quinta-feira, 2 de agosto de 2012

'GIRLS': SÉRIE ATUALIZA COM SUCESSO CONCEITO DE 'SEX AND CITY'


Hannah tem 20 e poucos anos e ainda vive da mesada dos pais, no Brooklyn, em Nova York. 

Quando a família decide cortar a mamata, ela argumenta que precisa do dinheiro para virar a grande escritora que acredita ser.

"Posso ser a voz da minha geração", diz, chapada de ópio, para os pais.
"Ou, pelo menos, uma voz, de uma geração", conclui, desmaiando em seguida.

A cena está no primeiro episódio de "Girls", cuja protagonista Hannah é vivida por Lena Dunham, nova-iorquina de 26 anos que criou a série, é sua produtora-executiva, diretora e roteirista.

Com críticas bem elogiosas e cinco indicações ao Emmy (melhor série cômica, atriz, direção, roteiro e escalação de elenco), restam poucas dúvidas de que "Girls" seja, de fato, a voz de sua geração.

"Sabíamos que a frase era perigosa porque as pessoas achariam que é a voz do autor aparecendo. Mas o fato de ela [Hannah] estar completamente chapada quando fala isso tira o peso da situação", diz Dunham, rindo, a um grupo de jornalistas em Los Angeles.
"No fundo, ela espera ter um propósito no mundo."

A nova série narra os altos e baixos da vida de quatro amigas enquanto tentam entrar (ou fugir) no mundo adulto.

Diálogos realistas conduzem o grupo por situações desconfortáveis, ora cômicas, ora humilhantes (como nas várias cenas de sexo).

"A gente está sempre se perguntando: 'Isto soa real? É um retrato verdadeiro deste período da sua vida?'", explica Lena, que baseia parte das histórias na sua vida e na de seus amigos próximos.

Além da insegura Hannah, há a descolada Jessa, a agilizada Marnie e a inocente Shoshanna.

O cenário nova-iorquino hipster e o quarteto central fazem pensar em "Sex and the City", estrelado por Sarah Jessica Parker entre 1998 e 2004, mas a Nova York de "Girls" é mais pé no chão.

Com medo das comparações, Dunham cogitou centrar a ação num trio, mas logo percebeu que não adiantaria.
Fã de "Sex", resolveu abraçar as semelhanças e incorporou à história Shoshanna, fanática por Carrie.

"Queria mostrar que são garotas que cresceram vendo 'Sex and the City', mas que não estão tendo a mesma experiência", explicou Dunham, que nunca perdeu um episódio e assistia a maratonas de final do ano com a mãe - com quem ainda dividia o teto até este mês.

"A série criou uma expectativa com Nova York que não pode ser concretizada na vida real. É neste ponto que 'Girls' diverge."

Dois anos atrás, Lena chamou a atenção de Hollywood ao escrever, dirigir e estrelar "Tiny Furniture", comédia de humor negro parecida com "Girls", sobre uma garota que volta a morar com a mãe após se formar em cinema.

O filme ganhou prêmio no festival independente South by Southwest e abriu as portas para outros projetos, como a série da HBO, coproduzida por Judd Apatow (diretor de "Ligeiramente Grávidos"), responsável pelo seriado cult "Freaks and Geeks".

"Judd e eu achamos graça nas tragédias pessoais do dia a dia, especialmente quando você tem 24 anos e acha que tudo é o fim do mundo", conta Dunham.

A primeira temporada terminou em junho nos EUA e a segunda já está sendo gravada.

Dunham adianta o que esperar das próximas:
"Elas não serão garotas para sempre, mas seria engraçado um seriado sobre mulheres de 30 anos chamado 'Girls'. Afinal, na cabeça delas, elas ainda serão garotas por muito tempo."

Divulgação - HBO
A partir da esq., Marnie (Allison Williams), Jessa (Jemima Kirke), Hannah (Lena Dunham) e Shoshanna (Zosia Mamet), as quatro amigas do seriado "Girls"

Girls" não existiria sem "Sex and the City", e nenhum dos dois existiria sem a cidade que os cerca.

Mas um não é só cria do outro, e sim um jeito novo de usar as ferramentas que o primeiro revelou: um grupo de quatro fêmeas maiores de idade em Nova York, uma protagonista escritora e romances feitos sob medida para dar errado.

Mas a nova série da HBO não tem glamour, ninguém toma brunch todo domingo, muito menos venera marcas de sapato.

As quatro meninas de "Girls", que cresceram vendo "Sex" na TV com suas mães, são filhas de artistas e intelectuais.

A mãe de Lena Dunham, protagonista e criadora, é a fotógrafa e designer Carroll Dunham (que interpreta a mãe da personagem de Lena no longa "Tiny Furniture", dirigido pela filha).

Sua amiga inglesa Jemima Kirke é filha do baterista Simon Kirke e de Lorraine Kirke, dona de um brechó no Brooklyn que empresta grande parte das roupas para as personagens da série.

A bonitinha da turma, Allison Williams, é filha do âncora da NBC Brian Williams.

Já o pai de Zosia Mamet é o dramaturgo David Mamet - e seu avô é Russell Crouse, um dos autores do musical "A Noviça Rebelde".

Talvez o fato de terem crescido em ambientes criativos as tenha preparado para o universo de "Girls", em que o que dá errado na vida é o que dá certo na arte.

Folhapress

Dunham tem um talento especial para "dramatizar suas inseguranças", como diz sua personagem, e um jeito próprio de olhar situações de dentro e de fora ao mesmo tempo.

Assim, com apenas 26 anos, parece ter uma vivência de muito mais décadas e traz a leveza daqueles avós que mimam os netos como nunca fizeram com os filhos.

A criadora de "Girls" tem essa generosidade com ela mesma e a rapidez de pensamento de quem treinou muito para dizer coisas importantes, e outras só divertidas, usando 140 caracteres.

Confira um teaser da série:
*****
'GIRLS'
Onde: HBO
Quando: Segunda
Horário: 22h
Cotação do Klau:

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