segunda-feira, 23 de setembro de 2013

EMMY 2013: FILME DE STEVEN SODERBERGH VETADO PELOS GRANDES ESTÚDIOS POR SER ‘GAY DEMAIS’ É EXIBIDO NA TV E VIRA O GRANDE VENCEDOR DA NOITE – CONFIRA COMO FOI A CERIMÔNIA


O diretor Steven Soderbergh tinha consciência de que seu projeto de contar com fidelidade a história da lenda Wladziu Valentino Liberace (1919-1987) enfrentaria muitos percalços.

Afinal, Liberace era um pianista 'entertainer' maravilhoso, um gay não assumido e a primeira celebridade do 'show bis's americano a fazer longas temporadas de muito sucesso nos cassinos de Las Vegas, tudo  regado a muito luxo, drogas e amantes, muitos amantes.

O primeiro passo para que o sonhado projeto – ‘Behind the Candelabra’ - andasse foi outra lenda, Michael Douglas, esta das telonas, topasse interpretar o músico.

O segundo passo foi Matt Damon ter topado interpretar seu amante mais longevo - o roteiro, inclusive, é baseado num livro escrito pelo rapaz.

Filme pronto, feito com recursos próprios do diretor, veio a grande surpresa: os grandes estúdios de Hollywood se recusaram a distribui-lo nas salas de cinema, com a alegação furadíssima de que ele era “gay demais”.

E isso, em plena Hollywood do século 21, a mesma indústria que deve tudo e mais um pouco aos milhões de gays que lá trabalharam ou trabalham, defronte e atrás das câmeras!

Soderbergh ficou tão frustrado que até pensou em abandonar a carreira, mas aí a HBO entrou na história.

Um dos canais pagos do conglomerado Warner, a HBO é conhecida pela total liberdade criativa que dá aos seus diretores e roteiristas  – o estúdio Warner Bros., nos anos dourados, era assim – e não só encampou o projeto como um telefilme, como teve a sua melhor audiência de toda a sua existência quando o exibiu.

Faltava ainda a Soderbergh dar o troco aos estúdios que lhe deram as costas, e o troco veio ontem à noite, quando ‘Behind the Candeladra’ foi o grande vencedor do Emmy 2013 – o principal prêmio da TV - levando os prêmios de melhor ator (Douglas), melhor diretor (Soderbergh) e também na categoria melhor minissérie ou telefilme.

Michael Douglas recebe seu Emmy de Melhor Ator em minissérie ou telefilme - screencave.com
Com 15 indicações, "Minha Vida com Liberace" – título brasileiro - levou 11 prêmios, incluindo elenco, direção de arte, edição, hairstyling, mixagem de som, figurino, fotografia, maquiagem com prótese e maquiagem sem prótese.

Com apresentação do ator Neil Patrick Harris e recheada por muitas piadas sem graça, a cerimônia enxuta, rápida e sem emoção, transmitida diretamente do Nokia Theatre, centro de Los Angeles, esteve muito mais interessante e divertida antes, no ‘red carpet’, com as estrelas do canal E! fazendo jogos entre si, entrevistando as celebridades e mostrando suas jóias e vestidos.

Neil Patrick Harris foi o apresentador da noite - snarkerati.com
Se a impagável estrela maior do canal, Joan Rivers, ficou reservada para a edição especial do ‘Fashion Police’ – no Brasil, amanhã, 20h. - Giuliana Rancic, Ross Mathews, Terence Jenkis e demais estrelas do canal deram um banho de profissionalismo e bom humor.

O primeiro Emmy da noite foi para Merritt Wever, como melhor atriz coadjuvante de uma série de comédia, por "Nurse Jackie".
Completamente chocada com o prêmio, a atriz não fez discurso de agradecimento - limitou-se a dizer: "Preciso ir embora." - e saiu!

Merritt Wever, melhor coadjuvante em comédia - Getty Images
A surpresa se deve ao fato de que a colombiana Sofía Vergara era a favorita na categoria por ‘Modern Family’ - prêmio que lhe escapara nas três últimas edições.

Na sequência, o muito acima da média Jim Parsons levou o terceiro Emmy de sua carreira pelo interpretação do Dr. Sheldon Cooper na série "The Big Bang Theory".

