segunda-feira, 15 de abril de 2013

CLEYDE YÁCONIS: GRANDE DAMA, AVÓ POSTIÇA E UMA DELÍCIA DE PESSOA



Cleyde Becker Yáconis nasceu em 14 de novembro de 1923, em Pirassununga, interior de São Paulo e passou parte da sua juventude em Santos.

Foi sua irmã Cacilda Becker - até hoje considerada uma das maiores atrizes que este país já viu - quem a levou a São Paulo, em 1950, para trabalhar no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde atuou em peças como "Assim É se lhe Parece", "Maria Stuart", "Adorável Júlia" e "A Morte do Caixeiro Viajante", entre outras.

Cleide Yáconis, quando atuava na peça "Treze à Mesa" no TBC, ná década de 50 - fotos dessa postagem: acervo/Folhapress

Ainda no teatro, fez participações marcantes como a prostituta Geni - de "Toda Nudez Será Castigada" - e Jocasta, em "Édipo Rei", na qual contracenava com Paulo Autran.

Com Paulo Autran, em cena de "Assim É (Se lhe Parece)", de Pirandello, na década de 50

Por seu papel "Toda Nudez...",  levou o prêmio Molière de melhor atriz em 1965 e voltou a receber o mesmo prêmio em 1991, por "O Baile de Máscaras".

Em 1993, ganhou o prêmio Mambembe de melhor atriz por seu trabalho na peça "As Filhas de Lúcifer" e em 2006, o prêmio melhor atriz de teatro pela APCA - Associação Paulista dos Críticos de Arte - pelo espetáculo "A louca de Chaillot".

Com Sérgio Britto, em "Longa Jornada Noite Adentro" (2002)

Atriz muito acima da média, entrou para a televisão em 1966 e atuou em novelas como "O Amor Tem Cara de Mulher" (1966), "Mulheres de Areia" (1973) e "Gaivotas" (1979) na TV Tupi.

Atuou também na extinta TV Excelsior, em "Os Diabólicos" (1968) e "Mais Forte que o Ódio" (1970), entre outros trabalhos.

Foi nas gravações em externa de "Mulheres de Areia" (1973) em Itanhaém, litoral sul de São Paulo onde tinha casa e passava férias de verão todo ano, que eu a conheci.

Como Guilhermina, em cena da novela "Ninho da Serpente" (1982)

Tinha 13 anos, acompanhava as exaustivas gravações na praia e as horas de espera dela para fazer às vezes uma cena - interpretando Clarita Assunção - de minutos, onde sempre dava o seu melhor.

Quando criei coragem e me aproximei, disse a ela que adorava ler e que gostava muito de vê-la em cena.

Sempre acompanhada de uma grande bolsa, ela sorriu e eu fui imediatamente presenteado com uma pequena antologia de peças de Shakespeare e uma compilação de contos de Plínio Marcos que estavam lá dentro à espera, segundo ela, de quem demonstrasse paixão pela leitura e pela arte da representação.

A partir daí, ela virou uma espécie de ' vó postiça' pra mim - falou isso pra minha vó inclusive e ambas começaram uma boa amizade a partir daí.

Inesquecível, né??

A partir daí, para minha alegria, acompanhei todos os seus trabalhos, nos palcos e na telinha.

Durante a peça "A Louca de Chaillot", com direção de Rui Cortez, no teatro Sesc Santana, em São Paulo (2006)

Em 2003, teve o conjunto da obra celebrado com o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e também recebeu o Prêmio Nacional Jorge Amado de Literatura e Arte do Governo da Bahia.
Dois anos depois, foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura.

Na Globo, atuou em "Rainha da Sucata" (1990) - que está sendo reprisada no canal pago Viva -, "Vamp" (1991), "As Filhas da Mãe" (2001) e "Passione" (2010).

Em cena de "As Filhas da Mãe" (2001)

Em 2006, teve uma passagem pela TV Record, atuando em "Cidadão Brasileiro".

Voltei a vê-la depois  de um tempo, após uma matéria muito legal que ela fez para a 'Folha', onde revelou que, já com oitenta e tantos anos, dirigia de Jordanésia - aqui pertinho de SP, onde morava numa chácara - até o Rio de Janeiro para gravar "Passione".

Telefonei e fui visita-la na chácara, e ela só me disse: "adoro dirigir, pra mim é uma terapia muito especial. É perigoso dirigir isso tudo? É? mas eu posso escorregar aqui no terraço, bater a cabeça e morrer. São pequenos prazeres dos quais eu não abro mão!"

