sábado, 16 de fevereiro de 2013

BERLIM 2013: OS GANHADORES, OS BRASILEIROS E RIVER PHOENIX


O 63º Festival de Berlim,  que aconteceu de 7 a 17 de fevereiro, teve o desfile de astros de sempre - Anne Hathaway e Hugh Jackman foram até à capital alemã apresentar 'Os Miseráveis', por exemplo - contou mais uma vez com a sentida ausência do cineasta iraniano Jafar Panahi - que continua preso pela ditadura do seu país -  teve uma profusão de filmes com mulheres como protagonistas absolutas - como o novo longa do brasileiro Bruno Barreto - e algumas preciosidades - como "Dark Blood", filme inacabado do astro americano River Phoenix. 

Nessa postagem, você vai ficar sabendo de tudo isso, bem como dos vencedores dos Ursos de Prata e de Ouro,  entregues na noite desse sábado (16).

Confira:

A disputa entre o romeno "Child's Pose" e o chileno "Gloria" pelo Urso de Ouro do 63º Festival de Cinema de Berlim terminou melhor para o primeiro.

O drama do diretor Calin Peter Netzer levou o prêmio máximo do evento alemão, cuja premiação aconteceu na tarde deste sábado (16), enquanto o segundo confirmou o favoritismo de sua protagonista, Paulina García, vencedora do Urso de Prata de melhor atriz.

Diretor romeno Calin Peter Netzer beija o Urso de Ouro, recebido pelo filme "Child's Pose", neste sábado (16) foto: Johannes Eisele/AFP
No entanto, o júri liderado pelo diretor chinês Wong Kar Wai preferiu diversificar suas escolhas e surpreendeu ao conceder o Urso de Prata de direção para o americano David Gordon Green, por "Prince Avalanche", e não teve nenhuma saída para premiar o melhor ator: o catador de sucatas Nazif Mujic, que interpreta ele mesmo no semidocumentário "An Episode in the Life of an Iron Picker", do bósnio Danis Tanovic - que também levou o Grande Prêmio do Júri, o que equivale ao segundo lugar da Berlinale.

O filme do Cazaquistão, "Harmony Lessons", que chegou a ser considerado forte candidato ao Urso de Ouro, precisou se contentar com um Urso de Prata por seu trabalho de câmera.

Já o iraniano "Pardé" ganhou o Urso de roteiro para manter o clima social da Berlinale, já que foi escrito por Jafar Panahi, em prisão domiciliar no Irã.

"Gloria", filme do chileno Sebastián Lelio - história de uma mulher de 58 anos, divorciada, que decide não ficar sozinha, saindo para dançar em busca de um novo amor - ganhou dois prêmios concedidos por júris independentes.

O filme de Lelio foi premiado pelo júri ecumênico e pela Associação de Cinemas de Arte e Cinema Experimental da Alemanha.

O diretor Sebastián Lelio na Berlinale 2013 - foto: AFP
Lelio expressou não apenas sua satisfação por estas duas distinções, mas também pela grande acolhida de crítica e de vendas que seu filme experimentou na Berlinale.
"Nunca imaginamos que íamos chegar até aqui. Estamos muito felizes. O filme teve muitas críticas favoráveis e foi vendido para todos os países do mundo. É mais do que esperávamos", declarou o jovem cineasta.

A Berlinale 2013 também assistiu á exibição do último trabalho de River Phoenix, um dos maiores atores americanos da sua geração e morto precocemente.

A história das filmagens de "Dark Blood", filme exibido na seleção principal do Festival - é muito mais interessante do que a obra em si.

Em 30 de outubro de 1993, Phoenix tinha acabado de rodar algumas cenas em estúdio com o diretor francês George Sluizer ("O Silêncio do Lago"), em Los Angeles - era o primeiro dia de filmagens na cidade após sete semanas no deserto de Utah.

Poucas horas depois, Sluizer recebeu um telefonema, onde diziam que seu protagonista, de apenas 23 anos, havia sofrido uma overdose de cocaína e heroína durante a madrugada na frente do Viper Room, casa noturna de Johnny Depp  e que servia de ponto de encontro dos jovens famosos em Hollywood.

Apesar de faltar só 11 dias para o encerramento dos trabalhos, o cineasta tinha reservado várias tomadas com close-ups de Phoenix.

Chegando à conclusão de que não haveria nenhuma possibilidade de salvar o filme, os produtores e Sluizer decidiram engavetar o projeto e receber o seguro - neste caso, a empresa seguradora ficou de posse da película e a guardou em um depósito na Inglaterra.

