segunda-feira, 4 de outubro de 2010

AS ELEIÇÕES E OS DINOSSAUROS DA POLÍTICA, FINALMENTE EXTINTOS

Ontem, o Brasil teve a sua sexta eleição presidencial seguida, que marca a consolidação do regime democrático, apesar de todas as suas imperfeições.

O Brasil vive em democracia desde 1985, e lá se vão 25 anos depois dos 21 anos da ditadura militar que começou em 1964.

Antes da ditadura, tivemos liberdade política de 1945 a 1964, mas foram realizadas nesse período só quatro eleições presidenciais.

Nesse tempo, o país, de fato, amadureceu.

Em 1989, era comum circular o diz-que-diz sobre ameaça dos militares tomarem o poder após a eleição.

Em 1994 e 1998, o PT tentava se destacar num mundo pré-queda do Muro de Berlim, fazia campanha contra o Plano Real, e atucanada se acostumou com o adversário fraco.

Em 2002, tucanos quiseram impor a polarização, na base do "ou nós ou o caos", a estratégia do medo fracassou, e Luiz Inácio e o PT chegaram ao poder, mergulhando de cabeça em mensalões e aloprados.

Mesmo assim, o eleitor foi generoso em 2006 e deu a Luiz Inácio mais quatro anos.

Nas eleições atuais, mesmo com um debate longe de ser o ideal, o Brasil teve três candidatos com chances de chegar ao Planalto que poderiam com folga disputar o cargo de presidente de qualquer país do planeta.

Lógico, ainda há muito a fazer.

Nosso Congresso continua distante da vontade popular e continua aprovando leis esdrúxulas.

A Justiça, que deveria arbitrar tudo isso, principalmente o STF, é covarde.

Só não existe dúvida de que a democracia está aí, vigorosa, fazendo do Brasil um país melhor.

Quanto à eleição de ontem, o encolhimento na candidatura de Dona Dilma foi maior do que as pesquisas realizadas nos dias anteriores conseguiram captar.

Serra Nomuro Malafaia se beneficiou, sobretudo, da arrancada final de Tia Marina Silva Clorofila ex-Malafaia, que atingiu quase 20% dos votos válidos e, no Nordeste, teve um desempenho bem acima do esperado.

Porém, a tal "onda verde" não foi o único fator que desgastou Dona Dilma, já que também houve uma onda tucana na reta final, particularmente expressiva em São Paulo, onde as pesquisas projetavam até a véspera uma vitória de Dona Dilma, e onde Serra Nomuro derrotou a petista em casa, o maior colégio eleitoral do país.

Mesmo não liquidando a fatura ontem, Dona Dilma segue até o próximo dia 31 como favorita para vencer no segundo turno, mas terá de administrar a frustração de um resultado pra lá de amargo, já que o clima de "já ganhou" contaminou não só a candidata e seu padrinho Luiz Inácio, como a base de sustentação e a militância petista.

Como em 2002, contra Luiz Inácio, Serra Nomuro parte para o segundo turno como azarão, mas desta vez, ressuscitou literalmente das cinzas, já que sua morte política foi decretada sucessivas vezes - inclusive por gente do seu próprio partido - no decorrer da campanha.

E eu ressalto aqui um senhor exemplo de lealdade, e posso falar com a convicção de que nem nele votei: Foi simplesmente emocionante o apoio dado ao Serra Nomuro, do começo ao fim da campanha até ontem, pelo governador eleito de SP Geraldo TFP Alckmin.

Quanto praticamente todos os tucanos de alta plumagem - como Aécio, FHC, Artur Virgílio, Tasso Jereissati e Sérgio Guerra - fingiam que o apoiavam, Alckmin estava com o candidato à presidente o tempo todo, inclusive ontem, dia da votação.

Num meio alimentado por falcatruas, desmandos e maus exemplos, Alckmin nos deu um senhor exemplo de lealdade.

Agora, mais do que conseguir o apoio formal de Tia Marina, as campanhas terão de mapear e conquistar os seus eleitores, do evangélico aos jovens ricos e instruídos dos centros urbanos, um eleitorado heterogêneo.

Segundo o Datafolha, 50% dos eleitores de Tia Marina vão agora de Serra Nomuro, enquanto 29% vão de Dona Dilma.

Os 21% restantes, por enquanto, não vão com nenhum dos dois, e a única certeza, hoje, é que a disputa será muito mais difícil do que parecia.

E para encerrar, é bom constatar que, se o palhaço Tiririca foi o campeão de votos em São Paulo, e os ex-boleiros Romário e Danlei também foram eleitos no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul respectivamente, figuras igual ou tão mais exóticas, como o pugilista Maguila, a prostituta Mulher Pera, os ex-boleiros Marcelinho Carioca, Vampeta e Dinei, e o pagodeiro espancador de mulheres Netinho de Paula, não foram eleitos.

E foi um avanço democrático que figuras execráveis da política, como Artur Virgílio, Marco Maciel e Romeu Tuma - que não foram reeleitos - e Cesar Maia - que passou longe do senado - voltem finalmente ao parque dos dinossauros, de onde não devem sair nunca mais.

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Confira essa coluna, já postada em vídeo, no YouTube e no UOL:

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