SINOPSE:
Quatro prisões em uma única noite de 2009.
Uma coincidência que une quatro pessoas de origens diferentes em Recife, cujos efeitos serão sentidos por muito tempo – muito mais do que a pena de sete anos de reclusão a que foram condenados.
A razão pela qual cada um foi julgado culpado é questionável.
Não pelos crimes em si, mas pelos caminhos que percorreram até o banco dos réus.
Toda a minissérie se passa no Recife, capital de Pernambuco.
Nela é contada uma trama em cada dia da semana, onde se desenrola a busca por justiça.
As sinopses de cada trama:
Segunda (Vicente Menezes):
Elisa (Débora Bloch) não supera a morte da filha, Isabela (Marina Ruy Barbosa), assassinada pelo noivo Vicente (Jesuíta Barbosa), que a flagra o traindo com o ex-namorado.
Depois de liberto, tenta conseguir o perdão da ex-sogra e seguir a vida, agora casado com Regina (Camila Márdila).
Terça (Fátima Libéria do Nascimento):
Fátima (Adriana Esteves) é uma doméstica, que matou o cachorro do seu vizinho, o policial Douglas (Enrique Díaz), por morder seu filho e acaba por ser incriminada por ele por tráfico.
Quando é solta pretende reconstruir a família, mas o marido Waldir (Ângelo Antônio) morreu, seu filho Jesus (Bernardo Berruezo/Tobias Carrieres) se torna morador de rua e a filha Mayara (Letícia Braga/Julia Dalavia) se prostitui.
Quinta (Rose Silva dos Santos)
Rose (Jéssica Ellen) e Débora (Luisa Arraes), são amigas desde a infância - a primeira é filha da empregada da mãe de Débora.
Rose, negra, é presa com drogas dos amigos, enquanto Débora, branca, é liberada.
Após este fato, Débora é estuprada e quando reencontra a amiga sete anos mais tarde, parte em busca do homem que a violentou.
Sexta (Maurício de Oliveira)
Maurício (Cauã Reymond) é preso por eutanásia, após matar sua esposa Beatriz (Marjorie Estiano), atropelada por Antenor (Antonio Calloni) durante fuga com o dinheiro roubado do sócio — Antenor fugiu sem prestar socorro.
Quando sai da prisão, já um poderoso contador do submundo do crime, Maurício se aproxima de Vânia (Drica Moraes), esposa problemática de Antenor, agora candidato a Governador do Estado.
CRÍTICA:
Sucesso de público e crítica, “Justiça” chegou ao fim hoje como uma das melhores produções da televisão brasileira não só deste ano, mas dos últimos anos
Com um elenco de primeira, direção e texto primorosos, a minissérie que teve seu último capítulo exibido instantes atrás na Globo, me arrebatou do primeiro ao último capítulo, da primeira à última cena.
Até as mínimas participações de duas atrizes de quem eu gosto muito, Marjorie Estiano e Marina Ruy Barbosa, me deixaram arrepiado o tempo todo - e quando eu fico arrepiado o tempo todo é por quê está bom!
Marjorie Estiano, em cena da minissérie - Fotos dessa postagem: Divulgação/TV Globo |
Débora Bloch, Adriana Esteves, Drica Moraes, Antonio Calloni, Leandra Leal, Vladimir Britcha e Cauã Reymond estiveram estupendos, em seus melhores papéis dos últimos tempos.
Como foram estupendos Enrique Diaz, Jesuíta Barbosa, Jessica Ellen e Camila Márdila.
Agora, quem me surpreendeu positivamente e deu um banho, da primeira à última cena, foi Luísa Arraes, que começou patricinha amiguinha da filha da empregada e terminou insana, fazendo justiça pelas próprias mãos e trucidando com um cano o seu estuprador, numa das cenas mais violentas da TV aberta de todos os tempos.
Luísa Arraes como Débora |
A única crítica que poderia ser feita seria algumas pontas soltas no roteiro, que confundiram o telespectador.
