segunda-feira, 2 de setembro de 2013

FESTIVAL DE VENEZA: PETER LANDESMAN, TOM WELLING, TERRY GILLIAM E XAVIER DOLAN APRESENTAM SEUS LONGAS E SÃO APLAUDIDOS


Nessa postagem, tudo o que de melhor aconteceu no Festival de Veneza ontem (1) e hoje (2).

Confira:

'PARKLAND': MORTE DE KENNEDY É TRATADA COM REALISMO
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'THE ZERO THEOREM': NOVO LONGA DE TERRY GILLIAM - QUE FEZ SEUS ATORES "SUAREM COMO PORCOS" - É APLAUDIDO
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'TOM À LA FERME': DIRIGIDO PELO PRODÍGIO CANADENSE XAVIER DOLAN É OVACIONADO
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Veja:

'PARKLAND': MORTE DE KENNEDY É TRATADA COM REALISMO

A ausência do ídolo teen Zac Efron – destaque do elenco do quarto concorrente norte-americano ao Leão de Ouro, "Parkland", de Peter Landesman, na pele de um médico residente – foi uma decepção na manhã deste domingo (1º) no Festival de Veneza.

Mas logo passou: o diretor veio para a coletiva de imprensa com o outro astro do filme, Tom Welling.
O Clark Kent da ótima série 'Smallville' tem aqui sua primeira grande oportunidade nas telonas, após o término da série - que durou dez temporadas.

O filme, muito aplaudido nas sessões matinais de imprensa, rendeu a polêmica esperada, ao ressuscitar em detalhes impressionantes o dramático final de semana do assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy - que completa exatos 50 anos no próximo dia 22 de novembro.

Deixando de lado as teorias da conspiração que cercaram o crime – centro do drama "JFK", de Oliver Stone, e inspirando-se num livro de Vincent Bugliosi ("Reclaiming History: The Assassination of John Fitzgerald Kennedy") –, Landesman focou na "emoção crua daquele final de semana", segundo suas próprias palavras.

Sobre as teorias de conspiração em torno da morte, afirmou que "há poucas provas em qualquer direção" e que não era esse seu interesse.

Repórter experiente na cobertura de diversas guerras e famoso por uma reportagem sobre escravas sexuais no jornal "The New York Times" - que inspirou o filme "Trade", de Marco Kreuzpaintner - Landesman disse ter procurado retratar "as pessoas que estavam no centro dos acontecimentos, colocando-nos no lugar delas".
E completou: "Procuramos contar uma história real, que sabemos ser verdadeira. Sabemos que tudo aquilo aconteceu àquelas pessoas e arruinou suas vidas".

Esses personagens no centro de "Parkland", mais do que os famosos, são as pessoas comuns, médicos, enfermeiros, agentes secretos, policiais, um padre e outros que viram de perto ou estiveram envolvidos no atendimento e transporte do presidente após ser baleado em Dallas, Texas, e ser levado ao Hospital de Parkland - que dá nome ao filme.

Usando sua experiência como jornalista, Landesman entrevistou alguns dos personagens fundamentais, como o agente do FBI James Hosty (John Livingston), que destruiu o arquivo referente a Lee Harvey Oswald, o alegado assassino de Kennedy (que também foi morto pouco depois).

A participação de Hosty nesse episódio polêmico não é muito conhecida, apesar de tanto ter sido noticiado e discutido a respeito da morte de Kennedy nas últimas cinco décadas.
Mas o diretor do filme garante que "nada estava escondido, Hosty não era uma pessoa cuja existência fosse desconhecida. Esteve sempre ali.Tive a sorte de estar com ele quatro dias antes de sua morte e ele parecia aliviado de estar finalmente falando sobre isso (a destruição do arquivo sobre Oswald no FBI)" - Hosty morreu em 2011.

Ator Tom Welling e o diretor Peter Landesman posam na sessão de fotos do filme "Parkland" no Festival de Veneza 2013 - Alessandro Bianchi/Reuters

Um personagem menos conhecido é o irmão de Lee Oswald, Robert Oswald (interpretado por James Badge Dale).
"Quem diabos sabia que ele tinha um irmão? E, para ele, aquele final de semana foi terrível. Ele acordou achando que seria um dia normal e, de repente, descobriu que seu irmão era o demônio. Sua missão naqueles dias foi de entender o que estava acontecendo até, finalmente, ter que sepultar o irmão", disse o diretor.

