sexta-feira, 29 de abril de 2016

ALFRED HITCHCOCK: 36 ANOS SEM A GENIALIDADE DO MESTRE DO SUSPENSE


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Obsessivo e polêmico, cineasta britânico é considerado um dos maiores de todos os tempos
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Em 29 de abril de 1980, morria o cineasta britânico Alfred Hitchcock, em decorrência de uma insuficiência renal.

Mesmo hoje, 36 anos depois de sua partida, o "mestre dos filmes do suspense" continua a ser referência para qualquer aluno de cinema ou aspirante a diretor.

Autor de clássicos das telonas, como 'Psicose', de 1960 ( a cena de esfaqueamento de Janet Leigh no chuveiro é considerado o melhor assassinato do cinema) 'Janela Indiscreta' (1954), 'Um Corpo Que Cai' (1958), 'Festim Diabólico' (1948) e 'O Homem Que Sabia Demais' (1956) - todos com o astro James Stewart - no currículo ajudam a entender porque esse genial baixinho e gordinho revolucionou o cinema mundial.

Caricatura feita pelo próprio Hitchcock - Divulgação
Hitchcock nasceu em Londres, Inglaterra, em 13 de agosto de 1899.

Na juventude, trabalhou na Henley Telegraph & Cable Company e, ao mesmo tempo. começou a se interessar muito por cinema.

Em 1933, começou a trabalhar na produtora Gaumont-British Picture Corporation e lá lançou seu primeiro longa, o suspense 'O Homem Que Sabia Demais' (1934) - que ganhou refilmagem em 1956, já em sua vitoriosa carreira em Hollywood.

Nessa época, ele já mostrava seu potencial para o suspense, seu gênero favorito e logo, seu talento chegou aos EUA, deixando maravilhado um dos maiores produtores da época, David O. Selznick, o mesmo de '...E o Vento levou' (1939).

Selznick foi pessoalmente a Londres busca-lo e em meados de 1939, Hitchcock chegou a Hollywood, onde construiu boa parte de sua carreira.

E ele chegou com tudo: já em 1940, dirigiu o thriller psicológico 'Rebecca - A Mulher Inesquecível', Oscar de melhor filme - o único da carreira do genial cineasta.

Joan Fontaine e Judith Anderson, em cena de 'Rebecca'
Mas foi durante as décadas de 50 e 60 que o diretor ganhou notoriedade, com filmes que marcaram para sempre a história do cinema - como 'Disque M Para Matar', estrelado pela bela Grace Kelly, uma de suas loiras favoritas, e 'Janela Indiscreta', que trouxe Kelly como protagonista ao lado de James Stewart.

A trama, cativante, é uma senhora aula de voyeurismo: mostra um fotógrafo que por estar com a perna quebrada, tem de ficar de repouso em seu apartamento.

Em dado momento, ele e sua namorada veem pela janela o que parece ser um assassinato no apartamento do vizinho da frente.

O longa traz uma das maiores marcas de seu trabalho: a câmera subjetiva, que simula o olhar de um personagem e coloca o o espectador como cúmplice da cena.

Hitchcock dirige Grace Kelly e James Stewart, em cena de 'Janela Indiscreta'
Mas a década de 1960 ainda se iniciava e com ela, viria aquele longa que para muitos é a obra prima de Hitchcock: 'Psicose' (1960).

A produção só referendou o talento do cineasta para manipular o imaginário do espectador e despertar sensações intensas, mostrando uma trama centrada em Marion Crane (Janet Leigh), que havia roubado uma grana da imobiliária onde trabalhava e em fuga, vai parar num motel de beira de estrada, onde é brutalmente esfaqueada por Norman Bates (Anthony Perkins) enquanto se banha no chuveiro.

Mestre da cor, justamente para que a icônica cena do sangue de Marion ficasse mais bela, o cineasta rodou 'Psicose' em preto & branco.

Confira a famosa cena:


O longa foi o maior sucesso de bilheteria de Hitchcock: faturou 60 milhões de dólares nas bilheterias do mundo inteiro e causou comoção na platéia.

Com uma trilha sonora - de Bernard Herrmann - que entrou para a história, o filme é sempre citado como referência quando o assunto é a importância do som na construção de uma narrativa.

Antes de Stan Lee usar o mesmo artifício nos filmes da Marvel, Hitchcock também ficou famoso por aparecer em rápidas cenas em seus próprios longas - os chamados 'cameos'.