Com seus cachorros, na chácara de Jordanésia

Essa era Cleyde, uma mulher especialíssima -  e sua fala se revelou logo depois profética: em julho de 2010, a atriz sofreu uma queda e fraturou a cabeça do fêmur, no apart-hotel onde se hospedava no Rio para gravar "Passione".

Como a rabugenta Brígida em "Passione" (2010)

Ela passou por uma cirurgia no Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, no Rio, e ficou internada durante seis dias.

Ao voltar às gravações, foi recebida com uma grande festa por todos, absolutamente todos - elenco, técnicos, diretores, assistentes...
Foi o maior e mais demorado aplauso que o Projac já viu.

Pena que nunca mais foi a mesma inquieta e independente mulher.

Após ser ovacionada, Cleyde é paparicada por seus colegas de "Passione" - o diretor Luiz Henrique Rios, Leonardo Villar, Débora Duboc, Marcello Antony, Fernanda Montenegro e Elias Geizer (11/8/10)

Cleyde estava internada desde outubro de 2012 no hospital Sírio Libanês, aqui em SP - após sofrer uma isquemia -  e morreu hoje, aos 89 anos.

O corpo será velado na chácara dela, onde também será sepultado.

Privilégio de vida ter podia conhecer uma mulher dessas.


TRABALHOS EM TELEVISÃO

1966 - O amor tem cara de mulher - Vanessa (TV Tupi)
1967 - Éramos Seis - Dona Lola (TV Tupi)
1968 - A Muralha - bandeirante (participação) (TV Excelsior)
1968 - Os Diabólicos - Paula (TV Excelsior)
1969 - A menina do veleiro azul (TV Excelsior)
1969 - Vidas em conflito - Ana (TV Excelsior)
1970 - Mais Forte que o Ódio - Clô (TV Excelsior)
1973 - Mulheres de Areia - Clarita Assunção (TV Tupi)
1974 - Os Inocentes - Juliana (TV Tupi)
1975 - Ovelha Negra - Laura (TV Tupi)
1976 - O Julgamento - Mercedes (TV Tupi)
1976 - Um Dia, o Amor - Maria Eunice (TV Tupi)
1978 - Aritana - Elza (TV Tupi)
1979 - Gaivotas - Lídia (TV Tupi)
1980 - Um homem muito especial - Marta (Rede Bandeirantes)
1981 - Floradas na Serra - Dona Matilde (TV Cultura)
1981 - O fiel e a pedra (TV Cultura)
1981 - O vento do mar aberto - Clara (TV Cultura)
1982 - Campeão - Helena (Rede Bandeirantes)
1982 - Ninho da Serpente - Guilhermina Taques Penteado (Rede Bandeirantes)
1984 - Meus Filhos, Minha Vida - Adelaide (SBT)
1985 - Uma Esperança no Ar (SBT)
1990 - Rainha da Sucata - Isabelle de Bresson
1991 - Vamp - D. Virginia
1993 - Olho no Olho - D. Julieta
1993 - Sex Appeal - Cecília
1997 - Os Ossos do Barão - Melica Parente de Redon Pompeo e Taques (SBT)
1998 - Torre de Babel - Diolinda Falcão
2001 - As Filhas da Mãe - Dona Gorgo Gutierrez
2004 - Um Só Coração - como ela mesma (participação)
2006 - Cidadão Brasileiro - Dona Joana Salles Jordão (Rede Record)
2007 - Eterna Magia - Dona Chiquinha (Francisca Finnegan)
2010 - Passione - Brígida Gouveia4

TRABALHOS NO CINEMA

Bodas de Papel (2008)
Célia & Rosita (2000) (curta metragem)
Jogo Duro (1985)
Dora Doralina (1982)
Parada 88 - O Limite de Alerta (1977)
Beto Rockfeller (1970)
A Madona de Cedro (1968)
Na Senda do Crime (1954)

