segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

'ILHA DE FERRO'; CRÍTICA DA SEGUNDA TEMPORADA

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Apesar da super produção, segunda temporada reforça a opção pela violência como recurso dramático único
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SINOPSE E DETALHES:

A primeira temporada de Ilha de Ferro foi um imenso sucesso para o Globoplay.

A série foi apontada pela revista Variety como uma das melhores produções do mercado internacional e com a promessa de leva-la à TV aberta em seguida, as perspectivas eram as melhores possíveis.

Essa atenção também foi tudo que a equipe criativa da série queria para mantê-la sempre no topo da dramaticidade.

CRÍTICA:

Se no primeiro ano, o excesso de drama, de tragédia e de grosseria da série já era grande, com essas aprovações vindo de todos os lados, era de se esperar que a segunda temporada viesse disposta a dobrar a receita - e ela dobrou.

Tudo na concepção de Ilha de Ferro já era problemático desde o começo.

A Globo (como um todo) inaugurou um novo filão - copiado do começo da HBO não só aqui mas em outras séries: disfarça o roteiro fraco com o máximo de recursos visuais possíveis, deixando para trás a atenção ao conteúdo.

Foi assim em O Matador, O Canto da Sereia, Amores Roubados, Onde Nascem os Fortes, Supermax, entre outros.

O Globoplay reflete o mesmo problema, que em Ilha de Ferro fica mais evidente do que em qualquer outro título.

Aqui, logo no começo, o espectador é levado para a prisão onde o irmão de Dante (Cauã Reymond) está preso.

Estruturalmente falando, mesmo estando numa série sobre uma plataforma de petróleo, é normal que a narrativa deslize em outras direções por algum tempo.

Só que aqui, a fragilidade de sua ideia é tanta que os roteiros procuram qualquer desculpa para passar o máximo de tempo possível em terra.

Assim, assistimos a um episódio inteiro dentro da tal prisão, depois na perseguição de um grupo de bandidos, depois em um sequestro (recurso preferido dos roteiristas do time da Globo).

É perceptível que os envolvidos se acham ousados ao resolverem o destino de Bruno (Klebber Toledo), quando, na verdade, eles estão apenas substituindo-o pelo novo personagem, Playboy (Erom Cordeiro).

O primeiro episódio já começa com Dante lidando com a perda da personagem de Sophie Charlotte, uma ausência que poderia parecer um sinal de que os roteiristas haviam reconsiderado sua posição, já que a atriz era a que mais sofria dessa obsessão trágica.

Contudo, em cinco minutos a história já está tomada de enredos de risco, gritos, palavrões, peles suadas e gente infeliz, muito infeliz.

É provável que os envolvidos achem que os protagonistas erráticos de séries como House, Mad Men e Sopranos merecem sua versão nacional, o que explicaria o empenho em transformar Dante num dos seres humanos mais desprezíveis que a televisão já viu.

E o pior: sem nada do carisma que os anti-heróis citados conseguiam ter.

Reymond se entrega a isso com força total, sendo o comedor implacável, o corajoso decidido e o sofredor hesitante.

Ele olha para tudo como se estivesse morto, o que condiz com a falta de humanidade absoluta de seu personagem.

Há outros que ganham destaque nessa temporada, mas todos eles são igualmente rasteiros ou reproduções dos que ficaram para trás.

Olívia (Mariana Ximenes), inclusive, em determinada cena chega a tentar se passar pela personagem de Sophie, enquanto a direção e o roteiro a levam para o mesmo caminho onde estão todos os outros: traumas e dores e lágrimas que possam brilhar na luz e borrar maquiagens.

Aqui, o maior problema é sem dúvida sua inexistente progressão dramática.

A narrativa sempre começa tão no topo das tensões que não existe para onde crescer.

A plataforma de petróleo é um lugar terrível, demonizado, onde todos trabalham de cara feia e onde a “beleza” se esconde em recursos mofados como um casamento (na temporada passada) e um parto (na temporada vigente).

O único aprofundamento de personagens se dá ou através da dor ou da corrupção e não há nenhum investimento em representar uma rotina para quem trabalha nesse lugar.

A série não sabe criar tensões em coisas simples, ela precisa de eloquência, planos rocambolescos, tiros, explosões.

E as mulheres? 
Retratadas como desequilibradas, sempre estão em cena sendo usadas para sexo (e a única que não está trabalha como cozinheira) - um absurdo.

Ao passo em que a temporada avança, vamos percebendo que as coisas vão terminar do mesmo jeito: com uma ação gigantesca e incoerente com o formato.

Na primeira temporada, parecia que um vilão vivido por um astro de Hollywood iria aparecer andando em meio ao fogo das explosões.

Esse ano é Mariana Ximenes quem fica com o cargo, amargando uma evolução de personagem que só os piores finais de novela têm.

A segunda temporada é definitivamente a sequência cinematográfica ruim mais tecnicamente superior do mercado - e é só isso.

Enfim, também é hora de dizer adeus.

Depois de uma série de problemas internos entre o diretor artístico Afonso Poyart e o Globoplay, ele deixou a atração e seguiu para a Netflix.

João Mesquita, então diretor da plataforma de streaming da Globo, assinou com a Amazon.

Ilha de Ferro, então, foi cancelada e o investimento de dois milhões na construção dos cenários virou prejuízo.

Depois de passar tanto tempo salvando a plataforma de todo tipo de enredo maluco, eis que, enfim, ela afundou.

GALERIA DE IMAGENS:

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TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
ILHA DE FERRO - SEGUNDA TEMPORADA
Episódios:
11
Produção:
Globo/Globoplay
Exibição:
Globoplay
Criação e Direção:
Afonso Poyart
Elenco:
Cauã Reymond. Mariana Ximenes, Maria Casadevall, Taumaturgo Ferreira, Klebber Toledo, Erom Cordeiro

COTAÇÃO DO KLAU:

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