Jim Parsons segura seu Emmy - cnn.com
Ainda na comédia: além de melhor série, "Modern Family" levou o Emmy de direção e "30 Rock" - que concorria na última temporada - ficou com o prêmio de melhor roteiro para Tina Fey, que surpreendentemente perdeu o prêmio de melhor atriz de comédia para Julia Louis-Dreyfus, de "Veep", que sempre se sai bem em ambientes dominados por homens.

Foi assim na série que a deixou famosa, "Seinfeld" - em que interpretava o único personagem feminino do quarteto que mudou a história da TV, a maluquete Elaine – e foi assim de novo ontem, quando levou o Emmy de melhor atriz de série cômica por seu papel como Selina Meyer, a vice-presidente ambiciosa de "Veep" - foi sua terceira premiação.

Julia segura seu Emmy - Getty Images
Indicada 13 vezes ao prêmio, ganhou um por década desde os anos 1990, o primeiro por "Seinfeld" (1996), o segundo por "The New Adventures of Old Christine" (2006) - quando fez um discurso emocionado sobre o fim da "maldição de Seinfeld" - segundo a qual nenhum dos protagonistas jamais faria algo à altura.

"Veep" – que estreou em 2012 - também abocanhou o Emmy de melhor ator coadjuvante (Tony Hale), que interpreta um puxa-saco, com Julia interpretando uma personagem inspirada em Hillary Clinton, que tem pretensões de virar presidente, mas é constantemente escanteada pelo chefe.

Jessica Lange - considerada a favorita da noite na categoria melhor atriz de minissérie ou telefilme por seu trabalho em "American Horror Story - Asylum" - perdeu para Laura Linney em "The Big C", mas seu parceiro de elenco, o britânico James Cromwell, levou o Emmy de melhor ator coadjuvante, na mesma categoria de minissérie ou telefilme.

Ainda nessa categoria, a roteirista Abi Morgan foi premiada pelo seu inspirado script de ‘The Hour’.

Apresentado por Michael Douglas e Matt Damon, a lenda Elton John – que sempre se inspirou em Liberace, na carreira e nos figurinos – fez uma bonita homenagem ao pianista americano, interpretado a canção "Home Again".

Elton John homenageia Liberace - AP
Entre um premiado e outro, foram se sucedendo homenagens aos atores, atrizes e demais membros da indústria de TV que morreram no último ano.

Assim, Jane Lynch – a treinadora Sue Sylvester de ‘Glee’ – surgiu no palco e num lindo e curtíssimo texto, homenageou seu colega de elenco Cory Monteith, destacando o humor "meio pateta" do rapaz e fazendo um alerta sobre os perigos das drogas.

Jane Lynch na homenagem a Cory Monteith - AP
Já a atriz Edie Falco, atual protagonista da comédia "Nurse Jackie", conduziu a homenagem ao seu colega de elenco em "Família Soprano", o ator James Gandolfini, também morto neste ano.

"Tive o privilégio de conhecer não apenas o ator, mas também o homem", disse.

Edie Falco conduz homenagem a James Gandolfini - AP
Perto do final, um ‘In Memoriam’ extenso lembrou outras personalidades, como a Diva Anette Funicello.

Por falarmos em Divas, se Dame Maggie Smith – ganhadora no ano passado e novamente indicada neste ano a melhor coadjuvante pela sua impagável Lady Violet em ‘Dowton Abbey’, sem ganhar – nem foi, surgiram no palco outras duas: Diane Carrol – a eterna ‘Julia’ dos anos 60 e que continua na ativa - e Ellen Burstyn – que estrelou o cult ‘O Exorcista’ (1973) e que levou o Emmy de atriz coadjuvante em minissérie ou telefilme por ‘Political Animals’.

Ellen Burstyn recebe seu Emmy - Getty Images
No dia em que foi exibido seu penúltimo episódio e após cinco temporadas no ar, "Breaking Bad" finalmente levou o Emmy de melhor série dramática.
A premiação dividiu atenções na internet com as emoções da reta final da série sobre um professor de química que vira um super traficante de drogas.

