sexta-feira, 8 de outubro de 2010

"TROPA DE ELITE 2": MELHOR QUE "TROPA 1"

Em "Tropa de Elite 2", a história trágica de Roberto Nascimento se repete.

Agora, o personagem criado pelo diretor José Padilha - e interpretado com rara maestria por Wagner Moura - reaparece dez anos depois primeiro como comandante do Bope e, logo em seguida, a subsecretário de Segurança Pública.

Foto: Bento Marzo/ DivulgaçãoRafael - Pedro Van-Held - e Nascimento - Wagner Moura - que agora aparece mais velho e com um filho adolescente - em cena do filme

Nascimento se vê mergulhado no retrato mais amplo de uma máquina de corrupção perversa, um inferno do qual parece não haver saída.

Padilha teve a chance de fazer correções de curso, como elaborar o argumento e o roteiro do zero em torno de Nascimento, e não de outro personagem, o que lhe economizou noites de insonia em frente a ilha de edição, imaginando soluções para corrigir os problemas narrativos do primeiro filme.

Esse cuidado tornou a segunda parte mais consistente e coesa, abrindo espaço para novos personagens, como o militante de direitos humanos Diogo Fraga, interpretado magistralmente por Irandhir Santos.

Se no primeiro "Tropa de Elite" essa brecha narrativa abria espaço para interpretações dúbias sobre a visão crítica e desesperançada de Padilha, no "2" não há espaço para dúvidas ou ambiguidades, já que tudo está às claras, acompanhado de velhos - "Bandido bom é bandido morto" - e novos - "Porrada neles" - bordões.

Alexandre Lima / DivulgaçãoIrandhir Santos interpreta Diogo Fraga, defensor dos direitos humanos.

Prova disso está na reação do público que lotou o Theatro Municipal de Paulínia na pré estreia na última terça feira, formado por jornalistas, exibidores e uma parcela de convidados do município.
Dois momentos de alívio cômico, no início do filme, seguidos de risadas espontâneas. E pelo menos três momentos de aplausos em cena aberta, quando Nascimento resolve agir movido por uma quase tragédia que o atinge pessoalmente.

Padilha sai do micro para o macro, reposiciona atores - Milhem Cortaz, André Ramiro - da primeira parte em papéis mais elaborados e incorpora novos atores - Seu Jorge - em papéis estratégicos, para tornar o cenário mais verossímil e chocante.

O que não muda é a visão do diretor - que continua a mesma -, apesar de toda cautela na abordagem da violência, o o mesmo vale também a maneira como o publico, por mais seleto e envolvido que possa ser o dessa primeira sessão, percebe essa visão, um tanto simplificada, de como se estabelece um estado de coisas em que os fins continuam justificando os meios.

DivulgaçãoSeu Jorge, no papel do bandido Beirada

Afinal,essa é a premissa de "Tropa de Elite 2": você pode tirar o capitão Nascimento do Bope, mas não pode tirar o Bope do Capitão Nascimento.

O maior lançamento para um filme brasileiro até agora promete - como o primeiro filme de 2007 -, ser uma das maiores bilheterias nacionais do ano, além de causar muita polêmica e até algum debate.

A controvérsia do segundo filme persegue aquela causada pelo primeiro que em 2008 levou o Urso de Ouro - prêmio máximo do festival de Cinema de Berlim.

Há questionamentos sobre o papel do governo, da miséria e do tráfico na violência no Rio de Janeiro e no Brasil.

Não por acaso, numa das cenas em que os personagens vão ao cinema, todos os filmes em cartaz são do diretor Costa-Gavras, presidente do júri de Berlim que consagrou o primeiro "Tropa de Elite".

O filme abre com um letreiro alertando o espectador que, "apesar das possíveis coincidências com a realidade, esta é uma obra de ficção", uma leve pitada de cinismo que parece dissolver-se ao longo das duas horas de boa e velha ultraviolência que, com jorros de sangue e cadáveres sortidos, parece materializar um desejo inconfesso de parte da platéia.

Nascimento - o bem acima da média Wagner Moura, que acaba de ser premiado no Festival do Rio como melhor ator em "VIPs" - já não usa mais a farda preta do Bope, e agora passa a usar o terno e a gravata quando é promovido ao posto de sub-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, numa manobra do governo populista.

Como no "Tropa 1", uma narração em off reitera e explica tudo aquilo que é visto, num didatismo meio chato, como se o diretor José Padilha não acreditasse apenas nas imagens e precisasse verbalizar a ação para que tudo fique bem claro, especialmente nas primeiras cenas, quando introduz o ativista Diogo Fraga - o ótimo Irandhir Santos, de "Quincas Berro D'água" -, apresentado como um intelectual de esquerda, adorado pelos maconheiros de plantão.

A grande ironia é que a ex-mulher de Nascimento - vivida por Maria Ribeiro -, é casada com Fraga, o avesso de Nascimento, que agora é coronel.

Mathias - André Ramiro -, personagem marcante de "Tropa 1", é preparado por Nascimento para substituí-lo, e traz a ideologia do Bope nas veias ao ignorar a hierarquia, o que acaba causando um massacre em Bangu, dando início à trama de "Tropa 2".

As trajetórias de Nascimento e Fraga caminham para um amálgama, e poderia ser a humanização do primeiro e o endurecimento do segundo.
Só que o ativista - eleito deputado -, sempre é tratado como um fraco diante das atitudes extremadas do coronel.

Nascimento até tenta não baixar a cabeça para o jogo político do governador e dos deputados que o usam como marionete, mas seus métodos, eficientes apesar de questionáveis, lhe dão notoriedade e legitimidade.

"Se o eleitor estava dizendo que eu era herói, não ia ser o governador que ia dizer o contrário", diz.

O inimigo maior, porém, são as milícias criadas e sustentadas por policiais corruptos, que operam um esquema de segurança informal, tomando o lugar dos traficantes à custa de muito medo, e tudo isso é usado numa eleição, envolvendo governador e deputados.

O diretor Padilha alega que seja apenas uma coincidência a chegada do filme aos cinemas depois da reeleição de alguns governadores, e às vésperas do segundo turno.

No roteiro - de Padilha e Bráulio Mantovani -, temos frases de efeito - como "faca na caveira e porrada na vagabundagem" ou "terrorista não é gente" - que saem da boca de um apresentador de TV espalhafatoso, enquanto Nascimento medita sobre os bastidores do poder e a corrupção.

Uma nota de desesperança permeia todo o filme e se concretiza no final, quando parece não haver solução para o país.

"No Brasil, eleição é negócio e o voto é a mercadoria mais valiosa da favela", diz o ex-capitão do Bope, que descobre isso a duras penas, ao perceber que algumas instituições em que acreditava são passíveis de corrupção.

DivulgaçãoNascimento é o responsável pelo crescimento do BOPE, que agora é uma máquina de guerra

A ele não resta muita opção se quiser mudar o país, e agora, todos se perguntam qual será o próximo passo do coronel Nascimento.

Talvez na próxima eleição pra presidente...

Confira o trailer do filme:


"TROPA DE ELITE 2"
Título original: Tropa de Elite 2
Diretor: José Padilha
Produção: Zazen Produções
Elenco:
Wagner Moura
Seu Jorge
Tainá Müller
André Ramiro
Maria Ribeiro
Milhem Cortaz
Rod Carvalho
Pedro Van-Held
Gênero: Ação, Policial
Duração: 115 mins, que passam rápido demais
Ano: 2010
Data da Estreia: 08/10/2010
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
País: Brasil
COTAÇÃO DO KLAU:




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