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Em meio à polêmica, presidenta da Academia quer mudanças, Spike Lee, Jada e Will Smith boicotam cerimônia e ator de 'Velozes e Furiosos' pede que Chris Rock desista de ser o apresentador - só Whoopi Goldberg se disse contra o boicote
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Após expressar sua frustração com o fato dos indicados ao Oscar 2016 serem todos brancos, a presidenta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, Cheryl Boone Isaacs, teve de vir a público novamente para dizer que está tomando medidas para tentar recuperar a credibilidade da premiação da Academia, o Oscar, considerado há décadas o principal prêmio do cinema americano.
Para isso, reunião da diretoria da próxima semana quer ao menos tentar mudar a imagem de racista e elitista do grupo.
Isaacs soltou uma declaração na segunda (18), reconhecendo a pisada de bola do Oscar em relação aos indicados, afirmando estar "inconsolável e frustrada".
Também disse que a Academia terá de melhorar.
"Precisamos fazer mais e melhor e mais rapidamente. Reconhecemos as preocupações de nossa comunidade e também agradeço a todos vocês que me estenderam a mão em nosso esforço para avançarmos juntos", disse.
Segundo fontes da Variety, o plano em andamento pretende revisar as políticas de recrutamento da Academia a fim de diversificar os membros.
Além disso, muitos defendem o retorno da categoria Melhor Filme com 10 indicados - um dos argumentos é que 'Straight Outta Compton - A História Do N.W.A.' , com elenco todo negro, estaria indicado para o principal prêmio se mais vagas existissem.
Alguns membros vão além e também querem expandir as categorias de atuação para mais de cinco nomes, na tentativa de não deixar de fora atuações primorosas de atores negros - como o de Will Smith em 'Um Homem Entre Gigantes' e Idris Elba em 'Beast Of No Nation'.
O mais importante - e todos reconhecem - é fazer uma reviravolta entre os membros, ainda dominada pela velha guarda de Hollywood.
A própria presidente reconhece isso:
"A Academia está dando passos significativos para alterar a composição de dos votantes. Nos próximos dias e semanas iremos fazer uma revisão da nossa política de recrutamento a fim de proporcionarmos a tão necessária diversidade a partir de 2016", afirmou.
Atualmente, os requisitos para ser votante na Academia são nebulosos e exigem requisitos mínimos que nem sempre fazem sentido.
Entre os montadores, por exemplo, são exigidos "quatro filmes de calibre na opinião do comitê executivo".
Quem determina o que é um filme de calibre?
É a própria Academia!
Os problemas aparecem também na votação, que permite aos eleitores votarem em filmes sem sequer tê-los visto.
O processo funciona assim:
Todo mês de novembro mais de seis mil membros da Academia recebem cédulas para a escolha dos indicados ao Oscar. e nesse ponto, os eleitores selecionam cinco melhores filmes em cada categoria.
Como os membros são todos profissionais ativos ou aposentados do setor cinematográfico, podem apenar fazer indicações de acordo com sua própria especialidade - por exemplo, um escritor não pode indicar filmes para melhor edição de som.
Só que numa segunda etapa, os membros fazem a votação direta e escolhem os melhores de cada uma das categorias livremente, sem a restrição de voto por ramo de especialidade.
Isso, obviamente, causa interferência e nem sempre a votação se torna confiável, ainda mais se lembrarmos que a maioria dos votantes não assiste a todos os filmes.
Claro que a grande parte da culpa da falta de diversidade é da própria indústria do cinema, na qual os executivos são principalmente brancos e do sexo masculino.
E apesar da presidenta da Academia e alguns aliados tentarem mudanças reais, eles estão em uma posição complicada, já que precisam tentar efetuar mudanças significativas sem causar polêmicas que poderiam prejudicar a imagem da indústria.
A reunião de diretoria da próxima semana faz parte do calendário regular da Academia, mas depois dos justos ataques ao Oscar 2016, esse pode se tornar um momento decisivo.
A diretoria é composta por 51 pessoas, que mesmo que queiram mudanças, devem enfrentar resistência de seus 6.261 membros votantes que, em geral, querem manter seu status quo.
Algumas sugestões que estão em análise são radicais, incluindo a ideia de retirar o direito de voto de qualquer pessoa que não trabalha na indústria há 10 anos ou mais.