Em 1999, o cineasta soube que a companhia iria destruir os negativos, pois não queria mais arcar com as despesas do armazenamento.
"Eu estava morando em Amsterdã e descobri que queimariam o filme em dois dias", revela o diretor após a sessão do filme em Berlim.

"Precisei ser rápido e, apesar de não poder entrar em detalhes, eu roubei o negativo das mãos deles."

River Phoenix, em cena de "Dark Blood" - foto: The Hollywood Reporter
Mesmo assim, Sluizer não planejava completar o longa, só que, após um aneurisma quase matá-lo, em 2007, mudou de ideia.

"Fui desenganado pelos médicos. Era para eu estar morto, então disse que queria deixar 'Dark Blood' completo antes de morrer", confessa.

Quando o projeto ganhou sinal verde com fundos do governo holandês, recursos da própria produtora de Sluizer e dinheiro arrecadado no site de crowdfunding (financiamento coletivo) CineCrowd, o diretor decidiu substituir o vácuo das sequências de Phoenix com uma narração em off.

Houve um rumor de que Joaquin Phoenix, irmão de River, faria esse complemento, mas tanto o ator quanto o cineasta negam.

"Eu ouvi falar no projeto, mas não tenho nada a ver com isso", disse Joaquin, durante o Festival de Veneza em setembro passado.

"A posição da mãe de River é desejar boa sorte ao filme, mas não há envolvimento da família", explica o francês.

Por causa de questões legais com a posse dos direitos de distribuição, "Dark Blood" não pode ser lançado de forma comercial.
"Não há um acordo hoje. Essa companhia de seguros possui um filme entre suas ações, prédios e hotéis. Mas eles não se importam com cultura", reclama.

"Eles não vão liberar por menos de US$ 500 milhões."

Já o cinema brasileiro recebeu na sexta (15) o prêmio da Federação Internacional da Crítica (Fipresci), na categoria Fórum e também o Caligari, que distingue a inovação no âmbito cinematográfico - a revista "Film Dienst" concede este último.

"Hélio Oiticica", documentário dirigido por Cesar Oiticica Filho, sobrinho de Hélio Oiticica (1937-1980) é inteiramente consagrado ao artista brasileiro, um dos mais importantes do século 20 e fundador do movimento cultural chamado Tropicalismo.

O Brasil também esteve presente com o novo trabalho de Bruno Barreto que, depois de uma década produzindo comédias ("Voando Alto", "O Casamento de Romeu e Julieta") e denúncias disfarçadas de drama ("Caixa Dois" e "Última Parada 174"), voltou a realizar um bom romance para o cinema com "Você Nunca Disse Eu Te Amo", que teve première mundial no 63º Festival de Berlim.

Miranda Otto (à esq.) e Gloria Pires, em cena "Você Nunca Disse Eu Te Amo" - foto: divulgação
A história de amor visceral entre a poeta americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto) e a arquiteta e paisagista brasileira Lota de Macedo Soares (Gloria Pires) no Rio dos anos 1950 e 1960 foi recebida com aplausos na mostra Panorama (e com risos, por causa do excesso de patrocínios estampados na abertura).

Confira os premiados no 63º Festival de Berlim:

Urso de ouro de melhor filme: "Child's Pose", do romeno Calin Peter Netzer

Urso de prata - grande prêmio do júri: "An Episode in the Life of an Iron Picker", do bósnio Danis Tanovic

Urso de prata de melhor diretor: o americano David Gordon Green, por "Prince Avalanche"

Urso de prata de melhor atriz: a chilena Paulina García, por "Gloria", do compatriota Sebastián Lelio

Urso de prata de melhor ator: o bósnio Nazif Mujic, por "An Episode in the Life of an Iron Picker"

Urso de prata de contribuição artística: o cazaque Aziz Zhambakiyev, pela fotografia de "Harmony Lessons"

Urso de prata de melhor roteiro: o iraniano Jafar Panahi, por "Pardé"

Prêmio Alfred Bauer, em memória do fundador do festival, para um filme que abre novas perspectivas: "Vic + Flo Ont Vu un Ours", do canadense Denis Côté

Menções especiais: "Promised Land", do americano Gus Van Sant, e "Layla Fourie", da sul-africana Pia Marais

Prêmio de melhor obra-prima: "The Rocket", do australiano Kim Mordaunt

Menção especial: "The Battle of Tabatô", do português João Viana

Urso de ouro de melhor curta: "La Fugue", do francês Jean-Bernard Marlin

Urso de prata de melhor curta: "Die Ruhe Bleibt", do alemão Stefan Kriekhaus

Urso de ouro honorífico: o francês Claude Lanzmann.

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