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Meu dia ficou muito triste hoje logo pela manhã, quando ao abrir o Facebook dei de cara com a notícia de que David Bowie, um dos artistas mais revolucionários do século 20 e o artista que eu mais admiro na minha vida, morreu neste domingo, 10, aos 69 anos
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A informação foi divulgada nas redes sociais do cantor e confirmada logo depois por um dos dois filhos de David Bowie, o diretor Duncan Jones.
“David Bowie morreu em paz hoje, cercado por sua família depois de uma corajosa batalha de 18 meses contra o câncer. Enquanto muitos vão dividir a dor pela perda dele, pedimos que vocês respeitem a privacidade da família neste período de luto”, informava o comunicado oficial.
"Muito triste em dizer que é verdade. Ficarei offline por um tempo. Amor para todos", escreveu Duncan no Twitter.
A morte de Bowie acontece apenas dois dias após o lançamento de seu mais recente álbum, "Blackstar", divulgado na última sexta (8), mesmo dia em que também comemorou seu aniversário de 69 anos.
Durante anos houve rumores sobre a saúde do cantor, que fazia poucas aparições públicas.
Bowie se manteve longe dos holofotes desde que passou por uma cirurgia cardíaca de emergência, em 2004, quando, durante um show no Hurricane Festival, na Alemanha, encurtou o setlist ao sentir dores no peito.
Do palco ele foi direto para o hospital, fazendo-o cancelar o resto da turnê do disco "Reality", e desaparecendo lentamente do olho público.
Desde 2004, ele realizou poucos shows, fez uma participação no show de David Gilmour em 2006 e outra, em um programa de TV com a banda canadense Arcade Fire.
Seu último show havia sido uma atuação com fins beneficentes em 2006 em Nova York, cidade onde morava há muito tempo.
David Robert Jones nasceu em 8 de janeiro de 1947, no bairro Brixton, em Londres.
O pai dele, Heywood Jones, trabalhava em uma instituição de caridade para crianças e a mãe, Margaret Mary Jones, era garçonete.
Ainda criança, uma briga com um colega de escola deixou a pupila de um dos olhos de David permanentemente dilatada - o que deu ao David adulto um permanente olhar sedutor.
Ele começou a tocar saxofone no início da adolescência e formou sua primeira banda, a 'The Konrads', aos 15 anos.
Para não ser confundido com Davy Jones - do grupo americano 'The Monkees', megasucesso na TV dos anos 1960 - nessa época ele adotou o sobrenome Bowie.
Aos 20 anos, já tinha passado um tempo em um monastério budista na Escócia e trabalhado em companhias teatrais.
O primeiro single, "Liza Jane", saiu sob o nome 'Davie Jones with the King Bees', em 1964, sem sucesso.
Confira 'Liza Jane':
A carreira do artista começou a tomar forma com o lançamento do álbum de estreia, 'David Bowie', em 1967, mas o primeiro sucesso veio no segundo trabalho em 1969, também chamado 'David Bowie' e depois rebatizado como 'Space Oddity' - graças à música-título, cujo verso inicial se tornou um clássico: "Ground control to Major Tom".
Confira 'Space Oddity':
Este álbum também foi o início da parceria de Bowie com Tony Visconti, produtor que trabalharia diversas vezes com ele - é de Visconti, inclusive, a produção dos dois últimos discos de Bowie: 'The Next Day' (2013) e o recém-lançado 'Blackstar'.
No começo da carreira, uma das principais influências de Bowie foi o cantor e compositor britânico Scott Walker, mas não demorou muito para ele próprio a se tornar uma influência para um sem número de artistas.
Sempre destruindo padrões, ele passeou por inúmeros gêneros: glam rock (o personagem Ziggy Stardust, do disco 'Ziggy Stardust and the Spiders from Mars', é um dos mais emblemáticos da história do rock), soul, música eletrônica, entre tantos outros.
Bowie adotou um visual andrógino para se apresentar como o alter ego Ziggy Startdust, um extraterrestre de sexualidade ambígua que virou estrela do rock.
Foi esse personagem que mostrou duas das obsessões do cantor: o teatro japonês kabuki e a ficção científica.
Relembre 'Ziggy Stardust and the Spiders from Mars':
Mas Ziggy foi apenas uma das variadas personalidades que Bowie adotou ao longo de sua carreira, como Aladdin Sane e o Duque Blanco.
Na lista de seus hits, estiveram “Changes”, “Fame” e “Heroes” (trilha da adaptação cinematográfica do livro 'Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada, Prostituída').
Relembre 'Heroes':
O impacto de Bowie na música é na cultura pop como um todo é simplesmente imensurável.
Entre os músicos que fizeram covers de suas canções e que em algum momento o citaram como influência estão Nirvana, Joan Jett, Duran Duran, Smashing Pumpkins, Marilyn Manson, Arcade Fire, Oasis, Ozzy Osbourne, Morrissey, Beck, Red Hot Chili Peppers, Lady Gaga, Bauhaus e Nine Inch Nails.
Relembre 'The Man Who Sold The World':
Quando na noite de ontem, Lady Gaga ganhou um Globo de Ouro como Atriz por seu desempenho maravilhoso em 'American Horror Story: Hotel', me lembrei da influência de Bowie na carreira dela - e me lembrei dos papéis dele no cinema, alguns excelentes, outros nem tanto.
Bowie também foi uma influência definitiva na vida de muitos jovens comuns - eu inclusive.
Vocês não imaginam o impacto que eu tive em 1975, quando, aos 15 anos, topei com sua figura andrógina, muito magra, vestindo um macacão vermelho, muito maquiado e com cabelos arrepiados - e também vermelhos.
A partir daí, passei a curtir suas músicas, seguir sua carreira no cinema e passei a tê-lo como meu ídolo maior.
