quinta-feira, 5 de setembro de 2013

FESTIVAL DE VENEZA: SCARLETT JOHANSSON, POLÊMICO SUL-COREANO E CONCORRENTE ITALIANO


A edição número 70 do Festival de Cinema de Veneza termina no próximo sábado e nessas postagens especiais você confere o que de melhor está acontecendo na ilha do Lido, uma das principais da cidade e onde o festival, um dos mais antigos do mundo, acontece.

Confira:

'UNDER THE SKIN': ESTRELADO POR SCARLETT JOHANSSON COMO UMA ALIENÍGENA SENSUAL E CANIBAL, LONGA FOI O PRIMEIRO A SER VAIADO
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'MOEBIUS': DIRETOR SUL-COREANO KIM-KI DUK VOLTA A PERTURBAR ESPECTADOR VENEZIANO COM INCESTO E MUTILAÇÕES
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'L'INTREPIDO': FILME ITALIANO FALA SOBRE DESEJO DO TRABALHO ESTÁVEL
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Veja:

'UNDER THE SKIN': ESTRELADO POR SCARLETT JOHANSSON COMO UMA ALIENÍGENA SENSUAL E CANIBAL, LONGA FOI O PRIMEIRO A SER VAIADO

Foi assim que a atriz norte-americana Scarlett Johansson descreveu sua personagem, uma alienígena canibal, de cabelos curtos e pretos, em "Under the Skin", concorrente britânico ao Leão de Ouro, dirigido por Jonathan Glazer, na coletiva do filme:
"Ela não é uma pessoa, é parte de uma entidade. Assim, foi difícil, no começo, achar essa performance. Precisei abandonar qualquer julgamento, já que ela não tem qualquer intenção má. Eu precisava me despojar, a partir de um ponto de partida muito vago".

Exibida na manhã da terça (3) no Festival de Veneza, a produção foi vaiada nas duas sessões de imprensa, o primeiro concorrente a despertar esta reação.

As vaias, no entanto, não foram comentadas na coletiva, em que o diretor inglês, conhecido por "Reencarnação" (2006), com Nicole Kidman, explicou as opções responsáveis pelo clima de estranheza de sua obra.

Sobre sua protagonista, por exemplo, Glazer contou que chegar ao tom distanciado de interpretação visto na tela foi "uma descoberta" em comum com a atriz.
"Foi uma descoberta, certamente, já que não se tratava de uma personagem, era uma coisa. Como se interpreta uma coisa?", indagou ele.

Para Scarlett, que na coletiva já estava com seus habituais cabelos longos e louros, até o gênero de "Under the Skin" está em aberto:
"Não acho que seja mesmo um filme de ficção científica. Acho que ele não se encaixa em gêneros, suspense, terror. Também não acho que a história tenha uma moralidade específica".

As conversas com o diretor foram fundamentais para que Scarlett descobrisse o modo certo de interpretar sua personagem. Um ponto importante foi sua linguagem corporal, que é bastante contida.
"Não eram aqueles movimentos estranhos, como num filme de Tim Burton (risos). Ao mesmo tempo, tudo o que ela faz tem um motivo. Eu precisava me ligar e desligar o tempo todo, para atender às suas necessidades", afirmou a atriz.

Outro desafio para Scarlett foi realizar diversas cenas em locais públicos, como na rua, num shopping center e numa danceteria na Escócia, onde foi rodado "Under the Skin", muitas vezes com câmeras escondidas.

Scarlett Johansson no Festival de Veneza para promover "Under The Skin" - David Azia/AP

Uma das cenas mais difíceis, para a atriz, foi uma sequência em que ela cai na rua.
"Fizemos seis ou sete tomadas. Uns paravam para me ajudar. Outros me fotografavam e não me ajudavam a levantar. E foi impressionante a variedade das reações das pessoas", contou ela.

A atriz admitiu ter sentido medo por filmar assim:
"Era apavorante. Ao mesmo tempo que eu me sentia protegida por toda a equipe, não sabia como as pessoas iam reagir. Mas não saber acabou me ajudando a deixar de lado meu medo, me abandonar àquela experiência. Foi uma espécie de terapia".

Dentro da van que sua personagem usa o tempo todo para caçar homens sozinhos, havia oito câmeras, que fotografavam Scarlett de diversos ângulos.
Segundo o diretor, isso teve como objetivo "observar o mundo como ela o vê, o mundo real, como um documentário, já que a personagem de Scarlett é a única 'mentira' do filme".

Indagado sobre eventuais problemas de compreensão dos diálogos que o filme pode ter pelo forte sotaque escocês de vários atores – muitos amadores – Glazer respondeu:
"O fato de que alguns diálogos possam ser incompreensíveis para alguns não me incomoda. Acho que isso serve para materializar a alienação da própria protagonista".

Um desses atores é Paul Brannigan, protagonista de "A Parte dos Anjos", de Ken Loach, que aqui é uma das vítimas da alienígena.

Indagado sobre o título, "Under the Skin", o diretor admitiu ter pensado em mudá-lo, já que existem outros filmes com o mesmo nome, como outra produção britânica de 1997, escrita e dirigida por Carine Adler.

Finalmente, Glazer achou melhor conservá-lo, por ser "o mesmo título do livro" (do autor holandês Michel Faber em que se baseia o roteiro, assinado por Glazer e Walter Campbell).

