quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

'CAROL': UM TAPA NA CARA DA SOCIEDADE, QUE AINDA VÊ IMORALIDADE QUANDO DUAS PESSOAS DO MESMO SEXO SE AMAM


SINOPSE:

Na década de 1950, a jovem Therese Belivet (Rooney Mara) tem um emprego entediante na seção de brinquedos de uma loja de departamentos em Nova York.

Um dia, ela conhece a elegante Carol Aird (Cate Blanchett), uma cliente que busca um presente de Natal para a sua filha.

Carol, que está se divorciando de Harge (Kyle Chandler), também não está contente com a sua vida.

As duas se aproximam cada vez mais e, quando Harge a impede de passar o Natal com a filha, Carol convida Therese a fazer uma viagem pelos Estados Unidos.

CRÍTICA:

Adaptação de Todd Haynes para o romance "O Preço do Sal", de Patricia Highsmith, 'Carol', em exibição em 54 salas em todo o Brasil, mostra a luta de duas mulheres apaixonadas lutando na Nova York de 1952 contra uma sociedade americana extremamente fechada.

Além de uma delicada história de amor, o longa traz discussões que ainda são contemporâneas, sobre a liberdade da mulher e direitos dos homossexuais, questões que ainda precisam ser muito analisadas e discutidas por nossa atrasada sociedade.

Haynes foi o diretor certo para esse longa, que completa a obra do diretor sobre pessoas que ultrapassam as limitações impostas pela sociedade em busca daquilo que as fazem felizes.

Na trama, Therese Belivet (Rooney Mara) trabalha em uma loja de departamentos de Manhattan quando conhece Carol Aird (Cate Blanchett), mulher além de seu tempo, presa em um casamento fracassado.

Já no primeiro encontro, ambas sentem uma atração imediata e começam um jogo de sedução.

Uma das realizações mais notáveis do filme é que, apesar das diferenças óbvias de classe social e de background, Therese e Carol se conectam instantaneamente.

Uma faz bem a outra e o vínculo que dividem é tão profundo que nem precisa ser discutido - escolha que funciona não apenas para uma época em que seu amor enfrentaria barreiras ainda maiores do que atualmente, mas também pela forma como Haynes trabalha a imagem de forma a não precisar de palavras.

A belíssima cena do restaurante, logo no começo da amizade, é o principal momento em que a conversa das duas nada diz, enquanto olhares e linguagem corporal revelam tudo - o que denota que Cate Blanchett e Rooney Mara são atrizes extraordinárias, que tem aqui papéis notáveis e inesquecíveis.

Segundo romance de Highsmith, publicado sob o pseudônimo de Claire Morgan para evitar ser condenada por lidar com a homossexualidade, 'Carol' era uma espécie de sensação nos círculos literários LGBT, justamente por ser muito mais positivo do que romances semelhantes da época.

O inteligente roteiro de Phyllis Nagy mantém a dinâmica essencial para o romance aflorar de forma verdadeira, enquanto muda detalhes importantes como o interesse profissional de Therese por fotografia e ao encurtar a viagem pelo país que ocupa grande parte da segunda metade do livro.

O mais importante é que a narrativa sempre mantém o foco na relação das duas e nas dificuldades que enfrentam, mesmo quando o suspense toma conta do terceiro ato.

Blanchett impressiona como, Carol, uma mulher brilhante, capaz de levar sua vida de forma independente enfrentando as adversidades de frente, mas ainda com força o suficiente para mudar quando sente que é preciso.

Já a Therese de Rooney Mara é a personagem em desenvolvimento, reativa, que procura seu caminho ao longo do filme, mas é capaz de perceber o que quer e criar sua própria história.

Graças em grande parte à forma como Mara conduz sua personagem, a cena final, sem diálogo algum, tem imenso impacto, de deixar o espectador prostrado na cadeira.

Haynes, ao lado do diretor de fotografia Ed Lachman, que rodou magistralmente o filme em 16 mm, favorece closes dos protagonistas em momentos dramáticos.

Imagens distantes ou com personagens atrás de portas semiabertas e outros elementos de cenários para criar distanciamento inicial, ou mantendo as personagens nos cantos do quadro, como se isoladas uma da outra devido à situação fazem de cada fotograma uma pequena obra de arte.

O longa possui uma textura realista e a direção de arte recria de forma soberba a Nova York dos anos 50, sendo possível sentir a todo momento o peso dá época na história do casal.

'Carol' é um tapa na cara da sociedade, que ainda vê algo imoral na relação entre duas pessoas que se amam, não importa sexo, origem, etnia, etc.

Forte candidato às seis categorias do Oscar 2016 em que foi indicado hoje, o filme é composto de nuances e os detalhes são muito importantes, tratados com cuidado por Haynes e todo o elenco.

Inteligentemente adaptado e com grandes atuações, esse é um grande filme, que não só conta uma bela história de forma incrível, mas também levanta questões sociais cada vez mais relevantes num mundo que, na superfície, parece mais tolerante do que o de 60 anos atrás, mas na verdade está cada vez mais tomado pelo ódio, intolerância e caretice.

Filmaço.

TRAILER:



INDICAÇÕES AO OSCAR 2016:
Melhor Atriz - Cate Blanchett
Melhor Atriz Coadjuvante - Rooney Mara
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Figurino
Melhor Fotografia
Melhor Trilha Sonora

FICHA TÉCNICA:
'CAROL'
Título Original:
CAROL
Gênero:
Drama
Direção:
Todd Haynes
Roteiro:
Phyllis Nagy, baseada no livro de Patricia Highsmith
Elenco:
Bella Garcia, Blanca Camacho, Carrie Brownstein, Cate Blanchett, Chandish Nester, Cory Michael Smith, Giedre Bond, Jake Lacy, Jayne Houdyshell, Jim Dougherty, Jim Owens, John Magaro, Kevin Crowley, Kyle Chandler, Misty M. Jump, Rileigh McDonald, Rooney Mara, Ryan Wesley Gilreath, Sarah Paulson, Steven Andrews, Trent Rowland, William Willet
Produção:
Christine Vachon, Elizabeth Karlsen, Stephen Woolley, Tessa Ross
Fotografia:
Edward Lachman
Montador:
Edward Lachman
Trilha Sonora:
Carter Burwell
Duração:
118 min.
Ano:
2015
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia:
14/01/2016 (Brasil)
Distribuidora:
Mares Filmes
Estúdio:
Film4 / Killer Films / Number 9 Films
Classificação:
14 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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