No episódio das sextas, muitos não entenderam temporalidade na ação que vai do atropelamento de Beatriz (Marjorie Estiano) à prisão do seu marido, Maurício (Cauã Reymond).
Em uma noite, vimos o atropelamento, a fuga do atropelador, a vinda do socorro, a internação, o diagnóstico médico de que ela estava tetraplégica, a decisão dela, uma bailarina de morrer, o pedido para que o marido a mate, a eutanásia em si, a chegada da polícia, a prisão e a ação na delegacia - que mostrava os quatro presos juntos.
Jesuíta Barbosa, Adriana Esteves, Jessica Ellen e Cauã Reymond - protagonistas da minissérie
Muitos não entenderam também a morte de Vicente (Jesuíta Barbosa) da trama das segundas.
A cena, fortíssima, foi de uma beleza absurda, já que ao seu lado, Elisa, aparentemente só com um raspão na testa, desiste de ligar para o socorro e vê o homem que assassinou a sua filha morrer ao seu lado.
Ele morreu de batida do lado do seu carro ou com um tiro?
Pela narrativa da série, o telespectador esperou os episódios seguintes para saber - e a resposta veio apenas na última cena do episódio final agora pouco: sua morte era uma das manchetes na primeira página de um jornal, juntamente com desfechos de outros personagens, uma saída muito interessante, já que os crimes do início da trama também foram mostrados como notícia de jornal.
Veja:
Só que dessa vez eram quatro notícias e o telespectador não teve tempo de ler tudo.
Para quem não teve tempo de ler, veja:
Esses deslizes não comprometeram a obra, já que o roteiro foi eficiente dentro da proposta de cruzar tramas e personagens com protagonismos separados por dia.
O melhor mérito da série, para mim, foi o de não cair no lugar comum das novelas, mostrando em todos os capítulos um trabalho muito rico no conteúdo – sua maior qualidade - e nos fazendo pensar e discutir a linha frágil que separa a justiça subjetiva da vingança.
A autora Manuela Dias foi muito criativa em dar um desfecho original e diferente a cada protagonista.
Maurício (Cauã Reymond) foi o único que conseguiu cumprir seu plano de vingança como planejado, sem sujar as mãos e mesmo tendo usado Vânia (Drica Moraes) para isso - o que custou a vida dela.
Fátima (Adriana Esteves), a única presa injustamente, teve um final feliz, ao ser pedida em casamento pelo mestre de obras/cantor Firmino (Júlio Andrade), que junto com seu vizinho que a tinha colocado atrás das grades Douglas (Enrique Diaz), a salvou de quase ser morta por policiais corruptos, que a acharcavam.
O pedido de casamento na sua derradeira cena, ao som de uma linda canção, me fez chorar muito, já que seu desfecho foi um sopro de esperança entre tantas histórias trágicas.
Mas a filha Mayara (Júlia Dalávia) não largou a prostituição...
Mayara (Júlia Dalávia) |
Se Elisa (Débora Bloch) havia desistido de se vingar e no episódio final apareceu desmontando o quarto da filha assassinada, exorcizando o passado e livrando-se do que a incomodava, para depois ver Vicente estrebuchar ao seu lado, Débora (Luiza Arraes) a jovem estuprada, também se vingou.
Só que diferente de Elisa, Débora não conseguiu racionalizar a sua sede de vingança e ao longo de sua trajetória, foi mostrando o quanto insana ela era.
A imagem de Débora perambulando na estrada foi o mais triste dos desfechos.
Já sua amiga Rose (Jessica Ellen), que ficou presa por ser negra e por Débora, branca, ter fugido do flagrante, acabou unindo-se ao traficante Celso (Vladimir Brichta) que, indiretamente, foi um dos responsáveis por sua prisão.
Rose (Jessica Ellen) e Celso (Vladimir Brichta) |
Nada muito diferente da tão questionável atração - inclusive sexual - entre Elisa e Vicente - que movimentou a trama das segundas e chocou o público.