Confira o trailer de 'Under The Skin':


'MOEBIUS': DIRETOR SUL-COREANO KIM-KI DUK VOLTA A PERTURBAR ESPECTADOR VENEZIANO COM INCESTO E MUTILAÇÕES

Um ano depois de conquistar o Leão de Ouro em Veneza com o escandaloso "Pietá", o cineasta sul-coeano Kim Ki-Duk volta a perturbar o Lido com "Moebius", um filme que inclui cenas de violência, incesto e mutilações.

As autoridades da Coreia do Sul, inclusive, exigiram cortes no filme para autorizar sua distribuição.

Aplaudido ao fim da primeira exibição na segunda (2) no Festival de Veneza, onde está fora da disputa por prêmios, o novo filme do polêmico diretor asiático não deixa o espectador indiferente.

"Moebius" é uma ode à autodestruição, uma metáfora dura, terrível e em alguns momentos grotesca, do sentimento de culpa e da obsessão pelo sexo do mundo moderno.

Com dolorosas e repetidas cenas de amputações de pênis, privado de qualquer diálogo, Kim Ki-Duk escandaliza de novo ao narrar o drama de uma família em crise pela infidelidade do marido.

"Meus filmes são a interpretação do mundo que eu vejo", explicou o cineasta, de 53 anos, diretor do poético "Casa Vazia", Leão de Prata em Veneza em 2004, que estreou em 2000 com o áspero "A Ilha" ("Seom") seguido de "Primavera, verão, outono, inverno ... e primavera".

"Parto do conceito do sexo e o levo a consequências extremas", disse.

Kim Ki-duk promove o filme "Moebius" no Festival de Veneza - Domenico Stinellis/AP

Considerado cult e com uma obra complexa, o diretor, que há poucos anos passou por uma longa crise artística narrada por ele mesmo em um ótimo documentário ('Arirang', 2011), teve que ceder às autoridades de seu país após longas negociações e eliminar três minutos do filme, com mais de 20 cenas, para garantir a distribuição mundial.

"Em Veneza foi exibida a versão integral do meu filme", disse Kim Ki-Duk, que terminou por aceitar uma autocensura para cumprir as normas de seu país, que ele admitiu que não pode e não deseja violar.

"Meu filme teve que superar duas vezes a ordem de ser retirado. Agora está purificado, mas não é o meu, o original", completou.

"Gostaria sim de abordar o tema da censura, acredito que é um problema", afirmou o diretor, que tem seus filmes elogiados, estudados e aplaudidos na Europa, enquanto em seu país provocam controvérsia e até rejeição.

A história de uma família repleta de problemas, de um pai esgotado pela culpa e que chega a mutilar o pênis e da mãe que, por amor, aceita o incesto depois de ter cortado o membro do filho, é o símbolo, para Kim Ki-Duk, "do estado da saúde" da sociedade inteira.

"Hoje conversei com quase 20 jornalistas italianos e tive a demonstração de que meu filme não foi interpretado como uma história sobre o incesto", contou o cineasta.

"'Me pedem filmes 'limpos'. Mas eu não posso deixar de medir a temperatura da sociedade, refletir o que sinto que me diz. Não posso fazer de outra maneira", concluiu.

Confira o trailer de 'Moebius':


'L'INTREPIDO': FILME ITALIANO FALA SOBRE DESEJO DO TRABALHO ESTÁVEL

O desejo de um trabalho estável é o tema chave do segundo filme italiano na disputa oficial do Festival de Veneza: "L'intrepido", do veterano cineasta Gianni Amelio, último vencedor italiano do Leão de Ouro, em 1998.

Interpretado pelo humorista Antonio Albanese, em uma mistura de Chaplin e Forrest Gump italiano, pela maneira como une ingenuidade, bondade e otimismo, o filme dividiu a crítica, com direito a aplausos e vaias na primeira exibição.

Ambientado em Milão, uma cidade cinzenta e, em alguns momentos, bela e moderna, com a crise econômica como pano de fundo, o filme narra a vida de um homem de quase 50 anos, disponível para substituir a qualquer momento um funcionário ausente, passando de operário da construção civil a condutor de bonde, de camareiro a vendedor de flores, de bibliotecário a vendedor de sapatos.

Dividido entre o desespero e a esperança, o filme de Amelio pretende ser uma metáfora dos tempos modernos, do peso do trabalho precário, mas com uma mensagem de esperança: os desejos podem ser concretizados.

O diretor Gianni Amelio e o ator Antonio Albanese durante sessão de fotos do filme "L'Intrepido" no Festival de Veneza - Alessandro Bianchi/Reuters

Como boa parte dos filmes apresentados na 70ª edição do festival, que termina sábado, 'L'intrepido' mostra a incerteza a respeito do futuro, no qual o otimismo é uma fantasia e a vida parece ter sempre um sabor amargo.

"Um filme que respira o ar de nosso tempo e que com frequência para com o objetivo de suspirar", definiu Amelio, que participa pela sexta vez no Festival de Veneza, depois de ter exibido, entre outros, "Ladrão de Criança" (1992) e o premiado "Assim Eles Riam" (1998).

Separado da mulher, que tem uma vida cômoda com o novo companheiro, Albanese, no papel de Antonio Pane, é um pai solitário que vive sem meta precisa, nutre esperanças pelo filho saxofonista, uma relação que descreve as profundas mudanças na família italiana tradicional, a distância cultural e social entre paie e filho, fio condutor de quase todos os filmes de Amelio.

Um belo solo de sax no final alivia a tristeza e permite imaginar um "final feliz".
"Meu filme é um hino ao homem digno", resume Amelio sem temer críticas.

Confira o trailer de L'Intrepido':

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