"Esse prédio nunca teve tanta gente. Vai cair esse troço hoje", diverte-se o ex-VJ André Vasco, hoje contratado do SBT, enquanto espera para gravar.
Em vez de silêncio no estúdio A, uma algazarra para ensaiar a entrada de Cuca Lazarotto para apresentar um videoclipe.
Diversos ex-VJs vão tapá-la para que sua aparição seja uma surpresa.
Na hora da entrada ao vivo, Gastão aparece na porta do estúdio e distrai todo mundo.
Acaba entrando também na frente das câmeras junto com Marina Person, Marcos Mion e quem mais estivesse de passagem.
Thunderbird, então, acende um cigarro no estúdio.
"Foda-se", diz enquanto joga as cinzas em uma latinha.
Uma funcionária emenda dizendo que vai fumar na escada de incêndio.
"Vou sentir saudades da escada", diz.
Para marcar a última transmissão ao vivo do canal, a MTV Brasil resolveu reunir diversas gerações de apresentadores que passaram pela emissora e abrir as portas do prédio de onde, durante mais de duas décadas, transmitiu sua programação.
O edifício, na Avenida Professor Alfonso Bovero, no bairro do Sumaré e que abrigou a TV Tupi, foi utilizado em sua quase totalidade para a gravação.
Houve shows de Guilherme Arantes no térreo, Vanguart no estúdio C e Marcelo D2 e Cone Crew no estúdio B.
O quinto andar, onde ficava a redação, recebia covers de Kurt Cobain, Beatles, Kiss e Roberto Carlos, enquanto no nono, onde antes eram recebidas autoridades, quem passou pela emissora dava depoimentos emocionados.
Até a câmera de segurança do elevador entrava na transmissão ao vivo, bem como uma equipe registrava a festa na vizinha Padaria Real, onde muitos preferiram ficar para evitar a superlotação.
As diversas locações confundiam até quem estava colocando o programa no ar.
"Estou totalmente perdida", confessou em determinado momento a VJ Gaía Passarelli. "Nem sei se estão precisando de mim."
Em meados da noite, quase tudo o que tinha a marca MTV impressa virou objeto de cobiça por parte dos convidados, que queriam levar um pedacinho da emissora como recordação.
As placas que indicavam os andares foram desaparecendo pouco a pouco, bem como as fotos históricas que foram colocadas como decoração.
Do lado de fora, onde a festa continuou madrugada a dentro, até almofadas coloridas eram vistas com os mais ousados.
Na hora de encerrar a programação ao vivo do canal, que ainda fica no ar até o dia 30 com atrações gravadas, toda a equipe vai para a frente das câmeras.
Produtores, editores, estagiários etc. participam do "tchauzaço".
"Adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer", começam a cantar de brincadeira.
Quando as câmeras se apagam, as lágrimas começam a rolar entre abraços de despedida e juras de amizade eterna das pessoas que trabalhavam no canal.
A partir de 1º de outubro, a marca MTV será devolvida pelo grupo Abril, que a explorava no país, para a Viacom, que lança então um novo canal com o mesmo nome na TV paga.
"Nunca achei que ia encerrar uma televisão", diz Astrid Fontenelle, hoje do canal pago GNT, que vai literalmente apagar as luzes do canal no próximo dia 30.
Na cena, já gravada, ela garante que não chorou.
"Foi um texto muito digno", diz.
"É um ciclo que se fecha, mas ao mesmo tempo a gente nunca vai esquecer isso que a gente fez aqui."
Dani Barbieri, uma das primeiras VJs do canal, concorda que o momento não é triste, e sim de reencontros.
"A MTV dava espaço para você se descobrir", filosofa.
"Foi uma epifania na TV brasileira."
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Matéria e fotos: Vitor Moreno - Editor-Assistente do site 'F5'
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