domingo, 17 de fevereiro de 2013

'A HORA MAIS ESCURA': LONGA COM ALMA DE DOCUMENTÁRIO É O MEU FAVORITO DE 2013



É um longa de ficção, mas com uma senhora alma de documentário.

'A Hora Mais Escura' - novo longa de Kathryn Bigelow, vencedora do Oscar em 2011 por 'Guerra ao Terror' - desnuda com riqueza de detalhes e hiper realidade a caçada de uma década ao homem mais procurado do mundo, o terrorista Osama Bin Laden, mentor do maior atentado terrorista da história e responsável pela morte de mais de 3 mil pessoas nos Estados Unidos nos ataques de 11 de setembro.

O espectador é levado a conhecer, detalhe por detalhe, de toda a operação – repleta de tropeços - da inteligência norte-americana para chegar ao líder da Al-Qaida e, mesmo com todos os esforços humanos e econômicos que uma operação dessas exige, quando os militares americanos invadiram e mansão no Paquistão e eliminaram o terrorista, a CIA considerava apenas em 60% as chances dele estar na casa.

Ou seja, um dos maiores tiros no escuro da Humanidade, mas que acabou dando certo.

Cena do filme - fotos dessa postagem: Divulgação/Imagem Filmes
O longa foi feito para o espectador refletir e decidir - algo raro no cinema americano atual - e onde o roteiro - da diretora e co escrito por  Mark Boal  - revela o funcionamento da CIA real – bem distante dessa que vemos nos filmes de ação.

Objetivo como uma matéria jornalística, aqui qualquer possível reação emocional aos fatos apresentados não são norteadas pela direção ou pelo roteiro e opiniões sobre os acontecimentos e métodos utilizados no processo estão totalmente na mão do público.

A trama se inicia poucos anos depois do atentado, quando agentes da CIA torturam prisioneiros, submetendo-os a simulações de afogamento - em nenhum momento condena-se ou defende-se tais procedimentos, deixando ao espectador a reflexão sobre a velha questão: os fins justificariam os meios?

Submeter um ser humano à atrocidade da mortificação física e psicológica da tortura seria legítimo se o objetivo fosse capturar o mais perigoso terrorista do mundo e evitar mais mortes no futuro?

A resposta é sua, só sua, espectador.

O longa não contesta fatos ou os endossa, apenas os apresenta: as informações obtidas sob tortura foram importantes para reunir pistas que levaram a Bin Laden, mas não determinantes - longe disso.

Os atos desumanos da CIA foram proibidos por Barack Obama em 2009 e a agência teve de se virar com a boa e velha investigação - a soma das técnicas de trabalho resultou na morte de Bin Laden.

O fato, no entanto, é que os americanos chegariam lá sem ter torturado ninguém e essa percepção incômoda é a que levamos conosco ao longo do filme.

Cena do filme
A diretora Bigelow - aqui mais uma vez sen-sa-cio-nal - não julga quaisquer dos personagens, mais deixa espaço suficiente para que façamos nossa própria arbitragem diante dos muitos dilemas éticos que apresenta e não deixa que esqueçamos o horror perpetrado pela Al-Qaida: logo em sua abertura, o filme apresenta ao público o áudio real, sem imagens, de pessoas desesperadas diante da morte iminente nas torres ou nos aviões e isso não nos deixa esquecer o terror que Bin Laden e seus fanáticos infligiram a essas vítimas e ao mundo.

A protagonista é Maya (Jessica Chastain) , agente que chega a uma prisão secreta da CIA para observar os trabalhos do colega Dan (Jason Clarke), que interroga um detido relutante e que se recusa a falar - portanto acaba torturado.

A Maya que assiste ao interrogatório, impávida, mas sensibilizada, vai dando lugar a uma mulher dura e obsessiva, moldada pelas circunstâncias, num trabalho de evolução de personagem elogiável e poucas vezes visto nos últimos grandes filmes americanos - mérito de Jessica Chastain, sen-sa-cio-nal também e seguramente já uma das maiores e melhores atrizes da sua geração.

A cada ataque que se seguiu, incluindo os que resultam na morte de seus colegas - e um contra ela mesma -, Maya se torna mais obcecada e ciente de que é preciso eliminar o câncer de onde tudo isso resulta: Bin Laden.

Quando, depois de muito trabalho, descobre o possível paradeiro do terrorista, entre em ação o Time Seis, elite do SEALs, que parte do Afeganistão para invadir a casa onde supostamente estaria o terrorista - a sequência cinematográfica da invasão tem quase o tempo que a ação real durou: 49 minutos.

Jessica Chastain como Maya,  em cena do filme: sen-sa-cio-nal!
Num excelente trabalho de direção, Bigelow mostra como funciona uma operação de alto risco como essa: a elite da inteligência mundial – mesmo aos trancos e barrancos - descobriu o paradeiro do assassino e outra elite, a da Marinha dos Estados Unidos, eliminou o maior terrorista do mundo com um tiro de fuzil do rosto.

Na sequência final do filme, a agente Maya abre um saco para cadáveres usado para carregar tantos corpos de americanos, civis e militares, e mira a cara do alvo: missão cumprida.

Era preciso dar cabo de Bin Laden, era preciso dar uma resposta ao mundo e estes homens e mulheres, responsáveis por fazer o “trabalho sujo”, deram - à sua maneira, mas deram.

Se o mundo parece realmente respirar um pouco mais aliviado depois disso, o filme mostra tudo isso e é seguramente o melhor dos candidatos ao Oscar 2013, disparado.

Também não a toa, o longa foi indicado, em 2013, além da estatueta de Melhor Filme, aos Oscars de Atriz (Jessica Chastain), Roteiro Original, Edição e Edição de Som; já ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz - Drama (Jessica Chastain) e também foi indicado a Melhor Filme - Drama, Roteiro e Direção.

Em 2012, recebeu os prêmios de Melhor Filme, Direção e Fotografia da New York Film Critics Circle e também os prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz (Jessica Chastain) da National Board of Review (NBR).

Filmaço ao cubo.

Confira o trailer do filme:
*****
'A HORA MAIS ESCURA'
Título Original:
Zero Dark Thirty
Diretora:
Kathryn Bigelow
Elenco:
Ricky Sekhon, Jessica Chastain, Joel Edgerton, Scott Adkins, Mark Strong, Jennifer Ehle, Chris Pratt, Taylor Kinney, Kyle Chandler, Édgar Ramírez, Harold Perrineau, Frank Grillo e outros
Produção:
Kathryn Bigelow, Mark Boal, Megan Ellison
Roteiro:
Mark Boal
Fotografia:
Greig Fraser
Duração:
157 min.
Ano:
2012
País:
EUA
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Imagem Filmes
Estúdio:
Annapurna Pictures
Classificação:
16 anos
Cotação do Klau:

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