SINOPSE:
1962.
Tony Lip (Viggo Mortensen), um dos maiores fanfarrões de Nova York, precisa de trabalho após sua discoteca, o Copacabana, fechar as portas.
Ele conhece um pianista, Don Shirley (Mahershala Ali), que quer que Lip faça uma turnê com ele.
Enquanto os dois se chocam no início, um vínculo finalmente cresce à medida que eles viajam.
CRÍTICA:
"Tony, eu não sou negro, nem branco e nem homem o suficiente para me encaixar em algum lugar".
Essa é uma das frases mais impactantes de Green Book - O Guia, longa estrelado por Viggo Mortensen e Mahershala Ali, que concorre em cinco categorias no Oscar, incluindo Melhor Filme, e que chega aos cinemas nesta quinta (24).
Com direção de Peter Farrelly, a emocionante trama ambientada nos anos 60 acompanha Tony Lip (Mortensen), um ítalo-americano racista que é contratado como motorista do Dr. Don Shirley (Ali), um pianista negro de classe alta que sairá em turnê pelo sul dos Estados Unidos.
Mahershala Ali (Don) e Viggo Mortensen (Tony), em cena do filme - Fotos dessa Postagem - Divulgação/Diamond Films |
Consultando o 'Livro Verde', um guia que aponta lugares seguros para afro-americanos, a dupla embarca na estrada e é forçada a deixar de lado as diferenças para prosperar nessa jornada.
Antes de tudo, saiba que este não é um simples road movie que destaca o amadurecimento de uma amizade conturbada ou que insere lições de moral amenas para fazer o público sair feliz após sua exibição.
O longa é muito mais do que isso, é um drama cortante que insere diálogos afiados e situações incômodas sobre racismo, desigualdade e solidão.
Cena do longa |
Shirley é quem mais se insere no modo solitário e reafirma aquele ditado popular "dinheiro não traz felicidade".
Dono de uma linda casa decorada com itens raros e localizada no andar de cima de um teatro, o músico é um homem de gostos refinados e com uma educação de dar orgulho em qualquer mãe.
Já Tony Lip (Bocudo em tradução literal) é o oposto, a começar pelo apelido dado ao homem sem filtros.
Com a pose de "machão", o motorista tem pensamentos racistas e machistas enraizados e parece não ter noção nenhuma ao expor suas "opiniões".
Cena do longa |
Essa diferença de personalidades é a base do roteiro (baseado na história real da dupla) assinado por Farelly, Brian Currie e Nick Vallelonga, filho de Tony Lip na vida real.
Ainda que sejam comuns as narrativas de desconstrução de um preconceituoso inserido no mundo de seu alvo, o longa se distancia do clichê ao não colocar o motorista como um vilão que precisa ser punido.
Pelo contrário, o roteiro usa a aproximação dos personagens para tornar sólidas suas abordagens delicadas.
Além disso, o texto é totalmente assertivo ao mesclar momentos tensos e hilários de forma fluida - e isso faz com que o longa transite entre o drama e a comédia revelando que não é a toa sua indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original.
Em termos de direção, Farrelly parece ter escondido por anos seu talento em comandar bons filmes de drama.
Para quem não sabe, o diretor fez sucesso ao lado de seu irmão Bobby Farrelly dirigindo comédias pastelão como Debi E Loide - Dois Idiotas Em Apuros, Eu, Eu Mesmo E Irene e O Amor É Cego.
Cena do longa |
Em seu primeiro trabalho solo, Farrelly mostra que fez a escolha certa ao arriscar sair de sua zona de conforto para assumir um filme que usa o humor em pequenas doses.
Sua contribuição no roteiro também foi um risco, já que seus trabalhos anteriores não poupavam piadas fora de contexto.
Estrear no drama e cair direto na lista de Melhor Filme do Oscar mostra que Peter amadureceu suas ideias ao sentar novamente na cadeira de diretor.
Partindo para o quesito 'atuação', Ali exerce seu papel com maestria e confirma o merecimento de seu nome estar na lista dos concorrentes de Melhor Ator Coadjuvante em 2019.
Ele traz para Don características e trejeitos únicos de um homem que sofre com a solidão e ausência de encaixe no mundo.
Apesar do talento nato e de todo o reconhecimento que recebe por suas apresentações, o astro da música sofre com o vazio.
Cena do longa |
Em uma das cenas mais emocionantes do longa, o belíssimo diálogo entre ele e Tony traz de volta sua realidade, onde ele se vê diante de uma platéia que só o enxerga enquanto ele está no palco.
Fora de lá, o homem volta a ser um negro rodeado de pessoas brancas em meio à segregação racial que dominava os anos 60 nos Estados Unidos.
Assim como o colega de elenco norte-americano, Mortensen mergulha em seu personagem com total empenho e determinação, convencendo como o ogro que, apesar de não ter educação, tem um coração imenso e se derrete de amor pela família.
A desconstrução de Tony traz um novo olhar para sua atuação, moldando o jeito durão do motorista e o fazendo encarar a realidade de uma forma completamente oposta àquela que tinha no início de sua jornada com o patrão.
Ele recebeu sua terceira indicação ao Oscar na categoria de Melhor Ator e sem dúvidas é um dos favoritos a levar o prêmio.
Assistir ao longa uma experiência que te fará sair da sala de cinema contemplando cada cena e cada diálogo que percorre seus 130 minutos.
Com fotografia, direção e atuações impecáveis, o filme se consolida como um dos melhores do ano, principalmente por conseguir abordar assuntos delicados de forma direta e sem apelar para o clichê.
Filmaço.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
GREEN BOOK - O GUIA
Título Original:
GREEN BOOK
Gênero:
Drama
Direção:
Peter Farrelly
Elenco:
Anthony Mangano, Dimiter D. Marinov, Don Stark, Frank Vallelonga, Gavin Lyle Foley, Hudson Galloway, Joe Cortese, Jon Sortland, Linda Cardellini, Louis Venere, Maggie Nixon, Mahershala Ali, Mike Hatton, P.J. Byrne, Paul Sloan, Quinn Duffy, Rodolfo Vallelonga, Sebastian Maniscalco, Seth Hurwitz, Viggo Mortensen, Von Lewis
Roteiro:
Brian Hayes Currie, Nick Vallelonga, Peter Farrelly
Produção:
Brian Hayes Currie, Charles B. Wessler, Jim Burke, Nick Vallelonga, Peter Farrelly
Fotografia:
Sean Porter
Trilha Sonora:
Kris Bowers
Montador:
Patrick J. Don Vito
Estúdio:
Amblin Partners, Dreamworks, Innisfree Pictures, Participant Media
Distribuidora:
Diamond Films
Ano de Produção:
2018
Duração:
130 min.
Estréia (Brasil):
24/01/2019
Classificação Indicativa:
12 anos
COTAÇÃO DO KLAU:
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