O Festival de Cinema de Berlim - um dos mais importantes do mundo - olha para o leste neste ano, com seis dos 19 filmes em competição produzidos ou baseados atrás da antiga Cortina de Ferro, enquanto dois filmes norte-americanos repletos de estrelas falam de grandes negócios - energia e a indústria farmacêutica.
O histórico do Irã em direitos humanos estará na telona durante as duas semanas da Berlinale - que começou no último dia 7 e vai até o próximo dia 17 - onde o clássico 'Os Flintstones' abre caminho para uma outra família da idade da pedra - "Os Croods", uma animação em 3D da DreamWorks.
Em sua 63ª edição, a Berlinale é um dos festivais de cinema mais importantes da Europa e gera um mercado em grande escala para a comercialização de novos filmes e documentários e a discussão dos que estão sendo produzidos.
Embora seja incapaz de atrair o número de estrelas e blockbusters de eventos similares em Cannes e Toronto, Berlim é uma introdução anual precoce a o que o cinema global tem a oferecer, e desfruta de uma reputação para filmes difíceis, que lidam com assuntos fortes.
"Quando se entra no Ano Novo, é importante que haja um grande festival internacional que estabeleça as bases para o ano", disse Michael Barker, chefe da Sony Pictures Classics, que levou "Before Midnight" para Berlim.
"Não acho que haja um conflito com o Oscar ou com Sundance, porque Sundance é um tipo bem diferente de festival", disse Barker, referindo-se ao festival criado por Robert Redford em Utah, em janeiro, que tem uma ênfase maior no cinema norte-americano.
A Europa do Leste está sob os holofotes de Berlim, com filmes em competição da região, incluindo "Child's Pose" - que fala sobre corrupção e classe na Romênia através da história de uma mãe endinheirada que tenta comprar a liberdade do filho condenado.
"Harmony Lessons" é a estreia no drama do cineasta cazaque Emir Baigazin, enquanto "In the Name of..." da Polônia fala sobre o delicado tema da homossexualidade no sacerdócio católico.
O ator norte-americano Shia LaBeouf interpreta Charlie em "The Necessary Death of Charlie Countryman" - sobre um jovem que viaja até a Romênia e se envolve em uma briga perigosa com um cartel de drogas.
"Promised Land", sobre a polêmica técnica de escavação para extrair gás - conhecida como "fracking" - com Matt Damon no elenco e dirigido por Gus Van Sant, também estará presente na Berlinale 2013.
O filme mais político do festival pode ser "Closed Curtain", codirigido pelo aclamado diretor iraniano Jafar Panahi.
Panahi, cineasta de 52 anos aclamado nos principais festivais internacionais de cinema por seus filmes corajosos de crítica social - proibidos no Irã - apresentará "Closed Curtain", um longa em que ele mesmo aparece.
Esta obra, codirigida por sua compatriota Kambozia Partovi, é muito esperada em Berlim.
Panahi foi detido em razão do documentário que estava rodando sobre os distúrbios ocorridos na eleição de Mahmud Ahmadinejad em junho de 2009.
Ele foi acusado de propaganda contra o regime e, depois de ser condenado à prisão domiciliar, foi sentenciado a seis anos de prisão, além de ter sido proibido de filmar durante 20 anos - o iraniano também não está autorizado a viajar.
Panahi dirigiu "O Balão Branco", "Sangue e Ouro", "O Espelho", "O Círculo" e ganhou o Urso de Prata em Berlim 2006 por "Fora do Jogo".
Ele é considerado um dos principais representantes da "nova onda" do cinema iraniano - ao lado de Abas Kiarostami, de quem foi assistente no começo de sua carreira.
Dentre os convidados neste ano para o festival, estão Isabella Rossellini, Matt Damon, Jude Law, Juliette Binoche, Nicolas Cage, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert e Christopher Lee.
Operários dão os últimos retoques no Palácio dos festivais, sede da Berlinale |
O único brasileiro na competição está na Seção Panorama: "Habi, a Estrangeira", de Maria Florencia Alvarez, um coprodução com a Argentina.
O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, ressaltou que as seleções paralelas permitirão descobrir o olhar ácido que lançam, em seus longas, os países do sul da zona do euro sobre a crise da dívida que os afetou duramente (como Grécia, Espanha e Portugal).
O longa "Gloria", do chileno Sebastián Lelio, é a única obra hispânica selecionada para o concurso oficial da Berlinale 2013.
"Gloria" é uma coprodução chileno-espanhola sobre uma mulher madura que encara o desafio da velhice.
No longa, atuam Paulina García e Sergio Hernández - Lelio já havia ganhado em setembro o prêmio Cine em Construção do último Festival Internacional de Cine de São Sebastião e ficou conhecido por seus filmes "A Sagrada Família", "Natal" e "O Ano do Tigre".
