segunda-feira, 23 de setembro de 2019

'INACREDITÁVEL': CRÍTICA DA MINISSÉRIE

<>
Série da Netflix retrata com empatia o abuso sexual
<>

SINOPSE:

A minissérie é baseada na reportagem de 2015 "Uma história inacreditável de estupro ", escrita por T. Christian Miller e Ken Armstrong e publicada originalmente por ProPublica e The Marshall Project.

A trama segue Marie (Kaitlyn Dever), uma adolescente acusada de mentir por ter sido estuprada, e os dois detetives que seguiram um caminho sinuoso para chegar à verdade.

CRÍTICA:

A primeira hora de Inacreditável (Unbelievable) é focada na jovem Marie Adler (Kaitlyn Dever) e os acontecimentos logo após ser vítima de um abuso sexual.

A menina de 16 anos é interrogada duas vezes por policiais, mais uma vez na delegacia, tem o seu corpo escrutinado em busca de evidências, e pedida para dar o depoimento – mais uma vez – por escrito.

Por conta da falta de evidências e incongruências em seus relatos, os investigadores agem severamente para que a menina aponte explicações.

Em um misto de carência e descrença por parte de todos ao seu redor, Marie decide relatar que o seu testemunho foi falso e encerrar o caso.

No entanto, ocorre exatamente o contrário e toda situação torna-se um caminho para o abismo.

Com a dedicação da diretora Lisa Cholodenko (Minhas Mães e Meu Pai), o gatilho desta série é um angustiante e minucioso retrato de uma das mais dolorosas violências contra mulheres.

Do outro lado dos Estados Unidos, três anos mais tarde, a detetive Karen Durvall (Merritt Wever) é chamada para investigar uma ocorrência semelhante: um estupro sem evidências, homem mascarado, fotografias e o relato de uma jovem universitária assustada com a sua fragilidade perante as imprevisibilidades da vida.

A diferença entre os dois casos é apenas uma: Durvall decide acreditar na garota oscilante à sua frente.

A partir deste ponto, a produção divide-se na investigação de um predador sexual meticulosamente cuidadoso e os desdobramentos da vida de Marie após ser acusada de falso testemunho.

Em tempos de diversos seriados investigação criminal, Inacreditável consegue destacar-se ao escolher uma abordagem mais empática às vítimas e ressaltar o encabeçamento de duas mulheres na investigação.

Vale apontar o esforço do time de roteiristas, liderados pela veterana Susannah Grant (Erin Brockovich, 2000), para criar uma trama de suspense policial, drama e superação.

Baseado no artigo jornalístico – posteriormente livro Falsa acusação: Uma história verdadeira – de T. Christian Miller e Ken Armstrong, a série apresenta diversos dados do alto índice de casos no país e uma perspectiva de como os crimes de injúria sexual são normalmente mal conduzidos ou relegados ao segundo plano.

Com uma condução semelhante aos sucessos Caçador de Mentes (2017-), da Netflix, e True Detective (2014-), da HBO, a produção apresenta um bom equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho das investigadoras Durvall e Grace Rasmussen (Toni Collette) nos envolvendo em seus percursos.

Com casos não elucidados parecidos, o caminho das policiais de diferentes distritos se cruza e a relação entre elas torna-se uma mistura de companheirismo e orientação.

A conjunção da amabilidade de Durvall com a animosidade Rasmussen resulta em momentos de ótimos diálogos e perspectivas distintas das mesmas questões. A construção de cada personagem é tão bem moldada que é difícil não envolver-se com a busca de cada uma delas, seja do pontapé inicial de convencer outras forças a concederem importância ao caso, seja das horas dedicadas à pesquisa de detalhes e privação de sono, todas as etapas são destrinchadas a fim de revelar as áreas cinzas de uma investigação.

Em uma narrativa paralela, está a jovem Marie fugindo de uma vida desastrosa e mergulhada em mágoas e frustrações.

Seu desenvolvimento é reforçado pelas vozes de outras vítimas que passaram a lidar com o cotidiano como uma árdua tarefa.

Fazer todos esses pontos se conectarem não é uma tarefa simples, mas Inacreditável consegue uni-los a um desfecho satisfatório.

Apesar de oito episódios, o ápice dessa impetuosa história é o sétimo ato, o qual abate o espectador com uma veracidade oposta a de uma possível dramatização exagerada das obras policiais.

Se por um lado, causa um ínfimo desapontamento, por outro nos mantém atados à realidade e à lembrança de uma adaptação de fatos.

Outro ponto forte da série é o desempenho das três protagonistas e suas avalanches de emoções.

Vista em Fora de Série (2019), Kaitlyn Dever surpreende em um papel devastador, em que reflete dor e injustiça.

A segunda surpresa é a atriz Merritt Wever – vista em participações em New Girl (2013) e Walking Dead (2015-2016) - com um misto de força e afago.

Toni Collette (Herediário) dispensa elogios pela sua entrega constante, desde O Sexto Sentido (1999).

Inacreditável é para ser visto de forma crédula e engajada, mesmo que o final soe como uma falácia por conta de toda iluminação ao redor do destino das protagonistas, sendo um precioso momento de gratidão e redenção.

O despreparo de policiais e autoridades sobre o tema, entretanto, persiste e a produção retumba como um grito uníssono de socorro contra aqueles que vagam pela ideia de “eu acho que eu posso fazer isso”.

GALERIA DE IMAGENS:
Crítica | Inacreditável – Série da Netflix retrata com empatia o abuso sexual





TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
INACREDITÁVEL
Gênero:
Crime Verdadeiro, Drama
Criado por:
Susannah Grant, Ayelet Waldman, Michael Chabon
Baseado em:
"Uma história inacreditável de estupro", de T. Christian Miller & Ken Armstrong
Elenco:
Kai Lennox como Steve Rasmussen
Dale Dickey como RoseMarie
Patricia Fa'asua como Becca
Charlie McDermott como Ty
Austin Hébert como Max Duvall
Hendrix Yancey como Daisy
Aubrey Fuller como Rosie
Omar Maskati como Elias
Compositor (es):
Will Bates
País de origem:
Estados Unidos
Língua (s) original (is):
Inglês
Produtor executivo:
Susannah Grant, Sarah Timberman, Carl Beverly, Lisa Cholodenko, Ayelet Waldman, Michael Chabon, Katie Couric, Richard Tofel, Neil Barsky, Robyn Semien Marie
Produtor (es):
John Vohlers, T. Christian Miller, Ken Armstrong, Kate DiMento, Chris Leanza
Cinematografia:
Quyen Tran, Xavier Grobet, John Lindley
Editor (es):
Jeffrey M. Werner, Keith Henderson
Nº de episódios:
8
Duração:
43-58 minutos
Estúdios:
Katie Couric Media, Timberman / Beverly Productions, Sage Lane Productions, CBS Television Studios
Exibição:
Netflix
Formato de imagem:
4K UHDTV
Formato de áudio:
Dolby Digital
Lançamento original:
13 de setembro de 2019

COTAÇÃO DO KLAU:



Nenhum comentário:

Postar um comentário