sexta-feira, 26 de abril de 2013

'HOMEM DE FERRO 3': ROTEIRO CONFUSO E RUIM DESTRÓI PRINCIPAL VILÃO DA HQ E A GÊNESE DO HERÓI



Primeiro  blockbuster  de 2013, 'Homem de Ferro 3', da Marvel/Disney/Paramount  estreia hoje em 1.223 salas brasileiras, batendo o recorde em tamanho de lançamento no circuito brasileiro - que pertencia a 'Amanhecer – Parte 2', com 1.213 salas.

Em um movimento cada vez mais comum, a nova aventura do super-herói da armadura vermelha e dourada chega ao Brasil e a outros dez mercados internacionais antes de sua estreia nos EUA - sexta que vem, 3 de maio.

A trama se passa imediatamente após os acontecimentos de 'Os Vingadores': Tony Stark (Robert Downey Jr) passa o tempo todo em seu palácio pós moderno sobre o mar de Malibu, Califórnia, trabalhando 20 horas por dia e criando muitas, mas muitas armaduras novas.

Lógico, Stark vive aparecendo na mídia como celebridade que é, inclusive em programas como o 'Fashion Police' do canal E! - pausa para a curtíssima, mas divertida participação de Joan Rivers e George Kotsiopoulos, dois de seus apresentadores.

Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) - agora não só mora com ele, como continua sendo a principal executiva das empresas Stark.

Happy Hogan (Jon Favreau, também diretor dois dois primeiros longas e agora só produtor executivo deste)  virou chefe de segurança das empresas Stark e obriga tudo e todos a usarem crachá - s e nos dois primeiros longas, Hogan era um dos alívios de humor com suas rápidas cenas, aqui ele aparece muito mais e vira um cara chato de doer.

Happy Hogan (Jon Favreau), em cena do longa - fotos dessa postagem: Divulgação/Disney

E só o coronel James Rhodes ( Don Cheadle), que até então vinha usando a armadura conhecida como Máquina de Combate, acha bacana o governo americano ter mudado o seu nome para Patriota de Ferro - só falta tocar o hino americano a cada aparição sua.

Se os três se ressentem da ausência do cientista que prefere ser chamado de 'mecânico' - acham que ele agora "só quer saber dos seus amigos Vingadores" - do alto de sua empáfia, Tony não contra para eles que, desde o ataque a Nova York, vem sofrendo com sucessivos ataques de pânico e ansiedade, que só são percebidos quando ele tem mais um, defronte a uma dupla de crianças suas fãs e na presença de Rhodes, logo no início do longa, que começa com uma absolutamente dispensável narração em off de Tony, contando como sua vida mudou depois de encarar o Mandarim.

James Rhodes ( Don Cheadle) e Tony Stark (Robert Downey Jr), em cena do longa

O uso do recurso é uma das mostras da enorme insegurança do diretor Shane Black, que é amigo de Downey Jr. desde os tempos que ambos estavam no fundo do poço do álcool e das drogas e foi meio que imposto pelo ator à produção.

Com tanto compadrio, não é de se estranhar que o roteiro - de Black e Drew Pearce - seja um dos piores desse século, começando por descaracterizar quase que totalmente não só o herói, seu principal antagonista e a acima da média 'série Extremis' - dos quadrinhos de Warren Ellis e Adi Granov - simplesmente rifando suas melhores partes - como as novas capacidades do protagonista, aqui adquiridas por Pepper nas cenas finais.

Prometida como a mais sombria e realista das três, a trama tem centenas de furos e ao tentar seguir o estilo de comédia de 'Os Vingadores', as piadas caem na mesmice - e olha que Downey Jr. faz o que pode para tentar salvar a maioria delas, que parecem tiradas de um show de 'stand up' brasileiro, de tão ruins.

O Máquina de Combate agora é o Patriota de Ferro...

A melhor delas acontece na tradicional cena extra exibida após os créditos finais, quando Tony tenta falar de seus problemas a um entediado e sonolento Dr. Bruce Banner (Mark Ruffalo) - o Hulk - que encerra a conversa dizendo que "não sou esse tipo de médico que você precisa".

Pior fizeram com o principal vilão do universo do herói da armadura vermelha e dourada: aqui, o Mandarim (Sir Ben Kingsley) é - acreditem - o alívio cômico, um 'fake', um ator de quinta contratado pelo vilão real - o criador da tecnologia Extremis, Aldrich Killian (Guy Pearce) - para ser  "a  nova face do terror do mundo', um terrorista muito distante da complexidade do vilão,  também um dos melhores dos quadrinhos da Marvel.

Sir Kingsley faz o ator de quinta no piloto automático, numa atuação tão ruim de fazer a de Anne Hathaway como a Mulher Gato no último 'Batman' parecer ser boa.

Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) e Aldrich Killian (Guy Pearce), em cena do longa

Com mais furos que a superfície lunar no roteiro, o espectador fica sem entender algumas atitudes dos personagens, como, por exemplo, o ataque do vilão à casa de Tony Stark em Malibu.

