sexta-feira, 12 de julho de 2013

'O HOMEM DE AÇO': EM TRÊS ATOS, RESGATE DO SUPERMAN NAS TELONAS TEM ALTOS E BAIXOS, MAS É FIEL À LENDA COM VERDADE E MUITA AÇÃO


Sou suspeitíssimo para falar de Kal-El/Clark Kent/Superman - afinal, é o meu personagem de ficção favorito, disparado.

Em 1978, tinha 18 anos, ainda não tinha, nem vídeo cassete, muito menos DVD, quando fui nada menos que 43 vezes ao cinema ver 'Superman - O Filme', dirigido por Richard Donner, com a maravilhosa música de John Williams, protagonizado por um Christopher Reeve no auge - AINDA o melhor filme sobre o Superman já feito.

O Pôster do longa de 1978 - fotos dessa postagem: Arquivos do Klau e Divulgação/Warner Bros.

Reeve fez ainda mais três longas como o herói: 'Superman II: A Aventura Continua' (1980), apenas razoável; 'Superman III' (1983) e 'Superman IV: Em Busca da Paz' (1987), péssimos.

Mesmo assim, como a referência anterior que o público tinha do herói era a série de TV dos anos 50 protagonizada por George Reeves, Christopher Reeve ficou para sempre marcado no inconsciente de todos como 'a face do Superman'.

Somente em 2006 é que a Warner Bros. - detentora dos direitos do personagem para as telonas - se dignou a resgatar a saga do maior herói de todos os tempos, e o resultado foi pífio.

Mesmo com o diretor Bryan Singer sempre afirmando que tentou resgatar a aura mítica do longa de 1978, o resultado foi muito abaixo do esperado, principalmente pelo péssimo roteiro, pela absoluta falta de ação e pelo Superman mais sem sal de todos os tempos - Brandon Routh, ator medíocre, só interpretou o Super por ser extremamente parecido com Chris Reeve.

Um dos pôsters do longa de 2006

Nesse meio tempo, a Marvel vinha nadando de braçada com filmes bem feitos dos seus heróis, até a união de todos eles em 'Os Vingadores'.

Já a Warner/DC fracassou em suas tentativas de levar seus outros heróis às telonas e só acertou mesmo com a trilogia 'Batman', capitaneada por Christopher Nolan.

E foi esse mesmo Nolan quem deu o pontapé inicial para o resgate da saga do último filho de Krypton nas telonas, ao aceitar ser o todo poderoso produtor-executivo da última tentativa do estúdio de acertar,  antes de perder os direitos sobre o universo do personagem.

Pra começo de conversa, Nolan tratou de chamar um diretor - Zack Snyder, que vinha dos sucessos '300' e 'Wathmen' e é bom, tanto na direção de atores, quanto em cenas de ação.

Depois, colocou como roteirista chefe o mesmo David S. Goyer da trilogia 'Batman', aqui auxiliado por Kurt Johnstad.

Finalmente, Nolan e essa pequena equipe partiram para a escalação do elenco, tendo em mente os nomes estelares do icônico longa de 1978 - que tinha, entre outros, Marlon Brando, Glenn Ford e Suzanah York.

Assim, os superfãs foram sendo informados dia após dia que Russell Crowe faria Jor-El - pai biológico do herói -, Kevin Costner seria Jonathan Kent - o pai adotivo - , Laurence Fishburne seria o primeiro Perry White negro e Amy Adams daria vida a Lois Lane.

O elenco principal de 'O Homem de Aço"' posa junto pela primeira vez

Faltava escalar o protagonista e o antagonista - Superman e general Zod.

Para Zod, o escolhido foi Michael Shannon, ator americano de 38 anos que vinha de uma boa carreira nas telonas - 'Pearl Harbor', '8 Mile', 'Vanilla Sky', 'Revolutionary Road' - e que arrebenta na série  'Boardwalk Empire'.