Minha vida mudou pra sempre - principalmente depois de ler uma entrevista sua, onde ele dizia:
"Faça o que tiver de fazer. Faça por você. Não se arrependa de nada. Faça tudo o que puder e seja o que você quiser ser".
No dia do meu aniversário, em 1997, gastei uma fortuna pra comprar um ingresso de pista para o show que Bowie fez na Pista de Atletismo do Ibirapuera, aqui em SP, e me dar de presente meu ídolo maior.
Fiquei tão emocionado que chorei do começo ao fim - ainda mais depois que, durante 'Under Preassure' - que ele gravou com o Queen em 1981, ele segurou minha mão por longos 7 segundos.
Relembre 'Under Preassure' (1981):
Se tem momento inesquecível que eu levarei pra todo o sempre - esse com certeza é um deles.
Inquieto e inigualável, Bowie também teve também períodos de baixa - na segunda metade dos anos 1980 e na década de 1990 - mas sempre foi capaz de se reinventar.
'Blackstar' é um exemplo disso: já considerado um ponto alto em uma carreira que teve diversos pontos altos, o disco de sete faixas mistura jazz, rock e elementos de música eletrônica de maneira experimental e inovadora.
Confira 'Blackstar':
Os anos 1990 para Bowie foram marcados pelo pioneirismo em outros campos e pouco sucesso musical.
Ele se tornou um dos primeiros artistas do mundo a lançar um website e lançou ações na Bolsa de Nova York, faturando US$ 55 milhões em dias.
"David desconstroi gêneros musicais. Mal posso esperar para que comecem a sair álbuns imitando Blackstar”, disse Tony Visconti em recente entrevista à 'Rolling Stone'.
Em 2004, durante a turnê do disco 'Reality', Bowie sofreu problemas do coração e interrompeu abruptamente a excursão.
Foi o início de um longo período distante da mídia e dos estúdios.
O silêncio – ao menos musical, já que Bowie há anos não concedia uma entrevista – foi quebrado em 2013, com o lançamento surpresa da canção "Where Are We Now?", no dia do seu aniversário de 66 anos.
Relembre 'Where Are We Now?':
A carreira de ator também foi maravilhosa, com o astro tendo papeis memoráveis.
De vampiro e rei dos duendes a Andy Warhol e Pôncio Pilatos, ele teve suas atuações elogiadas, tendo participado de filmes como 'O Homem que Caiu na Terra' (1976), "Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída" (1981), "Labirinto - A Magia do Tempo" (1986) e "Zoolander" (2001), além de ter sido dirigido por cineastas como Martin Scorsese - em "A Última Tentação de Cristo" (1988), Nagisa Oshima - em "Furyo: Em Nome da Honra' (1983) - e Christopher Nolan - em "O Grande Truque" (2006).
Confira o trailer de 'O Homem que Caiu na Terra' (1976):
Confira uma cena de Bowie, em 'Furyo: Em Nome da Honra'/'Merry Christmas, Mr. Lawrence' (1983):
Confira a música tema de 'Labirinto' (1986) - 'As The World Falls Down':
Em 1980, foi protagonista na produção teatral 'O Homem Elefante' - que teve temporadas com ingressos esgotados em NY e Londres.
Bowie em cena de 'O Homem Elefante' (1980) - Divulgação
No ano passado, trabalhou na concepção do musical teatral 'Lazarus', que dá continuação à história do seu personagem alienígena de 'O Homem que Caiu na Terra'.
"Lazarus" é também o nome de uma das músicas de 'Blackstar'.
Nos clipes desta canção e da faixa-título do álbum, Bowie deu, pela última vez, amostra de sua espetacular veia teatral e performática.
O clipe começa com Bowie numa cama de hospital e a letra, com a frase "Eu estou no céu..."
E os fãs nem desconfiaram que o gênio estava se despedindo de todos nós.
O clipe começa com Bowie numa cama de hospital e a letra, com a frase "Eu estou no céu..."
E os fãs nem desconfiaram que o gênio estava se despedindo de todos nós.
Confira Bowie em 'Lazarus':
Em 50 anos de carreira, Bowie lançou 26 discos de estúdio e vendeu 136 milhões de álbuns no mundo todo.
Bowie casou pela primeira vez em 1970, com Mary Angela Barnett - um ano depois, nasceu Duncan Zowie Haywood Jones, o filho que o homenageou hoje.
Os dois se divorciaram em 1980.
Bowie, Angela e Duncan, nos anos 1970 - Daily Mail
Enquanto ainda estavam juntos, Bowie disse ser gay, em 1972.
Já em 1976, afirmou que era bissexual e mais tarde, se arrependeu da declaração.
"O maior erro que já cometi foi ter afirmado àquele jornalista que era bissexual", falou à 'Rolling Stone EUA', em 1983.
"Jesus, eu era tão jovem naquela época. Estava experimentando..."
Um dos seus maiores sucessos na música foi, sem dúvidas, 'Last Dance': feita pra se jogar, a composição, maravilhosa, não deixa ninguém sentado onde quer que seja ouvida.
Relembre Bowie, em 'Last Dance':
Em 1992, Bowie casou com a modelo e empresária Iman, com quem teve uma filha, Alexandria Zahra Jones, no ano 2000.
Bowie, Iman e Alexandria passeiam por Nova York, em foto de 2012 - Perez Hilton
Enfim, hoje eu e o mundo tivemos uma avassaladora e sofrida perda, mas como sempre lembro:
A importância do artista nas nossas vidas é essa: a vida se vai, mas o legado, a obra, o talento, permanecem para sempre.
Vida longa ao legado de David Bowie e suas muitas faces.
DAVID BOWIE
*08.01.1947 +10.01.2016
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