SINOPSE:
Depois da morte de sua mãe, o jovem Sócrates (Christian Malheiros), que foi criado apenas por ela durante os últimos tempos, precisa fazer tudo o que for possível para que consiga sobreviver na realidade da miséria, somado com o preconceito por ser homossexual.
Seus valores e ideais são colocados na balança com o medo de não conseguir se virar sozinho.
CRÍTICA:
Desde a primeira cena, o jovem vivido por Christian Malheiros - que vimos recentemente brilhando na série Sintonia, da Netflix - não tem praticamente um segundo de respiro.
Sua urgência em consertar pequenos fragmentos de sua vida - que desmorona em questão de pouquíssimo tempo - é transportada para fora da tela na forma de uma sensação incômoda de impotência, por mais que existam tentativas ininterruptas de fazer com que ao menos alguma coisa dê certo.
Do início ao fim esta sensação permanece em Sócrates, que estreia hoje.
Mas a ideia do diretor Alex Moratto é justamente a de incomodar, seja nos situando dentro de uma realidade comum de pessoas que moram em regiões periféricas ou por simplesmente assumir um tom muito pessoal e próximo ao protagonista.
Com a câmera seguindo seus passos e expressões, que compõem um misto de desespero e ansiedade com pequenos vislumbres de esperança, a direção é seca e direta, assim como os cortes que vão montando a sequência de adversidades de Sócrates, que ainda precisa lidar com o preconceito por ser homossexual.
O roteiro também não fica muito atrás na questão de ser austero e impactante.
Da mesma forma que a vida é dura com Sócrates, ele também carrega uma carga muito pesada referente ao passado, o que o deixa suscetível a enfrentar com mais rigidez algumas pessoas e situações num primeiro momento.
Mas o que o torna mais interessante são suas nuances, comuns em qualquer ser humano, que são trabalhadas com esmero pelo diretor e interpretadas com uma sinceridade potente de Malheiros.
Não é correto dizer que ele se torna vulnerável em dados momentos, pois, na verdade, a maneira como ele se porta com Maicon (Tales Ordakji) ou com seus parentes (exceto seu pai, a origem de toda essa severidade) só é um reflexo de seu verdadeiro eu, longe dos escudos que precisaram ser colocados para sobreviver.
Produzido por alunos do Instituto Querô na Baixada Santista, o longa é um exemplo de dedicação e perseverança audiovisual no Brasil e pode abrir um leque de possíveis obras originadas de jovens que têm um olhar particular, especialmente se estas têm a chance de abordar temas que já lhe são familiares.
Tal identificação certamente auxiliou no processo de composição da história, com bom aproveitamento da fotografia e do som.
Há certas irregularidades no que se refere à iluminação e mudança de cenários, mas nada que prejudique amplamente o resultado final - sendo as atuações de Malheiros e Ordakji os combustíveis para tudo fluir naturalmente.
Se o filme abre com a morte do ente mais querido de Sócrates, ele fecha com o possível renascimento do jovem, que vive e coleciona aprendizados sem qualquer tipo de suavização.
Por bem ou por mal, ele vê que a melhor companhia que pode ter é a dele mesmo. O espectador acompanha um momento importante (se não essencial) da vida do protagonista, no qual ele se encontra com seu lado mais íntimo e enfrenta monstros internos e externos a fim de simplesmente viver mais um dia.
A comovente cena final mostra que até mesmo no mais triste adeus mora uma chance de renovação para Sócrates, sem que isso o afaste de sua verdadeira essência.
Filme visto no 26º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2018.
Fiilme premiado no 'Alguém para Assistir' no último Independent Spirit Awards.
GALERIA DE IMAGENS:
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
SÓCRATES
Gênero:
Drama
Direção:
Alex Moratto
Elenco Principal:
Christian Malheiros, Tales Ordakji, Caio Martinez Pacheco
Roteiro:
Alex Moratto
Trilha Sonora:
Felipe Puperi
Produtores:
Ramin Bahrani, Alex Moratto, Jefferson Paulino, Tammy Weiss
Diretor de fotografia:
João Gabriel de Queiroz
Montador:
Alex Moratto
Engenheiro de som:
Ricardo Reis
Distribuidor Brasileiro (Lançamento):
O2 Play
COTAÇÃO DO KLAU:
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