Como a adesão é vitalícia, o argumento é que muitos eleitores votam sem fazer parte da indústria a décadas.
Só que cada ação traz problemas e o desafio da Academia será navegar entre as possibilidades e achar um resultado satisfatório para diversas partes interessadas e, ao mesmo tempo, evitar as críticas.
Seja qual for o resultado dessa reunião, o que se espera é que mudanças reais, para que injustiças como as vistas esse ano, ocorram cada vez menos.
Nessa semana, a polêmica chegou a níveis ininagináveis anos atrás, depois que estrelas como Lupita Nyong'o, Spike Lee, Jada Pinkett Smith e Whoopi Goldberg deram seu parecer sobre a falta de atores negros entre os indicados desse ano.
Os anúncios de boicote começaram com Spike Lee.
O cineasta, que recebeu um Oscar honorário em novembro do ano passado por sua carreira, revelou que boicotará a cerimônia desse ano, em comunicado publicado em seu Instagram oficial, nesta segunda (18).
"Nós não podemos apoiar isso e eu não quero desrespeitar os meus amigos, o apresentador Chris Rock, o produtor Reggie Hudlin, a presidente Isaacs e a Academia. Mas, como é possível pelo segundo ano consecutivo todos os 20 candidatos na categoria de ator serem brancos? E não vamos nem entrar em outros ramos. Quarenta atores brancos em dois anos e nenhuma personalidade. Não podemos atuar?!", escreveu Lee, que utilizou a hashtag #Oscarsowhite - criada para a cerimônia do ano passado - e lembrou do aniversário de Martin Luther King.
Em seu discurso, na ocasião em que recebeu o Oscar honorário, ele relembrou que o conservadorismo da própria indústria do cinema ainda é um obstáculo a ser vencido:
"É mais fácil para um afro-americano ser presidente dos EUA do que presidente de um estúdio de Hollywood".
O cineasta Spike Lee - The Hollywood Reporter
Depois, foi a vez de Lupita Nyong'o - vencedora da estatueta de "Melhor Atriz Coadjuvante" por '12 Anos De Escravidão', em 2014 - manifestar sua insatisfação com a academia.
A atriz afirma que a pouca diversidade do Oscar é um reflexo do que acontece na indústria em geral, já que grandes estúdios oferecem poucos, e estereotipados, papéis relevantes a negros, latinos e outras minorias.
Através de seu Instagram, ela compartilhou uma poderosa mensagem:
"Eu estou desapontada pela falta de inclusão entre os indicados desse ano pela academia. Isso me fez pensar sobre o preconceito inconsciente e quais meritos são prestigiados em nossa cultura. O Oscar não deveria ditar os termos da arte na sociedade moderna, mas sim ser um reflexo diverso do melhor que nossa arte tem a oferecer nos dias de hoje. Eu apoio meus colegas que clamam por uma mudança nas histórias que são contadas e pelo reconhecimento das pessoas que as contam" - escreveu a estrela, em cartaz como Maz Kanata em 'Star Wars: O Despertar Da Força'.
Lupita Nyong'o recebe seu Oscar em 2014 - Getty Images
A atriz Jada Pinkett Smith (série 'Gotham' e longa 'Magic Mike XXL'), também soltou o verbo via Facebool e sugeriu que os negros parem de assistir a cerimônia enquanto esse cenário não mudar.
"No Oscar os negros são sempre bem-vindos para entregar prêmios e para fazer espetáculos, mas raramente se reconhecem seus méritos artísticos. Os negros deveriam se negar a assistir? As pessoas nos tratarão da forma que nós permitimos. Sinto uma profunda decepção", disse Jada, que ainda lembrou que em 88 anos de Oscar, apenas sete mulheres negras levaram uma estatueta por sua atuação.
Ela postou inclusive uma arte lembrando isso - e os papéis menores que os negros interpretaram.
Facebook - Jada Pinkett Smith |
Hoje, foi a vez do marido de Jada, Will Smith, anunciar que não vai à cerimônia desse ano.
Além disso, o ator criticou a falta de diversidade da Academia ao não indicar atores negros - vale lembrar que ele tinha chance de entrar na lista final com o seu trabalho em 'Um Homem Entre Gigantes', longa que fala sobre as graves contusões no futebol americano, previsto para estrear em março no Brasil.
