sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"COMER, REZAR,AMAR": VEÍCULO PARA JULIA ROBERTS BRILHAR

Inspirado na trama autobiográfica de Elizabeth Gilbert, o filme "Comer, Rezar, Amar" conta as aventuras da escritora de sucesso de livros de viagem Liz Gilbert - interpretada por Julia Roberts - quando ela deixa o marido, Stephen - Billy Crudup, de "Watchmen - O Filme".

Depois de oito anos, envolve-se com um ator mais jovem e dado ao misticismo hindu - o delicioso James Franco, de "Milk" - e arremata a virada por uma longa viagem de um ano, entre Itália, Índia e Bali.

Na verdade, a viagem representou muito menos uma aventura do que parece, já que, na vida real a autora financiou-a com um adiantamento pelo futuro livro, que se tornou um bestseller lançado em cerca de 30 países, inclusive no Brasil.

Julia é uma atriz espertíssima: identificada com a personagem, enxergou o alto potencial da história para se tornar um veículo para sua volta a um papel feminino de alto impacto.

Depois de um tempo cuidando dos três filhos pequenos, Julia já tinha voltado ao cinema como uma espiã em "Duplicidade" (2009).
A verdade é que, para ela, interpretar Liz Gilbert não representa nenhum desafio.

Foto: Columbia Pictures/DivulgaçãoJavier Bardem e Julia Roberts, em cena do filme

No papel da divorciada em crise de identidade, a atriz apenas faz uso do seu arsenal de rotina para obter uma esperada boa bilheteria, que até agora não foi assim tão grande - nos Estados Unidos, até o último fim de semana (24 a 26 de setembro), o filme tinha acumulado cerca de US$ 79 milhões, recuperando com alguma folga o orçamento estimado em US$ 60 milhões.

A falta de elementos realmente novos está em todos os detalhes da história, e, embora não seja assim tão comum uma mulher bem-sucedida jogar para o alto um casamento estável como faz Liz com o apaixonado Stephen, nem por isso sua personagem chega a ser uma heroína feminista.

Com roteiro assinado pelo diretor Ryan Murphy e por Jennifer Salt, dirigido por Ryan Murphy - das séries "Nip/Tuck" e "Glee" -, e produzido pelo astro Brad Pitt para a Columbia Pictures, a ação realmente começa quando Liz desembarca na Itália.

Essas viagens da protagonista tem a função de encher os olhos do espectador - não faltam belas paisagens, com direito a todos os cartões postais que uma Roma ensolarada pode oferecer.

Nem tudo a respeito dos romanos é real, muito menos positivo.
Liz aluga um quarto numa velha casa na capital italiana que nem água quente tem - para um banho morno, ela precisa esquentar a água numa chaleira no fogão, em plenos anos 2000.

Os clichês sobre a Itália aparecem às dezenas: homens conquistadores e bons vivants, todo mundo no "dolce far niente",e o que mais se faz é comer...espaguete!

Lógico, a imprensa italiana fez o costumeiro estardalhaço, dizendo que isso poderia ter acontecido durante a Segunda Guerra Mundial, há mais de 60 anos, e não no limiar desse século.
E a Era Berlusconi? E a economia italiana naufragando? Isso os tão vigilantes italianos, lógico, nada disseram, e nem o filme mostra.

A passagem pela Índia é chatérrima, e fica difícil acreditar numa Liz mística, morando numa espécie de mosteiro, onde ela limpa o chão, acorda de madrugada para meditar e leva broncas de outro americano igualmente chato, Richard - Richard Jenkins, de "Queime Depois de Ler" - tudo parecendo mais uma temporada no inferno do que uma jornada em busca da paz interior.

Finalmente chegamos ao capítulo do amor, na paradisíaca Bali, que Liz já visitou antes, onde conheceu o seu velho guru, Ketut - Hadi Subiyanto.

Nesta segunda vez a estadia começa mal, com Liz sendo atropelada quando andava de bicicleta por um distraído brasileiro, Felipe - o "Sr. Penélope Cruz" Javier Bardem - um acidente que se transforma depois em namoro firme entre os dois divorciados.

Os brasileiros vão estranhar, e muito, o sotaque sofrível do acima da média Bardem quando fala português e a afirmação, feita por Liz a partir de conversas com o namorado, de que aqui no Brasil é normal e corriqueiro que os pais beijem os filhos na boca.

Nessa "fase Bali" do filme, fica mais evidente que ele não é mesmo um retrato fiel dos países que visita.
Me lembrou muito as "saladas geográficas" que os filmes de James Bond sempre fazem - em "Moonraker" (1979), Bond está numa lancha no Amazonas, e despenca cataratas do Iguaçú abaixo!

Nosso país aparece melhor nesse filme ao incorporar à trilha música e músicos de alta qualidade, fazendo uma ponte com a Bossa Nova: "Samba da Benção", de Vinicius de Moraes e Baden Powell, na voz de Bebel Gilberto, e "Wave", de Tom Jobim, cantada por João Gilberto, que também é ouvido interpretando 'S Wonderful, de George & Ira Gershwin, com arranjo de Gilberto.

Ao final da projeção - longuíssima, o filme tem 140 minutos - fica a sensação de que faltou muita coisa, já que a ação, excessivamente centrada na protagonista e sua interminável crise de identidade, dura tempo demais, e os clichês sobre as pessoas e povos que ela encontra comprometem a credibilidade da história, por mais que se permita piadas e licenças poéticas.

No final, Liz parece apenas percorrer as etapas previamente demarcadas de um roteiro de autoajuda, superficial como é tudo que se refira a autoajuda.

Elizabeth Gilbert deve estar rindo à toa com o sucesso mundial do seu livro e agora do filme baseado nele.

Veja o trailer do filme:


COMER, REZAR, AMAR
Título Original:
Eat Pray Love
Direção: Ryan Murphy
Roteiro: Ryan Murphy - Jennifer Salt
Produtor: Brad Pitt
Estúdio Produtor: Columbia Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Elenco:
Julia Roberts
James Franco
Richard Jenkins
Viola Davis
Billy Crudup
Javier Bardem
Gênero: drama
Data de estreia: 01.10.2010
Cor: Colorido
Duração: intermináveis 140 minutos
País: EUA
COTAÇÃO DO KLAU:


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