No desfecho da última história nesta sexta (23), o candidato a governador corrupto Antenor (Antonio Calloni) acabou preso após participação na morte da mulher Vânia (Drica Moraes).
Satisfeito com sua vingança, Maurício (Cauã Reymond) decidiu ir embora do Recife e acabou encontrando Débora (Luisa Arraes), que também tinha deixado a cidade após matar o estuprador Osvaldo (Pedro Wagner), na estrada.
Hostilizado em um restaurante após ter os crimes revelados na TV por Vânia, Antenor resolveu ir tirar satisfações com a mulher, agora refugiada em um hotel.
Ao descobrir que ela era amante de Maurício e que agiu sob influência do contador, o candidato a governador teve um acesso de raiva e partiu para a agressão.
Encurralada, Vânia se desequilibrou e acabou caindo da janela do quarto do hotel.
No funeral, Antenor acusou a mulher de ser alcoólatra e ter revelado as denúncias como vingança por ele ter tido um caso extraconjugal.
Filmado pelas câmeras de segurança do hotel, o político acaba preso acusado de matar Vânia e na cadeia, ele recebe a visita de Maurício, que finalmente revela o motivo de sua vingança: retaliação por Antenor não ter ajudado a socorrer Beatriz (Marjorie Estiano) após o atropelamento que a deixou paraplégica.
"Para você ver como é a justiça. Você cometeu vários crimes e vai ser preso por uma coisa que não fez", zombou Maurício.
Maurício finalmente conta o motivo da sua vingança
Apesar de também estar envolvido nos crimes do pai, Téo (Pedro Nercessian) sai impune, já que, após concordar em fazer uma delação premiada, ele anuncia sua candidatura.
"Estou me sentindo traído como todos os brasileiros", teve a desfaçatez de declarar diante das câmeras o jovem cara de pau.
O último episódio mostrou ainda como Kellen (Leandra Leal) roubou o dinheiro de Maurício e Celso, antes de fugir com Douglas (Enrique Diaz).
Após espionar o ex-sócio e namorado, ela descobriu onde o contador guardava o dinheiro.
"Peguei meu FGTS", escreveu ela com batom vermelho, acima do buraco na parede onde Maurício guardava a grana, antes de partir.
Enrique Diaz e Leandra Leal: casal sem vergonha |
O roteiro instigante de “Justiça”, que tocou em temas espinhosos e por muitas vezes difíceis, como a corrupção policial, influência financeira e política, turismo sexual, eutanásia, estupro, racismo, entre outros, veio acompanhado de uma direção artística primorosa, de José Luiz Villamarim, com cenários reais do Recife, fotografia de Walter Carvalho e uma trilha sonora - que foi do clássico ao brega - absolutamente extasiante.
A repercussão mostrou que quando a TV aberta oferece uma proposta original, de qualidade técnica e artística, e que nada fica a dever às melhores produções estrangeiras, da TV a cabo ou plataformas on demand e serviços de streaming, o público aplaude e prestigia.
Não à toa, mesmo sendo exibida tarde da noite, foi uma das maiores audiências da Globo no ano.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
'JUSTIÇA'
Formato:
Minissérie
Gênero:
Drama
Duração:
35-45 minutos
Criador:
Manuela Dias
Diretor:
José Luiz Villamarim
Voz de:
Fernanda Montenegro (Chamadas)
Elenco Principal:
Adriana Esteves, Débora Bloch, Drica Moraes, Antonio Calloni, Julia Dalavia, Camila Márdila, Cássio Gabus Mendes, Enrique Díaz, Marjorie Estiano, Luisa Arraes, Vladimir Brichta, Marina Ruy Barbosa, Leandra Leal, Jéssica Ellen, Jesuíta Barbosa e Cauã Reymond
Tema de abertura:
Eduardo Queiroz
Onde:
Globo
Formato de exibição:
HDTV
Transmissão original:
22 de agosto - 23 de setembro de 2016
Nº de episódios:
20
COTAÇÃO DO KLAU:
Nenhum comentário:
Postar um comentário