TRABALHOS NO TEATRO

Elas Não Gostam de Apanhar (2012)
O Caminho para Meca de Athol Fugard (2008)
A Louca de Chaillot, de Jean Giroudoux (2006)
Cinema Eden, de Marguerite Duras (2005)
Longa Jornada Noite A Dentro, de Eugene O'Neill (2002)
Péricles, o Príncipe de Tiro, de William Shakespeare (1995)
As Filhas de Lúcifer, de William Luce (1993) - Mambembe de Melhor Atriz
O Baile de Máscaras, de Mauro Rasi (1991) - Molière de Melhor Atriz
A Cerimônia do Adeus, de Mauro Rasi (1989)
O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekov (1982)
A Nonna (1980)
Os Amantes, de Harold Pinter (1978)
A Capital Federal, de Arthur Azevedo (produtora) (1972)
Medeia, de Eurípedes (1970)
Édipo Rei, de Sófocles (1967)
O Fardão, de Bráulio Pedroso (1967)
As Fúrias, de Rafael Alberti (1966)
Toda Nudez Será Castigada, de Nélson Rodrigues (1965) - Molière de Melhor Atriz
Vereda da Salvação, de Jorge Andrade (1964)
Os Ossos do Barão, de Jorge Andrade (1963)
Yerma, de Federico García Lorca (1962)
A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller (1962)
A Escada, de Jorge Andrade (1961)
A Semente, de Gianfrancesco Guarnieri (1961)
O Pagador de Promessas, de Dias Gomes (1960)
O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna (1958)
A Rainha e os Rebeldes, de Ugo Betti (1957)
Eurydice, de Jean Anouilh (1956)
Maria Stuart, de Friedrich Schiller (1955)
Leonor de Mendonça, de Gonçalves Dias (1954)
Assim É (Se lhe Pareçe,) de Luigi Pirandello (1953)
Ralé, de Máximo Gorki (1951)
Seis Personagens a Procura de um Autor, de Luigi Pirandello (1951)
Pega-Fogo, de Jules Renard (1950)
O Anjo de Pedra, de Tennessee Williams (1950)

REPERCUSSÃO:

"Ela foi uma companheira de muitos e muitos anos. Nossa amizade é desde o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), é fora de série.
Cleyde vai deixar o exemplo de uma mulher de fibra, corajosa, excepcional e de ótimo caráter".
Elias Gleizer, que atuou com Yáconis em "Passione", Rio de Janeiro (RJ)

"Ela era minha melhor amiga, minha colega de mil anos".
Aracy Balabanian, atriz, Rio de Janeiro (RJ)

"E o Brasil com menos luz..."
Gretta Starr, Diva da noite paulistana, São Paulo (SP)

"A Grande Cleyde Yáconis:
É com grande tristeza que a gente se despede de uma das maiores atrizes do Brasil, talvez mesmo a maior.
Aos 89 anos, faleceu Cleyde agora no cair da noite, depois de uma longa temporada no hospital.
É horrível comparar e com frequência desnecessário mas Cleyde sempre teve que viver com isso , já que é a irmã mais nova do maior ícone do teatro nacional, Cacilda Becker.
Cleyde eu consegui acompanhar melhor no palco e sempre achei uma atriz esplendida, versátil, carismática, o que continuava a demonstrar ate agora a pouco na sua paixão no teatro e com o presente que Silvio de Abreu lhe deu em "Passione".
Lançamos o livro biográfico dela pela "Coleção Aplauso" e com carinho e tristeza que sinto sua perda.
Descanse em paz".
Rubens Ewald Filho - jornalista e diretor de teatro, São Paulo (SP)

"Uma notícia triste para a arte e o teatro nacionais hoje. Faleceu a grande atriz Cleyde Yáconis, o maior currículo do teatro brasileiro. Foram 63 anos de atividade no teatro e na televisão".
Teo Junior - jornalista especializado em teatro - Aracajú (SE)

"Cleyde Yaconis é uma artista com um talento que vai deixar saudades.
Tive a oportunidade de vê-la no teatro em algumas peças e sempre fiquei chocado com sua força cênica, sua natureza selvagem, sua conexão com algo maior.
Mal podia imaginar que um dia iria trabalhar com esta grande artista, fato que ocorreu na novela das oito "Passione" da rede Globo.
Neste trabalho pude estar mais próximo e aprender ainda mais com seu talento sem limites.
Muitas vezes estávamos juntos no mesmo carro a caminho da rede Globo e pude trocar confidências, falar sobre o seu trabalho, e ela sempre me surpreendeu ainda mais.
Cleyde era uma menina quando sua irmã e grande atriz Cacilda Becker pediu para Cleyde fazer o ponto pra ela no teatro (Isto serve para substituir um ator ou atriz quando não está presente).
Assim começou a história de Cleyde Yáconis na arte, assim ela descobriu que queria ser atriz!
Não vou me esquecer de Cleyde brincando comigo e com o motorista no carro “Ah, Rio de Janeiro... 40 graus! 40 Graus! Não sei por que vocês se vangloriam deste calor se vivem embaixo de ar condicionado. Ah, 40 graus, 40 graus...”
Eu e o motorista não parávamos de rir, sabíamos que aquele era um momento especial. Quem conhece Cleyde Yáconis e seu tom característico saberá o que passamos quando escutávamos a Diva contar esta piada de modo tão espontâneo e intenso"
Germano Pereira - ator e diretor, São Paulo (SP)

