SINOPSE:
O roteirista Dalton Trumbo tem uma história singular em Hollywood: apesar de ter escrito algumas das histórias de maior sucesso da época, como 'A Princesa e o Plebeu' (1953), ele se recusou a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas do congresso e acabou preso e proibido de trabalhar.
Mesmo quando saiu da prisão, Trumbo demorou anos para vencer o boicote do governo, enquanto sofreu com vários problemas envolvendo familiares e amigos.
CRÍTICA:
Cinema americano e comunismo são como água e óleo - nunca se misturam.
Mesmo desde antes de virar uma das mais importantes indústrias americanas, um sem número de produções em que os Estados Unidos aparecem como uma nação soberana que derrota o vilão comunista, russo, coreano ou chinês já foram feitas.
Mas se a paranoia anticomunista dos EUA é motivo de piada hoje, houve uma época - durante e após a Segunda Guerra - que ela estava no auge e quem ousasse ter uma posição política voltada à esquerda era execrado.
É nessa paranoia extremada que se apoia 'Trumbo - Lista Negra', novo filme de Jay Roach baseado na biografia do aclamado roteirista escrita por Bruce Cook e que está, a partir de hoje, em exibição em 28 salas em todo o Brasil.
Bryan Cranston como Dalton Trumbo, em cena do longa - Fotos dessa Postagem; Divulgação: Califórnia Filmes |
Após a criação do Comitê de Atividades Antiamericanas do congresso em 1938, muitos diretores e roteiristas de cinema - bem como outros profissionais ligados à mídia - tiveram seus movimentos cuidadosamente vigiados pelo governo a fim de identificar qualquer atividade capaz de ameaçar a "democracia soberana" dos Estados Unidos.
Uma dessas pessoas foi o roteirista Dalton Trumbo ( vivido no longa por Bryan Cranston).
Abertamente comunista e defensor da liberdade de expressão, ele se recusou a cooperar com as investigações do comitê e acabou preso e proibido de exercer sua profissão.
Trumbo não foi o único.
Dean O'Gorman interpreta a lenda Kirk Douglas |
Junto com uma série de roteiristas, ele fez parte dos "Dez de Hollywood", uma espécie de lista negra que boicotava aqueles que teriam uma ligação com o comunismo.
Com isso, o governo pretendia fazer uma verdadeira "limpeza" no conteúdo vendido ao público americano e, ao mesmo tempo, castigar os escritores por sua 'desobediência'.
Só que Trumbo conseguiu uma forma de burlar esse sistema.
Para pagar as dívidas pessoais e sustentar a família, ele resolveu escrever roteiros para produções de baixo custo, usando pseudônimos como forma de proteção.
Com a grande demanda, alguns de seus companheiros da "lista negra" também assumiram alguns roteiros e assim, aos poucos, todos eles já estavam na ativa novamente - sem que o comitê tomasse conhecimento.
Até a sua grande amiga Hedda Hopper (Dame Helen Mirren), a maior fofoqueira de Hollywood todos os tempos, foi leal e nada disse sobre a forma que Trumbo burlava a censura.
Foi com essa estratégia que o roteirista escreveu grandes sucessos como 'A Princesa e o Plebeu', longa protagonizado por Marilyn Monroe e Sir Laurence Olivier e que acabou sendo vencedor do Oscar.
Pena que, como não podia aparecer, Trumbo acabou não recebendo a estatueta.
Logo, o comitê descobriu o esquema criado por Trumbo, mas era tarde demais para pará-lo e a "lista negra" acabou perdendo a credibilidade, principalmente depois do apoio do ator Kirk Douglas (aqui interpretado por Dean O'Gorman) e do diretor Otto Preminger (aqui, Christian Berkel), os primeiros darem os créditos ao roteirista no espetacular 'Spartacus'.
Dame Helen Mirren interpreta Hedda Hopper, uma das maiores colunistas de fofocas de Hollywood |
Apesar do tom político, o filme foge de maniqueísmos e em nenhum momento vemos o protagonista mostrado como um herói sem defeitos, já que algumas sequências mostram que o excesso de trabalho e comprometimento com a causa o fizeram entrar em conflito com a família e até com outros roteiristas de seu grupo.
Essa imparcialidade é importante e muito bem vinda, em se tratando de uma cinebiografia.
A atuação soberba de Bryan Cranston faz o espectador mergulhar de cabeça na trama, mantendo-a firme em seu propósito.
O ator - que conseguiu se desvencilhar completamente de qualquer maneirismo do carismático e inescrupuloso Walter White, da série 'Breaking Bad' - consegue interpretar um personagem interessante e com um humor sarcástico e afiado - obra e graça do roteiro de John McNamara, bem construído e que não apela para frases de efeito.
'Trumbo - Lista Negra' é um filme otimista, sem dúvidas.
Mas o espectador sai do cinema com uma sensação de medo interior, se perguntando: e se, nesses tempos de crescimento do conservadorismo, essa realidade venha nos amedrontar novamente?
Filmaço.
INDICAÇÕES AO OSCAR 2016:
Melhor ator (Bryan Cranston)
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
'TRUMBO - LISTA NEGRA'
Título original:
TRUMBO
Gênero:
Drama
Direção:
Jay Roach
Roteiro:
John McNamara - baseado no livro 'Dalton Trumbo', de Bruce Cook
Elenco:
Alan Tudyk, Bryan Cranston, Christian Berkel, Dan Bakkedahl, Dane Rhodes, David James Elliott, David Maldonado, Dean O'Gorman, Diane Lane, Helen Mirren, James DuMont, Jason Bayle, John Getz, John Neisler, Johnny Sneed, Joseph S. Martino, Laura Flannery, Louis C.K., Madison Wolfe, Michael Stuhlbarg, Peter Mackenzie, Richard Portnow, Rio Hackford, Roger Bart, Toby Nichols
Produção:
Janice Williams, John McNamara, Kevin Kelly Brown, Michael London, Monica Levinson, Nimitt Mankad, Shivani Rawat
Fotografia:
Jim Denault
Montador:
Alan Baumgarten
Trilha Sonora:
Theodore Shapiro
Duração:
124 min.
Ano:
2015
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia:
28/01/2016 (Brasil)
Distribuidora:
Califórnia Filmes
Estúdio:
Groundswell Productions / ShivHans Pictures
Classificação:
12 anos
COTAÇÃO DO KLAU:
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