A especialidade nos últimos anos do diretor Michael Bay é detonar, sejam asteroides ("Armageddon") ou cidades (qualquer um dos "Transformers").
Justamente por isso, é uma surpresa que "Sem Dor, Sem Ganho" - que estreou ontem em 64 salas em todo o Brasil -seja quase um filme intimista, se comparado ao restante da filmografia do cineasta.
Se a primeira meia hora chega a enganar - por um momento temos a sensação de que Bay vai surpreender e provar que aprendeu alguma coisa de direção de tanto errar - ele logo começa a perder o controle do filme e volta a ser o velho e conhecido cineasta, que não conhece o que significa sutileza, harmonia e equilíbrio.
A trama é a dramatização sensacionalista de uma história verdadeira, ocorrida na década de 90, quando um grupo de marombados resolveu ir atrás do sonho americano cometendo crimes em série.
Os idiotas musculosos são liderados por Daniel Lugo (Mark Wahlberg, em seu pior papel em muitos anos), personal trainer de uma academia na Flórida com obsessão por forma física e, claro, dinheiro.
Mark Wahlberg como Daniel Lugo, em cena do longa - fotos dessa postagem: Divulgação/Paramount Pictures brasil
O humor que permeia o filme, sustentado no bizarro das situações, tendo em vista o nonsense da história e a patetice do trio de criminosos, é o que merece quem se dispõe em ir à sala do cinema assistir a isso, já que, a partir de certo momento, o longa deixa o tom de brincadeira e passa a ser dominado por uma abundância de violência desnecessária e excessiva, que entra frontalmente em choque com o que havia sido mostrado até então.
Isso faz com que qualquer boa vontade do público com os protagonistas e, a longo prazo, com o filme, acabe ali mesmo.
Michael Bay surtou e parece completamente convencido de que poderia manter o lúdico do filme, mesmo quando entram em cena serras elétricas, amputações, crânios esmagados e Dwayne Johnson - aquele ! - fazendo churrasco de mãos humanas enquanto vaga pelo filme chapado de cocaína e levando a tiracolo o próprio dedo decepado por um tiro.
Não tem graça - até porque sabemos que os crimes de fato aconteceram - mas Bay é incapaz de perceber isso.
Mark Wahlberg e Dwayne Johnson, em cena do longa
Assim, o que parecia ter potencial para tornar-se o melhor longa da carreira do diretor - repleta de filmes cheios de estilo e pouca substância - vira apenas mais um filme irregular e exagerado, mesmo que o elenco - que inclui ainda Tony Shalhoub, Ed Harris e Anthony Mackie - renda a contento, algo incomum em seus filmes.
Detonei a direção e os muitos truques de câmera de Bay, mas não esqueci de falar também do roteiro, que de forma tacanha nem tenta glamurizar os idiotas, apenas destacar sua visão de mundo equivocada.
A história de um trio de homens musculosos, narcisistas e acéfalos - o terceiro é interpretado por Anthony Mackie - mas que se consideram gênios do crime – carrega um sem número de possibilidades de abordagem e reflexão sobre a sociedade de consumo, culto ao corpo, hedonismo, etc.
Dwayne, Mark e Anthony, em cena do longa
Pena que, infelizmente, o projeto tenha caído no colo de um cineasta da mão pesada, que o reduziu a um longa de ação com violência excessiva, estupidez excessiva, histórias excessivas e subtramas irrelevantes.
Deveria se chamar 'Muita Dor e Pouco Ganho', isso sim.
Confira o trailer do filme:
*****
'SEM DOR, SEM GANHO'
Título Original:
PAIN AND GAIN
Gênero:
Comédia Dramática
Direção:
Michael Bay
Roteiro:
Christopher Markus, Stephen McFeely - baseadso em artigos de Pete Collins
Elenco:
Anthony Mackie, Bar Paly, Dwayne Johnson, Ed Harris, Emily Rutherfurd, Keili Lefkovitz, Ken Jeong, Larry Hankin, Mark Wahlberg, Michael Rispoli, Peter Stormare, Rebel Wilson, Rob Corddry, Tony Plana, Tony Shalhoub
Produção:
Donald De Line, Ian Bryce, Michael Bay
Fotografia:
Ben Seresin
Montador:
Joel Negron, Tom Muldoon
Trilha Sonora:
Steve Jablonsky
Duração:
129 min.
Ano:
2013
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
23/08/2013
Distribuidora:
Paramount Pictures Brasil
Estúdio:
Platinum Dunes
Classificação:
18 anos
Cotação do Klau:
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