"O suicídio de Walmor Chagas, em janeiro deste ano, a deixou muito triste e decepcionada, causando mais problemas à sua saúde.
A partir daí, o estado de saúde dela se deteriorou.
Perdemos a maior atriz brasileira. Ela trabalhou a vida inteira. Colaborou para a cultura do país. Participou com a minha vó, a Cacilda para ajudar o teatro. Espero que o Brasil receba outras Cleydes".
Guilherme Becker, neto de Cacilda Becker, com quem Walmor foi casado, São Paulo (SP)

"Ela sempre me pedia para ajustar as roupas dela. Vinha aqui e casa e ficávamos conversando e dando risada. Ela tinha muito bom humor.
Costumava fazer doce de jabuticaba, cultivada no pomar de sua casa e apesar disto não gostava de ser assediada".
Edleusa Magalhães, costureira e vizinha de Cleyde há 30 anos, Cajamar (SP)

"A Cleyde foi a artista mais profissional que conheci. Ela não tinha vaidades, só nos palcos, diferentemente de sua irmã Cacilda, que era bastante vaidosa. Cleyde era uma diva nos palcos e agregou um valor importante para o teatro".
Fabio Namatami, figurinista, São Paulo (SP)

"A Cleyde era motivo de estudo para a minha geração, ela e a irmã, Cacilda. Sempre a primeira visão que eu tinha das duas era uma dupla de atrizes muito importantes no panorama do teatro brasileiro. Depois, eu vim a conhecer a Cleyde e daí você conhece a mulher - as escolhas, como ela resolveu tocar a vida dela... Já falando de mais recentemente, quando você tem uma atriz mais longeva em uma novela, como foi a Cleyde em 'Passione', você tem um triângulo perfeito, porque todo o elenco se espelha nela. E a Cleyde era essa baliza, eu gostava de ter ela como referência. Suas escolhas foram especiais. E ela trabalhou até quando pouco. Isso é muito bacana"
Vera Holtz, atriz, Rio de Janeiro (RJ)

"É uma perda absoluta. Acabo de saber pela Lidiane [mulher do ator].
Estou trabalhando, gravando uma externa da novela.
Perdemos uma das grandes atrizes desse país.
A Cleyde era uma querida companheira, uma atriz surpreendente.
Fica uma saudade imensa, um vazio muito grande"
Tony Ramos, ator, Rio de Janeiro (RJ)

"Eu não via a Cleyde há vários anos, eu tenho a impressão até de que ela andava meio reclusa. O que eu posso dizer são memórias daquela época [1985, quando trabalharam juntos em "Jogo Duro"].
Ela era uma excelente atriz, eu a admirava como atriz. Segui ela um pouco de longe. E poucos cineastas tiveram proximidade com ela. Ela foi muito mal aproveitada. Mas ela era uma figura muito importante de um mundo que não existe mais, de um teatro que era de terça a domingo".
Ugo Giorgetti, cineasta, São Paulo (SP)

"Cleyde Yaconis me ensinou tanto na minha primeira novela quando eu tinha 10 anos!!!
Obrigada Cleyde!!! Descanse em paz!
Fernanda Rodrigues, atriz, via Twitter

"Cleyde Yaconis, atriz talentosa e mulher forte, independente...
Certamente não estava feliz no hospital. Cumpriu sua missão lindamente".
Marcelo Médici, ator, via Twitter

"Mto triste com o falecimento de uma das nossas grandes atrizes brasileiras, Cleyde Yáconis. Foi um prazer ser sua bisneta na novela Passione"
Tammy Di Calafiori, atriz, via Twitter

"Os anjos devem estar reunidos para receber Cleyde Yáconis!"
Walcyr Carrasco, ator de novelas, via Twitter

"Tudo o que aprendi como ator foi com ela. Ela era uma lutadora.
Ela era meu alicerce em tudo, um ser humano e uma artista completos.
Eu a visitei no Sírio-Libanês, mas ela estava sem consciência, a caminho do fim.
Vou sentir saudades infinitas".
Stenio Garcia, ator que foi casado com Cleyde durante 11 anos, no velório da atriz

Um comentário:

Anônimo disse...

q linda homenagem, Claudio. É uma sensação terrível de dor quando morre uma atriz desse porte. Valeu, obrigado. Teo Jr.

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