O diretor americano Steven Soderbergh apresentará o filme que anunciou como seu último "por muito tempo", "Side Effects" - thriller sobre farmacêuticos e um crime e onde Jude Law e Catherine Zeta-Jones encarnam psiquiatras e Rooney Mara é uma paciente desesperada.
O sul-coreano Hong Sang-soo, selecionado em Cannes 2012 por "Em outro país", apresentará sua última obra, "Nobody's daughter Haewon".
O diretor austríaco Ulrich Seidl apresentará "Paraíso: esperança", que completa sua trilogia, "Paraíso: Amor" - que concorreu em 2012 em Cannes - e "Paraíso: Fé" - que ganhou o prêmio especial do júri no festival de Veneza em 2012.
Outros filmes que concorrem neste ano na Berlinale são "Camille Claudel 1915", do francês Bruno Dumont, com Juliette Binoche; 'Um episódio na vida de Iron Picker', do bósnio Danis Tanovic; e o alemão "Gold", de Thomas Arslan, com a estrela Nina Hoss, aclamada por seu papel no ano passado em "Barbara".
O diretor chinês Wong Kar Wai presidirá o júri do 63º Berlinale e apresentará seu novo drama épico "The Grandmaster" na noite de abertura.
Exibido fora de competição, o longa é sobre a vida do mestre de kung-fu Ip Man.
Outros membros do júri são o ator americano Tim Robbins, a diretora iraniana Shirin Neshat, a grega Athina Rachel Tsangari, a cineasta dinamarquesa Susanne Bier, o diretor alemão Andreas Dresen e a cinegrafista americana Ellen Kuras.
O diretor francês Claude Lanzmann, autor de "Shoah", documentário sobre o extermínio de judeus, receberá um Urso de Ouro honorífico pelo conjunto de sua obra.
O 3D como é conhecido hoje pode ser recente, mas a tecnologia já existe há várias décadas.
Alfred Hitchcock (1899-1980), um diretor obcecado por truques e avanços que levassem mais público aos cinemas, decidiu filmar em 3D "Disque M para Matar", em 1954, mas a novidade, que fez estardalhaço ao ser adotada por filmes de terror como "A Casa de Cera", lançado um ano antes, caiu em desgraça com extrema rapidez.
Então, o suspense protagonizado por Ray Milland, Grace Kelly e Robert Cummings foi exibido em raríssimas sessões em 3D na época.
Grace Kelly e Robert Cummings, na cena de assassinato de "Disque M para Matar" - foto: arquivos do Klau |
A Berlinale, no entanto, exibirá o clássico em 3D - com o velho óculos com "lentes" em azul e vermelho - a Warner, nos Estados Unidos, lançou um blu-ray de "Disque M para Matar" no formato, ano passado, mas o disco também traz uma versão em 2D para quem não tem TV em 3D.
A iniciativa do Festival de Berlim faz parte da sessão Berlinale Classics, que também terá em sua programação cópias restauradas de "Sindicato de Ladrões" (1954), de Elia Kazan; "Cabaret" (1972), de Bob Fosse; "Era Uma Vez em Tóquio" (1953), de Yasujirô Ozu; e "Der Student von Prag", de Stellan Rye e Paul Wegener.
CONFIRA OS FILMES CONCORRENTES AO URSO DE OURO DA BERLINALE 2013:
"Camille Claudel 1915", de Bruno Dumont (França)
"A Long and Happy Life", de Boris Khlebnikov (Rússia)
"Prince Avalanche", de David Gordon Green (EUA)
"Side Effects", de Steven Soderbergh (EUA)
"Terra Prometida", de Gus Van Sant (EUA)
"'Elle s'en Va', de Emmanuelle Bercot (França)
"An Episode in the Life of an Iron Picker", de Danis Tanovic (Bósnia-Herzegovina)
"The Necessary Death of Charlie Countryman", de Fredrik Bond (EUA)
"Gloria", de Sebastián Lelio (Chile/Espanha)
"Gold", de Thomas Arslan (Alemanha)
"Layla Furie", de Pia Marais (Alemanha/África do Sul)
"Nobody's Daughter Haewon", de Hong Sangsoo (Coreia do Sul)
"Paradise: Esperança", de Ulrich Seidl (Áustria)
"Closed Curtain", de Jafar Panahi, Kamoziya Partovi (Irã)
"Child's Pose", de Calin Peter Netzer (Romênia)
"La Religieuse", de Guillaume Nicloux (França)
"Harmony Lessons", de Emir Baigazin (Cazaquistão/Alemanha)
"Vic et Flo Ont Vu un Ours", de Denis Côté (Canadá)
"In the Name of", de Malgoska Szumowska (Polônia)
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