Como os fãs ficavam aguardando sua aparição e temendo que a plateia se dispersasse, o cineasta tratou de fazer suas aparições logo no início das tramas.

Foram cerca de 39 aparições ao longo de sua carreira, o que virou sua marca registrada e motivo de alegria para seu batalhão de fãs.

As mais famosas são: passando na calçada em frente à imobiliária onde Marion trabalha, trajando chapéu de cowboy em Psicose; segurando um bebê nos braços no início de 'Cortina Rasgada'; passeando pela rua em 'Os Pássaros'; caminhando aos exatos onze minutos de 'Um Corpo Que Cai'.

A mais famosa, lógico, é aquela em que ele parece em uma fotografia, pendurada na parede em 'Disque M Para Matar' - cena relembrada por Stan Lee na primeira temporada da série 'Demolidor'.

Confira alguns 'cameos' - as aparições de Hitchcock nos seus filmes:


Alfred Hitchcock sempre foi definido como um homem perfeccionista, audacioso e sempre sorridente para com colegas de trabalho, mas na realidade era perfeccionista, mal educado com os atores e assustador para com suas atrizes loiras.

Ficaram famosas em Hollywood sua obsessão por Grace Kelly e depois, sua paixão doentia pela atriz Tippi Hedren, protagonista de dois de seus filmes: 'Os Pássaros' e 'Marnie - Confissões De Uma Ladra'.

A história de bastidores foi parar nas telonas, no filme 'The Girl', que recebeu 3 Indicações ao Globo de Ouro e que tem Sienna Miller e Toby Jones, como o diretor e da estrela, respectivamente.

Segundo o livro "Fascinado pela Beleza", de Donald Spoto, Hitchcock agredia verbalmente e até fisicamente Hedren, que se recusava a manter uma relação com ele.

No episódio mais pesado, durante as filmagens de 'Os Pássaros', a atriz foi atacada por pássaros reais na cena e mesmo com ela no chão, machucada, o diretor ordenou que a cena fosse refilmada.

Por resistir ao assédio do cineasta, Tippi teve a carreira ameaçada, mesmo tendo levado o Globo de Ouro de Melhor Atriz por 'Os Pássaros'.

Presa ao contrato com a Universal Pictures, ela, depois de 'Marnie' (1964) só fez mais um filme, 'A Condessa de Hong Kong' (1967), último longa de Charles Chaplin.

A atriz viu as propostas de trabalho serem recusadas, até que Hollywood perdeu o interesse em sua figura, como contou a própria Tippi, mãe da também atriz Melanie Griffith, em diversas entrevistas.

Tippi Hedren e Hitchcock
Com Tippi Hendren, nas filmagens de 'Marnie' - Universal Pictures
Em 1966, ele lançou 'Cortina Rasgada', um thriller político com Paul Newman e Dame Julie Andrews nos papéis principais.

Paul Newman e Dame Julie Andrews, em cena de 'Cortina Rasgada'
'Topázio', filmado entre 1968 e 1969, fala sobre a Guerra Fria, e conta a história de um espião, com roteiro baseado no livro de mesmo nome escrito por Leon Uris.

Foi um filme que não trouxe nenhuma grande estrela, na verdade, apenas nomes desconhecidos - muitos acreditam que Hitchcock não quis chamar nenhuma estrela de Hollywood para este filme após alguns conflitos com Paul Newman nas filmagens de 'Cortina Rasgada'.

Em 1972 Hitchcok lançou 'Frenesi', um thriller sobre crime que trouxe pela primeira vez cenas de nudez e palavras de baixo calão em um de seus filmes.

O seu último filme foi 'Trama Macabra' (1976) com Karen Black e Bruce Dern.

As principais características da obra de Hitchcock são:

SUSPENSE
O suspense de Hitchcock trouxe inovações técnicas nas posições e movimentos das câmeras, nas elaboradas edições e nas surpreendentes trilhas sonoras que realçam os efeitos de suspense e terror.

O clima de suspense é acentuado pelo uso de música forte e dos efeitos de luz.

Em 'Psicose', somente o espectador vê a porta se entreabrir, esperando algo acontecer enquanto o detetive sobe a escada.