Michael Shanon como Zod, em cena do longa

Para um personagem tão multifacetado como o protagonista, que começa sua saga como Kal-El, passa a ser Clark Kent e arrebenta como Superman, Nolan e sua equipe não poderiam errar como Bryan Singer errou em 2006.

Foi assim que Henry Cavill finalmente foi o escolhido.

Cavill é inglês, tinha 29 anos quando as filmagens começaram é é um senhor ator.

Se havia perdido o papel de Bruce Wayne/Batman para Christian Bale na trilogia 'Batman' e também o  de James Bond para Daniel Craig, sempre aos 45 do segundo tempo, desta vez Cavill - que nesse meio tempo vinha brilhando em filmes como 'Teseu', 'Imortais' e na aclamada série 'Os Tudors' - fez valer seu imenso talento e não só conquistou o papel, como assinou para repeti-lo em mais três filmes.

Henry Cavill: escolha perfeita para ser o protagonista

A Warner só pediu uma coisa a David S. Goyer: que ele resgatasse toda a grandeza da lenda do Superman, que estava comemorando 75 anos justamente agora.

O resultado disso tudo é 'O Homem de Aço', que chega finalmente hoje em 552 salas em todo o Brasil, um mês depois da estreia americana.

O resgate definitivo da saga do Superman pode ser dividido em três grandes atos:

ATO UM: A GRANDEZA DE KRYPTON

É nesse planeta que o brilhante cientista Jor-EL (Russel Cowe) e sua mulher, Lara (Ayelet Zurer) decidem ter um filho da maneira mais tradicional - com a mãe dando à luz - e é essa justamente a bela cena inicial do longa.

Há séculos, os bebês kryptonianos nasciam de uma grande matriz que os gerava, e eles já nasciam designados para suas profissões no futuro.

Jor-El, Lara e o recém nascido Kal

Jor-El e Lara queriam que o filho pudesse escolher seu futuro - uma coisa aparentemente simples e que ninguém mais para para pensar o quanto é importante.

Nesse meio tempo, Krypton está morrendo: o governo sugou quase toda a matriz energética do seu interior e o conselho de governantes não acredita quando Jor-El afirma que o planeta está próximo do fim.

Os fatos só se aceleram quando o General Zod (Michael Shannon) dá um golpe militar e tenta assumir o poder.

O visual de Krypton é impressionante, com seus computadores com imagens metálicas e escuras, seus dragões alados e suas naves e edificações com design retrô, tudo muito diferente do frio e dos cristais do planeta dos longas anteriores, usados inclusive na série 'Smallville' - eu nunca fui fã desse visual.

O planeta Krypton sofre uma tentativa de golpe de estado, e Jor-El - de costas - assiste à destruição provocada por Zod

Jor-El luta para salvar o legado de sua raça e a expectativa de consertar os erros do passado é transferida a seu filho - é esse legado que Zod vai atrás no terceiro ato e também é essa transferência que transforma Kal no real  'último filho de Krypton'.

Mais do que em qualquer outro filme do personagem, somos lembrados todo o tempo que Kal-El não é humano e a escalação de Crowe como Jor-El se justifica plenamente pelas cenas de ação que seu personagem faz.

ATO 2: KAL-EL TENTA ENCONTRAR SEU LUGAR NA TERRA

Pela primeira vez, não vemos os Kent resgatar Kal-El da espaçonave que despenca dos céus do Kansas.

Entre muitos flash-backs, vemos sua infância, os pedidos firmes do pai adotivo, Jonathan (Kevin Kostner) para que ele não demonstre seus poderes em público, a mãe Martha (Diane Lane) e sua fase andarilho pelo mundo, usando falsas identidades, trabalhando em sub empregos mas sempre ajudando a todos com seus poderes.

Clark em sua fase andarilho rouba roupas de um varal para ter o que vestir

Esse ato é o mais fraco dos três que compõe o filme, justamente porquê se os Kent moldaram a personalidade de Kal-El - agora Clark - com firmeza, bondade e principalmente, amor, que raios ele faz vagando pelo mundo tentando 'encontrar seu lugar'?