Mostrada à exaustão nos diversos trailers divulgados, a cena é a melhor do longa, muito bem feita e muito bem realizada, mas fica parecendo uma reação exagerada a uma provocação desnecessária de Tony ao vilão - outra cena mostrada muitas vezes, aquela do "Eu vou te pegar", "Você está morto, Mandarim"...

Sir Ben Kingsley como o falso Mandarim: destruindo um dos melhores vilões das HQs

Se o verdadeiro vilão é Aldrich Killian, o espectador fica sem saber o que ele realmente quer com seu plano: se vingar de Tony, por este não ter lhe dado atenção no reveillon de 1999 na Suíça, quando ele ainda era um cientista pobre, feio, descabelado e manco?
Se for realmente isso, esse impulso é absurdamente fraco e não se justifica.

Outra coisa: não precisavam usar novamente o velho truque do vilão feio, coxo e dentuço, que volta depois para atazanar o mocinho com visual lindão - até Joel Schumacher, aquele, já usou isso em 'Batman Eternamente' (1995), quando transformou o Charada de Jim Carrey numa cópia do Bruce Wayne de Val Kilmer.

E pessoalmente, eu não entendo a insistência dos produtores em escalarem Guy Pearce para papéis de relevância: o australiano não passa de um ator medíocre, e seus personagens sempre ficam devendo - muito - em termos de presença na telona e no andamento da história - é outro que deve ter um senhor padrinho em Hollywood.

A cena de Pepper com o capacete de Tony, inspirada na de Viviane Senna com o capacete de Ayrton no enterro do piloto: dispensável

Os efeitos visuais da tecnologia Extremis nos capangas de Killiam também são bem ruins: muito fogo, muita sensação de calor e olhos vermelhos (!), para nada - ainda bem que a qualidade visual da pós-produção deixa as batalhas fáceis de entender.

O longa só acerta ao colocar Tony em ação somente com suas habilidades humanas, em cenas sem armaduras e que remetem a outro personagem de Downey Jr. - Sherlock Holmes.

O herói enfrenta desafios sem suas armas em muitos momentos e tudo lembra um balé bem ensaiado, ainda mais em 3D, como sempre dispensável na maior parte das cenas.

Se no começo do filme Tony se mostra viciado no poder e passa todo tempo ocupado em criar novas armas e funções para suas armaduras, ele nunca esteve mais à vontade como Homem de Ferro em batalha - ele agora veste a armadura por partes, que vem voando até ele e as controla à distância, via Jarvis, seu supercomputador.

Pena que a batalha final - onde Tony e Rhodes vão salvar Pepper e o presidente americano (William Sadler) no estaleiro abandonado em Miami que serve de QG para Killiam - seja a mais inverossímil do longa.

Tony chama, e dos porões da casa destruída em Malibu - em Los Angeles, do outro lado dos EUA - voam dezenas de armaduras, das já vistas nos longas anteriores às novas, inclusive uma grandona, que lembra muito o Hulk.

A pergunta: se elas estavam lá, disponíveis o tempo todo, por quê diabos Tony não as chamou antes e correu perigos desnecessários sem estar dentro de uma delas?

Também a evolução da cena, com Tony entrando e saindo dentro de muitas armaduras, em vez de eletrizar, só consegue cansar o espectador e só no ato final - quando Pepper vira um misto de Extremis e 'Mulher de Ferro' - vale.

Pepper, seminua como a 'Iron Woman': gostosa
Para completar a lambança: Tony encerra a narração em off do longa depois de se submeter a uma cirurgia que retira os estilhaços à volta do seu coração e jogar no mar a bateria atômica que levava no peito até então - ou seja, até a gênese do herói foi desrespeitada.

Enfim, se depois de 'Os Vingadores', a Marvel parecia saber muito bem como conduzir suas produções, 'Homem de Ferro 3' quebra o ritmo ascendente.

Se o longa tem momentos capazes de empolgar o espectador - com suas belas imagens, trilha sonora caprichadíssima de Brian Tyler e Downey Jr. ainda perfeito no personagem - as ideias novas não funcionam e o longa falha, pelo roteiro ruim e direção sem criatividade.

Em entrevista recente, o diretor Shane Black chama o Homem de Ferro de "cowboy do século 21".

Acabou entregando um de lata, que  dá para o gasto.

Confira o trailer do longa:


*****
'HOMEM DE FERRO 3'
Título Original:
Iron Man 3
Diretor:
Shane Black
Elenco:
Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Guy Pearce, Sir Ben Kingsley, Paul Bettany, Rebecca Hall, Jon Favreau, Don Cheadle, James Badge Dale, Ashley Hamilton, Yvonne Zima, William Sadler e outros
Produção:
Kevin Feige
Roteiro:
Shane Black, Drew Pearce
Fotografia:
John Toll
Trilha Sonora:
Brian Tyler
Duração:
130 min.
Ano:
2013
País:
EUA,China
Gênero:
Ação
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Disney
Estúdio:
DMG Entertainment / Marvel Studios / Paramount Pictures
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:

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