desses casais em 2010, mais do que um quinto em 2000."
“A definição de família está evoluindo inquestionavelmente”, diz Gates.
Mas ele também notou que muitos norte-americanos continuam profundamente contrários a que pais gays criem filhos.
Casais de mesmo sexo são proibidos explicitamente de adotar crianças em dois estados – Utah e Mississippi – e enfrentam obstáculos legais significativos em metade dos outros estados, particularmente porque não podem se casar legalmente.
E alguns líderes religiosos se recusaram a fornecer serviços de adoção para casais gays.
Bispos católicos romanos de Washington D.C., Illinois e Massachusetts fecharam serviços de adoção em vez de cumprir com exigências de considerar casais de mesmo sexo como possíveis pais adotivos.
Como resultado, até em redutos democratas como Washington, alguns homens gays guardam seus sonhos de ter filhos para si mesmos.
Mas para Jeff Krehely, 35, que está casado há seis anos, não há escapatória para a questão em seus círculos sociais.
Seus amigos perguntam. Seus colegas perguntam.
Seus pais estão tão ansiosos que começaram a enviar cartões de aniversário para seus dois gatos (eles os chamam de “grandkitties”, “netos gatos”).
No feriado de 4 de julho, quando Krehely e seu marido tomavam café gelado com vários outros casais gays, ele sabia que não demoraria para que o assunto viesse à tona.
Três dos cinco casais disseram que estavam considerando seriamente a adoção.
“Todos perguntam: qual é sua agenda? Qual é o seu plano?”, diz Krehely, analista político, que ainda está avaliando se quer mergulhar na história.
Mas alguns homens gays que não têm planos de ter filhos veem a mudança como uma espécie de bênção misturada.
Por um lado, eles recebem bem a ideia de inclusão que vem com o fato de sempre ser questionados sobre crianças.
Por outro lado, eles sempre são questionados sobre ter filhos.
Rudolph Chandler, 57, e George Walker, 43, que se casaram em 2010, pensaram longa e duramente antes de decidir não ter filhos.
Eles disseram que admiram muito os amigos que são pais.
Mas hoje em dia, eles são questionados com frequência sobre seus planos de ter filhos que viram os olhos quando a questão surge.
"É irritante, cansativo”, diz Chandler, economista de saúde.
Fabrizio Costantini/The New York Times
Casal John Corvino (à direita) e Mark Lock brincam com sobrinho de Mark em Detroit (EUA)
John Corvino, 43, presidente do departamento de filosofia da Wayne State University em Detroit, até elaborou uma resposta padrão que dá com uma dose de humor quando é questionado se quer ter filhos:
“Para tirar a neve e cortar a grama, claro”, diz ele. “Fora isso, não.”
Quando a Lotito e Hay, o casal do começo da matéria, eles confessaram que se cansaram das questões repetitivas sobre filhos na noite de seu casamento.
“Era algo do tipo: 'o casamento ainda está acontecendo, pessoal'”, diz Lotito.
“É lisonjeador, mas não está no meu radar.”
Lotito, que trabalha com contratos para uma agência federal, diz que nunca quis ter filhos.
Hay é professor de música do ensino fundamental.
“Ele tem cerca de 800 crianças por semana”, diz Lotito.
“É bom não ter crianças quando ele chega em casa.”
Isso não deteve os amigos e parentes de continuar perguntando.
A mãe de Lotito, Lisa Sanno, que sonha com netos e perguntou a eles (mais uma vez) no casamento, vem pensando sobre todas as opções.
No momento, ela está particularmente enamorada da ideia de uma barriga de aluguel que pode dar a seu genro e a seu filho um filho biológico cada.
“Eles são jovens”, diz Sanno, sempre otimista. “Talvez mudem de ideia.”
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