E isso mesmo depois da cena maravilhosa em que Jonathan mostra a um Clark pré-adolescente a nave que o trouxe, diz a ele que o futuro do planeta está intimamente ligado a ele, Clark responde com um "Vou continuar sendo seu filho?" e o pai responde: "Mas você é o meu filho!"

Jonathan mostra a Clark a espaçonave que o trouxe à Terra

Definitivamente, isso caiu  bem para um xarope da cabeça como Bruce Wayne, mas para um alienígena, um semi deus como Kal-El, fica forçado demais.

Como forçada é a morte de Jonathan em meio a um furacão, pedindo que Clark não o salve para não revelar seus poderes: o ataque do coração de todas as versões anteriores seria mais verdadeiro para provar que mesmo um ser com grandes poderes não pode auxiliar aqueles que ama todo o tempo.

O que salva o ato é Amy Adams: sua Lois Lane lembra muito a melhor Lois de todas - a interpretada por Phyllis Coates na série de TV dos anos 50.

Lois é uma jornalista destemida, já ganhadora de um prêmio Pulitzer, que peita sem dó nem piedade seu editor chefe, Perry White (Laurence Fishburne) e não tem escrúpulos em entregar sua história sobre um alienígena vivendo como humano na Terra para um jornalista de internet, quando White diz que não vai publicar sua matéria no 'Planeta Diário'.

Lois invade a sala de Perry, prestes a peita-lo

É através da sua reportagem investigativa que ela fica sabendo onde e quando  Clark passou, o que fez e no que trabalhou, até chegar à casa dos Kent no Kansas.

Se ela sabe desde aí que Clark Kent é Kal-El, essa aproximação só faz com que o amor que um sente pelo outro se torne maior e mais verdadeiro que nas versões anteriores.

ATO 3: ZOD E KAL-EL - O CONFRONTO FINAL

A descoberta por Kal-El da espaçonave kryptoniana no Ártico é o melhor dos achados do longa: a nave faz as vezes de 'Fortaleza da Solidão' tantas vezes vista no passado do herói e agora, a consciência de Jor-El interage, tanto com Kal, quando com Lois, o que garante veracidade às cenas.

A primeira cena de Kal vestindo a armadura azul e vermelha - um legado da Casa de El - saindo da nave em meio à neve é desde já uma das cenas mais bonitas do cinema em todos os tempos, com a imensa capa garantindo a nobreza do herói.

Superman sai da nave e o contraste da neve branca com sua armadura vermelha e azul transforma a cena em momento único

Como é muito emocionante a cena do primeiro voo do Superman, logo depois: se eu já tinha ficado embasbacado em 1978 - os efeitos especiais do voo levaram o Oscar de Efeitos Especiais - aqui não deu outra: chorei muito, emocionadíssimo, e voltei a chorar, nas outras duas vezes em que já revi o longa.

Nesse meio tempo, Zod foge com seu exército da Zona Fantasma e não só exige que a Terra entregue Kal-El, como, belicista, começa a destruir tudo o que vê pela frente, a começar por Smallville.

Poucas vezes o cinema de ação viu cenas de luta tão boas quanto as vistas aqui.

Elas duram cerca de 40 minutos, são extremamente realistas e fogem da coreografia ensaiadinha das lutas dos filmes da Marvel.

Em meio a tudo, Michael Shannon e Henry Cavill provam em cada fotograma que são os atores certos para Zod e Kal-El, e as cenas em que Antje Traue - a amante e imediata de Zod, Faora - e Amy Adams como Lois também aparecem fazem o filme valer a pena.

Superman acerta um cruzado de direita em Zod - e Metrópolis sendo destruída

O ato ainda dá tempo para Diane Lane brilhar como Martha Kent: ela peita Zod, elogia o filho vestido de Superman e ainda o faz lembrar que Jonathan já era orgulhoso dele transformado em herói desde criança - uma cena de Clark criança, brincando com um pano vermelho no pescoço e fazendo às vezes de capa é exibida sobre a fala de Martha, tornando a cena sen-sa-cio-nal.