Indagado se não teria demonstrado uma certa "simpatia" pelo assassino de Kennedy em seu retrato no filme, o diretor negou:
"Eu não diria simpatia, porque isso já é um tipo de defesa. Prefiro o termo 'humanidade'. Tudo que estou tentando é reconhecer sua humanidade, seja patológica ou não. Em meu filme, não temos tempo para qualquer julgamento. Não alego que haja qualquer verdade escondida. Estamos apenas tentando atravessar aqueles dias".

Indagado sobre detalhes como a impressionante quantidade de sangue que se vê nas roupas de médicos e enfermeiras e também nas dos agentes que conduziram o presidente, Landesman comentou que foi bastante fiel à realidade:
"Nosso objetivo era mostrar uma verdade visceral e não apenas física. Feridas na cabeça (Kennedy foi baleado na cabeça) sangram muito e ele recebeu duas transfusões. Havia mesmo muito sangue nas roupas de todos. Também achei que havia algo shakespeariano nisto".

Outro elemento realista é o uso em "Parkland" de trechos do famoso filme super-8 do assassinato feito pelo comerciante Abraham Zapruder (Paul Giamatti).
"Este é um filme muito visto, muito conhecido, mas eu queria usá-lo como cineasta, mostrá-lo como ele (Zapruder) e outros o viram pela primeira vez. Tivemos a sorte de conseguir a confiança da família dele, que tem sido muito reservada, e eles confiarem em nós", disse Landesman - a família de Zapruder, inclusive, veio ao set acompanhar as filmagens.

Para o diretor, "ainda há muito a ser descoberto sobre todas essas pessoas".

Ele cita que há materiais, como as gravações da conversas entre os irmãos Oswald, quando ele estava na cadeia e os depoimentos de todos os agentes, que não têm recebido atenção.

Confira o trailer de 'Parkland':


'THE ZERO THEOREM': NOVO LONGA DE TERRY GILLIAM - QUE FEZ SEUS ATORES "SUAREM COMO PORCOS" - É APLAUDIDO

Já na manha dessa segunda, a nova distopia futurista do diretor norte-americano Terry Gilliam, "The Zero Theorem", foi recebida com muitos aplausos.

O filme é encabeçado por um elenco estelar: o austríaco Christoph Waltz na pele do especialista em computadores Qohen Leth, atormentado pela busca de sentido na vida, e pela figura misteriosa da Administração, interpretado pelo americano Matt Damon.

Nem Waltz nem Damon estiveram na disputada entrevista coletiva do filme, a que compareceram os atores David Thewlis ("Cavalo de Guerra") e Mélanie Thierry ("Missão Babilônia")  e em que Gilliam comandou a cena com respostas espirituosas e algumas declarações surpreendentes.

Como a de que as filmagens em Bucareste não tiveram as habituais restrições de segurança de uma produção cinematográfica.
"Cada um tinha que cuidar da própria vida. Estávamos livres! Felizmente, tudo deu certo", declarou o diretor, arrancando gargalhadas dos jornalistas.

Gilliam também surpreendeu ao admitir que, devido a limitações de orçamento – as mesmas que o levaram a optar por Bucareste, preterindo a Inglaterra e a Itália – o levaram a ter que usar tecidos muito baratos no colorido e criativo figurino do filme. 
"Felizmente, descobrimos um mercado chinês nos arredores de Bucareste, onde se podia comprar tecido a quilo, não a metro. O tecido era péssimo! Por causa disso, Matt Damon e os outros atores suavam como porcos ali dentro. Felizmente, na tela ficou lindo".

Pelo trailer - que você confere abaixo - o diretor tem toda razão: ficou tudo muito lindo mesmo!

Terry Gilliam posa com a atriz Melanie Thierry na sessão de fotos do filme "The Zero Theorem", em Veneza - Alessandro Bianchi/Reuters

O orçamento restrito e a rapidez das filmagens (dois meses) também pressionaram os atores.
"Não tivemos tempo de ensaiar. Acho que até por isso fazer este filme foi mais divertido do que os outros, porque não tivemos tempo de ser responsáveis", disse o diretor, que também contou: por conta de compromissos de Matt Damon, só pode contar com ele por quatro dias e que David Thewlis, que fazia simultaneamente outro filme no Canadá, ficou indo e voltando à Romênia.

A tecnologia - que está no centro do roteiro, escrito pelo professor universitário Pat Rushin - teve um papel concreto para a realização de "The Zero Theorem".

Segundo Gilliam, houve três momentos do filme gravados por iPhone.
"Como um em que precisei de um áudio de Mélanie Thierry e ela estava no sul da França. A tecnologia nos salvou!", lembrou.