Após ser ameaçada de morte pelo papel em "Breaking Bad", Anna Gunn levou o Emmy de melhor atriz coadjuvante em série de drama, mas seus companheiros de elenco não tiveram a mesma sorte: Bryan Cranston foi derrotado na categoria melhor ator masculino por Jeff Daniels - por seu trabalho também inspiradíssimo em "The Newsroom" - e Aaron Paul e Jonathan Banks perderam na categoria melhor ator coadjuvante em série de drama para Bobby Canavalle, em "Boardwalk Empire".

Anna Gunn  recebe seu Emmy - AP
O frisson causado pela indicação da série "House of Cards", a primeira produzida por uma plataforma sob demanda - o Netflix - e não pela TV convencional, não repercutiu no Emmy: indicada a nove categorias, a série levou somente a estatueta de melhor diretor, para David Fincher (diretor do longa para as telonas "A Rede Social", de 2010).

Já a badalada série britânica ‘Downton Abbey’, sucesso entre os americanos, tinha sido indicada em várias categorias - inclusive ator, atriz, ator coadjuvante a atriz coadjuvante - mas não levou nenhum prêmio.

A favorita Claire Danes – a mais bem vestida da noite - fez valer sua maravilhosa interpretação da agente bipolar Carrie Mathison em "Homeland" e levou o prêmio de melhor atriz de drama pela segunda vez seguida – a série também recebeu o Emmy de melhor roteiro, para Henry Bromell, morto recentemente.

Claire Danes fala á mídia após receber seu Emmy - Getty Images
Nas categorias de shows, o ‘The Colbert Report’ – telejornal que apresenta as notícias com muito humor, muitas vezes ácido – levou os Emmys de roteiro em programa de variedades e melhor programa de variedades e o ’The Voice’ levou em reality de competição.

O ‘Saturday Night Live’, um dos mais antigos programas ainda exibidos pela TV americana, ainda teve fôlego para fechar a noite levando os Emmys de roteiro e direção na categoria programa de variedades– para Don Roy King, pela edição que teve Justin Timberlake como hostess.

Justin Timberlake participa da edição do 'SNL' premiada com o Emmy - Divulgação/CBS

Veja a lista completa dos vencedores do Emmy 2013:
Melhor atriz coadjuvante em série de comédia - Merritt Wever ("Nurse Jackie")
Melhor roteiro de comédia - Tina Fey e Tracey Wigfield ("30 Rock")
Melhor ator coadjuvante em série de comédia - Tony Hale ("Veep")
Melhor atriz em série de comédia - Julia Louis-Dreyfuss ("Veep")
Melhor ator em série de comédia - Jim Parsons ("The Big Bang Theory")
Melhor diretor de série de comédia - Gail Mancuso ("Modern Family")
Melhor atriz em minissérie ou telefilme - Laura Linney ("The Big C.")
Melhor roteiro de série dramática - Henry Bromell ("Homeland")
Melhor atriz coadjuvante em série dramática - Anna Gunn ("Breaking Bad")
 Melhor reality show - "The Voice"
Melhor ator coadjuvante em série de drama - Bobby Cannavale ("Boardwalk Empire")
Melhor ator de série de drama - Jeff Daniels ("The Newsroom")
Melhor atriz de série de drama - Claire Danes ("Homeland")
Melhor diretor de série de drama - David Fincher ("House of Cards")
Melhor roteiro para programa de variedades - "The Colbert Reports"
Melhor diretor para programa de variedades - Dan Roy King ("Saturday Night Live")
Melhor coreografia - Derek Hough ("Dancing with the Stars")
Melhor roteiro em minissérie ou telefilme - Abi Morgan ("The Hour")
Melhor ator coadjuvante em minissérie ou telefilme - James Cromwell ("American Horror Story - Asylum")
Melhor direção em minissérie ou telefilme - Steven Soderbergh ("Behind the Candelabra")
Melhor atriz coadjuvante em minissérie ou telefilme - Ellen Burstyn ("Political Animals")
Melhor ator em minissérie ou telefilme - Michael Douglas ("Behind the Candelabra")
Melhor minissérie ou telefilme - "Behind the Candelabra"
Melhor série de comédia - "Modern Family"
Melhor série de drama - "Breaking Bad"

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