Em entrevista ao programa de TV 'Good Morning America', o ator, que já concorreu ao Oscar em 2002 e 2007, falou sobre o assunto.
"A diversidade é o superpoder americano. É por isso que somos ótimos. Há várias pessoas diferentes, de lugares distintos, que vivem dando novas ideias e inspirações para essa bela mistura. Para mim, Hollywood representa e cria a imagem dessa beleza, mas acho que tenho que lutar e proteger por esses ideais que engrandecem o nosso país e por isso, quando olho para essas indicações da Academia, vejo que essa beleza não está refletida", criticou Smith.
Will Smith, em cena de 'Um Homem Entre Gigantes' - Sony Pictures
O fato é que outros artistas também apoiaram a fala de Smith.
Mark Ruffalo, um dos indicados a melhor ator por 'Spotlight - Segredos Revelados', disse à BBC que ainda não sabe se vai à premiação.
"Se você olhar para o legado de Martin Luther King, ele diz que as pessoas boas, que não fazem nada, são muito piores do que as que não agem de propósito e não conhecem o caminho certo", disse Ruffalo.
Logo depois do programa com Smith ter ido ao ar, foi a vez de Tyrese Gibson - o Roman Pearce da franquia 'Velozes e Furiosos' - se pronunciar.
Em entrevista à People, o ator diz que a presença de Chris Rock como apresentador da premiação é contraditória e que o comediante deveria desistir de subir ao palco.
"Não dá para ele aproveitar o momento, ir até lá e dizer: 'ei, vou dizer isso e vou falar de diversidade, e então vou continuar o meu show como apresentador'. A declaração que você tem que fazer é de que vai embora", afirmou.
O ator elogiou a postura de Jada e de Spike Lee, que ameaçaram um boicote, e afirmou que a comunidade LGBT agiria diferente perto da falta de diversidade.
"Se Chris Rock fosse homossexual, ele já teria deixado [o cargo de apresentador]". "Se você tem problema em ser excluído, você não pode apenas sentar e reclamar. Você tem que corrigir o problema", completou.
O ator Tyrese Gibson - Getty Images
Mesmo com as críticas, Gibson disse estar torcendo para o colega Leonardo Dicaprio e reafirmou que não é contra o Oscar.
"Eu acho que este ano vai ser o ano em que o Leo (Di Caprio) finalmente vai ganhar como melhor ator. Nós não estamos dizendo que somos contra o Oscar. Nós só estamos dizendo: Isso não é legal. Você não pode fazer isso em 2016 e achar que ninguém vai perceber."
Por outro lado, tivemos uma única voz dissonante nessa polêmica toda.
Ganhadora do Oscar de Coadjuvante por 'Ghost - O Outro Lado da Vida'(1990), Whoopi Goldberg disse que não apoia o boicote e criticou a comunidade negra por só se manifestar agora sobre o problema que sempre existiu em Hollywood, que priva atores negros de excelentes papéis no cinema.
Uma das estrelas do programa de televisão 'The View', da ABC, um dos mais assistidos nas manhãs americanas, Goldberg comentou:
"Não é que o problema seja porque as pessoas nominadas são brancas. Eles não estão vendo o filme e dizendo 'oh, isso é muito branco. Não vou nominar esse filme negro'. O problema é que os filmes com negros, latinos e mulheres não estão chegando até você, porque a ideia é de que não há filmes negros. Então isso vai continuar acontecendo até que deixem de fazer filmes como Os Vingadores com mais de 50 caras brancos salvando a Terra. Isso me deixa muito irritada, sabe por que? Porque eu gostaria de ser uma dessas pessoas salvando a terra, mas esses filmes não vem até mim. Quer fazer um boicote? Não vá assistir esses filmes que não te representam. Esse é o boicote que você deve fazer", criticou.
Whoopi Goldberg no estúdio do 'The View' em NY - ABC
Para Goldberg, os negros tem que correr atrás de seus direitos na telona, e não criticar somente quando começam as premiações.
O Oscar 2016 acontece no dia 28 de fevereiro e até lá, a discussão deve se intensificar.
O que não dá mais é que os indicados ao principal prêmio do cinema americano continuem a ser escolhidos assim, sem diversidade nenhuma.
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