sábado, 1 de junho de 2019

'O MUNDO SOMBRIO DE SABRINA': CRÍTICA DA 2ª TEMPORADA

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Série dá destaque aos coadjuvantes e entrega segundo ano sólido
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CRÍTICA:

Quando os primeiros materiais de divulgação da 2ª temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina foram revelados, uma preocupação tomou conta de muitos fãs.

A personagem de Kiernan Shipka aparecia constantemente entre Harvey e Nick, indicando que o novo ano teria mais foco neste triângulo amoroso do que em outros temas.

Felizmente, não é o que acontece.

Embora o romance seja um traço charmoso do seriado, a segunda temporada abriu sua narrativa ao dar espaço aos coadjuvantes e com isso entrega uma segunda temporada sólida, com muitas possibilidades para o futuro.

Desde o começo o seriado deixa claro que a magia estará mais presente do que no primeiro ano.

Se antes os feitiços de Sabrina apareciam pontualmente, aqui ela faz encantamentos para trocar de roupa e ajudar os amigos, como seria esperado de uma bruxa adolescente.

Sabrina também se afasta de sua parte humana e investe na educação como bruxa, o que desenvolve o arco do Sumo Sacerdote Blackwood e seus preconceitos.

Ainda na primeira temporada, quando o mundo bruxo de Sabrina foi apresentado, ele parecia de certa forma mais desenvolvido do que a realidade dos mortais.

Como é mostrado no episódio de Dia dos Namorados desta temporada, a sexualidade e os desejos não são vistos aqui como algo ruim - aliás, o envolvimento físico entre os jovens é até estimulado, o que faz os tabus sobre sexo no mundo humano parecerem bobos e sem sentido.

Só que toda essa pseudo liberdade é carregada de sexismo e machismo, mostrados principalmente na figura de Blackwood.

Desde o começo, o Sacerdote deixa claro que não gosta dos questionamentos de Sabrina e vê na garota um potencial perigo, alguém que poderia dar voz aos que não eram ouvidos.

Mas nesta temporada o sexismo de Blackwood fica mais claro quando ele implanta um novo conjunto de regras que beneficiam os bruxos e relegam as bruxas para ensinamentos mais “femininos”.

Tudo isso ainda vai além com a narrativa de Zelda Spellman.
Devota do Senhor das Trevas, Zelda sempre foi a tia com a personalidade mais forte e irônica.

Só que quando se submete a Blackwood, ela dá espaço para uma mulher sem personalidade, vestida sempre de rosa e pronta para agradar ao homem em todos os momentos.

O paralelo com um relacionamento abusivo se torna ainda maior quando ela diz que lhe foi tirado o direito de escolha e ela sabia, mas não tinha forças para enfrentá-lo.

Zelda ficou presa dentro de si mesma, como muitas pessoas ficam em relacionamentos.

Essa narrativa que faz paralelos entre eventos fantásticos e relações tóxicas funciona muito bem porque tudo se encaixa de forma natural.

É por este caminho que segue o desenvolvimento de Mary Wardwell.
A vilã que guiou os passos de Sabrina para o mal na primeira temporada ganha novas camadas no segundo ano.

A explicação de sua identidade e a revelação de suas origens mostram como Wardwell se tornou devota do Senhor das Trevas, mas foi deixada de lado por ele.

Ao relatar um desses momentos, a personagem diz que “ele era bom e carinhoso no começo”, apenas para depois assumir uma postura de dominação que também manteve Wardwell presa em uma situação que ela não queria.

Ao perceber todas essas mensagens nas entrelinhas, fica claro que o roteiro foi escrito minuciosamente para ser atual sem fugir de sua narrativa principal.

Se todos os pontos citados acimas já tornam a série interessante, a segunda temporada fica ainda melhor com a história de Susie Putnam.
A personagem passa por um arco de transformação importante, que é retratado de forma muito delicada.

A maneira como Susie fala de seu próprio corpo e do modo como se vê é tocante e potencializada por Lachlan Watson, o ator não-binário que interpreta a personagem.

Na língua portuguesa é difícil fugir dos pronomes “ele” ou “ela”, mas a história de Susie e a atuação de Watson vão além disso e mostram que, mais importante do que se definir de uma forma ou de outra, é ser feliz em sua própria pele.

E se Susie passa por um arco de transformação sobre o que a define, o mesmo vale para Sabrina.
Dividida entre o mundo mortal e o mundo mágico, a protagonista se sente deslocada em vários momentos da segunda temporada, o que a faz transitar entre esses dois núcleos.

Isso também aconteceu na primeira temporada, mas a dualidade aqui aumenta porque Sabrina explora ainda mais suas origens e confronta os planos que o Senhor das Trevas tem para ela.

Tanto Sabrina, quanto Susie, Prudence, Ambrose, Zelda e vários outros personagens tomam decisões difíceis nesta temporada.

Todos eles erram ao deixar a raiva ou a esperança ditar suas decisões.

Este, acima de tudo, é o tema principal dos novos episódios.

Sempre há uma escolha e toda escolha terá consequências, para o bem ou para o mal, mas não há como fugir das escolhas ou ter 100% de certeza delas.

O melhor a fazer, sendo bruxa ou humano, é decidir qual caminho tomar e enfrentar as consequências.

Ao amarrar todos esses pontos em uma narrativa coesa com seu próprio universo, a série felizmente não se tornou apenas uma trama adolescente fantástica com dramas amorosos.

O amor está presente, e inclusive é muito importante no gancho deixado para a terceira temporada, mas não define o seriado, nem seus personagens.

O amor é apenas mais um ingrediente na incrível mistura que se tornou esta produção da Netflix e agora é esperar que a próxima temporada se mantenha tão interessante e impecável quanto esta.

RELEMBRE O TRAILER DA SEGUNDA TEMPORADA:


FICHA TÉCNICA:
O Mundo Sombrio de Sabrina
STATUS:
Em andamento (2018- )
CRIADO POR:
Roberto Aguirre-Sacasa
DURAÇÃO:
2 temporadas

COTAÇÃO DO KLAU:

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