quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

'1917': SAM MENDES FAZ MAIS UM FILME DE GUERRA - MAS ELE É ESPETACULAR


SINOPSE:

Os cabos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) são jovens soldados britânicos durante a Primeira Guerra Mundial.

Quando eles são encarregados de uma missão aparentemente impossível, os dois precisam atravessar território inimigo, lutando contra o tempo, para entregar uma mensagem que pode salvar mais de 1300 colegas de batalhão.

CRÍTICA:

O cinema é uma arte das mais nobres - e filmes como 1917, que finalmente estreia hoje aqui no Brasil, nos ajudam a lembrar disso.

Ao misturar entretenimento com conteúdo, o longa escrito e dirigido pelo cineasta Sam Mendes (Beleza Americana e dois 007 no currículo) demonstra com maestria que Hollywood ainda pode entregar boas surpresas, se os estúdios tiverem plena confiança em realizadores de talento e audácia.

Mais um 'filme de guerra'?

Sim - e o gênero pode parecer reciclagem devido à narrativa e conteúdo.

Aqui, por exemplo, são inconfundíveis certas semelhanças de roteiro com O Resgate do Soldado Ryan (fazer tudo para encontrar uma única pessoa no caótico cenário da guerra), Apocalypse Now (novamente, encontrar e transmitir uma mensagem a uma única pessoa numa descida ao inferno) e Nascido para Matar (o transitar por lugares devastados, precisando matar enquanto pondera-se o sentido de tudo).

Só que ver Mendes trabalhando o tema é ver um cineasta no auge de sua arte, dando tudo de si, e entregando verdadeiramente novidades.

Todo ano temos aquele filme que parece chegar atrasado na festa das premiações, depois que quase todas as cartas já estão marcadas - esses filmes geralmente costumam ser o ponto alto da festa, aquele longa que ninguém conhecia e havia visto, mas que sai arrebatando a todos, passando por cima dos demais.

1917 é este filme: até o Globo de Ouro, ninguém levava fé em mais um filme de guerra e após a vitória, o boca a boca pelo longa cresceu.

Todos estavam certos, já que a produção é impressionante.

A venda de 1917 não foi fácil: uma grande produção sem nomes reconhecíveis como protagonistas, que espera fazer barulho nas bilheterias.

Aqui, os “astros” aqui são mesmo o diretor, o próprio filme e, claro, sua potente história – baseada nas experiências reais de Alfred H. Mendes, avô do cineasta, que o inspirou a assumir pela primeira vez a tarefa de roteirista.

Desta forma, o envolvimento do realizador se torna pessoal, surgindo como uma declaração, um atestado, transcendendo aspirações meramente artísticas.

Criativo como nunca, Mendes abraça o tema com a validação de quem esteve (mesmo que através de sangue) envolvido involuntariamente em meio a esta imensa insanidade.

O coração de 1917 pode não ser sua parte técnica, mas todo o resto sim.

Na verdade, o filme é muito vendido através de sua narrativa vistosa - o que mais se fala sobre o longa é a sua filmagem quase sem cortes.

A ideia é apresentar o filme como sendo apenas um longo plano-sequência, uma tomada só sem cortes.

É claro que tal feito para uma produção desta magnitude seria impossível e, assim Mendes adere à escola de Alfred Hitchcock em Festim Diabólico (1948), reprisada por Alejandro Iñárritu (Birdman, 2014) e Sebastian Schipper (Victoria, 2015), cortando estrategicamente em trechos específicos, de forma quase imperceptível.

Na trama, dois jovens soldados na Primeira Guerra Mundial, interpretados por George MacKay (o filho mais velho de Capitão Fantástico, 2016) e Dean-Charles Chapman (de Game of Thrones), são incumbidos de uma missão quase suicida: encontrar, em meio ao monstruoso conflito, um oficial e transmitir-lhe uma carta com ordens de cessar um ataque – uma armadilha inimiga.

De forma episódica, a dupla vai pulando de evento em evento, passando por uma mina escura repleta de ratos explosivos, uma ponte caída, quedas de corredeiras, trincheiras, aviões despencando e quase os acertando, encontros com aliados e por aí vai.

Um exercício virtuoso que nos imerge na experiência, nos fazendo experimentar esta jornada repleta de adrenalina.

Além de todas as suas qualidades, o longa se mostra atual: quando achávamos que havíamos aprendido com os horrores das guerras, a humanidade cisma em regredir, querendo repetir erros passados devido à ganância, arrogância e intolerância de homens poderosos.

Só por isso, já torna 1917 um dos grandes filmes do ano.

OSCAR 2020 - INDICADO A:
Melhor Filme
Melhor Diretor - Sam Mendes
Melhor Trilha Sonora Original - Thomas Newman
Melhor Roteiro Original - Krysty Wilson-Cairns, Sam Mendes
Melhor Fotografia - Roger Deakins
Melhor Mixagem de Som - Mark taylor
Melhores Efeitos Visuais - Guillaume Rochero
Melhor Direção de Arte - Dennis Gassner
Melhor Maquiagem e Penteado - Naomi Donne
Melhor Edição de Som - Oliver Tarney

GALERIA DE IMAGENS:



1917 : Foto George MacKay

1917 : Foto Richard Madden

1917 : Foto Dean-Charles Chapman

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
1917
Título Original:
1917
Gênero:
Drama
Direção:
Sam Mendes
Elenco:
Adrian Scarborough, Andrew Scott, Anson Boon, Benedict Cumberbatch, Chris Walley, Colin Firth, Daniel Mays, Dean-Charles Chapman, George MacKay, Gerran Howell, Jack Shalloo, Jamie Parker, Justin Edwards, Mark Strong, Michael Jibson, Nabhaan Rizwan, Richard Madden, Richard McCabe, Robert Maaser, Tommy French
Roteiro:
Krysty Wilson-Cairns, Sam Mendes
Produção:
Callum McDougall, Jayne-Ann Tenggren, Michael Lerman, Pippa Harris, Sam Mendes
Fotografia:
Roger Deakins
Trilha Sonora:
Thomas Newman
Montador:
Lee Smith
Estúdio:
Amblin Partners, Neal Street Productions
Distribuidora:
Universal Pictures
Ano de Produção:
2019
Duração:
119 min.
Estréia:
23/01/2020
Classificação Indicativa:
14 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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