Entretanto, como o protagonista do filme, o cineasta admite que tem uma relação ambígua com a tecnologia e a era da internet. 
"Não sou um 'geek', claro, mas cada vez mais me sinto seduzido pelo computador. Minha mulher se pergunta o que está nos acontecendo com os seres humanos. Também me pergunto. Acho que isso começa a consumir sua vida. Quanto mais estamos conectados, mais entendemos essas coisas".

O diretor destacou que "se preocupa" com o aumento das relações virtuais entre as pessoas.
"Cada vez mais as pessoas se conectam via computador, usam nomes falsos. A publicidade na TV vende um mundo belo, perfeito, como se fôssemos todos deuses. Mas não somos assim. Isso me preocupa".

Lamentou, também, os desvios de alguns movimentos deflagrados pela internet:
"O que chamamos de Primavera Árabe tornou-se o Inverno Impossível"
Entretanto, destacou "não ter respostas" sobre essa questão e que fez esse filme "para discutir tudo isso".

Quebrando a seriedade, Gilliam negou a hipótese de que "The Zero Theorem" seja o último capítulo de uma trilogia futurista em sua obra, iniciada com "Brazil: O Filme" (1985) e "Os Doze Macacos" (1995).
"Não, não é uma trilogia. Apenas costumo dizer isso porque soa mais inteligente, profundo e acadêmico e parece melhor para dizer à imprensa", disse, rindo - mas admitiu ver "referências" a "Brazil: O Filme" no novo longa.

Na mesma linha, o ator inglês David Thewlis - que interpreta na tela um supervisor da firma de computação - afirmou que "se sente mal quando passa tempo demais diante do computador" e que toma atitudes do tipo usar papel e caneta para combater isso.
"As pessoas gastam tempo e coração demais na tecnologia. Este filme fala sobre isso".

E a atriz francesa Mélanie Thierry contou que não está no Facebook ou no Twitter por opção.
"Tudo isso anda me aborrecendo", afirmou.

Confira o trailer de "The Zero Theorem":


'TOM À LA FERME': DIRIGIDO PELO PRODÍGIO CANADENSE XAVIER DOLAN É OVACIONADO

O canadense Xavier Dolan, 24 anos, apresentou nesta segunda, no Festival de Veneza, um intrigante thriller psicológico sobre identidade sexual, hipocrisia e mentiras,

"Tom à la ferme", ovacionado por crítica e espectadores tem Dolan como protagonista, um dos roteiristas e até montador do filme e é uma adaptação da peça teatral de Michel Marc Bouchard.

Depois de ter recebido elogios e prêmios em Cannes desde sua estreia em 2009 - com "Eu Matei a Minha Mãe" - Dolan compete em Veneza com seu quarto longa-metragem.

O novo filme de uma das promessas do cinema mundial, que até agora falava sobre amores impossíveis, é uma obra madura sobre os mecanismos íntimos e perversos das relações, não apenas amorosas.

Com ritmo impecável, combinado com suspense, tensão e drama, Dolan confirma seu notável talento cinematográfico:
"Um filme irresistível", definiu a crítica italiana, que já considera "Tom a la ferme" um dos favoritos para levar o Leão de Ouro.

Xavier Dolan, hoje em Veneza - Getty/AFP

A trama narra a história do jovem publicitário Tom - interpretado por Dolan - que está profundamente deprimido com a morte do amante.

Ele decide conhecer a família do companheiro morto, que vive em uma fazenda, onde descobre que a mãe não sabia da orientação sexual do filho e estava convencida que o jovem tinha uma relação amorosa com uma garota, Sarah.

A partir deste momento, Tom entra em um macabro jogo de mentiras, ameaças e perversões com o irmão do namorado, Francis, que exige que ele não revele a verdade para a mãe com o objetivo de evitar outro sofrimento.

"É um jogo perigoso. Assumir o papel de outro pode mudar a pessoa. Mentir assim enlouquece Tom", explicou o cineasta.

Na fazenda isolada em meio à paisagem de Quebec, entre grandes campos de milho e uma longa estrada de ligação com a cidade, surgem ingredientes bem dosados por meio da trilha sonora de Gabriel Yared, que oscila entre obras clássicas e canções modernas: o suspense, o medo, o nervosismo e a angústia reinam como nos melhores filmes de Hitchcock.

"Não pretendo inovar. Queria apenas contar a angústia dos personagens", explicou Dolan, que começou a dirigir filmes aos 18 anos e admite que não gosta de revelar de onde tira suas ideias.

"Para mim, a influência deve ser camuflada", afirma o diretor, um admirador cineastas como Pasolini, De Sica e Jonathan Demme.

Confira um vídeo do 'red carpet' de "Tom à la ferme", hoje em Veneza:


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Com agências internacionais

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