Clark e sua mãe, Martha

Mas e o Clark Kent repórter do 'Planeta Diário'?

Ele aparece na última cena, chegando apressado à redação, de terno, com os icônicos óculos e sendo apresentado a Lois -  que, debochada, o recebe com um aperto de mão e um suspeitíssimo "Muito Prazer!".

Clark, com o visual em que se apresenta no primeiro dia de trabalho no 'Planeta Diário'

Se todo o longa é realista, isso é consequência de ter Christopher Nolan como produtor e também o fato de Snyder não explicar cada aspecto do personagem - como no caso do uniforme, simplesmente um legado da família de Krypton.

O longa é antes de tudo um drama de ficção-científica, focado em um alienígena que tenta encontrar seu lugar na Terra, com Henry Cavill como um sucessor digno de Christopher Reeve.

Assim, o herói pode ganhar profundidade, por meio de flashbacks que apresentam o passado de Clark no Kansas e a relação com os pais adotivos e se parte do público pode não se interessar por essas partes mais intimistas, as excepcionais cenas de ação devem empolgar, já que violentos combates não parecem coreografados e isso é uma bem vinda novidade ao gênero.

Hans Zimmer bem que tentou fazer sua parte com a trilha sonora, mas é uma pena que ela nem chegue aos pés da imortalizada por John Williams - o primeiro voo do Superman pedia o tema original.

A relação de Lois Lane e Clark Kent é muito realista e diferente do esperado e as atitudes do herói nem sempre são exemplos de integridade - ele tem de matar Zod para que este não destrua a Terra de vez - Smallville e meia Metrópolis já tinham ido pro vinagre.

A nave de Zod destruindo Metrópolis

O maior problema da produção são algumas falhas de roteiro: existem buracos já considerados comuns para filmes de super-heróis, mas o pior são as muletas utilizadas para avançar a trama.

Mesmo assim, nenhuma chega a ser tão problemática a ponto de acabar com a imersão do espectador - como aconteceu com o sofrível 'Homem de Ferro 3'.

Além disso, o tom dramático é por vezes exagerado, principalmente para o espectador acostumado com o universo Marvel.

Finalmente, é natural que um reboot com tantas novidades divida opiniões, porém não se pode negar que 'O Homem de Aço' é o segundo melhor filme do Superman de todos os tempos - o de 1978 continua imbatível.

A cena do beijo: casal com muita química

O longa mostra a força da DC e a capacidade de igualar o sucesso da Marvel nas telonas no futuro, ao criar um universo rico e compartilhado - tanto, que as filmagens de 'O Homem de Aço 2' já começam em janeiro do ano que vem.

Zack Snyder prova novamente que é um grande diretor de atores e de cenas de ação e faz aqui seu trabalho mais maduro.

A volta do Superman às telonas é assim coberta de êxito, uma obra visualmente bela, com interpretações inesquecíveis e que merece ser vista em Imax para o espectador apreciar  e poder mergulhar em toda a sua grandeza.

Confira o trailer do filme:

*****
'O HOMEM DE AÇO'
Título Original:
MAN OF STEEL
Gênero:
Ação
Direção:
Zack Snyder
Roteiro:
David S. Goyer, Kurt Johnstad
Elenco:
Amy Adams, Antje Traue, Ayelet Zurer, Christopher Meloni, Diane Lane, Henry Cavill, Kevin Costner, Laurence Fishburne, Michael Clarke Duncan, Michael Kelly, Michael Shannon, Roberta Chung, Russell Crowe, Sally Elting e outros
Produção:
Charles Roven, Christopher Nolan, Deborah Snyder, Emma Thomas
Fotografia:
Amir M. Mokri
Montador:
David Brenner
Trilha Sonora:
Hans Zimmer
Duração:
143 min.
Ano:
2013
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
12/07/2013
Distribuidora:
Warner Bros
Estúdio:
Atlas Entertainment / Legendary Pictures / Warner Bros. Pictures
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:

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