Reveja a cena:


O VILÃO INOCENTE
Um dos recursos de suspenses mais utilizados por Hitchcock é o do 'vilão inocente': através dele um inocente é erroneamente acusado ou condenado por um crime e que, para se ver livre, acaba assumindo a missão de perseguir e encontrar o real culpado.

O ESPECTADOR COMO PARTICIPANTE
Em alguns filmes, o personagem age como se soubesse que o telespectador está observando sua vida.

Em 'Janela Indiscreta' (1954), o personagem Lars Thorwald (interpretado por Raymond Burr) confronta Jeffries (interpretado por James Stewart) dizendo:
 "O que você quer de mim?" endereçando a pergunta ao telespectador com um close em seu rosto.

IDENTIDADE DO ASSASSINO
Um dos elementos que caracterizam seus personagens é a figura do assassino cuja identidade é revelada ao longo da ação.

MAcGUFFIN
O MacGuffin é um conceito original nos filmes de Hitchcock, um termo usado pelo cineasta para inserir um objeto que serve de pretexto para avançar na história sem que ele tenha muita importância no conteúdo da mesma.

O MacGuffin de 'Psicose' é o dinheiro roubado do patrão: ele só serve para conduzir a personagem Marion Crane até o Motel Bates, mas ao chegar ao motel o dinheiro perde a importância no desenrolar da história. 

Já o MacGuffin de Torn Courtain é a fórmula que possibilitaria a construção de um antimíssil. 
É para conseguir a fórmula que o personagem principal parece desertar para Berlim Oriental, é seguido pela noiva e daí desenvolve-se o enredo.

Apesar de ser considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos, Alfred Hitchcock nunca ganhou um Oscar.

Apesar de indicado seis vezes, cinco vezes como melhor diretor - pelos filmes Rebecca (1940), 'Um Barco e Nove Destinos' (1944), 'Quando Fala o Coração' (1945), 'Janela Indiscreta' (1954) e 'Psicose' (1960) - e uma como melhor produtor - por 'Suspeita '(1941) -, jamais recebeu a cobiçada estatueta, juntando-se a outro gênio cinematográfico também nunca agraciado com o prêmio máximo da academia, Stanley Kubrick.

Só recebeu o Prêmio Irving Thalberg da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood em 1968, pelo conjunto de sua obra.

Já no Globo de Ouro, ganhou duas vezes: em 1958, pela sua série de TV 'Alfred Hitchcock Presents' e em 1972, o prêmio Cecil B. de Mille, pela carreira.

Em 1971, também pela carreira, levou seu único Bafta - o principal prêmio do cinema britânico.

É considerado pelo The Screen Directory, uma publicação sobre cinema, como o "maior diretor de todos os tempos".

Para quem quiser conhecer a fundo o cineasta e sua obra, a recomendação de 10 entre 10 críticos de cinema é o livro 'Hitchcock/Truffaut - Entrevistas'.

Durante as décadas de 50 e 60, quando o cineasta francês François Truffaut idealizou e realizou a série de entrevistas que resultariam neste livro, Alfred Hitchcock era visto - sobretudo nos Estados Unidos - como um cineasta mediano e comercial.

No entanto, para Truffaut, Hitchcock estava entre os maiores cineastas de todos os tempos, ao lado de nomes como Jean Renoir, Federico Fellini, Ingmar Bergman e Luis Buñuel.

A capa do livro - Divulgação

Com o objetivo de modificar a opinião dos críticos americanos - e com o imperioso desejo de 'consultar o Oráculo' - Truffaut propôs ao diretor inglês que respondesse quinhentas perguntas sobre sua obra e carreira.

Nessa extensa conversa, Hitchcock comenta detalhadamente sua produção, desde os primeiros filmes mudos feitos na Inglaterra até os coloridos e sonoros de Hollywood, falando sobre a concepção de cada obra, a elaboração do roteiro, as circunstâncias, as inovações e os problemas técnicos, a relação com os atores.

Enfim, uma obra prima da literatura e que está disponível nas melhores livrarias, ao preço médio de R$ 80.

Dividido entre as polêmicas e a genialidade, Hitchcock conseguiu um feito reservado para poucos artistas: ser tão intrigante quanto suas próprias obras.
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Essa postagem é dedicada à inteligência e ao talento do crítico de cinema Christian Petermann, que anda dodói mas vai se recuperar logo para continuar nos brindando com suas críticas memoráveis.

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